No ano em que se comemora o centenário do falecimento do grande escritor Ramalho Ortigão, é nossa intenção recordar alguns dados biográficos e algumas passagens das suas obras. José Duarte Ramalho Ortigão nasceu no Porto, na Casa de Germalde, situada no Monte de Germalde ou da Lapa, a 24 de Outubro de 1836.
Era filho de Joaquim da Costa Ramalho Ortigão, oriundo de uma nobre família do Algarve e de D. Antónia Alves Duarte Silva Ramalho Ortigão, casal que teve nove filhos, sendo o mais velho, precisamente, José Duarte Ramalho Ortigão. Em notas autobiográficas, Ramalho Ortigão refere sobre a sua infância o seguinte:
“Fui criado até aos 7 anos de idade como um pequeno saloio, na casa de lavoura de minha avó materna. Minha avó era viúva e vivia do amanho das suas terras com as minhas duas tias solteiras. Os homens da casa eram os meus padrinhos, Frei José do Sacramento, irmão de minha avó e Manuel Caetano que desde os 18 anos de idade acumulara o serviço militar com o da casa da minha família. […] Quanto mais envelheço, mais me capacito da profunda influência que tiveram na formação do meu carácter e em todo o meu destino esses dois velhos que foram os mais íntimos companheiros da minha infância e que eu enternecidamente amei. Fiquei para todo sempre – intimamente o reconheço – um tanto frade, um tanto soldado. Ficaram-me de pequeno, indestrutíveis, o gosto de ordem, de disciplina, de solidão.”
Sobre a sua infância no Porto, referia sempre de uma forma nostálgica a “saudosa Foz” e escreveu, mais tarde, na obra “As Farpas” a seguinte passagem:
“No paredão do quebra-mar sobressai a superfície plana da cantaria, uma ponta de rocha negra, áspera, duramente recortada, como uma grande flor granítica […]. Essa rocha, em que me sentei em criança, com o meu chapéu de palha, e o meu bibe cheirando ao algodão novo, azul e branco da fábrica do Bolhão, reconheci-a com a mesma ternura saudosa com que se torna a ver um velho móvel de família! Boas pedras!”
Ramalho Ortigão estudou no Porto, seguindo depois para Coimbra onde frequentou, durante algum tempo, o curso de Direito mas, tal como seu pai acabou por se dedicar ao ensino, leccionando francês, no colégio da Lapa, no Porto, onde o seu progenitor foi director. Aí, foi professor de Eça de Queirós e do futuro médico, o famoso Dr. Ricardo Jorge. Por essa altura, Ramalho iniciou-se no jornalismo, no “Jornal do Porto”, onde colaboravam alguns dos políticos mais em evidência, na época. Posteriormente foi colaborador de vários jornais e revistas, onde ficaram registadas a sua prosa, a sua ironia e o seu comentário certeiro.
Um aspecto marcante da sua vida foi o envolvimento (1865) na chamada “Questão Coimbrã”, com o folheto “Literatura de hoje” que teve, como resultado um duelo de espadas, em 1866, no local que hoje é o Jardim de Arca d’Água (Praça Nove de Abril), no Porto, travado entre Ramalho Ortigão e Antero de Quental. Este facto aconteceu na sequência da polémica literária entre jovens intelectuais, defensores de novos modelos literários e aqueles que continuavam a seguir o romantismo já muito gasto, como o velho poeta cego António Feliciano de Castilho que foi enxovalhado por Antero de Quental. Ramalho Ortigão chamou cobarde a Antero por ter insultado o velho poeta cego, o qual considerava a nova poesia ininteligível… mas, apesar deste duelo em que Antero venceu e limpou a sua honra e Ramalho ficou ferido, a amizade entre ambos não ficou inviabilizada pois, provavelmente começou aí uma amizade que, mais tarde, se desenvolveu.
Casado com D. Emília Isaura Vilaça de Araújo Vieira, desde 1859, de quem teve três filhos (Vasco, Berta e Maria Feliciana), fixou residência em Lisboa, em 1867, acompanhado da família, dado ter sido nomeado oficial da Academia Real das Ciências.
Em Lisboa, reencontrou o seu ex-aluno Eça de Queirós, com quem escreveu o romance “O Mistério da Estrada de Sintra” (1870), uma das primeiras narrativas de cariz policial da literatura portuguesa.
Também em parceria com Eça de Queirós, começaram a surgir, em 1871, os primeiros folhetins mensais de “As Farpas”, obra repleta de sátira política e social, onde se nota o quebrar das amarras românticas de Ramalho e que constitui uma implacável caricatura da sociedade portuguesa, naquele último quarto de século XIX. Segundo Eça de Queirós, esta obra é o resultado de quem “estudou e pintou o seu país na alma e no corpo“.
Ramalho Ortigão salientou-se como escritor, jornalista, bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, Secretário e Oficial da Secretaria da Academia Real das Ciências, foi Comendador das Ordens de Cristo e também da Rosa, esta última no Brasil, além de ter recebido numerosas distinções, atribuídas em Portugal e no estrangeiro.
A inconfundível “Ramalhal figura”, como era apodado por muitos, faleceu em 27 de Setembro de 1915, na sua casa da Calçada dos Caetanos, na Freguesia da Lapa, em Lisboa.
Texto: Maximina Girão Ribeiro
Fotos: Pesquisa Google
01set15
Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
Olá bom dia !!! saberia me dizer quando ele chegou ao Brasil pela primeira vez?