Emigrar e estudar noutro país parece ser algo vivido com alguma leveza nos dias que correm, mas embora esta prática recorrente nas gerações mais jovens seja vista como algo gradualmente mais normal, ainda tem muito que se lhe diga…
Pedro Abreu (*)
(texto e fotos)
Não é fácil deixar tudo o que se conhece para trás e começar uma vida nova num local desconhecido, onde quase tudo é diferente daquilo a que se está habituado. Muitos já fizeram ERASMUS ou sabem o que é, mas sair do país para seguir educação superior é completamente diferente.
Para além de ser uma decisão arriscada e corajosa, é também ambiciosa. Se já é trabalho árduo tirar uma licenciatura ou mestrado na nossa própria língua, imagine-se numa que não é a nossa língua materna.

O Reino Unido é um dos destinos mais escolhidos para prosseguir educação universitária, e mesmo com as ameaças do Brexit estes números só têm vindo a aumentar. Segundo o site ‘Studying in the UK’, 76,880 alunos europeus matricularam-se em universidades inglesas no período 2018/2019.
“Fui para o Reino Unido estudar primeiramente a pensar no meu futuro e em como isso me poderia abrir muitas mais portas e possibilidades”, diz Cláudia Baptista, estudante de Lei Internacional no Reino Unido. “O curso e o modo de ensino correspondiam muito mais àquilo que eu queria do que os cursos nas universidades portuguesas na minha área”.
Não se pode negar a reputação que a educação inglesa tem internacionalmente. Provavelmente essa será uma das principais razões que leva estudantes como Cláudia a seguirem as suas ambições longe de casa, sempre com os olhos postos no futuro. Sendo um país com um mix cultural impressionante, o Reino Unido é um país muito amigável que geralmente recebe bem todas as pessoas, de todos os países. Claro que agora há o Brexit, mas isso é outra história.
“O facto de apostarem muito mais na autonomia do aluno e de ensinarem com muito mais recurso a experiência prática tem muito mais a ver comigo e com o meu caráter e agora já não me imaginava a tirar o meu curso em mais nenhum lugar, especialmente não em Portugal”, diz Cláudia. O método de ensino no Reino Unido, muito mais focado na prática e no incentivo à pro-atividade dos alunos revela-se como um fator de escolha em muitos casos.
Esta mentalidade prática e empreendedora ajuda os alunos a estarem muito mais preparados para enfrentarem as suas vidas profissionais, com as bases que talvez não sejam providenciadas pelos cursos nos seus países de origem.
Mas não é só de educação que se fazem estas experiências. As universidades podem oferecer melhores condições, mas há sempre aspetos que não se assemelham em nada aos que estavam habituados em ‘casa’. Cláudia diz que “o pior foi sem sombra de dúvida a saudade, não só dos familiares e amigos, mas também da comida, do tempo, das pessoas e da cultura”.
Embora estar longe de casa e família seja por vezes difícil, é a perseverança nestes casos que ajuda estes jovens a distinguirem-se no futuro pela dedicação mostrada. Um aspeto positivo é que agora facilmente se marca uma viagem de avião e está-se em ‘casa’ em pouco mais do que uma hora. “Agora consigo perceber que aquele período de adaptação era algo pelo qual tinha de passar se realmente queria estudar no Reino Unido, e agora sei absolutamente que quero”, diz Cláudia.

Antigamente seria mais complicado pelas restrições tecnológicas e de transportes. Atualmente o longe faz-se perto com as videochamadas, mensagens e mil e uma redes sociais que permitem estar em constante contacto com qualquer pessoa de qualquer parte do mundo.
Alguns estudantes ficam no Reino Unido apenas um ano, outros podem estender a sua estadia até três ou quatro e ainda existem alguns que pretendem ficar no país a trabalhar pelas melhores ofertas salariais.
Existem cursos, mestrados e estágios para todas as áreas e todos os profissionais, mas num país com uma grande população o maior inimigo é a competição e a busca por bons trabalhos, onde há muita oferta, mas imensurável procura.
“Planos para os próximos três anos definitivamente incluem arranjar um part-time, fazer voluntariado e entrar em mais sociedades e grupos escolares”, diz Cláudia. “Quero entrar mais no espírito universitário, que é mais uma coisa que Inglaterra não tem minimamente em relação a Portugal”.
(*) Correspondente “Etc e Tal jornal” em Coventry (Inglaterra)
01jul19