Matosinhos tem a primeira Zona Livre Tecnológica (ZLT) do país. Dando continuidade ao trabalho iniciado com a criação, em 2017, do Living Lab-Laboratório Vivo para a Descarbonização, a área urbana que vai da praia de Matosinhos à estação do metro da Senhora da Hora passa agora a ser uma zona de teste real da tecnologia desenvolvida pelo CEiiA na área da mobilidade, colocando Matosinhos na “pole-position” para acolher as mais inovadoras novidades científicas que o futuro nos reserva.
“Esta experiência inicial circunscreve-se ao teste de soluções de sustentabilidade em contexto real que não impliquem exceções ao nível da regulamentação e da legislação, procurando obter feedback relativo às experiências de utilização e induzir comportamentos mais responsáveis e sustentáveis por parte dos cidadãos. Mas é objetivo do município que a ZLT possa evoluir para o teste de inovações mais disruptivas, como os veículos autónomos e conetados”, explicou a presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, durante a apresentação da ZLT, que contou, entre outros, com a participação do secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, e do vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Matosinhos, José Pedro Rodrigues.
Recentemente, entrou em fase de testes reais a aplicação We Share by Ayr, desenvolvida pelo CEiiA de Matosinhos. Trata-se da primeira aplicação tecnológica do mundo que permitirá medir a poupança de emissões poluentes de cada pessoa que opte pela utilização de veículos partilhados, transportes públicos ou modos não poluentes de circulação, transformando essa poupança em créditos que podem ser utilizados na aquisição de outros serviços.
Depois de o conceito ter sido desenvolvido no âmbito do Living Lab Matosinhos, a plataforma está agora pronta para ser testada em condições reais. Único a nível mundial, o We Share by Ayr vai, aliás, ser apresentado no próximo mês de maio em Nova Iorque, ambicionando ser adotado globalmente.
A aplicação vai, nos primeiros dois meses, ser testada pelos colaboradores do CEiiA, sendo posteriormente aberta aos funcionários da Câmara Municipal de Matosinhos e à população em geral. Luísa Salgueiro explicou que a ideia passa por conceder benefícios aos funcionários municipais que adiram ao sistema e evitem a emissão de carbono, estando também a ser preparada a possibilidade de os créditos de carbono poderem ser utilizados para comprar os produtos biológicos que estão à venda, por exemplo, no Mercado Municipal de Matosinhos.
“Estamos a criar um mercado local de carbono”, disse a presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. “A possibilidade de ter um espaço urbano em que esta e outras soluções possam ser testada em condições reais é, para nós, absolutamente decisiva”, acrescentou José Rui Felizardo, CEO do CEiiA.
O secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade referiu, por seu lado, que a colaboração do CEiiA e da Câmara Municipal de Matosinhos dispõe de condições únicas “para inspirar outras cidades do país” e dar origem a outros projetos nesta área. “As alterações climáticas são um problema das atuais gerações e é fundamental que, até 2030, tenhamos sido capazes de gerar soluções que reduzam as emissões poluentes, seja aumentando o recurso ao transporte público, seja aumentando o uso de veículos partilhados, seja optando por modos de transporte não poluentes”, explicou José Mendes.
O conceito de ZLT deriva, refira-se, de um trabalho que o CEiiA começou por desenvolver em 2016, no contexto da task force regulatória associada à estratégia Startup Portugal, visando afirmar o país como pioneiro na criação de regulamentação capaz de facilitar a investigação, o teste e a produção de tecnologias disruptivas. Para o início dos testes com veículos autónomos vai ser ainda necessária criar regulamentação específica, mas José Mendes considerou que a criação da ZLT de Matosinhos tem também o predicado de criar um caderno de encargos a que o Governo terá de dar resposta.
Para além da aplicação We Share by Ayr, Matosinhos passará a dispor, dentro de algumas semanas, de uma rede de bicicletas e trotinetes elétricas e partilhadas, que está a ser desenvolvida pelo CEiiA. A NOS também já se juntou a esta primeira ZLT portuguesa, pretendendo testar em Matosinhos a aplicação da tecnologia 5G.
QUARTA CAMPANHA ARQUEOLÓGICA NO CASTRO DO MONTE DO CASTÊLO PROLONGA-SE DURANTE UM MÊS
Há dois mil anos, durante o período de ocupação romana, a encosta que vai do Castro do Monte Castêlo ao leito do rio Leça albergou um importante porto comercial, que mantinha contacto com territórios da atual Itália ou do norte de África. Os primeiros vestígios dessa estrutura foram encontrados em 2016, estando a decorrer, até 24 de maio, a quarta campanha de escavações arqueológicas destinadas a desenterrar a memória dessas raízes remotas de Matosinhos.
Fruto da colaboração da Câmara Municipal de Matosinhos com o Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (em colaboração com a União de Freguesias de Guifões, Custóias e Leça do Balio e a APDL – Administração do Porto de Leixões), a campanha arqueológica volta a transformar as imediações do Castro do Monte Castêlo num centro de investigação e numa escola prática para os estudantes da licenciatura em Arqueologia. Os trabalhos no Castro de Guifões, como também é conhecido aquele local, vão dar sequência às escavações realizadas nos anos anteriores, procurando trazer à luz novos vestígios da atividade portuária que terá dado origem a Matosinhos.
Pela importância dos materiais que têm vindo a ser recolhidos, o Castro do Monte Castêlo é um dos sítios arqueológicos mais importantes da região litoral situada entre os rios Douro e Ave. Sob a terra e a vegetação ocultam-se sinais da vida quotidiana das populações que aqui se cruzaram com legionários, comerciantes e marinheiros oriundos de outras províncias do império romano, integrando-se progressivamente num novo espaço económico e político de âmbito europeu.
As escavações efetuadas em 2016, 2017 e 2018 revelaram já diversos muros e estruturas que corresponderiam à existência naquele local de duas casas do tempo do Império Romano, mas também a construções mais antigas. Foram ainda recolhidos numerosos fragmentos de cerâmica e amostras de sementes, os quais têm fornecido indicações preciosas para a reconstituição dos diversos aspetos da vivência quotidiana das populações que habitaram este local há cerca de dois mil anos. A grande quantidade de ânforas encontradas tem, por outro lado, evidenciado a diversidade de contactos comerciais deste porto com zonas tão distantes como a Itália ou o norte de África.
Nos dias 16 e 17 de maio haverá um dia aberto à comunidade, durante o qual os trabalhos arqueológicos poderão ser visitados e acompanhados pela população. O campo vai também ser objeto de visitas guiadas para as escolas do ensino básico e secundário.
Em simultâneo com a realização das escavações continuará patente na Galeria da Biblioteca Municipal Florbela Espanca, até ao dia 25 de maio, a exposição “Memórias do Monte Castêlo: 100 anos do nascimento de Joaquim Neves dos Santos”, dedicada precisamente ao trabalho arqueológico que tem vindo a ser realizado no local da origem remota de Matosinhos, homenageando aquele que foi um dos seus maiores entusiastas. A exposição reúne documentos pessoais de Joaquim Neves dos Santos, fotografias e imagens dos trabalhos de escavação realizados, assim como um conjunto selecionado de peças que ilustram a diversidade de objetos que marcaram a vida quotidiana destas populações desde a Idade do Ferro ao final do Império Romano.
CÂMARA MUNICIPAL ASSINA PROTOCOLO PARA A RECOLHA E TRATAMENTO DE GATOS DE RUA
A Câmara Municipal de Matosinhos assinou, no passado dia 29 de abril, um protocolo com quatro associações de defesa animal tendo em vista a recolha e tratamento de gatos pertencentes a colónias de animais assilvestrados existentes no concelho. A medida tem por objetivo controlar aquelas colónias, retirando da via pública os espécimes que sejam portadores de doenças. Os restantes serão devolvidos à rua após esterilização, garantindo deste modo o equilíbrio ecológico das áreas de origem, nomeadamente o controlo de roedores.
O protocolo foi assinado com a Associação Animais de Rua, com a Associação Causas de Caudas, com a Associação MIACIS – Proteção Integração Animal e com Associação Midas, que têm já trabalho desenvolvido nesta área e que ficarão doravante responsáveis pela execução do programa de captura, esterilização e devolução dos felinos nas quatro uniões de freguesias do concelho de Matosinhos.
Integrado na política de promoção do bem-estar animal da Câmara Municipal de Matosinhos, o projeto dá cumprimento à Portaria nº 146/2017, permitindo reduzir os incómodos geralmente causados pelas colónias de gatos errantes ou vadios, nomeadamente o ruído gerado pelo acasalamento e por lutas, e os cheiros resultantes da marcação de território. Os espécimes mais dóceis serão encaminhados para adoção.
No âmbito deste programa, as associações signatárias garantirão que os animais que compõem a colónia serão avaliados periodicamente de forma a que os animais portadores de doenças transmissíveis sejam afastados do grupo. Os gatos capturados serão esterilizados, registados e identificados eletronicamente, desparasitados e vacinados. As colónias intervencionadas serão supervisionadas pelo médico veterinário municipal, devendo as associações sensibilizar os cuidadores para que a alimentação dos animais na via pública respeite as regras de salubridade.
EXPOSIÇÃO EVOCA CAMINHO DE PORTUGAL ATÉ À LIBERDADE DE ABRIL
Arte sacra portuguesa e flamenga dos séculos XVI a XVIII, peças decorativas, esculturas, pinturas, artefactos do quotidiano, fotografias, selos, medalhas e moedas, mas também pins, autocolantes, cartazes, gravuras, serigrafias, litografias, caricaturas, folhetos, panfletos e manuscritos. O acervo reunido por César Príncipe, jornalista, colecionador e divulgador cultural, compõe a exposição “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica”, que abriu as portas no dia 25 de abril, no Museu da Quinta de Santiago.
Integrada no programa municipal de comemoração dos 45 anos de revolução de 25 de abril de 1974, a exposição ficará patente até 30 de junho, dando a conhecer um impressionante percurso por cerca de quatro séculos de História e de histórias. Mais do que ícones do seu tempo, os objetos reunidos por César Príncipe pretendem constituir-se como janelas abertas para o tempo passado, instigando os visitantes a refletir, investigar e descobrir.
“A ponderação que um dos mais brilhantes intelectuais portuenses nos propõe permite dar continuidade e consistência ao programa museológico de um espaço que, ligado à memória da fidalguia de outrora, cumpre hoje, e de modo exemplar, a tão republicana e libertária tarefa de instruir e ilustrar, renovando e reinterpretando o entendimento possível sobre a arte, o impulso estético, o testemunho da cultura sobre a espuma dos dias que passam”, considera a presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, no texto que escreveu para o catálogo de “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica”.
Assente em três núcleos fundamentais – “Praça da Monarchia”, “Praça do Império” e “Praças da República” –, a exposição passa em revista objetos, documentos e obras de arte que cobrem um período que vai do século XVI ao final do século XX. Dos pesados livros que guardam as linhagens da monarquia e da casa real portuguesa aos autocolantes da campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, César Príncipe recolheu e colecionou quase tudo o que encontrou pela frente, incluindo escarradeiras portáteis, caixas de rapé, discos de vinil com discursos do Movimento das Forças Armadas, revistas, edições raras de livros imortais, bolas de futebol, o último manual escolar da monarquia, panfletos da resistência clandestina a Salazar ou cartas a aprazar duelos.

Não faltam também as obras de arte, de uma estatueta equestre de Gustavo Bastos a um dos muitos cavalos que Álvaro Siza Vieira desenhou, sem esquecer a documentação sobre os ofícios mais ou menos tradicionais, iconografia relativa à evolução do papel da mulher na sociedade ou uma sala dedicada à memória local do Porto e de Matosinhos. O resultado assemelha-se ao cruzamento de um fascinante inventário de bricabraque com a nostalgia minuciosa de um arquivista.

“Abrir frentes de inovação, memorização e problematização justificará uma existência, mesmo fugaz. As utopias não estão nas agendas. Mas a Casa de Recordações prezaria ser uma Casa de Interpelações”, escreveu César Príncipe no texto de introdução deste delírio colecionista. “Num momento em que, outra vez, voltam a pairar sobre a Europa os espetros sinistros do pensamento unívoco e do autoritarismo, do isolacionismo e da intolerância, os objetos reunidos por César Príncipe, e a reflexão que através deles nos propõe, afiguram-se como uma forma significativa de assinalar os 45 anos da liberdade conquistada em Abril de 1974”, considera o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, Fernando Rocha.
O espaço do Museu da Quinta de Santiago acabou, de resto, por ser insuficiente para albergar todo o acervo. Muitos objetos ficaram de fora da exposição, que obrigou à abertura ao público de salas que normalmente não são utilizadas para fins expositivos.
Textos: Jorge Marmelo (CMM) / EeTj
Fotos: CMM e pesquisa Google
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