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O LITORAL DE OVAR E A DEFESA DA COSTA ATRAVÉS DE DIFERENTES SOLUÇÕES EXPERIMENTAIS

Ainda que a “retalho” e de forma muito reativa às investidas do mar. Às diferentes soluções experimentais que vêm sendo implementadas no litoral ovarense como respostas pontuais na defesa da costa, em que a erosão mais se tem feito sentir, como a continuação do recurso à pedra (enterrada na areia) no âmbito das obras pesadas ou a alimentação artificial (bypassing), que finalmente vem sendo assumida também como caminho a consolidar, bem como a mais recente aposta nos designados geotubos que o Município de Ovar continua a tentar demonstrar a sua viabilidade e durabilidade, depois de Cortegaça, agora no Furadouro, mesmo sem experiencias que testem e validem o seu objetivo de retenção de areias.

Área balnear (época passada)
Área balnear (época passada)

Para defender as frentes urbanas do litoral deste concelho (Furadouro, Cortegaça e Esmoriz), que foram mais uma vez duramente fustigadas nos últimos temporais, para além das intervenções de emergência com o inevitável reforço de pedra, a Câmara Municipal de Ovar, através do seu presidente, Salvador Malheiro, aproveitou as últimas investidas galopantes do mar, para reafirmar e pressionar o Ministério do Ambiente para a urgência da solução dos três quebra-mares (2 no Furadouro e 1 em Cortegaça).

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José Lopes

(texto e fotos*)

Bandeira politica assumida pelo executivo liderado por Salvador Malheiro no início do primeiro mandato, para cuja concretização se mostra disponível a financiar tal obra orçada em cerca de 20 milhões de euros, cujo projeto de execução está já a ser suportado integralmente. Uma disponibilidade a pensar nos fundos comunitários para uma obra que foi inscrita no novo Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Ovar – Marinha Grande.

O mês de abril foi assim particularmente agreste no Furadouro e mesmo em Esmoriz. No Furadouro os galgamentos causaram imagens surpreendentes na Marginal e só a rápida colocação de pedra salvou o apoio de praia mais em perigo, cujo proprietário, Albano Silva é já um veterano resistente que há poucas semanas tinha feito investimentos em melhorias no bar para a próxima época balnear. O bar resistiu à fúria do mar e certamente que o concessionário, em homenagem à figura típica do seu familiar, então banheiro Nacum, que operou naquela área da praia, vai cumprir a tradição e reerguer-se de mais este embate com o mar, numa praia em que as intensas marés vivas que se têm feito sentir, vinham obrigando as diversificadas intervenções a Sul e a Norte do Furadouro.

Geotubo
Geotubo

Ao mesmo tempo que estava a ser consolidado o recém-construído cordão dunar ao Sul, entre o Furadouro e o Torrão do Lameiro, a erosão centrou-se depois a Norte obrigando a grandes movimentações de areia para reposição em áreas dunares mais fragilizadas, em que o Município assumiu igualmente dar continuidade à aposta da solução dos geotubos. A exemplo das experiencias realizadas mais a Norte, em Cortegaça, em que estão concentrados vários exemplares de geotubos, que, mais do que efeitos práticos na retenção de areias, como era objetivo dos autarcas, parece mais ser um teste de resistência à tela dos sacos cheios de areia.

Independentemente das polémicas sobre as vantagens ou não desta solução ainda não comprovadas cientificamente por qualquer entidade competente, o geotubo colocado no Furadouro ao Norte, evoluiu para uma longa manga colocada paralelamente ao mar na linha do cordão dunar, que, depois de cheia com areia foi aterrada como mais um elemento de teste a todas as soluções experimentais de que a orla costeira em Ovar vem sendo alvo.

Neste caso concreto do gigante geotubo que por enquanto está soterrado, fica a dúvida se o areal à superfície vai poder ser usufruído como zona de praia, tal como vinha acontecendo em anteriores épocas balneares, em que, adaptando as condições de acesso à contínua erosão dos últimos anos, se tinham construído passadiços, agora desmantelados para a execução de uma tal obra que implicou maquinaria pesada em movimento. Ainda nesta zona dunar no Norte, em que se vinha tentando preservar e consolidar dunas com paliçadas e passadiços, nem sempre respeitada pelos banhistas dada a falta de praia. O cenário é agora mais preocupante e sobretudo mais vulnerável à invasão das pessoas, como uma espécie de regressão das campanhas pedagógicas de educação ambiental, sobretudo desenvolvidas pelas crianças.

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Ao contrário de executivos autárquicos anteriores e da ausência de estratégias concertadas nacionais por parte dos sucessivos governos centrais, para a defesa do litoral e no caso concreto da costa ovarense, reconhecidamente fragilizada pela visível erosão. Salvador Malheiro, mal tomou posse na Câmara Municipal de Ovar em 2013, assumiu contra tudo e todos, “enfrentar” o mar ao estrear-se na gestão da crise resultante de um duro inverno, que fez na altura ruir grande parte da Marginal no Furadouro, obrigando a uma resposta pronta em pedra e betão, cujo financiamento o autarca declarou estar o Município disponível para se antecipar ao Estado. Uma lógica de assumir localmente competências centrais, que continua a manter relativamente a vários outros investimentos.

Com tal postura, o presidente no seu segundo mandato, entre os vários motivos porque se tornou conhecido na comunicação social, ficará certamente reconhecido como o autarca, que, faz obra, mesmo que a mesma, no caso das suas intervenções na defesa da costa, não mereçam por parte dos especialistas da área e associações ambientalistas nacionais que mais davam voz a tal temática, qualquer parecer favorável, bem pelo contrário. Estranhamente alguns entraram em silêncio, como uma espécie de voto de confiança e espectativa na evolução da conjugação das soluções experimentais, que o Município de Ovar tem tido o beneplácito do próprio Ministro do Ambiente, nomeadamente na viabilização do projeto dos quebra-mares destacados, como uma solução experimentada em outros países, ainda de diferentes tipos de mar, que teria assim Ovar como laboratório experimental do sonho de Salvador Malheiro para fazer frente à onda destruidora do mar e proporcionar mais praia nesta parte do Oceano Atlântico.

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Bloco questiona

Tal como não é consensual na sociedade ovarense o otimismo do presidente da Câmara na sua estratégia para contrariar a erosão costeira, tanto com a promoção dos geotubos, como com o projeto para três quebra-mares destacados, o deputado municipal bloquista, Eduardo Ferreira, na sessão da Assembleia Municipal de Ovar no dia 20 de abril, começou por assumir que o tema das obras de proteção da orla costeira não é, nem “popular”, nem “nos granjeia votos”, e lembrou a evolução dos objetivos da Câmara de Ovar relativamente aos objetivos dos geotubos, que era inicialmente (2014) a “retenção de areias” e mais tarde passou na ser, “testar a resistência de materiais”.

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O autarca do BE reafirmou que na altura, este partido “apoiado também em opiniões técnico-científicas – alertou para o facto de que o maior problema da nossa costa ser a falta de sedimento em deriva e que, sem alimentação artificial nada funcionaria”. Por isso afirmou que, “experimentar é importante, principalmente quando temos em consideração os resultados das experiências”, dando aliás o exemplo da intervenção em Maceda, em que foram usadas estacas para segurar arribas, que, “não funcionou e parece-nos que aprendemos todos com isso”. O mesmo, “talvez não tenhamos aprendido com os geotubos” lamentou.

Geotubo enterrado
Geotubo enterrado

Disse ainda o autarca bloquista, “os materiais resistiram, e lá estão, em Maceda. Mas estão hoje ainda mais expostos do que quando foram instalados há quase quatro anos” ou seja, “na melhor das hipóteses, os geotubos tiveram um não-efeito. Não pioraram nem melhoraram o problema. Porque o problema é falta de sedimentos. Pensamos que as obras públicas, quando assentes em experiências (e bem), devem ter em consideração o resultado dessas experiências. Temos o exemplo de praias no concelho (como a de Esmoriz) que ganhou areal a norte dos esporões, mesmo sem geotubos.

Temos o caso de Maceda, que com os geotubos, na melhor das hipóteses, ficou na mesma. Porque replicar então isso no Furadouro? Porque replicar isso, enterrando profundamente os geotubos nas imediações das dunas consolidadas?”. Nesta sessão municipal o Bloco clarificou ainda que, “não condenamos que se tenha testado a solução. Mas testada a solução e não sendo evidente o efeito, porquê implementar em regime não experimental?”.

Vistas de praias (esta foto e a de baixo) com quebra-mar destacados
Vistas de praias (esta foto e a de baixo) com quebra-mar destacados

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Mas as preocupações do partido que não temeu a impopularidade das suas inquietações nesta matéria, também questionaram a construção de quebra-mares destacados, afirmando estarem a ser planeados em “contra-ciclo com a opinião da grande maioria dos especialistas em erosão costeira e as recomendações do Grupo de Trabalho do Litoral, criado pelo anterior governo.

Em ambos os casos, desaconselha-se a construção de obras de engenharia pesada e sugere-se a alimentação artificial de areias”, sublinhou Eduardo Ferreira, que reconheceu ser mais difícil para um autarca, assumir que irá “atirar areia ao mar” do que “construir infraestruturas”, mas como concluiu, e sendo “óbvio que tem que se defender os núcleos urbanos”, há, defendeu, “um amplo consenso em torno da ideia que a melhor defesa da costa é uma praia”. Um tema que o Bloco se propõe voltar a debater na Assembleia Municipal após obtida documentação e respostas do executivo camarário.

Um debate que certamente já terá a participação das restantes forças politicas que também estão expectantes sobre os efeitos práticos na minimização da erosão costeira através deste empreendimento que vai ter ainda como novos elementos a ter em linha de conta, os anunciados reforços e prolongamentos no Porto de Leixões e dos esporões em Espinho, cujas consequência a Sul são sempre inevitáveis no aumento da erosão.

(*)Com fotos de “Coração Vareiro Ovar” (facebook)

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