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As noivas de Março

Lurdes Pereira (*)

Conta a lenda que, um dia um rei casara com uma princesa do Norte, habituada a ver, no seu país, os flocos de neve que pintavam o chão de um majestoso branco. Mas o amor entre os dois não era o suficiente para que se cultivasse a verdadeira felicidade no palácio. Então o rei teve a ideia de plantar cerejeiras de flor branca. Assim, todas as primaveras o cenário vestia-se de branco, e com a ação do vento, as mimosas pétalas pareciam flocos de neve, que muito alegraram a rainha.

A cerejeira é uma planta originária da Ásia e deve ser cultivada em regiões onde possam ficar expostas ao frio intenso durante 800 a 1000 horas, sem dó, para se produzirem com a qualidade que estamos habituados.

Está simbolicamente associada ao Samurai cuja vida era tão efémera quanto a da delicada flor que se desprende das árvores. Já o seu fruto é sinónimo de sensualidade. Tatuado tem significado de castidade e pureza feminina até que, finalmente, arrancada da árvore mãe, perde a inocência e a virtude.

A flor da cerejeira é das mais belas e delicadas, não só pela sua textura, mas também pela simplicidade, pela forma e pelo encanto que não deixa ninguém indiferente. Não será descabido que na Índia, ela é considerada uma flor sagrada e comparada ao Pão Nosso de Cada Dia.

O mês de Março renova o cenário das encostas de Montemuro. É o preenchimento de um novo colorido, de um manto branco tão delicado onde qualquer olhar mais desatento fica rendido. Nestas terras de D. Egas tem um ex-libris, a cereja, um fruto tão pequeno, mas com simbologia do tamanho de um monumento. No despertar de cada Primavera, Resende acorda num extraordinário excesso de Natureza, são imagens repletas de unicidade como se de uma obra de arte se tratasse. Do centro da flor, ponteada de ouro, as pétalas assemelham-se a vestidos de noiva tão simples quanto luxuosos e brilham o lustro amarrotado no esplendor da singularidade do branco. Em cada estado, em cada ruga de maturidade, a flor mantém uma beleza incomparável. Perde o belo vestido branco, mas continua bela, ganha outras formas e outros tons, mas preserva a autenticidade na sua singeleza.

Porém, nem toda a gente tem a oportunidade de ver de perto esta infinda beleza. Para colmatar essa impossibilidade, o Município de Resende possui em Vila Verde, na freguesia de S. Martinho, o Centro Interpretativo da Cereja, um lugar onde se pode compreender todo o ciclo deste maravilhoso fruto que ressalta tanto à vista como o palato. No local podemos apreciar as espécies e a sua origem.

Julgo não haver palavras para descrever a beleza que os olhares da serra captaram através desta minha humilde objetiva. Hoje deixo-vos este aroma de um novo ciclo que desperta e que chega às nossas encostas como uma agradável anunciação da Primavera.

(*) Texto e fotos

01abr19

 

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