Menu Fechar

Ramalho Ortigão (1836-1915)

No ano em que se comemora o centenário do falecimento do grande escritor Ramalho Ortigão, é nossa intenção recordar alguns dados biográficos e algumas passagens das suas obras. José Duarte Ramalho Ortigão nasceu no Porto, na Casa de Germalde, situada no Monte de Germalde ou da Lapa, a 24 de Outubro de 1836.

Era filho de Joaquim da Costa Ramalho Ortigão, oriundo de uma nobre família do Algarve e de D. Antónia Alves Duarte Silva Ramalho Ortigão, casal que teve nove filhos, sendo o mais velho, precisamente, José Duarte Ramalho Ortigão. Em notas autobiográficas, Ramalho Ortigão refere sobre a sua infância o seguinte:

Fui criado até aos 7 anos de idade como um pequeno saloio, na casa de lavoura de minha avó materna. Minha avó era viúva e vivia do amanho das suas terras com as minhas duas tias solteiras. Os homens da casa eram os meus padrinhos, Frei José do Sacramento, irmão de minha avó e Manuel Caetano que desde os 18 anos de idade acumulara o serviço militar com o da casa da minha família. […] Quanto mais envelheço, mais me capacito da profunda influência que tiveram na formação do meu carácter e em todo o meu destino esses dois velhos que foram os mais íntimos companheiros da minha infância e que eu enternecidamente amei. Fiquei para todo sempre – intimamente o reconheço – um tanto frade, um tanto soldado. Ficaram-me de pequeno, indestrutíveis, o gosto de ordem, de disciplina, de solidão.”

as farpas

Sobre a sua infância no Porto, referia sempre de uma forma nostálgica a “saudosa Foz” e escreveu, mais tarde, na obra “As Farpas” a seguinte passagem:

No paredão do quebra-mar sobressai a superfície plana da cantaria, uma ponta de rocha negra, áspera, duramente recortada, como uma grande flor granítica […]. Essa rocha, em que me sentei em criança, com o meu chapéu de palha, e o meu bibe cheirando ao algodão novo, azul e branco da fábrica do Bolhão, reconheci-a com a mesma ternura saudosa com que se torna a ver um velho móvel de família! Boas pedras!

Ramalho Ortigão estudou no Porto, seguindo depois para Coimbra onde frequentou, durante algum tempo, o curso de Direito mas, tal como seu pai acabou por se dedicar ao ensino, leccionando francês, no colégio da Lapa, no Porto, onde o seu progenitor foi director. Aí, foi professor de Eça de Queirós e do futuro médico, o famoso Dr. Ricardo Jorge. Por essa altura, Ramalho iniciou-se no jornalismo, no “Jornal do Porto”, onde colaboravam alguns dos políticos mais em evidência, na época. Posteriormente foi colaborador de vários jornais e revistas, onde ficaram registadas a sua prosa, a sua ironia e o seu comentário certeiro.

Um aspecto marcante da sua vida foi o envolvimento (1865) na chamada “Questão Coimbrã”, com o folheto “Literatura de hoje” que teve, como resultado um duelo de espadas, em 1866, no local que hoje é o Jardim de Arca d’Água (Praça Nove de Abril), no Porto, travado entre Ramalho Ortigão e Antero de Quental. Este facto aconteceu na sequência da polémica literária entre jovens intelectuais, defensores de novos modelos literários e aqueles que continuavam a seguir o romantismo já muito gasto, como o velho poeta cego António Feliciano de Castilho que foi enxovalhado por Antero de Quental. Ramalho Ortigão chamou cobarde a Antero por ter insultado o velho poeta cego, o qual considerava a nova poesia ininteligível… mas, apesar deste duelo em que Antero venceu e limpou a sua honra e Ramalho ficou ferido, a amizade entre ambos não ficou inviabilizada pois, provavelmente começou aí uma amizade que, mais tarde, se desenvolveu.

as farpas - 02

Casado com D. Emília Isaura Vilaça de Araújo Vieira, desde 1859, de quem teve três filhos (Vasco, Berta e Maria Feliciana), fixou residência em Lisboa, em 1867, acompanhado da família, dado ter sido nomeado oficial da Academia Real das Ciências.

Em Lisboa, reencontrou o seu ex-aluno Eça de Queirós, com quem escreveu o romance “O Mistério da Estrada de Sintra” (1870), uma das primeiras narrativas de cariz policial da literatura portuguesa.

Também em parceria com Eça de Queirós, começaram a surgir, em 1871, os primeiros folhetins mensais de “As Farpas”, obra repleta de sátira política e social, onde se nota o quebrar das amarras românticas de Ramalho e que constitui uma implacável caricatura da sociedade portuguesa, naquele último quarto de século XIX. Segundo Eça de Queirós, esta obra é o resultado de quem “estudou e pintou o seu país na alma e no corpo“.

Ramalho Ortigão salientou-se como escritor, jornalista, bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, Secretário e Oficial da Secretaria da Academia Real das Ciências, foi Comendador das Ordens de Cristo e também da Rosa, esta última no Brasil, além de ter recebido numerosas distinções, atribuídas em Portugal e no estrangeiro.

A inconfundível “Ramalhal figura”, como era apodado por muitos, faleceu em 27 de Setembro de 1915, na sua casa da Calçada dos Caetanos, na Freguesia da Lapa, em Lisboa.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: Pesquisa Google

01set15

  

Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

 

 

Partilhe:

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.