José Gonçalves
(Diretor)
Faria hoje, dia 01 de maio de 2012, 54 anos de vida. Fisicamente, não está entre nós. Espiritualmente… acompanha-nos. Comemora, hoje, o 54.º aniversário do seu nascimento.
Miguel Portas, o Homem, o político, o humanista, o amigo, o lutador.
Parabéns Miguel.
Parabéns, também para a minha amiga Maria de Lourdes dos Anjos, que hoje, dia 01 de maio, comemora também o seu aniversário. Colunista neste jornal. Poetisa. Professora. Senhora. Lutadora. Portuense… bonfinense de coração aberto.
E hoje, neste dia 01 de maio, estão, outrossim, de parabéns todos os trabalhadores.
O dia é deles. Como é dia de desempregados, reformados, emigrantes, migrantes, imigrantes e… beneficiários do Rendimento Social de Inserção.
Hoje, 01 de maio de 2012, o nosso “Etc e Tal” regressa à “web” renovado; preparado para novos desafios, e pronto, como sempre, a revelar, relevando, a verdade dos factos e a manter, consolidando, aquele que é – porque este é! – um espaço de liberdade.
Não é normal abrir este “Hoje Escrevo Eu” com saudações, beijinhos ou parabéns, mas, faço-o desta vez, porque pretendi – deu-me na real gana – homenagear pessoas que lutaram, lutam e lutarão por um Portugal melhor.
Assim sendo, e tendo ainda em conta o facto de que o Dia do Trabalhador deveria ser comemorado todos os dias do ano, a abertura desta peça torna-se intemporal, e logo quando o nosso “Etc e Tal”, atualiza a sua informação ao dia um de cada mês.
Desatualizada ficaria a entrada desta peça, em poucos dias, ou até poucas horas, se, por acaso, abordasse algum tema relacionado com esta ou aquela medida governamental,
Correria o risco que outros órgãos de comunicação social correram, quando o nosso ministro das Finanças anunciou o “regresso” dos subsídios de Férias e de Natal dos funcionários públicos e reformados em… outubro de 2013
E disse-o com tal, ainda que lenta, convicção, que chegou mesmo a enganar um ror de portugueses e portuguesas, troikistas e troikanos.
Fez e foi manchete.
Mas, a manchete durou pouco tempo.
Em entrevista – uma das “mil” que tem dado tanto cá por casa, como pela estranja -, o nosso “primeiro” apressou-se a desmentir o seu ministro. À “Renascença”, Coelho, sem perder tempo, lançou a bomba dias antes da discussão do Orçamento Retificativo na Assembleia da República.
“Os subsídios só serão repostos em… 2015, e de forma faseada”.
Lembram-se destes tristes episódios?
Pois lembram-se, mas a “novela” não ficou por aqui.
Envergonhado – penso que até humilhado pelas circunstâncias – o nosso ministro das Finanças, vai ao Parlamento e pede desculpa pelo seu lapso, não esquecendo de avisar os deputados que 2015 – altura em que serão repostos os subsídios – vem depois de acabar 2014(!).
E julgam que o folhetim já acabou?
Não!
Recentemente, numa entrevista (tantas entrevistas estes governantes dão), a nossa ministra da Justiça, à “Antena Um”, não teve qualquer receio em referir que, dificilmente, os tais subsídios de Férias e de Natal serão repostos em 2015.
Com esta brincadeira toda. Porque isto só pode ser considerado “brincadeira”, os funcionários públicos e os reformados ficaram a saber que subsídios talvez nunca mais. Foram-se! Vão no Batalha – como se costuma dizer cá pelo Porto!
E tanto se foram, ou se vão, que o representante da U.E. na Troika foi claro ao dizer que Portugal não tinha condições para os repor.
Aliás, e segundo o economista Octávio Teixeira, a eliminação definitiva dos subsídios será uma realidade, ou então, o governo terá de acabar com os passes sociais e aprovar o desemprego de 100 mil funcionários públicos.
No que é que ficamos?
Ficamos para já com mais de um milhão e duzentos mil desempregados, que é a linda “marca registada” deste governo que, cada dia que passa, tem de inventar mais uma medida de austeridade, em detrimento de outras destinadas ao crescimento económico.
A equipa governativa é mais “troikista” que a “troika” e não se envergonha do desemprego que grassa no País, no crescente número de famílias no limiar da pobreza; dos desempregados de longa duração; da taxa de sem-trabalho entre os jovens; dos homens e mulheres que se piram a sete pés deste desgovernado país, e das desigualdades sociais, quando certos gestores, administradores, ou coisas do género, enchem o bandulho, com as suas empresas (essenciais à vida: água, luz, gás, gasolina e etc e tal ) a registarem lucros extraordinários.
Estas desigualdades envergonham qualquer político – governante – com o mínimo de sensibilidade, para já não falar de… inteligência.
É neste quadro negro que se comemora o Dia do Trabalhador. As avenidas e as ruas das nossas cidades vão encher-se de gente, e ainda bem. Mas, depois… tudo regressa ao normal.
Os partidos do governo continuam com bom registo nas sondagens. O PSD lidera tranquilo e, se hoje se realizassem eleições, regressaria ao poder.
Pelos vistos é disto que o meu povo gosta.
Gosta que “carimbem na testa” os verdadeiros beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), como se todos fossem uma cambada de proxenetas do Estado. Como se todos tivessem milhares de euros em contas bancárias.
É bom que investiguem quem utiliza mal a “esmola” do Estado.
Mas, não sei quem consegue sobreviver com 189,90 euros por mês?
E vão eles investigar os corruptos (acho muito bem, pena é que nem todos eles sejam investigados), contratando cerca de meio milhar de pessoas para o fazer.
Despesismo!
Então, não temos que poupar senhor Mota Soares?
Não temos que acabar com a gordura do Estado?!
Senhor ministro, os serviços das juntas de freguesia não poderiam fazer esse trabalho?
Não têm as autarquias, parte das quais querem eliminar, elementos, mais do que suficientes, para ajudar o governo nesta investigação/perseguição?
Também querem por a fazer serviço social, os beneficiários do RSI. Acho muito bem!
Um beneficiário que receba a tal esmola de 189,90 euros vai fazer o trabalho de um que aufere o ordenado mínimo nacional, ficando esse de braços cruzados, obrigando o outro a “picar o boi”, pois, caso contrário, lá se vai a “esmola”.
Sei que é incomodativo para muita gente abordar esta questão do RSI e seus beneficiários.
Vêm, então, ao de cima explícitas declarações xenófobas, ou de racismo disfarçado, de “anti-malandrisse” e outro tipo de posições aberrantes, principalmente quando elas são generalistas, e confundem quem, na realidade, precisa desse subsídio com os que dele abusam.
É preciso dividir as águas.
É precisa investigação. Mas também é preciso salientar que nem todos se encontram no mesmo saco.
Mas, se o intuito de cortar este subsídio a estas pessoas é legítimo, fazer idêntico corte a detentores de grandes fortunas, seria inoportuno?
Seria! Para este governo…é!
Esquece-se, entretanto, este governo, que quem recebe, e merece o RSI, alimenta filhos, paga a luz, a água e o gás. O dinheiro vem do Estado e a ele regressa já com os respetivos impostos.
O dinheiro passa por eles. Não dá para poupanças ou para sustentar regalias.
Nem todos são assim, é verdade, mas “nem todos” … são todos!
E estamos a comemorar o Dia do Trabalhador. Continuaremos ao longo do mês e dos próximos meses a comemorar o Dia do Trabalhador, com trabalhadores às portas das fábricas que declararam insolvência, número que cresce de dia para dia.
É também crescente o número de trabalhadores com salários em atraso, e dos “precários” que são assediados psicologicamente para não fazerem parte do vasto rol de sem-emprego.
Liberaliza-se tudo.
Dá-se cabo do Serviço Nacional de Saúde. Dá-se cabo do Estado Social e das conquistas do 25 de abril.
Se este é um discurso radical, ele é tão radical quanto real.
A realidade é radical.
A realidade também não é compatível com aqueles que contestam tudo, só por contestar. São precisas soluções e, quando assim é, não se podem abandonar negociações por mais que as mesmas não representem ou satisfaçam certos objetivos corporativos.
O 1.º de Maio foi o símbolo e a marca de uma Revolução, há 38 anos atrás.
Hoje, o 1.º de Maio é o símbolo da luta dos trabalhadores, mas, acima de tudo, de todos os portugueses que, mesmo desempregados ou reformados, deram muito da sua vida pelo trabalho.
Ninguém se pode aproveitar ou reclamar para si a luta dos trabalhadores… a luta dos trabalhadores é deles e demais ninguém.
É bom que as centrais sindicais os defendam, sabendo também defender quem não está no ativo e que precisa de incentivo, quanto mais não seja moral, para encarar o futuro.
Quem tem entre 45 e 55 anos e está desempregado não é deficiente! Tem experiência e pode ser útil. Dizem que não têm qualificações. Dizem porque não sabem dar a formação adequada a essas pessoas que, se calhar, começaram a trabalhar aos treze anos, na época em que grassava no nosso País, o trabalho infantil.
Poucos já se lembram disso.
Este 1.º de Maio tem de relembrar um pouco isto tudo. É uma data, e as datas comemorativas de algo, fizeram-se para relembrar.
O Dia do Trabalhador não é para relembrar, é para, todos os dias do ano, que os trabalhadores, ativos ou inativos, lutem pelos seus direitos.
Nas terras frias, mas paradísicas da Islândia, o povo demonstrou, sem grandes ondas, o combate aos icebergues políticos, levando à barra do Tribunal, um primeiro-ministro mentiroso. O homem saiu impune, mas impune não saiu da humilhação a que, mundialmente, foi sujeito.
Os islandeses tiveram coragem e, hoje, vê-se a sua economia a crescer, atingindo já os três por cento, depois da bancarrota em 2008.
A Democracia precisa de gente audaz; precisa de liberdade e não de libertinagem. Precisa de luta e participação do povo, como aconteceu na Islândia. Não precisa, nem nunca precisará de tecnocratas vaidosos, armados em inteligentes, que vendem a terra e a lua ao preço da chuva, prometendo mundos e fundos… para meter os fundos aos bolsos, tudo e sempre na defesa da democracia.
No Dia do Trabalhador. Nos dias dos trabalhadores, estou convicto que os ativos e os inativos não serão passivos quanto às medidas de extrema austeridade que afetam a nossa sociedade.
Portugal precisa de um novo 1383 ou 1385. Das poucas revoluções em que o povo soube reagir e dar um novo rumo ao país.
Saudosismo?
Não. São retratos factuais de uma história que, pelos vistos poucas vezes se repete.
Portugal não está adormecido. Está anestesiado!
Os nossos jovens estão controlados, ou sem possibilidade de reação porque, cada vez mais, precisam do apoio dos pais ou dos avós.
Está-se a perder uma geração. É o “estudar para quê?” se depois, com o canudo na mão, ninguém lhes dá a mão para um emprego de trabalho.
Estamos mal, mas não estamos moribundos. Mas com um jeitinho caminhos para o contentor do lixo, ou para a moradia no sopé de uma ponte qualquer.
Abram os olhos, porque este Portugal ainda é bonito.