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A credibilidade do Governo de Passos

Lúcio Garcia

 

As férias interromperam a minha habitual crónica no “Etc e Tal”. Não deixei, no entanto, de estar atento à evolução da política nacional, seguindo de perto a sua evolução em Espanha, onde estive. Não fez grande diferença. Ouvir Mariano Rajoy e Passos Coelho é o mesmo que escutar repetidamente um disco “single” de 45 rpm de uma só música e sempre do mesmo lado. Ambos, prosseguem uma política neoliberal ao serviço do grande capital e vão levar a Península Ibérica ao desastre.

 

 

Uma das palavras mais usadas e que me arrepia, é a da credibilidade. Assim, vou dedicar esta crónica à credibilidade tantas vezes repetida como sendo a honra deste governo.

Para isso, e como estive fora, li os últimos jornais “Expresso” do mês de julho, ou seja, vou considerar esta análise baseada num simples mês, após um ano de governação do tal governo da credibilidade.

Caso ministro Miguel Relvas – O escândalo sobre o braço direito de Passos Coelho, finalmente rebentou. Não sei porquê só agora? Já em 1997, o extinto jornal “Região de Tomar”, noticiava sobre Miguel Relvas: “Relvas o Verdadeiro Artista”. Na altura, membro da concelhia da JSD e na altura candidato a presidente na Assembleia Municipal de Tomar, já possuía quatro moradas diferentes, várias viagens fantasmas nunca bem explicadas. Tudo sobre este assunto pode ser consultado em:  http://aventadores.files.wordpress.com/2012/07/jornal-de-tomar_relvas.pdf.

Recentemente vem a público, o caso das pressões ilegítimas de Relvas sobre uma jornalista do “Publico”.

O “caso Relvas” sobre as secretas e as estranhas ligações a Silva Carvalho muito mal explicadas no Parlamento para não dizer outra coisa. Já durante o mês de julho mais um escândalo: a milagrosa licenciatura, eticamente uma vergonha, para o Ministro e para a Universidade Lusófona que o creditou.

Mas, afinal, Relvas já era “Dr. “ desde 2002, segundo se pode ler no “Blogue 100 Reféns do Jornal Expresso” e da autoria de Tiago Mesquita. Lá se pode ver uma fotografia de uma lápide da inauguração dos Serviços Técnicos da Câmara Municipal de Murça pelo secretário da Administração Interna ….Dr. Miguel Relvas.

Eis um exemplo de credibilidade deste Governo e seus ministros.

 

Mas, o que diz sobre isto o ministro da Educação; “Não me pronuncio sobre os meus colegas de Governo”. Então, o Sr. Dr. ministro Nuno Crato, que proclama tanta exigência no Ensino, mantêm-se em silêncio e recusa investigar o caso, como se pode ler no “Expresso”. Ao menos no caso de Sócrates, o ministro Mariano Gago mandou abrir uma investigação que até levou ao encerramento da Universidade Independente. Sócrates, pelo menos, sempre possuía um bacharelato em Engenharia, mesmo, feito, completo e com exames em todas as cadeiras.

O grau de Engenheiro é que lhe foi concedido por equivalências e poucos exames ao jeito de Relvas. A diferença é que, na altura, estes senhores que hoje se calam com Relvas disseram cobras e lagartos de Sócrates. Claro que, num caso ou outro, não estou muito de acordo com o processo, ele até pode ser legal, mas o que me constrange é a necessidade mesquinha portuguesa de que todos temos que ser “doutores”.

O que tem realmente valor são as qualidades e o elevado sentido de estado que um governante tem que ter, seja ele quem for. John Major, que foi primeiro-ministro britânico conservador, nem sequer frequentou a Universidade e não foi esse facto que o impediu de ser quem foi.

Como podem ver mais um caso de credibilidade desta gente que nos Governa.

 

E o Dr. Portas? Onde para esse paladino, antigo diretor de “O Independente”, que arrasava os governos de Cavaco Silva na maioria das vezes, com toda a razão? Lembram-se do que escrevia? O “Paulinho das Feiras”…que demagogicamente usava aquela boininha e se armava em defensor dos agricultores. Hoje, tem uma colega de partido, ministra da Agricultura, que abriu caminho ao plantio indiscriminado de eucaliptos. E o Mar? Cavaco arrasou com as pescas, a marinha mercante e a agricultura. Onde está a política do Mar? Qual a estratégia deste Governo para estes sectores tão importantes do nosso País?

E a questão da segurança? Portas queria um polícia em cada esquina, hoje nem policia se vê. Os últimos dados revelam que, por mês, ocorrem uma média de dez assassinatos, todas as semanas são assaltados postos de multibanco e à bomba, as ourivesarias são um maná para os ladrões …etc, basta ler os jornais diários.

 

Nos últimos dias, foi noticiado o desaparecimento de importantes documentos relativos aos contratos dos submarinos adquiridos na vigência de Portas quando era ministro da Defesa. Em 2009, no Parlamento, Francisco Louçã “sugeriu” à Justiça que “procure nas 61 mil fotocópias”, que Paulo Portas “levou para casa” quando abandonou a pasta da Defesa, o contrato dos dois submarinos comprados à Alemanha durante o Governo PSD/CDS-PP.” Portas afirmou que nenhum documento era classificado, mas à luz do que se passa hoje, talvez o Ministério Publico deva tomar algumas diligências.

Mais exemplos de credibilidade.

 

O fantástico ministro das finanças Vítor Gaspar, não acerta uma, a dívida continua a aumentar e nenhuma das suas previsões bate certo, a situação continua a degradar-se. Como diz Pedro Adão e Silva no “Expresso”, “ como é possível estarmos hoje como estamos? “ Os sacrifícios, ao contrário do prometido, tornaram-se uma realidade, com cortes de pensões e salários, aumento de impostos (confisco fiscal, para usar a expressão tantas vezes utilizada no passado) e o desemprego galopante.” Acrescento eu, que nem posso acreditar na surpresa expressa pelo governo e do próprio Vítor Gaspar com o desenlace do desemprego.

Com a política que tem levado a cabo de destruição do nosso tecido empresarial e com o encerramento diário de empresas, algumas viáveis, como pode o desemprego não aumentar?

È preciso, como diz o povo ter mesmo “cara de pau” para manifestarem “surpresa”. Considero essa “surpresa” um insulto ao povo português.

 

Se aqui há alguma credibilidade, não a consigo descobrir.

Paulo Campos, no seu artigo “Relatório Confidencial” de 14 de julho no “Expresso”, diz que as PPP rodoviárias são 22 (14 lançadas antes dos governos de Sócrates e oito durante). O Estado vai investir nas PPP, 15 mil milhões de euros até 2050 o que equivale em termos médios a 0,22por cento do PIB anual. As PPP rodoviárias, representam um encargo médio anual, nos próximos 20 anos, de 450 Milhões. Este é o valor inscrito por Vítor Gaspar no OE-2012 e que é menos (!) do que o encargo fixado por Bagão Félix no OE-2005! Diz Paulo Campos, estar disponível para participar num programa de esclarecimento público inclusive no programa de José Gomes Ferreira e Medina Carreira, que nunca possibilitam o contraditório.

Claro que assim não vale. Ouvimos sempre o que nos querem fazer crer e o povo está sempre a ser enganado pela ideologia dominante e seus propagandistas. As renegociações em curso com as PPP rodoviárias, parece – me que assentam mais numa estratégia de ou aceitas isto ou não levas nenhum.

E as Fundações (?); lembram-se que antes das eleições este era um tema recorrente de propaganda politica sobre as gorduras do Estado? Haveria cerca de 2000 fundações a receber dinheiro do Estado. Haveria que, urgentemente, acabar com esta situação e até parecia querer relacionar-se a existência destas fundações com o governo anterior.

Finalmente saiu o relatório sobre as mesmas com que concordo e até aplaudo. É de facto necessário saber que fundações existem, para que servem, que fins servem e quanto custam ao erário publico.

 

Em resultado da análise efetuada, encontram-se registadas 831 fundações. Destas, responderam ao recenseamento 558. 401, foram objeto de análise. No “Publico”, de 11 de Agosto, pode ler-se: “227 das quais com base na aplicação de um modelo de avaliação concebido especificamente para o efeito – assente em critérios de pertinência/relevância, eficácia e sustentabilidade – e 174 fundações de solidariedade social analisadas apenas numa ótica económico-financeira. E ainda: “As restantes 157 não foram analisadas, “uma vez que 56 entidades não eram fundações [eram cooperativas, associações, centros sociais e/ou paróquias], uma foi extinta no decurso da avaliação e 100 foram criadas ao abrigo da Concordata assinada com a Santa Sé”.

 

As fundações que mais dinheiro recebem do estado são:

1 – Fundação para as Comunicações Móveis – €454.477.3132.  A Fundação da  Universidade de Aveiro – €218.664.841 e a   Fundação da Universidade do Porto – €205.821.010

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/universidades-entre-as-fundacoes-que-mais-receberam-do-estado=f744297#ixzz23Glp7a9U

Para encerramento imediato falam-se de dez, entre as quais, as Fundações Paula Rego e D. Diniz. A avaliar pelas reações ao encerramento destas Fundações de enorme prestígio cultural, e atendendo a informações recentes sobre o seu financiamento não provir de fundos do Estado mas sim de outros meios, nomeadamente, dos jogos de azar como o “Euromilhões”, e outros, afigura-se que o critério está errado e negligenciado o que não augura nada de bom para a sua credibilidade.

 

Mas, afinal onde estão as reformas estruturais? Onde é que realmente cortaram nas gorduras do estado? Onde estão os cortes nos consumos intermédios da Administração Pública?

O Governo já está em funções há mais de um ano. Penso que ninguém sente que o Estado esteja a emagrecer, nem vê onde. Pelos vistos, as gorduras estavam no Povo. Os verdadeiros cortes, têm sido nos salários, na Educação, na Saúde, nas reformas, nas pensões, no emprego, na degradação diária do poder de compra, no encerramento das empresas.

O compadrio, está presente todos os dias, vejam as nomeações para altos e intermédios cargos nas estruturas do estado. Não se nomearam ministros e secretários de estado por demagogia, e depois criaram cargos de consultores a ganhar cinco vezes ou mais do que um ministro… Uma vergonha.

Eis vários exemplos de credibilidade!

 

O espaço não permite falar dos restantes ministérios e seus responsáveis, mas todos eles enfermam do mesmo radicalismo ideológico. Honrar os compromissos com a troika é o seu lema. No entanto, boa parte das medidas tomadas contra os trabalhadores nem sequer constam do acordo com a mesma. Que credibilidades têm, quando o Governo não é, nem foi capaz de honrar compromissos muito mais antigos com o povo? O esbulho que fizeram aos trabalhadores, baixando e eliminando salários aos reformados e pensionistas, assim como aos funcionários públicos, em clara violação do Direito Constitucional? Quando provocam deliberadamente o desemprego e assim beneficiam a baixa de salários? Que não cumprem com os acordos da concertação social e que em geral não respeitam nenhum compromisso com o povo?

 

A “SIC Noticias” apresenta, entre programas, uns excertos de frases ditas recentemente por Passos Coelho, como: ”Que se lixem as eleições” e outras que tais. É uma vergonha ter um primeiro-ministro que nem o povo respeita. Talvez com frases demagógicas como esta, ainda consiga iludir alguns dos seus seguidores.

Todos somos livres de ter a nossa opinião, mas há limites para tudo, até para os sacrifícios que nos são impostos e é altura de começarmos a meditar bem no que nos reserva o futuro com esta política.

Algumas frases de Passos Coelho em “Jogo falado” no “Expresso”.

10.11.11 – “Nós não fazemos aldrabices” – 14.10.11 – “Nós não vamos anunciar pacotes de austeridade a seguir a pacotes de austeridade”– 11.05.12 – “Estamos com a maior carga fiscal de que há memória em Portugal “– 14.10.11 – “Não considero que haja mais margem de manobra para cortar na saúde, na educação (…) Não é possível ir mais longe”.

Bem, o número seria interminável. As promessas de Passos nas eleições fizeram das mesmas a maior fraude politica que até hoje existiu em Portugal.

Ora aqui está a credibilidade!

 

Os milhões que nos estão a ser sonegados agora para pagar os ditos erros do passado – e concordo – foram muitos deste sempre, não se vão resolver com esta política. Quantos biliões, não serão necessários só para repor o tecido empresarial e a economia a níveis aceitáveis de recuperação do emprego? Claro que quando a nossa economia descer ao nível dos países do terceiro mundo, se calhar, vamos crescer, mas de quantos anos vamos precisar para retomar os níveis de 2010, mesmo considerando que o país crescia nessa altura muito pouco?

Na verdade o que nos está a acontecer, a Portugal e a todos os países do sul da Europa mais a Irlanda é pagar os triliões que o grande capital perdeu com a crise financeira de 2007.

Quando esses senhores que comandam os “Mercados “ se encherem, então, as coisas vão aliviar. Nessa altura têm milhões de pessoas no sul da Europa a trabalhar por qualquer preço, (os novos escravos), serão donos dos países, possuirão os negócios mais rentáveis, um deles será o da saúde.

 

O curioso, é que vários senhores muito inteligentes continuam a dizer que não há remédio, que não há outra saída para a crise, tem que ser assim e tem. Que inteligentes tão pouco criativos. Mais…isto não é uma questão ideológica…dizem. Então não é? Claro que é. Até nisto pensam que somos estúpidos? Nunca uma política foi tão ideológica como a que tem sido seguida por estes estrategas dos mercados e seus servidores. No caso Europeu com capital na Alemanha de Merkel e na Península Ibérica pelos seus fiéis servidores Mariano Rajoy e Passos Coelho.

A história julgará este tempo que atravessamos. Posso enganar-me, mas quase aposto que nenhum deles ficará bem na fotografia.

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