Os resultados eleitorais para o Parlamento Europeu no concelho de Ovar no passado dia 26, no essencial traduzem a mesma evolução eleitoral e as mesmas surpresas dos totais nacionais, com pequenas oscilações, tendo o PS (33,5%) derrotado o PSD (25,2%). O Bloco de Esquerda a ser a terceira força politica mais votada (11,2%), ultrapassando o resultado a nível nacional (9,8%). A CDU mesmo com o empenho e intervenção na campanha do seu eurodeputado, Miguel Viegas, não resistiu localmente (4,8%) à erosão nacional (6,9%). Já o CDS-PP viu também refletir-se e agravar-se em Ovar (4%) a mesma tendência de surpreendente derrota eleitoral nacional (6,2%), levando mesmo o seu líder local, Fernando Camelo, a reclamar o pedido de demissão de Assunção Cristas. Da mesma forma o PAN surpreendeu, como a grande novidade em Ovar (4,8%), em que ultrapassou o CDS-PP que tanto queria ficar à frente das “esquerdas radicais”. Ou seja, as vitórias e derrotas da noite, seriam, mais digito menos digito, a tendência geral eleitoral nacional. Mas Ovar indiscutivelmente teve também como grande derrotado o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, igualmente presidente da Distrital de Aveiro do PSD e vice-presidente de Rui Rio.
De um dirigente que integrou o núcleo duro nacional da estratégia eleitoral do PSD como vice-presidente do líder, e de um presidente do Município de Ovar, que nas autárquicas de 2017 procurou humilhar toda a oposição, arrecadando uma maioria absoluta de 78% dos votos, deixando o PS num estado lastimoso e sem perspetiva a curto prazo de ser alternativa mobilizadora. Deste vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro, que chegou a afirmar a quando da sua vitória na Distrital, que representava a vitória da militância. Nada faria crer que a sua influencia politica, mesmo numas eleições para o Parlamento Europeu, que teve em Ovar uma abstenção ainda que preocupante (65,2%), mas mais baixa da nacional (69,1%), que de forma tão surpreendente o eleitorado que lhe deu a segunda vitória autárquica, tenha agora abandonado Salvador Malheiro, após uma campanha em que o PSD e a direita quis assumir como uma “moção de censura” ao governo e ao acordo de incidência parlamentar da esquerda, deixando o PSD de Ovar derrotado, mesmo com a muito limitada subida do PS de pouco mais de 300 votos, de 32,4% (2014) para 33,5%, já que recuperação do PSD não passou de menos de 100 votos, de 25,2% (2014) para 26,4%.
Ainda que Salvador Malheiro, que como vice-presidente do partido tenha rumado para Lisboa na companhia do seu assessor na autarquia de Ovar Henrique Araújo, para se juntarem na noite dos resultados eleitorais a Rui Rio e Paulo Rangel, acabaram por partilhar o desalento que se abateu no seio do PSD face a resultados pouco animadores para a atual direção. O autarca de Ovar que perdeu em toda a linha no seu concelho e distrito que lidera partidariamente, acabou por assumir na sua página do facebook (27 de maio) que, “Ontem foi dia de uma grande Derrota”, mas como, “a Vida é feita de altos e baixos. De Vitórias e Derrotas”, terminou afirmando que “o Povo é quem manda. É quem mais ordena. O Povo é soberano!”, concluiu. Uma reação que não esclarece as razões da sua própria derrota em “terreno” que lidera, não sendo eleito o nome do candidato indicado pela distrital a que preside, uma vez que o PSD se ficou apenas pela eleição de seis eurodeputados.
Ainda sem justificar tais maus resultados, traduzidos no concelho de Ovar e no distrito de Aveiro numa clara derrota do edil da Câmara Municipal de Ovar e líder da distrital de Aveiro do PSD, que nem o facto de ter conseguido ficar à frente do resultado nacional (22,24%), com 23,49% a nível distrital, ajuda a atenuar como o próprio assumiu “uma grande derrota”. Os números da vontade dos eleitores, mesmo dos que em 2017 nas autárquicas lhe deram numa campanha muito personalizada, uma maioria absolutíssima, agora negaram-se a votar no mesmo partido do líder que “recebeu” o executivo municipal das “mãos” do anterior (PS) e paulatinamente resgatou a distrital do PSD e conquistou lugar ao lado de Rui Rio na sua candidatura à liderança e consequentemente como seu vice-presidente. Uma caminhada com muitos “obstáculos” e “casos” por clarificar, que nunca fizeram perder a confiança política de Rui Rio, mas que parece não ter a mesma confiança incondicional dos eleitores de quem na verdade os partidos não são donos dos seus votos, por mais discutíveis métodos que se utilizem para arregimentar o voto para os diferentes tipos de eleições, incluindo as de disputas partidárias.
O provérbio de que santos da casa não fazem milagres, assenta com uma luva nos resultados do partido de Salvador Malheiro, em que perde no concelho a que preside o Município bem como em todas as freguesias. Como líder da distrital, Malheiro soma agora as Europeias, à derrota então obtida nas autárquicas (2017) apesar da sua vitória esmagadora em Ovar. As eventuais ambições políticas deste ovarense não estão a ser fáceis, com as legislativas à porta que não vislumbram cenários mais animadores para a direita e neste caso o PSD. Se aguarda por um lugar como governante, terá que ser paciente, ainda que com o risco de desgaste politico como autarca. Caso contrário a garantia que tem é ser deputado na Assembleia da Republica e aí bater-se por investimentos que agora como presidente da Câmara Municipal de Ovar sugere aos autarcas dos partidos que suportam a maioria de esquerda no Parlamento, que influenciem e reclamem do Governo as grandes obras públicas em nome de Ovar que não acreditou e derrotou Malheiro e o PSD.
Texto: José Lopes
Fotos: pesquisa Google
01jun19




Se souvessem do que o Salvador Malheiro é capaz ninguém lhe dava o voto