Está a decorrer na Casa Museu Júlio Dinis, em Ovar, a Residência Artística do ator ovarense Pedro Damião através do projeto de que é autor, “As Palavras Estão Gastas. Porque Não Calarmo-nos de Vez?”, que teve a sua primeira apresentação no dia 18 de maio com uma performance teatral “Pedras na Boca”, entre vários outros momentos que acontecem, como ensaios abertos, teatro, oficina/workshop e uma tertúlia no encerramento, dia 31 de outubro, em que será apresentado ao público o lançamento da edição desta Residência Artística, como culminar de sete meses de trabalho artístico, em que são reunidos os principais momentos do processo criativo, desenvolvido e partilhado com os diferentes intervenientes e o público.
Pedro Damião, que nasceu em Ovar em 1982, tem o curso de Interpretação da Academia Contemporânea do Espetáculo (Porto), onde frequentou entre 2002 e 2005. No seu percurso profissional como ator, teve várias participações em séries e telenovelas e mais recentemente o filme “1618” com realização de Luís Ismael.
Tem trabalhado em companhias como Teatro do Bolhão, Mau Artista, Teatro das Beiras, Art’Imagem, Público Reservado e Teatro do Calafrio.
Distinguem-se desta sua ainda curta carreira, os trabalhos “Laramie” (de Moisés Kaufman), “D.Juan” (de Molière), “As Viagens de Gulliver” (de Luísa Ducla Soares), “A Noite da Iguana” (de Tennessee Williams), “Gil e Vicente, uma Viagem de Barca ao Inferno” (de Gil Vicente), “Liturgia” (de José Carretas), “As Possibilidades” (de Howard Barker), “O Jogo das Perguntas” (de Peter Handke) e “A Bela e o Monstro no Gelo” (de Ana Queirós). “Pedro” foi a sua mais recente encenação, adaptação de “Pedro I” de Manuel Poppe, estreado no Teatro Municipal da Guarda. Este artista dá ainda voz a alguns desenhos animados da televisão portuguesa, e leciona a disciplina de Interpretação na Escola Profissional de Artes Performativas da Jobra. Um percurso profissional, que nesta experiencia da sua Residência Artística na Casa Museu Júlio Dinis, em tempo da covid-19, teve que corresponder ainda às exigentes adaptações, incluindo na conceção e interpretação, face aos novos desafios para cumprimento das medidas de segurança em espetáculos e espaços culturais.
Ao convite para integrar a programação cultural da Casa Museu Júlio Dinis, através de um projeto inserido na habitual e anual Residência Artística, o ator Pedro Damião, que, “parte sempre para a criação de um projeto com a ideia assente que a faz por necessidade pessoal e não por mera sobrevivência intelectual”, respondeu com, “As Palavras Estão Gastas. Porque Não Calarmo-nos de Vez?”. Encontrando “nesta oportunidade à Residência uma espécie de extensão do que foi a vida de Júlio Dinis aqui nesta casa, nomeadamente, o seu ponto máximo de criação, o momento de encontro de um vazio pessoal e que tinha que ser completado, neste caso com a escrita; deixem-no acreditar que também ele terá a responsabilidade de manter viva a herança cultural do espaço, onde, tal como Júlio Dinis, também possa errar, experimentar, descobrir. Espaço onde, como ator e criador, possa vivenciar satisfação e insatisfação, dor e alegria; falhar e aperfeiçoar, retornar ao vazio e ao silêncio, à escrita e à linguagem, ao real e ao imaginário, ao presente e ao passado”, lê-se no texto de apresentação desta Residência Artística,
No decorrer da programação da Residência, realizou-se um segundo momento teatral da Residência Artística de Pedro Damião, no dia 10 de julho, com a performance, “Eu que nunca fui autor de nada, troco a minha voz pelo teu corpo”, que, como autor da conceção e encenação, partilhou o palco do Centro de Artes de Ovar (CAO), com a bailarina Ana Renata Polónia e o público. Tratou-se de uma abordagem, “sobre o que é, de facto, a criação. A importância e a função de um corpo e o reconhecimento da existência da personagem. Um corpo e uma voz que ocupam um espaço (…)”.
Seguiu-se ainda em julho (dias 17, 18 e 19) uma Oficina/Workshop sobre, “A presença da voz e do corpo na criação do ator”, com Pedro Damião formador, propondo-se “explorar os recursos primários da voz e partir da improvisação escolhendo os diversos caminhos até levar à construção da personagem”. Desta vasta programação, o Teatro volta em setembro (dia 19) com, “Sempre quis ser outra coisa”, conceção e encenação de Pedro Damião.
Como reconhece o autor e criador de “As Palavras Estão Gastas. Porque Não Calarmo-nos de Vez?”, em declarações ao nosso jornal, concluída a programação da sua Residência Artística até julho. “Esta cumplicidade”, começou por afirmar o ator Pedro Damião, “surge de um convite da própria Câmara Municipal de Ovar por forma a integrar um projeto na sua programação. Neste caso, inserida na habitual e anual Residência Artística que decorre todos os anos na programação da Casa Museu Júlio Dinis. Esta Residência torna-se diferenciadora de todas as outras porque Teatro e Escrita são áreas que nunca tinham sido exploradas num contexto destes. Dessa forma, o desafio foi lançado e aceite de imediato, mesmo quando não se imaginava o que 2020 tinha reservado para nós”, referindo-se à pandemia e às suas consequências, nomeadamente na cultura.
Por isso, e como sublinha, “o que era uma Residência da forma mais natural e normal, passou a ser uma constante procura e uma luta contra a estagnação criativa que me assolou a dada altura. Deixo de ser o tradicional ator e passo a ser o responsável por tudo o que envolve e compõem este projeto. Desde a primeira letra escrita no papel, uma respiração entre palavras, um som, um cenário, luzes, até ao silêncio depois das possíveis palmas”, que Pedro Damião se mostra, “profundamente agradecido a quem tem confiado neste projeto, porque está totalmente às escuras, tal como eu, à medida que avançamos no tempo. Este vírus também tem este lado negro. Avançamos com ele e da forma que ele nos permite. Apesar de tudo, é muito bom finalmente estar em contacto direto com as pessoas do nosso concelho. Profundamente agradecido.
Texto: José Lopes
Fotos: Daniel Mendonça e Museu Júlio Dinis
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