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O Carnaval dos (verdadeiros) Cabeçudos

 José Gonçalves (diretor)

 

 

 

 

 Vem aí o Carnaval, se bem que a festa já se encontre nas ruas deste país há muito tempo. Não dar tolerância de ponto aos trabalhadores da Função Pública foi decisão de última hora, inconcebível, e inexplicável mas natural tendo em conta o facto de ter partido de quem partiu.

Um país de piegas não pode ter piegas animados e que procurem na diversão motivos para arranjar forças de maneira ultrapassar psicologicamente a crise, a austeridade, o apertar de cinto como nunca visto… sentido.

Esqueceu-se, Passos Coelho, o primeiro-ministro de alguns piegas, que o Carnaval tem tradições em muitas regiões do nosso país, em muitos concelhos que ainda são conecelhos, não vá o Livro Verde dar cabo deles a torto e a direito que é como quem diz a régua e a esqyadro para satisfação da Troika e dos troika passos do governo.

Esqueceu-se o chefe do governo que tudo estava preparado para o Carnaval – goste-se ou não da festa -, que se gastaram milhares e milhares de euros, mas que também milhares e milhares de euros poderiam embolsar comerciantes, e as autarquias… a economia local.

Como o “local” é cada vez mais saloio, parolo, longe do Terreiro que, recentemente, foi do Povo, mas sem tanto povo, porque o povo é piegas, os governantes deste país, num constante beija-mão ao império franco-alemão, esqueceram-se do povo… das populações que desesperam, ao esperar, por dias melhores.

Merkel já meteu o nariz na Madeira, outros, ignorando aquilo que ainda é a nossa soberania, meteram o bedelho em acordos que o governo deste país decidiu concretizar, nesse caso com Angola.

Eles brincam com Portugal e brincando com o luso país, Passos Coelho ajudou à festa de Carnaval intitulando os portugueses de piegas, moscas-mortas, amorfos…. bananas.

O primeiro-ministro arrisca-se, assim, a ser o principal cabeçudo nos corsos carnavalescos, sabendo-se, ainda por cima, que a tolerância de ponto foi, pura e simplesmente, ignorada por diversas autarquias, entre as quais, a de Vila Real, de onde o primeiro-ministro é natural e não tem qualquer tipo de tradição carnavalesca.

A verdade, contudo, é que o Carnaval, é, acima de tudo, uma festa das crianças, das escolas, dos miúdos que amanhã serão graúdos e que mesmo não sabendo que têm de pagar dívidas e mais dívidas contraídas pelos atuais “tutores” da Nação, querem sair para a rua, mascarados de polícias, bombeiros ou  sevilhanas, imitando, sem querer, os políticos deste país, que se mascaram todos os dias de salvadores da pátria.

É preciso saber ser-se cabeçudo. Nem todos os sabem ser, e muito menos o sabem, quando, quase todos os dias, ou quando abrem a boca, só dizem disparates em cima de disparates.

Não sou, em boa verdade, grande adepto do Carnaval, mas sei o trabalho que um festejos desse dá; da gente que envolve; do amor e dedicação que dão a uma festa que é deles… que lhes pertence e que deve ser respeitada.

O Carnaval envolve milhares de euros e de pessoas. É importante, como já referi, para a economia local, mesmo se sabendo que o “local” é cada vez mais um “lugar” e que o “lugar” dá lugar a tropelias, injustiças e diretos ataques a pessoas que vivem isoladas e que vão perdendo a relação de proximidade com o Estado, o tal poder político que lhes retira parte substancial de um direito social adquirido, ou seja: parte de uma vida de trabalho, mesmo sendo “piegas”.

 

Sei que o PSD continua a liderar as intenções de voto. Sei que o “pobre” Cavaco Silva levou um banho de impopularidade. Sei que Paulo Portas – estranha, mas inteligente, quase mudo – destaca-se na tabela.

Sei que é tudo, e cada vez mais, tudo mais do mesmo. Sei que mais são mais, e mais os portugueses descontentes, mas pacientes, coitadinhos quase que resignados… tudo isto até um dia.

Os “portugas” terão de ser – mais tarde ou mais cedo – de receber, com retroativos, aquilo que lhes tiraram.

Quando? Não sei. Sei que daqui a cem anos ninguém, ou poucos, do que nos leêm estarão vivos.

 

O Carnaval começou no dia cinco de junho, concretizando uma palhaçada alimentadapor corsos de propaganda política, animada por alguns cabeçudos mentirosos à procura de um tacho que queriam por longe dos amigos, mas que, entretanto, os transformaram em panelas, ou, em linguagem mais popular, em gamelas aveludadas destinados a furtivos políticos, gestores e outra gentalha.

Tenho problemas de visão, mas a audição está boa, e quanto mais ouço conferências de imprensa, entrevistas e outras coisas que ponham ministros a falar, soltam-se-me tristes gargalhadas, como triste será este Carnaval, onde os piegas, a convite do primeiro-ministro, vão começar a “levar a mal”, tudo para deixarem de ser choramingas, moscas-mortas… coitadinhos.

 

Quando o norte tem duas capitais europeias (Braga a da juventude e Guimarães a da Cultura) foram tristes as declarações domésticas de Passos Coelho e logo numa escola; e logo perante jovens deste país.

Os governantes têm de dar o exemplo, e o exemplo que têm dado é de uma pieguice tal que a tática é já levada a cabo pela ladroagem de milhões que passa sempre impune pelas “domus” justiceiras deste Estado de Direito.

Repito: é preciso saber ser-se cabeçudo.

 

Neste Carnaval, mesmo com chuva – e que tanta falta ela faz! –  os cabeçudos vão passear-se pelas ruas de Ovar, Estarreja, Mealhada, Tavira, e outros e mais outras terras nobres deste país. Imagens de quem já não perdeu a vergonha de ser mais cabeçudo que os cabeçudos que vão maravilhar novos e velhos contentes que estarão ao ver os corsos passar sabendo, parte deles, que os cabeçudos, no final da festa – como os outros cabeçudos – serão arrumados nos armários ou queimados, porque para o ano, ou já no dia a seguir, vem mais Carnaval… o “Carnaval” que nos vai aos bolsos, esse sim, fazendo de todos nós uns verdadeiros foliões piegas..

 

A BRINCAR… A BRINCAR!

 

Inquérito de Rua

O nosso jornal saiu à rua, mais concretamente, ao centro histórico do Porto, e ouviu os mais “pacíficos” comentários à pergunta:

Você é piegas?

Paulo da Ribeira

35 anos, desemprego e ex-aluno do “Novas Oportunidades

“Não. Sou o Paulo da Ribeira. Prazer! Nasci e moro ali na Sé.. é aqui no Porto. Mais lá em baixo. Tinha um amigo meu que era o Piegas, ou Viegas, mas esse já morreu há anos. Bebia uns copos atirou-se ao rio e foi o cabo dos trabalhos! Morreu, coitado.

Eu sou conhecido pelo Paulo da Ribeira, porque até já joguei no Ribeirenses, e numa altura até marquei um golo a uma equipa de Vila Real, onde o guarda-redes era o Passos Coelho.

Ele é que o chamou de piegas

“Pois. Lá confundiu o meu nome. Ele queria dizer que eu era parecido com o Piegas… o da Cultura. Mas eu não… não sou Piegas. Oh mãe, anda cá! Eu sou Piegas… Tá ver… não! Sou Paulo Ele deve-me ter confundido. Nunca me perdoou aquele golo sabe?!, e tanto não me perdoou que me tirou o subsídio de desemprego. É um…

 

Jacinto do Adro

66 anos, padre

“Não. Não sou piegas. Nunca me meti nessas coisas. Sei que alguns já se meteram nisso, mas eu não! Digo sempre que a catequese é para os catequistas. Eu não vou lá.

Tá lá aquela criançada toda e é um problema. Quando eles vão à paróquia, vão sempre acompanhados por familiares. Não quero confusões.

Sei que alguns caíram na tentação. Mas Deus me livre de uma coisas dessas. Não sou piegas não. Deus me livre. Pode perguntar a toda a gente que me conhece. Não sou disso. Outro dia na Holanda descobriram uns milhares, mas a doença ainda não chegou aqui. Deus me livre!

 

Manuel da Reboleira

45 anos, canalizador

“Já me chamaram de tanta coisa, mas, pronto, se calhar até sou piegas… não sei. Tenho de falar com o meu companheiro, ele está mais dentro dessa coisa dos dicionários. Mesmo assim, se for piegas sinto-me bem. Sou passivo há muito anos. Quer dizer, deixo passar a coisa. Olhe é como estes portugas todos. Só mandam lábia, e quando a coisa aperta também se deixam levar.

Se calahr sou piegas. Não sei! É como lhe digo

 

Castro da Biquinha

70 anos, reformado

“Para onde é? Para o Etc e quê? Oh amigo, eu sei pouca coisa de espanhol. Vou lá com o meu filho. Vou a Tui encher o depósito do carro, que é o carro dele, e já ouvi por lá dizer, é verdade: piegas ou largas. Eu não peguei porque era muito caro… eram umas botas para a minha netinha.., tadinha até estava a chorar na altura. Fiquei triste. Mas não peguei naquilo. Não fui no piegas, antes quis largar. Sabe que o galego também é muito traiçoeiro.

 

Rosinha do Bolhão

50 anos, comerciante

“Oh rapaz ou compras ou desandas daqui. Vem para aqui chamar-me nomes…  Vá … Sou quê? Pitebas ou… pichegas… vá ao raio que o parta! Oh Maria, este gajo está chamar-me pichegas. Já viste. Vá desapareça, desampara loja antes que te f… o focinho!.

 

Maria da Esquina

25 anos, prostituta

“Sou… sou tudo filho, Sou tudo o que quiseres. Sou piegas, pitosga, piegueira…! Desde que me paguem sou tudo. Sei lá o que quer dizer essa coisa, mas, pronto. Sou. Sabes que naquelas alturas há quem goste de chamar todos os nomes que lhes vier à cabeça. Mas esse nunca tinha ouvisto. Sabes as coisas tão tão más que a gente nem ouve o que o cliente diz, quer é despacha-lo e morfar o cacau Se calhjar até sou isso, mas quem foi a vaca que te disse isso? Isto sem ofensa, porra(!). Longe de mim dizer mal das minhas colegas… mas quem é que te disse isso?.

 

Roberto da Marginal

22 anos, desempregado

“Eu quê? Piegas? Na escola nunca copiei nada às escondidas foi sempre tudo às claras, mas só andei até ao nono. Levei uns apertões mas nunca chorei nem nada. E nunca me chamaram isso. Houve uma professora que mandou aquela parte, mas não foi aí. Não. Piegas nunca ouvi me chamarem”.

 

Rosalina da tasca

69 anos, reformada

“Sou piegas. Sou. Choro filho… choro muito. E choro logo duas semanas depois de ter recebido a reforminha para dar dinheiro ao malandro do meu filho que já tem idade para ter juízo, mas tá na cama até ao meio dia. Outro dia levantou-se mais cedo… foi ao meio dia menos um quarto para me pedir cinco euros.

Sou piegas meu filho… sou sou… Deus nos salve, minha nossa mãe, senhor esteja connosco.

 

Zé cauteleiro

62, acuteleiro

“É o 69 ou o 43? Jogue lá carago! Porra não tá caro! Se sou o quê? Bem se continua a perguntar essa m… não sei o que lhe faça. Sei lá se sou isso. Não devo nada ninguém. Sou pobre mas tenho as minhas contas em dia. Quem é que inventou isso sobre a minha pessoa? Vá diga lá… aqui nesta zona, e no Porto, não há dessa gente. Lá pitegas ou peúgas?!! Olhe peúgas vende-se ali nos chinocas e só custam cinco euros. Vá chamar nomes ao c…

 

E terminou por aqui o nosso inquérito.


E, pronto,

 

Meus amigos e minhas amigas

Até à próxima

Sejam felizes!

 

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