Nado e criado na freguesia de Massarelos (Porto), Nuno Augusto Vieira Antunes tem 41 anos, é padre e encontra-se na portuense paróquia do Bonfim desde 19 de agosto de 2012. Tendo passado já por Arouca e Felgueiras, o nosso convidado é um homem dado à vida. Apaixonado pelo futebol e um indefetível portista, o pároco do Bonfim tem uma opinião muito própria – convicta! – sobre a atual sociedade e a crise que nela grassa. Diz que estamos a viver o melhor de todos os tempos e que as pessoas o devem aproveitar para saber o que fazer da vida e para onde caminhar. Admirador de Jorge Nuno Pinto da Costa e Rui Rio, e ainda amigo pessoal da autarca Fátima Felgueiras, Nuno Antunes começa agora a conhecer a sua nova paróquia, num regresso imprevisto à cidade que o viu nascer e que considera “extraordinária”.
Quando chegou à paróquia do Bonfim, os comentários foram unânimes e traduzidos numa frase: Temos um padre jovem! Isto tendo em conta também a média de idade dos seus antecessores.
“Aí está bem! (risos).”
Por quê ser padre?
“A minha opção de ser padre começou cedo. A minha mãe diz-me que, com quatro anos, já lhe revelava essa opção. Depois, na escola primária, o pormenor começou a ser mais sério. Pelos vistos escrevi isso numa redação na quarta classe, e o – já falecido – professor Pompeu, da Escola do Bom Sucesso, disse ao meu pároco Jorge – ainda é o pároco do Santíssimo Sacramento -, que havia, por ali, um aluno querendo ser padre. Era eu! Depois comecei o percurso de pré-seminário, dos seminários de todas as dioceses. Ser padre é uma decisão que vai crescendo e é uma opção que se vai tomando!”
Há um crescendo de responsabilidades ao longo dessas “etapas”?
“É uma questão de tomada de posição. É como nós, quando fazemos alguma coisa com interesse e, às vezes, chegamos a uma certa altura em que o panorama aumenta e os interesses começam a ser muito mais claros. Neste caso também é assim. É um progresso que se faz no caminho da opção e o do discernimento, para se saber para onde se quer ir. Uma coisa é a “marca infantil”, que é muito importante, mas depois há outros caminhos… há uma outra perceção das coisas”.
“Ter escolhido um outro tipo de caminho não me criou qualquer tipo de problemas”
Como viveu a fase, não sei se problemática, mas, por certo, desafiante da adolescência?
“A adolescência não é uma fase problemática. Não são problemas! É um processo normal e natural das pessoas crescerem.”
Mas, no seu caso, foi uma opção, ou um desafio, diferente nessa idade específica. Isso não originou-lhe problemas?
“No meu caso concreto, tive uma adolescência idêntica à de outros jovens da minha idade. A questão de querer ser padre, de não querer ser casado, ou um ter escolhido um outro caminho não me criou qualquer tipo de problemas. Mais: Na adolescência já me encontrava no Seminário. O 10.º e 11.º ano foram feitos no “Rodrigues de Freitas”. Aí éramos conhecidos como seminaristas e não houve qualquer tipo de impedimento, ou seja, não houve qualquer fator de diminuição, antes pelo contrário: era um acrescento! Nós, além de alunos, éramos seminaristas, tínhamos uma turma extraordinária e ótimos professores a quase todas as disciplinas. Professores que nos marcaram e com os quais vamos falando de vez em quando. A nossa turma era diferente, não só composta por seminaristas, e que estudava por querer saber”.
Seja como for a sua adolescência foi nos anos oitenta, poucos anos após a Revolução e quando, socialmente falando, surgiram outras formas revolucionárias de encarar a sociedade, tipo punk e etc e tal…
“Não sei onde estava quando foi o 25 de abril?! (risos).”
Estava cá no Porto, pelos vistos…
“Estava, mas de nada me lembro!”(risos)


“Em todas as pessoas há caminhos de abertura”
Mas, a revolução era também social, principalmente nos anos oitenta. Como é que um jovem padre a encarou? Como a ela reagiu?
“Não há reação, há convívio! Há sempre pontos de encontro com toda essa gente! Encarei tudo sem qualquer problema. Quando temos que marcar uma posição – e eu penso que é por aí o caminho -, seja o movimento que for – sejam até estes grupos que marcam, agora, o nosso tempo e que são mais difíceis de compreender-, isso nunca foi problemático e continua, para mim, a não ser. Nós temos a capacidade muito simples de conviver com todos!”
Conviver … aprendendo?
“Não é uma aprendizagem é uma questão de coração. Em todas as pessoas há caminhos de abertura! Todas as pessoas, principalmente nos jovens, querem marcar o seu território, o seu lugar… a sua experiência de vida. É bom que seja assim! Só que, às vezes, as lideranças exploram isso…”
E isso é grave?!
“Quando os caminhos são de alguma marginalidade destrutiva – porque há alguma marginalidade que constrói – que mina tudo, que destrói, é grave! A minha convivência com os colegas de escola e de liceu era normal, até porque quem cria um grupo desses faz um certo ghetto e não quer que as pessoas facilmente nele penetrem. Quem quiser entrar, entra; quem não quiser, não entra!”
E depois houve um continuar até ser padre…
“Depois fui continuando. No Seminário e na Escola Depois passei para a Universidade Católica, na Foz (Porto) – no curso de Teologia -, e com tudo aquilo que é dado para ser estudante”.
“Hoje, toda a gente diz mal de todas as coisas”
Não tem críticas negativas a fazer quanto ao seu ensino!?
“Não. Hoje, toda a gente diz mal do Ensino, e diz mal de tudo, e diz mal de todas as coisas. Neste caso, só tenho que dizer bem!”
Quando se chega a padre deve, por certo, haver uma mudança importante na vida. Foi feliz nessa transição?
“Fui.”
Foi um acabar de um ciclo e o iniciar de um outro?
“O momento de ser padre não é um momento, é um tempo em que, a certa altura, as pessoas decidiram ser esse o seu caminho, vai ser essa minha opção e é aqui que vou permanecer. É exatamente como um casamento! As pessoas namoraram, conheceram-se, amaram-se, celebraram o dia do matrimónio e depois continuou a vida. Mudou a estrutura. Com o padre é o mesmo! O padre nunca pode estar preparado para tudo o que acontece logo após a ordenação. Não pode estar! E não pode estar porque vai ser nomeado, ou vai ser colocado num determinado lugar, com determinadas pessoas, e com uma situação que ele, de todo, não pode conhecer. Isto é com um padre e é o também com qualquer outra pessoa”.
“Eu e Fátima Felgueiras somos muito amigos”
Aonde é que foi colocado pela primeira vez?
“Fui colocado no concelho de Arouca, onde estive cinco anos e meio, onde vivi com muita paz e serenidade.”
O tripeiro (da grande urbe) não estranhou viver na província campestre?
“Não! Já estava habituado à vida da aldeia, pelas minhas origens. Os meus pais são de aldeias. Eu passava lá as minhas férias, por isso, foi fácil assumir essa vida de e no campo”.
E depois de Arouca foi…?
“Fui para Felgueiras, onde estive dez anos.”
Conheceu Fátima Felgueiras?
“Claro! Somos muito amigos.”
De Felgueiras regressa ao Porto, mais concretamente, ao Bonfim?
“Sim. Em junho de 2012, parto de Felgueiras com um futuro promissor (risos), e, em agosto, estava no Bonfim. Com um futuro promissor em Felgueiras, quero dizer! Não sonhava que as coisas pudessem ser tão rápidas…”
Vir para o Porto e para a paróquia do Bonfim apanhou-o de surpresa?
“Sim. Em junho não sonhava e em agosto estava cá!” (risos)
Foi nessa altura que começou a concretizar a ideia?
“Não. Foi-me solicitado que viesse para o Porto e eu vim”.
“O Porto é a cidade mais extraordinária que conheço”
E gosta do Porto?
“É a minha cidade! Independentemente de ter estado em Arouca, ou em Felgueiras, gosto muito do Porto. O Porto é a cidade mais extraordinária que eu conheço, e já conheço algumas.”
E acha que ela tem sido, e é, bem gerida?
“Quer chegar ao dr. Rui Rio? Á Câmara do Porto?”
Onde quiser.
Bem. Eu só vinha ao Porto por passagem, não tinha tempo para viver a cidade. Agora, do que conheço do Porto, acho que é uma cidade que mantém aquilo que tem sido e mantido ao longo de muito tempo: margem de crescimento! Acho que é uma cidade que não para! É uma cidade que já atingiu determinados níveis imparáveis. Há, contudo, determinadas políticas que foram seguidas nos últimos tempos e que identifico-mo, claramente, com elas. Não é sequer uma questão partidária, tem a ver mesmo com a gestão que o dr. Rui Rio fez a todos os níveis, mesmo com margens de erro”.
Margens de erro que poderão passar pela zona oriental do Porto, onde se encontra a sua paróquia, e que não foi assim tão apoiada quanto aquilo quer era exigível? Aliás, o próprio edil já o reconheceu.
“Desconheço. O que falo é da perceção. Daquilo que vou lendo, ouvindo e vendo… é disso que falo!”
“Todos os dias há gente a bater à porta pedindo auxilio”
Nestes poucos meses que se encontra aqui, já começou a sentir o pulsar dos bonfinenses, ou seja, da sua paróquia? Aliás, refira-se o facto de que a freguesia do Bonfim, como autarquia, se irá manter…
“…Sim. Li nos jornais. Em primeiro lugar, quero tentar identificar o que é que estou aqui a fazer, no sentido do que é que esta paróquia quer e do que ela precisa. Estou numa fase de avaliação e não numa fase para tomar decisões ou de mobilizar seja o que for. Por si só, o querer saber, conhecer e ambientar não é fácil. Só a perceção do espaço da paróquia, e dos grupos que nela se vão movimentando, demora tempo.”
Falamos de toda uma orgânica a passar pelos escuteiros e por aí fora…
“…Toda essa orgânica e todo o movimento celebrativo, porque é preciso celebrar missa todos os dias, é preciso fazer dois ou três funerais todos os dias. só isso é absorvente! Isto é como quem quer pintar a casa e arranjar o jardim e depois começa a conhecer os vizinhos. Este é um percurso que se faz durante anos e não em meses. Este conhecer da realidade; este “organizar” a casa – pintá-la com as cores que a gente gosta – e logo como a do Bonfim, é um trabalho absorvente.”
Por aqui, já se sentiu a crise?
“Todos os dias há muita gente a bater à porta a pedir auxílio.”
Como é que reage a essas situações?
“Com alguma dificuldade em ter respostas. Só posso encaminhar! Esta é a porta certa para toda a gente bater, mas, neste momento, a resposta que há a dar não é aquela que as pessoas esperam e merecem.”
“Estamos a viver o melhor dos tempos”
Tudo o que se tem passado na nossa sociedade, devido à crise, tem-no chocado?
“Estes tempos de crise não me têm chocado, no sentido de se dizer que estamos a viver todos mal. Agora, tem-me obrigado, e tem de nos obrigar a todos, a pensar um bocadinho na vida. O que queremos da vida? Para onde queremos caminhar? Como é que queremos viver? Que perspetivas são as nossas? Quais são os patamares onde queremos chegar? Quais são os nossos conceitos e os nossos horizontes?”
E são esses “avisos” que transmite ao seu “rebanho”?
“Isso transparece nas nossas conversas. Não por ter dizer isso porque tenho de o dizer, mas as coisas transparecem, porque a crise é o que é! A crise é só uma crise! Com quarenta anos ainda estou para ver qual o tempo em que nós não estivemos em crise. Não me lembro de haver uma altura em que as pessoas não se queixassem?! Não me lembro! No tempo do dr. Mário Soares era a bancarrota, no tempo do dr. Cavaco Silva era o buzinão na ponte, e depois continuou por aí fora. É preciso perceber que estamos a viver o melhor dos tempos e não podemos avaliar a nossa vida por dois ou três anos de crise. A nossa vida não é um passado tão recente”
“É preciso definir, em conjunto, um padrão para a nossa vida”
Mas a situação é crítica.
“Por haver mais gente a gritar não significa que o incêndio seja maior, significa que as pessoas têm mais capacidade para gritar: têm uma voz melhor!”
Não são só aquelas que gritam para fora, são também aquelas que gritam para dentro.
“Sobre a crise estávamos aqui a falar todo o dia. O grito silencioso das pessoas que estão a passar mal não pode ser calado de facto, mas é preciso rever o que de facto queremos para a nossa vida. Se todos quisermos ter, por excesso ou loucura, uma vida como a do Cristiano Ronaldo: é para esquecer! Mas também não deveremos querer uma vida como um senhor que vive mal numa esquina da rua! É importante definir, em família, em conjunto, sem linguagem de números que é muito confusa – eu não a compreendo de todo, pois os números fazem-me confusão – um padrão de entendimento, um lugar na vida em que nós nos queremos situar. Às vezes falamos muitas vezes sozinhos e dizemos muitas coisas a nós próprios, mas, às vezes, é preciso discutir isso no nosso círculo de amigos, no nosso círculo familiar…
…Um contraditório.
“O que é que quero para a minha vida? Que padrão quero para a minha existência? Porque depois assistimos a muita gente que vive triste e desafortunada porque não consegue pagar as contas ao fim do mês – e tem direito a isso! -, mas outros há que não querem chegar a esse conceito, nem se quer avaliar por esses padrões. São os que reagem e que decidem mudar de vida, partindo para o campo para cultivar o seu quintal, e até regressa à sua aldeia. No fundo, quero deixar esta ideia de que o que nós queremos para a nossa vida concreta e para esta sociedade do século XXI tem de ser pensada… refletida.”
“Aconselho as pessoas a pararem para refletir”
Não estamos sozinhos. O mundo existe.
“Pois. Estamos num mundo que é governado não pelos políticos, mas por aqueles que fazem a opinião. Se é chique ter um micro-ondas, toda a gente vai comprar o micro-ondas, esquecendo-se as pessoas que podiam aquecer as coisas em banho-maria. Porque a sociedade cor-de-rosa nos impinge padrões de comportamento, nós não temos que os sublinhar”.
A Igreja aconselha isso?
“Quem está a falar é o padre Nuno, pároco do Bonfim. Aconselho a que as pessoas parem para refletir. Se consigo viver com um fato ou dois não preciso de ter cinquenta! Eu tenho que definir em conjunto, na minha família, no meu grupo de amigos, que padrões de vida, que moldes de vida, quero ter para mim e para os meus. Se eu consigo viver com cem, por que é que tenho que viver com duzentos só porque a sociedade cor-de-rosa me obriga assim a viver?”
“A Igreja Católica não pode estar na moda”
A juventude está interessada na Igreja?
“Está e estará cada vez mais. O que é preciso é estar próximo, ouvir e falar com eles”.
São jovens que desabafam?
“Evidentemente. A experiência que eu tenho é de gente que quer pensar a vida, que quer pensar diferente, mas que se confronta com a banalidade, que mete os pés pelas mãos como todos metemos, e que depois, quando avalia o que fez, faz marcha atrás, diz “não” e tem de arrepiar alguns caminhos. No fundo, fazem a experiência que têm que fazer. Depois vem a respetiva avaliação. Eles são vítimas de muitas promoções. Nós dizemos mal da juventude, mas fazemos tudo e mais alguma coisa para dizer mal”.
Porque é que há poucos padres em Portugal? E porque é que ainda não se podem ordenar mulheres, como acontece, por exemplo, na igreja Anglicana?
“Tanto quanto vou pensando e refletindo, o caminho até ao sacerdócio das mulheres vai ser muito longo, não acho que seja para o meu tempo, a não ser que haja uma grande mudança na hierarquia e no pensar. Há um grande caminho a percorrer no pensamento da Igreja a esse respeito. Ninguém vai à frente pelo facto de já ter ordenado mulheres. O caminho que a Igreja faz é este, e os outros irmãos têm um outro. Pronto. Esta é que é a palavra ecuménica. O Jesus Cristo continua a ser o mesmo.”
Diz-se que a Igreja Católica é mais conservadora que, por exemplo, a protestante.
“Eu acho que não é mais conservadora. A Igreja Católica conserva um património que tem de conservar: é o património de Jesus Cristo. Depois é fiel a si própria: faz o seu caminho. Um caminho que não é de modas. A Igreja Católica nunca vai estar na moda!”
Mas já mudou muito.
“Faz o seu caminho sem imposição da sociedade. A Igreja faz o seu caminho normal: o caminho que fez sempre. Com os seus erros e com os seus limites porque é promovida e feita por homens. A Igreja não pode andar ou estar na moda. A moda passa!”
“A Igreja tem de preservar o seu património espiritual!”
O padre Nuno é conservador?
“O que está de moda passa de moda. O que a Igreja tem a propor não passa de moda! Se sou conservador? Tenho muito apego às tradições e gosto muito do que é o nosso património etnográfico regional a todos os níveis, isto desde a boa comida…”
Mas é conservador?
“Conservo aquilo que acho que devo conservar. Queria é que lhe dissesse que veio para o Bonfim um conservador, ou que veio para o Bonfim um progressista?! Não. O meu conservadorismo é este: preservar a cultura portuguesa ao pormenor, ao requinte, desde o que se bebia, do que se comia, de como se fazia, das boas maneiras à mesa, ouvir um bom rancho e música popular ou bom um fado. Olhe! Também sou conservador em relação ao fado, porque há uma certa modernice do fado, que quase que chega a ser um fandango! Em relação à vida em Igreja, Ela tem que preservar muito daquilo que é o seu património espiritual. Património interior e tudo o que ela significa como presença ao mundo. Outras coisas há em que tem de continuar a crescer, gradualmente e com bastante reflexão. Tem de evoluir e vai evoluir… Terá de ser assim! Gostaríamos de experimentar certas coisas no nosso tempo, mas, se algumas, não iremos experimentar, outras as viveremos.”
Sente algo em especial quando fala às pessoas?
“O que eu sinto é a minha vivência de fé. Essa é muito clara. Sou uma pessoa de fé, não me lembro ter crises ou dúvidas de fé. Gosto de interrogar as pessoas sobre a própria fé, sobre aquilo em que acreditam.”
Portista dos sete costados
Já agora, qual é o seu passatempo preferido?
“Em primeiro lugar, é um joguinho de futebol! Costumo reunir-me com alguns amigos e lá damos uns chutos.”
Mas, há uma equipa, ou seleção nacional, de padres?
“Essa equipa era formada por gente que jogava pouco. (risos). Os que jogaram em condições nunca foram convocados.”
Foi o seu caso?
“Ah! (risos) É uma pena! Eu nunca fui convocado, mas também nunca iria porque já não estou numa de competições. O futebol para mim é um gozo, nada mais do que isso. Enquanto puder ir jogando, vou jogando. Quando não puder, continuarei a assistir aos jogos. Depois gosto muito de ler. Tenho que ler por obrigação, mas também o gosto de o fazer por gozo. E gosto de ir ao cinema e ao teatro.”
Tudo isso é uma recompensa?
“Não. É um gozo. Eu sou do FC Porto e dá-me gozo ir ao Dragão. E até era bom que os diretores do FCP se lembrassem do abade do Bonfim, que até é portista, para lhe oferecer, de quando em vez, um bilhete para um lugarzinho. Ficava bem mandar um convite para a paróquia do Bonfim e quando pudesse ia lá! Sou portita desde pequenino..”
Esbarra comigo. Sou boavisteiro.
“Eu também devia ser boavisteiro porque nasci e fui criado lá perto do Bessa. Os meus vizinhos eram todos do Boavista. Mas, lá está, é a questão das infâncias: o FC Porto foi bicampeão em meados dos anos 70 e tinha-se, por assim dizer, de ser do FC Porto.”
“Pinto da Costa é, no mundo do futebol, a pessoa mais inteligente que existe”
Resumindo e concluindo: gosta de futebol e do FC Porto.
“Gosto… gosto. Os jogos das competições europeias do FC Porto, vou vê-los, praticamente, todos. O futebol é um desporto que cria um lugar extraordinário: as pessoas vivem, no estádio, todas as emoções que a vida nos traz. Uma das coisas fenomenais que existe no nosso país, é na realidade o futebol. Portugal é um dos melhores países do mundo. Em 10 milhões de habitantes, nós conseguimos extrair dezenas de jogadores a atuar a alto nível nos melhores clubes do mundo. O futebol tem o seu quê de mitológico, de endeusamento, e isso exalta os valores de uma nação. E por falarmos em futebol, e tendo em conta todo o mundo que o envolve, há que enaltecer o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa que é uma pessoa extraordinária como dinamizador de uma vontade coletiva regional, projetando o clube, a região e o país para todo o mundo. Não é, por acaso, que o qualificam como Papa do futebol. No mundo do futebol, ele é a pessoa mais inteligente que existe”.
“Rui Rio é um político exemplar!”
E no mundo da política?
“Em termos do país não percebo muito bem os timings do dr. Rui Rio. Acho que ele é um político exemplar e honesto, que nunca quis fazer carreira com a política. Prestou, e presta, um bom serviço à cidade do Porto. Espero, agora, que tenha a oportunidade de prestar um bom serviço ao país, mas não sei quando. Se ele fosse candidato, votava nele! Em termos globais, é muito comum dizer-se que faltam aí algumas lideranças na Europa. É verdade, falta! Mas, quando é que a Europa teve lideres? O dr. Mário Soares era líder? François Miterrand era líder? A História julgá-los-á. Por exemplo, a nível da política nacional, nós temos um painel de “senadores” de Estado que, quando falam, dizem umas coisas, e algumas coisas são muito estranhas. A História vai estar para os julgar.
Vejo a política com muitos maus olhos. Vejo muita gente interessada em ter o poder pelo poder e a servir os seus próprios interesses, mais nada!”
“O D. Januário Torgal falou mais num ano que durante toda a governação de José Sócrates”
A Igreja já tem começado a intervir em certas questões. São muitos, por exemplo, os avisos do Bispo D. Januário Torgal Ferreira. A Igreja tem tido uma intervenção positiva e acha que era a necessária a ter nesta altura?
“A minha opinião, neste ponto, não vale nada. Em relação ao D. Januário Torgal Ferreira – que também é doutor e doutor com licenciatura aprovada e doutoramento feito-, não o vi tão expedito a criticar o governo de José Sócrates. Não me lembro – posso estar enganado, porque a minha memória pode não chegar a tal-, de uma intervenção durante os seis anos do governo do engenheiro – acho que era engenheiro?! – José Sócrates, e durante um ano do dr. Passos Coelho, o D. Januário Torgal de falar tanto e mais do que uma vez. A crise acentuou-se neste último ano! E nós somos médicos para ter solução para a crise? Ou havemos de ser aqueles que antecipam alguns caminhos para que não se chegue lá? Qual é o papel da Igreja? Dizer o caminho, ou vir depois dizer umas coisas?”
“É preciso por o histórico órgão da Igreja do Bonfim a funcionar”
Mudando de assunto, e para terminarmos a nossa entrevista, a igreja do Bonfim foi muito conhecida pelo entoar de melodias através dos seus carrilhões, principalmente, aos domingos de manhã. Para quando o retomar dessa tradição?
“Eles tocam. Têm vindo a tocar. Se estiveram parados algum tempo deverá ter sido por uma questão elétrica. Mas esse problema já está resolvido. Os sinos tocam antes das missas! Mas, mais importante que os sinos tocarem, é alguém pensar em por o grande órgão da igreja do Bonfim, que é dos mais importantes da cidade – tanto quanto eu sei era o órgão que estava no Convento da Ave Maria, na Estação de S. Bento – a funcionar. Ele foi comprado para vir para aqui. Se há órgão histórico na cidade do Porto é este! E este órgão não funciona! Alguém da Cultura desta cidade deve se interessar por este problema.”
Texto: José Gonçalves
Fotos: António Amen
Fiquei cansada com tantos elogios….enigmático…e que definitivamente não chega a todos. Nem poderia…não é Jesus Cristo!
Grande pároco grande homem. Parabéns padre nuno
Depois de ter ouvido os ensinamentos do Sr Padre Nuno Antunes e de o ter cumprimentado já após a XLII Assembleia do Renovamento Carismático Católico realizada em Fátima 20 a 22 de Setembro pp, vim á procura do seu contacto, que ainda não consegui mas espero não demorar muito e fiquei a conhecer uma vida que tem valido a pena ser vivida e que tem muito para dar. Estaremos atentos e Bem Haja sr.Padre!
Poderei dizer alegremente: UM VERDADEIRO APÓSTOLO e tão jovem, mas com uma vivência espiritual extremamente profunda e de uma enorme sensibilidade e maturidade a todos os níveis.Ao ler toda a entrevista e analisando as respostas, tive a noção exacta de estar a ler um conteúdo de uma pessoa mais avançada na idade… com uma experiência de vida e pastoral, de certo modo, já com um caminho trabalhado à distância, no tempo… e quanta honra tenho de, desde o primeiro momento, sentir em SI, SENHOR PADRE NUNO, um verdadeiro APÓSTOLO. O Bonfim teve muita sorte em O TER COMO PÁROCO, tem uma mentalidade sâ e aberta, pois independentemente de ser PADRE, é HOMEM e óbviamente, o que aprendeu no Seminário, toda a preparação elaborada a fim de estar à frente de uma Paróquia, requer conhecimentos específicos mas…existe o CARÁCTER (independentemente de ser PADRE), existe sim em SI, uma maturidade espiritual que o ajuda numa melhor orientação para a comunidade dessa ou de qualquer Paróquia. Sempre com um sorriso e uma forma tão positiva de encarar a VIDA com seus problemas. É uma “lufada de ar fresco”, é o melhor “bálsamo” para todas as feridas da alma. Sua presença, sua palavra, sua atitude, sua Celebração, são O PÃO QUE NECESSITAS NO DIA A DIA. Obrigada por ser o SER QUE É e estar ao SERVIÇO DA IGREJA como um VERDADEIRO APÓSTOLO. Esta entrevista, encheu-me o coração. Foi tão simples e complexa, tão subtil cada resposta, resposta saida da alma de uma forma humilde e sincera. É uma lição de vida o seu serviço Pastoral, para cada um de nós. O mundo está conturbado e cada vez mais é necessário haver pilares de bom entendimento a fim de ajudar a superar todas estas pedras …no caminho terreno. Esses pilares a que me refiro, um deles é precisamente o SENHOR PADRE NUNO, pela sua forma de exercer o seu Ministério na Igreja. Texto de ouro e suas respostas são diamantes polidos. BEM HAJA. GRANDE SER HUMANO.
Despeço-me com o meu ABRAÇO FRATERNO e com o desejo que sempre o sentir em minha vida e na vida de todos os paroquianos.
ATE BREVE
Doroteia
Estamos de facto a viver o melhor dos tempos, no que diz respeito à falta de nobreza de caracter do ser humano.A justiça é injusta, paga e demorada, os malfeitores sabem e continuam a fazer o que lhe apetece. Os oportunistas(sendo honestos) aproveitam-se dos indefesos.Os ladrões estão em cada esquina.O homem centra-se apenas em si tornando-se cada vez mais egoísta.A ganância do ter leva o homem a não olhar a meios para atingir os fins.Se o lesado reclama é invejoso, se está calado não quer saber, ou o que quer é boa vida… ,Se por ventura se descobrem as asneiras a culpa é de quem descobriu.Estes são apenas alguns predicados do homem do nosso tempo.
Sei do que falo, pois sinto na pele, há vários anos, a maldade de um ser, que sendo simpático, atento e adulado por alguns, que não conhecem o seu verdadeiro interior. Cabe à igreja apelar aos cristãos o amor ao próximo, a honestidade, a respeitar os irmãos, a defender e ajudar os outros a ganhar o pão de cada dia, fazer com que evoluam, em vez de dar a esmola que humilha.
BONJOUR Père Nuno,
Je suis heureux d’avoir réussi à vous retrouver enfin après plusieurs tentatives sur Internet. J’espère que vous allez bien. Je suis content d’avoir fait votre connaissance à l’occasion du pélerinage de confiance sur la terre des jeunes de Taizé à Strasbourg.
Nous vous portons dans la prière.
Famille HEILMANN-DEAN ALSACE FRANCE
Grande padre, grande amigo.
Que estamos em tempos de arregaçar as mangas e repensar valores, já não é o primeiro a dizê-lo. Estamos em tempos de partilhar com quem mais precisa! – já todos o deviamos saber. Mas, de facto, infelizmente, toda a gente empurra para os outros o que é sua própria responsabilidade: ajudar quem precisa. Toda a gente critica a Igreja por ter pouco mais que uma oração, umas palavras de conforto e um sorriso… Que mais haveria de ter?
A Igreja sempre ensinou: somos todos responsáveis por ajudar todos. Peguem nesse ensinamento e levem-no para a vossa vida. Talvez entendam que a responsabilidade de haver pessoas a morrer à fome não é “dos outros” mas sim “nossa”. Sim… TUA E MINHA. É duro, sim. Mas cada um terá de cumprir o seu papel e responsabilizar-se por isso. Este é o tempo, este é o momento.
Grande entrevista. Parabéns!
Abraço fraterno.
Padre tão novo e tão velho!
Fiquei estupefacto com esta entrevista. Então não é que um senhor padre defende a pobreza para que as pessoas possam reorganizar, para futuro, a sua vida?! Isto não lembra ao diabo, talvez por isso tenha sido ele (o sr. padre) a defender o sacrifício do estômago a todo o seu rebanho. Mas quando é que alguém pensa, seriamente em algo, de estômago vazio? Ainda bem que não já moro no Bonfim.
Ai senhor padre tinha tantas perguntas para lhe fazer…se calhar um dia vamo-nos encontar para falar do Deus em que o senhor acredita e que nunca responde ás dúvidas desta mulher nascida quase na escadaria da igreja DO MEU BONFIM.Talvez pela fé se salvou FÁTIMA…FELGUEIRAS e se calhar está perdoada pelo poder político e pelo divino.Eu , um dia, quero acreditar num deus e numa sociedade mais justa, mais humana e mais abençoada por onde JESUS CAMINHE SORRINDO.