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Cair de cu!

Joaquim Castro

Quem não conhece esta frase (“cair de cu!”), bem portuguesa? Há uns anos, um casal muito ilustre e muito prendado, ele, juiz-desembargador; ela, alemã, ocupava um lugar de destaque na delegação de uma empresa do seu país. A senhora já estava em Portugal, há décadas, mas, provavelmente, ainda não sabia todas as expressões populares, como o “cair de cu”!

Pois bem, numa das suas muitas visitas a Ovar, por ter cá familiares, o casal foi almoçar a um restaurante do centro da cidade, mas não sabiam o que escolher para a refeição.

Vai daí, o patrão intervindo simpaticamente, virou-se para a luso-alemã e atirou: “olhe, vou fazer uma receita cá da casa, que a senhora até vai “cair de cu”! Para nós, cair de cu pode significar surpresa ou uma coisa boa. Mas para a senhora, foi uma falta de respeito, levando a que o casal, de meia-idade, não mais voltasse àquela casinha!

Quando os políticos falam…

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, utilizou, em 04.06.2019, as expressões: “há dois anos, atrás” e, em afirmação, “onde é que estão”. Ela falava de obras-de-arte desaparecidas. Perto de uns duzentos quadros.

Esta semana, de 17 a 21 de junho de 2019, assisti à audição de Vítor Constâncio, no Parlamento, na qualidade de antigo governador do Banco de Portugal, sobre os empréstimos de dinheiro a Joe Berardo. Falo nisto, porque a “Caixa” Geral de Depósitos, passou a ser “Caxa”, sempre que uma deputada inquiria o ex-governador.

Ora, eu que ando há semanas a digerir, a custo, aquela do “Féliks”, que é João, fui às compras, para descontrair. Mas, lá está, chegado ao hipermercado, fiz as compras e a seguir fui para a bicha (ou é fila?), esperando pela minha vez de pagar as compras. Ao fim de algum tempo, lá veio a chamada pelo sistema de som: “cliente seguinte, por favor, à “caxa” 17. Tal qual!

“Terá-se”!

Um jornalista da SIC Notícias disse, em 03.06.2019, que o futebolista António Reyes, que teve um acidente mortal, “terá-se” distraído antes de se despistar. Mas este termo não existe, devendo ter utilizado o termo “ter-se-á” distraído. Ora, qualquer um pode cometer um erro, mas se ninguém o alertar, poderá continuar a despistar-se na Língua Portuguesa!

Um outro jornalista, num directo a partir de Londres, utilizou na expressão: “para amanhã, é de esperar que não aconteça, rigorosamente, nada”. Até hoje, fiquei a pensar no que ele disse, mas não cheguei a uma conclusão!

Pássaros, passarinhos e passarões!

Num exame, o professor, que era vesgo, pergunta ao aluno: que tipo de aves conheces? Responde o aluno: pássaros, passarinhos e passarões. Danado, diz o professor: e um chumbo para matar essa passarada toda? Sem se atrapalhar, o aluno responde: e um olho vesgo, para errar a pontaria?

Vem isto, a propósito do uso indiscriminado do verbo “chumbar”, que serve para tudo o que não é aprovado. Até no Parlamento.

“Beata”

Segundo o dicionário da Priberam, beata é a mulher beatificada pela Igreja. É a mulher que denota devoção religiosa, real ou aparente, em excesso. É a mulher que é excessivamente moralista, puritana.

Comecei a fumar na adolescência, em Angola, tendo deixado de fumar, em 1996. Foi de um dia para o outro. Já lá vão 23 anos. Não se utilizava muito o termo “beata”, para designar as pontas de cigarro. Entre a rapaziada, também se falava em “pirisca” aos restos dos cigarros fumados.

Agora, o PAN, representado no Parlamento por um único deputado, quer multas pesadas, para quem atirar beatas para o chão. Assim, considerando que uma beata pode usar saias, convém que a Lei a aprovar na Assembleia da República não provoque dúvidas.

Questões finais

Ouço, muitas vezes, expressões que me parecem duvidosas:

“A chuva começou a cair. A chuva cai”. O vapor de água, que é mais leve que o ar, sobe para a atmosfera, formando as nuvens. Ao atingir certas altitudes, o vapor de água condensa, voltando a transformar-se em água. Portanto, o que cai é a água, sob a forma de chuva.

Outro caso, é o de ouvir na rádio, que o “trânsito está parado”, em determinada estrada, para informar que os veículos não circulam. Então, se está parado, não é trânsito, pois não se verifica a acção de transitar ou marchar.

Estes dois exemplos, apenas fazem parte de algumas reflexões, que muitas vezes faço sobre determinadas frases, que aqui partilho com os leitores e que podem não significar Pontapés na Gramática.

Nota: Por vezes, o autor também erra!

Fotos: pesquisa Google

01jul19

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