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ACADÉMICO FUTEBOL CLUBE PREPARA (AOS 108 ANOS) UMA NOVA REVOLUÇÃO NO LIMA! PROJETO – JÁ ENTREGUE NA CÂMARA DO PORTO – GARANTE A CRIAÇÃO DE UM DOS MELHORES COMPLEXOS DESPORTIVOS DO PAÍS…

É um passo histórico, no já de si histórico Académico Futebol Clube. Uma coletividade que é um símbolo do desporto portuense e nacional, com 108 anos de história, e que, agora, prepara o seu rejuvenescimento com um projeto moderno e, verdadeiramente, revolucionário para o clube e para toda a comunidade que o envolve.

José Gonçalves                        Diogo Almeida

(texto)                                              (fotos)

O projeto já deu entrada na Câmara Municipal do Porto, autarquia que, diga-se de passagem, deu grande apoio para que o mesmo se torne, dentro de dois a três anos, uma realidade. Passando esse apoio, entre outros factos, pelo contrato de direito de superfície dado ao clube por 50 anos, espaço onde nascerá a nova “cidade desportiva” academista.

Da autoria da empresa espanhola “Supera”, o projeto é, sem dúvida, tão ambicioso quão revolucionário para o clube e para a cidade: cinco piscinas (três cobertas e as restantes ao ar livre); três pavilhões: locais para musculação e preparação física; e dois parques de estacionamento subterrâneos, entre outras valências, que podem e devem ser utilizadas pela comunidade.

JOSÉ PEDRO SARMENTO: “ESPEREMOS QUE O QUE AÍ VEM SEJA UMA TERCEIRA VAGA NA VIDA DO CLUBE

Ora, este é um passo de gigante na vida do Académico Futebol Clube, tais como outros que, em outras épocas, a coletividade foi exemplar. E ninguém melhor para contar um pouco dessa história, assim como a realidade presente e o futuro que o clube quer abraçar, que o presidente da Direção, José Pedro Sarmento. Um academista dos “sete costados”, que lidera os destinos diretivos do clube há sete anos, e que tem consciência do passo que o (seu) Académico prepara-se para dar…

“Esperamos que o que aí vem seja uma terceira vaga, ou fase, na vida do Académico. O clube foi fundado em 1915 e poucos anos depois – com gente muito jovem que formava um excelente grupo de líderes e que foram, durante muitos anos, a nata da sociedade aqui no Porto-, conseguiu-se coisas muito pouco vulgares. Passados 10 a 15 anos da sua fundação, o Académico já tinha um dos maiores estádios da Península Ibérica, o do Lima, que foi considerado o melhor a nível nacional. Foi o primeiro a ter relvado, com duas pistas, uma para atletismo e outra para ciclismo e automobilismo. Ora, isto nos anos 30 era uma referência! Depois, o Académico entrou numa fase em que foi perdendo algumas das suas capacidades, provavelmente na «luta» com o vizinho Futebol Clube do Porto que acabou por ganhar mais fôlego e crescer mais. Assim sendo, e depois de perder essa «luta», passados uns anos, o clube tomou uma decisão: entregar o Estádio do Lima, que era alugado, à Santa Casa da Misericórdia. E, assim, deixar o futebol profissional”.

Mas, pelos vistos, e ainda que o futebol já fosse o denominado “desporto rei”, isso não deu cabo dos propósitos de vida do Académico, já que, segundo José Pedro Sarmento, “logo a seguir, nos anos sessenta, tivemos o presidente Mário Navega – figura também ela muito importante na sociedade portuense -, e que, tomando uma decisão estratégia, fez construir o pavilhão do Lima. Primeiro o A e depois o B, e que, entre as décadas de sessenta e de oitenta, foi um espaço essencial na cidade. Aí se fizeram comícios, concertos de música, todas as equipas da cidade jogavam aqui, incluindo o Futebol Clube do Porto. Esta foi uma segunda fase”.

Passado esse tempo áureo, o Académico pouco ou nada evoluiu, isto atendendo à verdade dos factos que comprova a realidade vivida nos dias de hoje, e que as palavras do presidente da Direção confirmam…

“Essa segunda fase da vida do clube atingiu o seu limite, pelo que, hoje, está completamente fora de todos os critérios desportivos. Ou seja, as nossas instalações não cumprem com as regras, atualmente, estabelecidas para que sejam consideradas instalações desportivas de referência. Então, tínhamos de encontrar uma forma de resolver este problema. Ou íamos para uma situação que, mais ano menos ano, nos levaria ao encerramento, porque os balneários, as bancadas já não estão de acordo com as exigências atuais; ou tentávamos encontrar uma outra solução que nos permitisse dar o salto”.

Eis, então, que surge o tal projeto… revolucionário, apresentado pela empresa espanhola “Supera”, e pronto, em boa verdade, a superar o marasmo em que se encontrava o clube academista.

“Interessados que estávamos na requalificação estrutural do clube, aparece, então, a “Supera” – a que se lhe seguiram mais empresas espanholas e também do nosso país. Ficamos ligados a esse projeto, surgindo, assim, a possibilidade de dar o tão almejado e necessário salto com a concretização de um complexo desportivo verdadeiramente interessante”, refere com visível satisfação José Pedro Sarmento.

CÂMARA SURPREENDE ACADÉMICO PELA POSITIVA…

E se a surpresa causada pela grandeza do projeto junto dos diretores do Académico foi evidente, mais surpreendente foi a reação da Câmara Municipal do Porto quando o mesmo lhe foi apresentado. De início as coisas até nem correram lá muito bem tendo em conta as ideias apresentadas pelo clube, mas, a verdade, é que, e sem ninguém do Académico esperar, a autarquia resolveu a questão a favor dos interesses da nossa coletividade, dando-lhe apoio na “revolução” a ser encetada na zona alta da cidade do Porto.

“A primeira ideia de projeto que surgiu, acabou por ser recusada pela Câmara Municipal do Porto, pois só seria utilizada uma parte de um terreno que é nosso. Mas, logo depois, fomos surpreendidos pela positiva, porque a Câmara foi como que proactiva e disse-nos: “quanto ao projeto apresentado não vemos possibilidades, mas se vocês quiserem utilizar a parte que é pertença da autarquia… tudo bem! Nós achamos que este é um projeto interessante para a cidade. Ou seja, toda a zona que envolve o palacete, sendo que este será mantido como está, o que para nós é importante, porque é um símbolo vivo do clube e da própria cidade”.

E foi assim que reagiu o executivo camarário, e em concreto o presidente Rui Moreira e a vereadora da Juventude e Desporto, Catarina Araújo, de acordo com o publicado órgão oficial da Câmara Municipal, o “Porto.”:

A reunião do executivo camarário que atribuiu o direito de superfície ao Académico FC – Foto Miguel Nogueira (Porto.)

“Este contrato de direito de superfície pode, de facto, permitir o renascer do Académico com a dimensão que já teve”. Foi com estas palavras que o presidente da Câmara do Porto salientou a importância de todo o Executivo ter deliberado por unanimidade a cedência em direito de superfície do prédio municipal onde o clube tem a sua sede e onde exerce atividade há mais de 90 anos.

A proposta, assinada pela vereadora da Juventude e Deporto, Catarina Araújo, explicita que o Académico Futebol Clube (AFC) “pretende promover uma intervenção estrutural nas atuais instalações, construindo um complexo desportivo que permitirá dotar este espaço da cidade de uma infraestrutura desportiva renovada e reforçada com novas valências.

Contudo, a dimensão do investimento a realizar “não é compatível com a precariedade do direito de utilização de que atualmente o clube é titular, revelando-se mais adequada a constituição de um direito real de superfície sobre o imóvel, que, entre o mais, permitirá ao clube constituir as garantias necessárias para o financiamento das obras a promover”.

Justificando-se a opção pela cedência do direito de superfície, considerando que o prédio municipal onde o Académico tem sede é também casa das suas atividades “há mais de 90 anos”, o documento sustenta que este “é um clube centenário da cidade, com inegável e reconhecido trabalho no fomento e na divulgação da formação e da prática desportiva a nível nacional e, em particular, na cidade do Porto”.

O “MAIOR COMPLEXO DESPORTIVO DA CIDADE E DOS MAIORES DO PAÍS”

Os futuros pavilhões…
Parte do projeto

E, pronto! Tudo, preto no branco…

E o “preto no branco”, além de serem as cores emblemáticas do Académico Futebol Clube, à mistura com um “interventivo” vermelho, é também sinónimo da concretização oficial de um sonho que vai modificar, em muito, e pela positiva, a vida do clube da zona do Lima.

Mas, como é, na realidade o projeto?

José Pedro Sarmento, explica:

“Para já, posso dizer que, com a concretização deste projeto, teremos o maior complexo desportivo da cidade e dos maiores do país nesta dimensão, pois não estamos a falar de estádios de futebol. Até porque, e como se sabe, estamos, exclusivamente, virados para as modalidades ditas amadoras: o basquetebol, o andebol e o hóquei em patins. O que vai ser feito aqui será um equilíbrio entre aquilo que nós necessitamos e aquilo que a empresa que implantar aqui, como serviço desportivo.

Eles vão construir um tipo de Academia. Será uma grande estrutura que envolverá milhares de pessoas a utilizá-la diariamente, assim como três piscinas cobertas; duas descobertas; salas de musculação, balneários, e, na zona das cinco piscinas, atividades de ginásio serão geridas pela empresa “Supera” durante quarenta anos. Depois a empresa terá de nos construir três pavilhões. Portanto,  quando estiver pronto, o Académico ficará, repito, com três pavilhões: um para o basquetebol; outro para o andebol, e o outro para o hóquei em patins. E toda a estrutura que eles vão construir terá, por debaixo, dois pisos de garagem. Exceto o palacete, tudo o que está aqui à volta vai abaixo. Haverá espaços verdes numa das partes junto às piscinas descobertas, com um enorme parque ao ar livre.

De salientar, frisa o presidente do Académico, que “a cidade do Porto não tem, hoje, uma única piscina ao ar livre. Perdemos Campanhã, a do Fluvial e a da Constituição, que, entretanto, foram cobertas. Assim sendo, a empresa pretende recolocar essa valência na cidade”.

A PRIMEIRA VEZ QUE A EMPRESA AUTORA DO PROJETO NEGOCIOU COM UM CLUBE

E para que o projeto fosse o que é, nada aconteceu da noite para o dia.

“Todo este processo de contactos com a empresa durou alguns anos. Para já, há três anos que estamos a passar pelas diversas fases. Desde a fase de avaliarmos as coisas, isto em encontros entre a empresa e o clube, até porque esta é a primeira vez que a «Supera» faz um negócio com um clube. Estes negócios têm sido feitos, normalmente, entre a empresa e as câmaras municipais, como o fez em Lisboa, na piscina do Areeiro, e na do Campo Grande; e tem uma terceira situação em Setúbal com a câmara municipal e em Braga também com a autarquia local. Portanto, esta é a primeira vez que a «Supera» está a fazer um negócio com um clube”.

José Pedro Sarmento realça que “a água para eles é o ponto forte, mas depois, à volta, está toda a parte de ginásio. Aqui, eles contam ter cerca de cinco mil utilizadores, e com esses cinco mil utilizadores, eles trazem uma rede de negócio à base do low cost. E já têm o preço estabelecido – de quarenta euros por mês para todo o agregado familiar ter acesso a todas as atividades que eles vão dispor: as piscinas, os ginásios, durante 24 horas. Eles têm 36 ginásios espalhados pelo mundo. Trinta em Espanha; três em Lisboa e dois em Nova Iorque, e o modelo de negócio é sempre esse. A obra a executar no nosso clube está orçada entre os 12 e os 16 milhões de euros… é muito dinheiro”.

AS RAZÕES QUE LEVARAM A “SUPERA” A ESCOLHER O ACADÉMICO

Antecipando-se, e bem, ao jornalista, o presidente do Académico lança a questão:

“E pode perguntar: mas, por quê a escolha do Académico? Eles, normalmente, procuram locais, como o nosso, que é identificado como de prática desportiva. Não é o mesmo que ter de criar, num cruzamento ou num bairro qualquer, um espaço desse género. Aqui, já há uma identidade reconhecida pela cidade. Depois, há um outro aspeto muito interessante, que é o facto de estarmos no meio de duas estações de Metro: a do Marquês e a dos Combatentes. Estamos a 250 metros de cada uma delas, e isto, para eles, é muito importante. Depois temos, um terceiro aspeto, que durante muito tempo nos pareceu uma fragilidade e que agora ganhou uma dimensão diferente: é que, onde nos encontramos, situa-se a fronteira da Junta de Freguesia do Bonfim com a de Paranhos. Ora, temos muitas boas relações com o Bonfim – o presidente da Junta, José Manuel Carvalho, até é nosso sócio honorário -, mas também com Paranhos, de onde são oriundos a maioria dos nossos utilizadores, e que com a Junta começamos também a ter boas relações. Essa junção – acessibilidade com o Metro e a identificação do sítio -, acabou por ser fundamental para essa escolha, isto além do facto que o local teria de ter capacidade para serem construídos os parques de estacionamento”.

A CÂMARA MUNICIPAL “VÊ LONGE…”

José Pedro Sarmento e Rui Moreira, aquando das comemorações do 108.º aniversário do Académico FC, em setembro de 2019 – Foto Miguel Nogueira (Porto.)

E não podiam deixar de existir, por parte da Direção do Académico, e designadamente do seu presidente, elogios ao comportamento da Câmara Municipal nesta fase inicial do processo.

“A liderança da Câmara Municipal percebe destas coisas! Eles viram mais longe do que nós. O Académico estava a pedir um projeto pequenino e foi a Câmara a dizer que nós precisávamos e merecíamos um maior. Alguém disse, logo, de início que o que estávamos a pedir não dava, mas houve um «mas». «Mas» se vocês quiserem e porque há muito tempo estávamos a pensar dar-vos os cinquenta anos de direito de superfície, a gente avança também para isso…”

E avançaram, como aliás, atrás o referimos.

TUDO O QUE SEJA FEITO EM MENOS DE UM ANO VAI SURPREENDER-ME!

Mas, como quase em tudo na vida, tem de se dar tempo ao tempo, e, neste caso, ao tempo que demorará todo o processo em si, para que depois a obra comece a ganhar corpo. O nosso interlocutor espera, naturalmente, que as coisas corram bem, e que o processo obedeça a todos os trâmites…

“Já fizemos a entrada do projeto na Câmara Municipal. Está entregue! Mas, este é um processo que é um bocado moroso e aleatório, porque há uma parte burocrática de análise do projeto que vai demorar algum tempo, e nada há que faça acelerar o processo. O processo está a decorrer. Um ano é meio é de certeza para obras… tudo o que seja feito em menos de um ano vai surpreender-me!”

TEMOS UMA DIMENSÃO QUE A CIDADE DESCONHECE!

Com 108 anos de existência – fará 109 no próximo mês de setembro -, o que é, na verdade dos factos, o Académico Futebol Clube dos dias de hoje?

“Temos uma dimensão desconhecida da cidade”, começa por nos responder o presidente do clube, para lançar, logo de seguida, interessantes números.

“Temos dois mil e quinhentos sócios, com um grande número de não-pagantes, porque hoje em dia o desporto é muito diferente do que o que era no nosso tempo. Os paizinhos põem aqui os meninos. Se os meninos jogam, ficam! Se os meninos não jogam, passados dois meses estão a retirá-los do clube e a levá-los para outro onde posam jogar. Há aqui uma mobilidade considerável de atletas. E por falar em atleta, aí temos um número bastante interessante. Em algumas modalidades somos o maior clube da cidade, como no caso do andebol.  No total, temos oitocentos atletas de 42 equipas de diversos escalões e dos dois géneros. Isto sobrevive à custa dos pais dos atletas. Nós não temos meios! Aqui um euro, vale um euro. Não conseguimos cativar grandes patrocinadores; não pagamos a nenhum atleta, as equipas são, assim, amadoras. Todos os nossos atletas que vão às seleções acabam por abandonar o Académico”.

Todavia, há esperança que as coisas mudem…

DURANTE AS OBRAS PARA ONDE IRÃO OS ATLETAS? E ONDE ATUARÁ A EQUIPA DE HÓQUEI EM PATINS?

Foto: AFC

E a mudança de instalações, a que as obras vão obrigar, está a criar algumas dores de cabeça à Direção, principalmente no que concerne às equipas de hóquei em patins, pois dificilmente encontram rinque desocupado para desenvolverem as suas atividades.

José Pedro Sarmento está consciente dessas dificuldades…

“Vai ser um problema e um grande desafio! Nas comemorações dos 100 anos do Vasco da Gama falava com a vereadora do Desporto da Câmara Municipal sobre esse assunto e ela também se mostrou preocupada. Bem. Para já, vamos tentar fazer uma grande campanha junto das coletividades da cidade. O Académico esteve aberto a todos os outros clubes; todos eles jogaram aqui, agora se calhar vai ser necessário que as pessoas pensem um bocadinho, e seja altura deles nos abrirem as portas. Num clube como o nosso, que é de desportos coletivos, o maior bem são os adversários. Se os não tivermos… não jogamos! Os outros, se nos quiserem ganhar têm de connosco competir”.

Relativamente ao hóquei em patins, em particular, o líder da direção academista refere que “há, no Porto, pavilhões com tabelas, rinques, mas estão ocupados. Há o Infante Sagres, mas eles só têm um pavilhão e precisam dele; há o Vigorosa, mas têm lá o «Dragon Force». Além do Académico são só esses dois pavilhões com tabelas na cidade do Porto. Assim sendo, já temos como pontos de contacto, clubes de Gaia e da Maia – mas principalmente de Gaia-, com quem possamos fazer algumas parcerias”.

NÃO SE PODE DEIXAR MORRER OS ESCALÕES DE FORMAÇÃO!

A verdade, porém, é que durante as obras – são as tais barreiras que o crescimento cria -, e sem os habituais locais para treino, alguns atletas podem abandonar o clube …

“Se morrer uma equipa sénior, podemos reconstruir uma outra com facilidade um ano depois, o que não se pode deixar morrer”, destaca José Pedro Sarmento, “são os escalões de formação, porque cada grupo etário – começam aos sete oito anos a formar – demora muito tempo a chegar a sénior. E se os perdemos atletas aos 14,15 ou 16 anos, já dificilmente os voltaremos a reencontrar. Estou, desse modo, mais preocupado com essas equipas de formação do que propriamente com as equipas seniores. Além disso, as equipas de formação são mais sustentáveis, assim comos os masters, já os seniores… são os craques, querem ter um conjunto de benesses que nós não conseguimos dar. Portanto, neste momento, num clube como o Académico, a nossa força essencial está na formação!”

SAIR, OU NÃO, DA PRESIDÊNCIA? EIS A QUESTÃO!

E quanto ao futuro, no que à liderança diz respeito. Teremos por mais alguns anos José Pedro Sarmento à frente dos destinos do Académico Futebol Clube?

“Dá-me um prazer imenso ser presidente da Direção do Académico. Estou quase a acabar o meu ciclo. Encontro-me há sete anos neste lugar. Esta a chegar a altura de, dentro em breve, aparecer sangue novo e ideias novas. Mas, pergunto-me, e dadas as circunstâncias, se será este o momento oportuno para sair?! Eu e os meus companheiros estamos a ponderar isso. Se será agora, se será daqui a mais algum tempo, não sei. Estamos a viver uma fase importante da vida do clube, e pode dar jeito uma certa estabilidade e manter uma certa continuidade. É isso que estamos a estudar”.

E quanto à reação das pessoas ao projeto…

“Ao princípio, como era de esperar, com um «isto não é possível!». Agora, não. Dá-me ideia que as pessoas já perceberam que o que está projetado vai mesmo acontecer, e que há uma grande vontade e disponibilidade para colaborar. Há pessoas que estão a regressar à coletividade, e muita gente que acredita que esse será um momento de viragem. Ando aqui desde miúdo, e lembro-me das pessoas já chamarem ao Académico um clube antigo; um clube que não tinha conseguido evoluir como um Boavista ou um Futebol Clube do Porto, porque nós tínhamos sempre ficado agarrados a um passado; um passado glorioso, é certo, mas um passado. Agora não, todos acreditam que o futuro está aí à porta, e, assim sendo, estão confiantes no crescimento do Académico”.

OS TERRENOS ABANDONADOS DO ESTÁDIO DO LIMA

Foto: Pedro N. Silva (Arquivo EeTj)
Foto: PNS (Arquivo)
Foto: PNS (Arquivo)
Foto: PNS (Arquivo)

E por falar em passado, não podia deixar de ser abordado a importância que constituiu o Estádio do Lima na vida do Académico, que depois de entregue à Santa Casa da Misericórdia, foi vendido a uma empresa, que deixou os terrenos ao abandono até aos dias de hoje, e já lá vão, quarenta anos…

O presidente do Académico explica a situação, com alguma revolta à mistura…

“Os terrenos do antigo Estádio do Lima foram vendidos a uma empresa, e essa empresa tem, do ponto de vista financeiro, achado melhor manter os terrenos assim, numa lógica especulativa. Essa empresa quer uma mancha de construção superior aquela que o Plano Diretor Municipal autoriza, e, portanto, nada faz ali para pressionar, politicamente, a Câmara para que de futuro aceite aumentar a taxa de construção. É, repito, uma lógica especulativa. Aquilo está assim há cerca de 40 anos. Essa empresa como tem capacidade financeira vai adiando a construção, ficando aquilo assim, para pressionar a Câmara…”

RELACIONAMENTO INSTITUCIONAL E O PALACETE DOS LIMA

Sediado na Rua de Costa Cabral, já quase a chegar à Praça do Marquês de Pombal, o Académico Futebol Clube foi, desde que existe – e prova-o a História -uma instituição respeitada na cidade, a tal ponto – como nos disse José Pedro Amorim – de se ter tornado “numa instituição simpática e de bom relacionamento com todos. Temos as portas abertas. Não temos uma lógica agressiva de intervenção. Estamos sempre abertos., Acho que as pessoas olham para nós e reconhecem o clube. Esta caraterística é para continuar, independentemente da concretização do projeto. É a nossa génese. É um clube que as pessoas gostariam ver a perdurar no tempo.”

E perdurar no tempo é também conservar algo que preserve a história da coletividade, como é o caso do Palacete do Lima, onde estão instalados os Serviços do clube. Palacete que tem uma história, a qual faz desencadear umas outras tantas…

“Temos com este Palacete, uma relação com este edifício de 90 anos. Ele tem uma história na cidade. Foi mandado construir por um casal, o senhor Lima e sua esposa que era brasileira. Ele morreu passado pouco tempo depois de terem cá chegado, e ela manteve uma relação com a cidade muito importante. Ainda ambos, mandaram construir a Fábrica dos Fósforos – aqui ao lado –, assim como outros investimentos na cidade, entre os quais, o Hospital da Lapa que foi já mandado construir pela viúva em honra do marido. Agrada-nos muito esta ligação que temos com este edifício e com esta família Lima. Assim sendo, queremos manter este edifício. Vamos, provavelmente, adaptá-lo a uma lógica mais adequada aos dias atuais, tendo pedido já uma opinião ao arquiteto Paulo Seco – uma pessoa que nos tem ajudado ao longo dos anos e ele também é um estudioso deste edifício – para darmos um arranjo, de modo a que o espaço tenha uma maior versatilidade”.

NOVOS VENTOS VOLTAM A SOPRAR NA ZONA DO LIMA

E, pronto! Está tudo preparado para que o futuro seja bem recebido lá para os lados do Lima, zona central da parte mais alta da cidade do Porto.

E quer queiramos, quer não – e atendendo também às palavras do nosso entrevistado – “esta Rua de Costa Cabral vai ganhar o interesse de muita gente. Este vai ser um fator de desenvolvimento muito importante. Só em termos diretos serão cerca de 150 postos de trabalho que serão, futuramente, criados. Estou convencido que foram todas essas variáveis que fizeram com que a Câmara percebesse a importância deste projeto. Agora vamos ver se tudo corre bem. Se os prazos estarão dentro daquilo que é previsto e possível fazer-se. E isso vai atrair a juventude. Porque, a dada altura, quando os jovens olhavam para as condições em que aqui se encontravam afastavam-se, procurando locais onde as condições eram melhores. Pode ser que possamos manter a juventude que temos e atrairmos outros jovens para o Académico. A minha ideia é fazer o melhor possível pelo clube! O Académico sempre produziu dirigentes de grande qualidade ao longo dos anos. E neste momento há uma série delas preparadas para assumirem os destinos da coletividade. O que é bom, muito bom!”

E o futuro bate à porta do Académico, que, como sempre, de portas escancaradas o vai receber, dando consequentemente, um grande salto qualitativo na sua existência, salto esse que se estenderá à dinamização desportiva e social da cidade do Porto, e, em concreto da zona do Lima, na freguesia do Bonfim…

DATAS MARCANTES NA VIDA DO ACADÉMICO

1911 – O Académico FC foi fundado há 108 anos por um grupo de estudantes do Liceu Alexandre Herculano

1924 – Inauguração do estádio (do Lima), com o primeiro relvado do país (1930), pista de ciclismo/automobilismo e outra de atletismo

1931 – Em maio é erguido o primeiro recinto do país destinado exclusivamente ao basquetebol e palco do primeiro jogo internacional: Portugal-França, 9-34

1934 – O Académico FC disputa pela primeira vez o Campeonato Nacional de futebol da I Divisão, no mesmo ano em que o estádio acolhe o primeiro jogo noturno (Seleção do Porto-FC Porto, 0-6)

1940 – O Académico empresta o estádio ao FC Porto, cujo Campo da Constituição já não oferecia as necessárias condições, antes da inauguração do Estádio das Antas (1952)

1947 – O filme “O Leão da Estrela” tem como pano de fundo, no Estádio do Lima, o jogo entre o FC Porto e o Sporting

1966 – Inauguração do gimnodesportivo, o chamado Pavilhão do Lima “A”, tendo a abertura do “B” ocorrido seis anos mais tarde

1972 – Em fevereiro, o Estádio do Lima recebe o último jogo: Boavista-FC Porto, 1-2; os axadrezados também recorreram a esse espaço durante as obras no Bessa.

2015 – Substituição do piso de cimento por um de madeira, no pavilhão “B”

2019 – Câmara Municipal do Porto atribui ao clube o direito de superfície, por 50 anos, dos terrenos onde está instalado

2021 – Data prevista (novembro/dezembro) para a reabertura de um novo Académico.

 

01mar20

 

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