‘Surf para todos’ é um projeto de inclusão que resulta da parceria de boas vontades no seio da comunidade local, através de uma empresa de surf no Furadouro, do qual vêm beneficiando neste dois últimos anos letivos os alunos do Centro de Apoio às Aprendizagens (CAA) da Escola EB 2.º Ciclo António Dias Simões, em Ovar, que bem merece mais atenção das várias entidades com responsabilidades sociais e na educação.
José Lopes
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Mais do que um compromisso com a educação inclusiva, a atual legislação que aposta na criação de centros de apoio à aprendizagem (CAA) e equipas multidisciplinares nas escolas, representa um extraordinário desafio às comunidades escolares, destacando-se para alem do fundamental envolvimento dos pais e encarregados de educação, a intervenção dos profissionais e especialistas da educação, na procura de estratégias para lidar com a diferença, identificando medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão em articulação com as áreas curriculares específicas, correspondendo às necessidades educativas para todos e de cada uma das crianças e jovens ao longo do seu percurso escolar.
Entre os múltiplos exemplos de profissionalismo, destacam-se professores, assistentes operacionais ou terapeutas, para corresponder com empenho, dedicação e entusiasmo aos desafios que se colocam perante a diversidade das necessidades para a inclusão em cada comunidade escolar, a exemplo do Agrupamento de Escola de Ovar (AEO) que tem como diretor Francisco Bernardo, cujo departamento do Ensino Especial tem como coordenador Luís Gonzaga.
Podem destacar-se neste Agrupamento, projetos de atividades dinamizados por profissionais da educação, em parceria com entidades da comunidade local, que assumem particular relevância nestes processos no âmbito da escola pública, como o que pelo segundo ano consecutivo se realizou na Escola EB 2.º Ciclo António Dias Simões, através da dupla de docentes do CAA, Nuno Bento e Carlos Ferreira.
‘Surf para todos’ é um projeto de inclusão que merece mais atenção das entidades competentes em coerência com os compromissos com a educação inclusiva, segundo a legislação, Decreto-Lei nº 54/2018, de 6 de julho (com alterações através da Lei nº 116/2019), que veio substituir a anterior lei da Educação Especial (Decreto-Lei 3/2008).
No final de mais esta experiência sobre a atividade do ‘surf para todos’, no âmbito das dinâmicas desenvolvidas no CAA da EB 2.º Ciclo António Dias Simões, a exemplo de outras com apoios e envolvimento da comunidade local, como da Farmácia Central ou a campanha ‘O nosso coração está com o autismo e o teu? Ajude-nos a realizar os sonhos’, que tornou possível a ida ao Oceanário (Lisboa) e um batismo de voo.
Esta dinamizada na praia do Furadouro, bem refletida nos resultados e objetivos atingidos para a inclusão, com a felicidade espelhada por todos os participantes, foi também um indiscutível testemunho de que para além das normas e princípios legislativos para os CAA, a sua capacidade de resposta a cada desafio também está muito influenciada positivamente pela iniciativa e paixão dos seus profissionais.
EXPERIÊNCIA BEM-SUCEDIDA QUE DEVE SER REPETIDA
No caso concreto desta atividade do CAA em parceria com a empresa ‘Furabeach’, ‘Surf para Todos’, que nasceu no ano letivo 2021/2022 dinamizada por Nuno Bento (natural de Viana do Castelo), teve este ano (2022/23) continuidade, em dupla com Carlos Ferreira (natural de Esmoriz), cuja experiência bem-sucedida deve ser repetida e apoiada.
Ficámos assim a conhecer melhor o projeto e a sua relação com a componente desportiva do surf, porque, como nos começou por afirmar Nuno Bento, “sendo eu praticante de surf, procurei aqui na cidade de Ovar arranjar uma parceria que pudesse proporcionar o batismo de surf aos alunos do CAA”, assim “como o sucesso da atividade, quer a nível pessoal dos alunos quer a nível da mensagem que passou com a exposição já no ano anterior a toda a comunidade escolar, de que estes alunos também podem fazer coisas fixes e radicais e não estão confinados a uma sala. Foi desta forma e tendo este ano o professor Carlos Ferreira também como praticante, que procuramos desenvolver novamente e envolver todos os alunos nesta atividade”.
Como reconhece e realça este professor do ensino especial, “é claro que esta atividade é apenas possível pela boa vontade e sentido de dever cívico que a empresa ‘Furabeach’ na qualidade dos seus responsáveis tem, promovendo-a e realizando-a de forma gratuita nestas duas edições. O mérito é mais deles do que nosso. Abriram-nos uma porta que espero que esteja sempre aberta, pois doutra forma seria difícil de a concretizar. Em nome do CAA António Dias Simões um bem hajam”.
A propósito do termo ‘Surf para Todos’, refere ainda que se trata de “uma abordagem inclusiva e acessível ao surf, buscando oferecer a oportunidade de praticar este desporto para pessoas de todas as idades, habilidades e capacidades. O conceito de ‘surf para todos’ visa quebrar barreiras físicas, sociais e emocionais, proporcionando uma experiência inclusiva na água para todos os interessados, independentemente de suas limitações”.
Afirma também, que, “essa abordagem visa adaptar e criar oportunidades para que pessoas com deficiências físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais possam desfrutar do surf de maneira segura e gratificante”.
Assim sendo, “o ‘Surf para Todos’ não se limita apenas a pessoas com deficiências, mas também abrange pessoas com diferentes níveis de habilidade, idades e origens. Essa abordagem busca promover a inclusão, a diversidade e o respeito mútuo dentro da comunidade do surf, valorizando a participação de todos, independentemente de suas características individuais”.
Mas como conclui, chamando a atenção para o exemplo desta empresa na comunidade local, “é importante ressaltar que o surf para todos depende de um ambiente acolhedor, já característico da empresa que nos recebe voluntariamente há dois anos, com material adequado, envolvendo monitores qualificados a sensíveis às dificuldades e particularidades destes miúdos. Através dessa abordagem inclusiva, o surf pode-se tornar uma atividade acessível e prazerosa para todos, fortalecendo a união, a confiança e o desenvolvimento pessoal”.
Lembra ainda que, “quando idealizada esta atividade teve sempre como foco principal os alunos com autismo que temos no CAA da António Dias Simões. Maioritariamente as atividades são programadas a pensar nos benefícios que isso lhes poderá trazer.” Enumerando “5 pontos” importantes, como são: “Estímulo sensorial e conexão com a natureza”, “Estímulo motor e equilíbrio”, “Estímulo social e interação”, “Sensação de superação e autoconfiança” e “Ajuste emocional e terapia lúdica”.
Estímulos proporcionados por esta atividade lúdica como é o surf, através do contato com a água, “a sensação de deslizar nas ondas e a liberdade de se movimentar na prancha podem despertar emoções positivas e promover a expressão emocional. Além disso, a prática do surf pode ajudar as crianças a desenvolver habilidades de autorregulação emocional, pois elas aprendem a lidar com situações desafiadoras e a se adaptar a diferentes condições do mar”, concluiu Nuno Bento.
Fotos: Furabeach
07jul23