Celina Parente / Tribuna Livre
Deixei para trás o berço que me embalou, parti com um diploma na mão para terra estranha, pisei um chão desconhecido, habituei-me ao céu mais acinzentado do que aquele que outrora me abrigou.
Opção? Talvez sim, talvez uma opção forçada pela esperança de um futuro, de uma vida que me permitisse viver sem apenas passar por ela.
Oiço falar das conquistas e heróis de outrora, pergunto-me se somos nós, jovens de hoje, os culpados ou as vítimas de um povo, que ao longo dos anos, se foi acomodando e interiorizando o “deixa andar”, deixando deste modo o “nosso” Portugal obrigar-nos a partir.
Largar a minha casa, a minha família os meus amigos, o meu país, deixar quase tudo para trás não foi fácil, nunca o planeei… olhar para todos os lados e não ouvir ninguém falar a língua Portuguesa foi uma sensação estranha… mas mais difícil seria viver dependente dos meus pais, ficar desocupada a ver o tempo passar, sentir o peso de cada ano e encontrar-me exatamente parada no ponto de partida.
Ser emigrante é deixar o nosso país com um sorriso sem sentido, alguma revolta e dor, é por vezes sermos vistos por olhares frios do país que nos acolhe, é lutar, é caminhar mesmo que desiludidos e sós, é não desistir nem deixar de acreditar, é viver com esperança de um dia voltar ao berço que nos viu crescer.
Existe um misto de sentimentos, entre o querer iniciar carreira, ter melhor qualidade de vida, estabilidade económica e criar a nossa independência, existe também a saudade constante, a ânsia pela chegada das férias, as inquietudes pelo bem-estar daqueles que deixamos, família e amigos próximos, saudade de lugares e de toda uma história da nossa história. Ser Emigrante é carregar no peito a saudade.
Temos hoje o telefone, as redes sociais e outros dispositivos… que nos ajudam a estar mais perto e a apaziguar a saudade mas jamais a mata-la.
Há quem diga que emigrar nos tempos de hoje é um luxo comparando com a emigração dos tempos dos nossos avós, pois eu digo, as condições talvez sejam melhores, existe maior facilidade de correspondência e mobilidade mas existe a palavra saudade, que essa, dói dentro do peito, sem tempo nem lugar certo, independentemente dos séculos que possam passar.
Eu pergunto, seremos nós (emigrantes modernos) recebidos com a mesma humildade de outros tempos ?
Teremos nós a mesma facilidade profissional ? Pois, penso que não, com o passar dos anos, os países evoluíram, existe maior exigência profissional. Para se ser empregada de limpeza há que ter formação, para se ser trolha há que ter formação ou então uma mão amiga que nos deixe passar pelas portas traseiras.
No meu caso, guardei o meu diploma na gaveta, fui para a Faculdade, não por vontade de voltar a estudar mas pelo facto de que sermos países da União Europeia é de certo modo mais uma ilusão com a qual o governo nos vai enganando, nem todas as formações são reconhecidas, nem todos os diplomas válidos. Nem sempre vale a pena estudar em Portugal quando se tem em mente emigrar.
Habituei-me a este país e como diz o ditado “À terra onde fores ter, faz como vires fazer “ assim vou fazendo, mantendo acesa a esperança de um dia voltar ao meu país.
PAÍS DISTANTE
Corajoso,
Fez as malas,
Guardou retratos e lembranças,
Fechou a porta com um sorriso
Despedaçado
Virou o rosto, chorou e partiu…
Partiu carregado de sonhos
Para realizar
E no peito uma certeza incerta
de um dia voltar
Percorre ruas e ruelas
Perdido na saudade
Por vezes evadido
Pela vontade de voltar
E aquele lar abraçar
Quando cai a noite
Dorme para sonhar
E a saudade apaziguar
A noite já lá vai,
Um novo dia se levante
E ele acorda cedo
Na missão de mais um dia
Levar o pão à mesa
Arregaça as mangas
Canta cantigas de enganar
E não diz não.
Faça sol ou chuva
Goste muito ou pouco
Obedece ao patrão
Porque afinal
Ele é somente enteado
Daquele país distante
Do seu Portugal
A gente daquele país padrasto
Tem o olhar tão distante
Que não lhe faz nem sequer lembrar
A gente do seu lugar
São meses que passam
E por vezes anos
Numa vida afoita
Carregando a dor sem ferida
De tudo o que um dia
O destino lhe fez deixar
Mas ele prometeu ao seu berço retornar…
E se assim a sua sina o permitir
Ele há-de voltar
a abrir aquela porta
E, ternamente, o seu berço abraçar.
PS : Aproveito para dar os parabéns pelo quinto aniversário, pela remodelação do Jornal e pela forma como nos dá a conhecer “a verdade dos factos”.
01jan15
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Lourdes Dos Anjos, fique com um GRANDE Obrigada.
Gosto; claro que gosto destas palavras escritas na 1ª pessoa por uma jovem que procurou, corajosamente, o seu Hoje para ter a esperança de um AMANHÃ diferente .Parabéns Celina
Obrigada. Um beijinho.
sempre com o coração cá e a palavra de quem está lá.
Gostei cely. Um beijinho.