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Maio, Maias

Lurdes Pereira (*)

O pano de fundo da natureza é uma constante mudança. Se há quem goste do branco do frio Inverno, das cores nobres do Outono, ou os tons das quentes searas de Verão, também há aqueles que se deixam levar pelas emoções da Primavera. Precedendo o esplendor da flor e dos encantos da cor, os rebentos das árvores de folha caduca espreguiçam um novo ciclo. Nos prados abunda o verde da erva fresca onde os animais saciam um novo pasto. Chegou a hora dos novos sorrisos e o resultado é como abrir um pantone recheado de cor.

A vegetação cresce livre nas serras, planícies, nos planaltos. Maio é sinónimo de fertilidade e traz como protagonista as famosas Maias. No chão, onde o verde se desenvolveu, estende-se um manto amarelo digno de se ver. Podem parecer insignificantes, mas olhando ao pormenor, reparamos que as Maias têm uma beleza quase singular. Pois são estas giestas, conhecidas por Maias, que vão dar voz a crenças ancestrais, espelhos de grandes cargas semióticas.

Seja qual for a narrativa com maior ou menor veracidade nas tradições, e mesmo que a sua origem tenha ADN Celta ou Romana, ela parece estar intimamente ligada à religião.

Muitas crenças e rituais vão-se perdendo nas gerações, mas os Olhares da Serra não deixaram passar despercebido esta tradição. É a geografia rural quem mantêm vivas estas histórias da ancestralidade que a evolução da sociedade tenta esquecer porque não creem, ou até porque têm vergonha da crítica social.

Todos os anos, no último dia de Abril as giestas são assaltadas pelos transeuntes. Cortam-se aos molhos, dividem-se em pequenos ramalhetes para enfeitar as portas das casas. Antigamente também não escapavam à tradição, os abrigos dos animais.

De cunho marcado pela ruralidade, o dia 1 de Maio acorda protegido de mau-olhado, doenças e das influências demoníacas.

As flores surgem de forma isolada e libertam a reflexão das festividades cíclicas de carácter pagão, mas continua com um objectivo, o marco do fim do Inverno e as boas-vindas ao ciclo da nova fertilidade.

(*)Texto e fotos

01mai19

 

 

3 Comments

  1. Lurdes Gomes

    Obrigada Teresa Ogando. Estou a ver que tenho seguidora nas minhas humildes narrativas com os Olhares da Serra sempre postos nas tradições.

  2. Teresa Ogando

    Gosto de seguir estas narrativas textuais e visuais da vossa colaboradora Lurdes Pereira. Sempre à espera da próxima.

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