Maria de Lourdes dos Anjos
Finalmente está de novo ativado este slogan do tempo do “credo em cruz, santo nome de Jesus”. Já não era sem tempo!
Até que enfim: acordaram Deus e fizeram dele um português de sucesso com loja montada para os lados de Vila Nova de Ouro Tem.
Claro que ele não vive ali naquela pasmaceira por que tem mais que fazer, mas nomeou uma respeitável gerente com gabinete de paredes douradas e uma extensa passadeira, de muitos metros de comprimento, e alguns de largura, para os fiéis servidores deslizarem/rastejarem como cobras ou lagartos que perderam o rabo quando alguém o calcou.
Depois, talvez a conselho do senhor Gaspar, para minimizar a fatura da EDP, parece que queimaram umas toneladas de cera, só numa noite; cera com modelo e marca própria para melhor satisfação do empresário e maior garantia do cliente /sofredor que vai ser atendido com a brevidade possível.
Não admira, andamos todos a fazer cera há uns tempos e é preciso esgotar stocks…isto se a cera não for chinesa, claro: negócio é negócio!
Em tempo de crise, a solução é mesmo ir pedir emprego aos santinhos todos e rezar para pagar as prestações que se devem ao banco.
Bem pensado.
Enquanto se caminha, vamos emagrecendo e conversando e esquecendo as agruras da crise. Depois volta tudo ao anormal deste país com fé porque já se sabe “ca fé” é o que nos salva.
Já me esquecia de lembrar que, uma vez mais, os pobres deixaram ficar por lá muito ourinho , na caixinha das esmolas porque o Vaticano até já reclamou a descida a pique das receitas dos crentes.
Haja Deus !
Finalmente, até que enfim, a Pátria, deixou de ser a madrasta que todos insultamos e passou a ser a mãe terna e compreensiva que abriga no seu seio muitos Duartes, algemados, empobrecidos, injustiçados, filhos de mães que os exploraram na meninice, obrigando-os a vender peixe de porta em porta, vitimas de asquerosa violência infantil…meninos que lutaram, rezaram noites a fio e depois, fugindo dos grilhões da exploração e com a ajuda divina, se tornaram muito ricos logo ali, aos 39 anos de idade.
Tocaram órgão na igreja, foram meninos de coro, fizeram caminhadas longas e foram ouvidos nas suas preces.
A pátria amparou estas crianças a quem o mundo havia negado a felicidade. A Pátria foi mãe. A Pátria não esquece os filhos da mãe…
Podem ser carecas, ladrões, assassinos, cancerosos, palhaços, piolhosos, divorciados, manetas, aleijados , fajardos mas, são filhos da Pátria.
Haja Pátria!
Finalmente, por progresso ou retrocesso, o processo do regresso à família começa a ser um caminho com sentido obrigatório.
Há hoje menos divórcios. Pudera !
Não faltam por aí e por ali e por acolá, meninas bem boas, seriíssimas a fazer fretes por pouco dinheiro e pouco esquisitas. Portanto, com tanta concorrência desleal, toca a comer e a calar que o marido ainda tem emprego ou, então, se o ão tem, faz o trabalho duma gaja a dias e pronto.
Fica baratinho e fica feito e o poder paternal desempregado, a custo zero é bem pior.
Paciência, manda-se o homem logo de manhã para a fila das promoções a 50por cento e aguenta-se, senão… vai-se tudo pela porta fora, e vem a chatice dos tribunais, mais a vergonha da vizinhança, mais o tratamento caríssimo da celulite para conseguir arranjar outro papalvo que aqueça o leito vazio e frio, mais os filhos que querem o pai, mais isto e aquilo…olha como está tudo pela hora da morte, toca a viver em sossego como a Inês de Castro.
Que caraças de vida ! Divórcio!? Isso é um luxo para gente da alta esconder os bens ao fisco. Nós até “semos pobres”…
Haja Família!
Sabem que mais? Haja coragem para canonizar o velho santo de Comba Dão que nos deixou por milagre e por amor à Pátria e à Família, estes bisnetinhos tão queridos que ocuparam a escola de S. Bento e o convento de Belém.
Adeus amigos, vou pregar para outra freguesia.
Vagueando
Eu vi, vagueando,
crianças feitas homens
e homens que são crianças.
Mulheres que são farrapos
e farrapos que são mulheres.
Eu vi, vagueando,
almas sofrendo sem corpo
e corpos sem alma, sofrendo.
Cabeças cheias de nada
e nada enchendo cabeças.
Eu vi…
um sorriso matando
e um beijo que tortura.
Um caixote de cartão querendo ser lar
e um leito feito de raiva e praguejar.
Uma rua sem casas, sem gente, sem vida.
Uma cidade sem voz, ultrajada, vencida.
Eu vi tudo e aceitei.
Não compreendi, mas desculpei.
Não fiz vénia mas consenti,
Fiz de conta que não vi. Fingi!
Depois de tudo o que calei,
de tudo o que não fiz,
tentei inventar uma cidade feliz
E continuei, silenciosamente, vagueando.
in “Nobre Povo”
edições GAILIVRO
Por Onde Vou Semear a Poesia
(Junho)
Dia 1- Junta de Freguesia de S. Nicolau (Porto) -21h30
Dia 2- Casa da Cultura de Paranhos (Porto) -16h00
– Centro Recreativo de Mafamude (V.N.Gaia) – 21h30
Dia 8- Feira do Livro do Porto, “Bairro dos Livros” – 22h00
Dia 9 – Estudos brasileiros – Edifício Pinto Leite, 6º andar- 16h00
Dia 13 – Cascata da Sé (Porto) – Poesia dos Santos Populares
Dia 15 – S. Mamede Infesta– 21h30
Dia 16 – Galeria Vieira Portuense – 17h00
– Concerto na Igreja de S. João Novo (Porto) -21h30
Dia 22 – Casa Barbot (VN Gaia) -22h00
Dia 27- Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro (Porto) -15h00
Dia 28 – Espaço VicaCidade (Porto) -17h00
Dia 29 – Associação de Pais da Senhora da Hora -21h30
Dia 30 – Casa da Cultura de Paranhos (Porto) – 16h00
(01-jun-12)