Tem 36 anos, encontra-se, desde 2009, à frente da Direção da Associação dos Comerciantes do Porto, representativa de cerca de dois mil empresários. Nuno Camilo, natural da portuense freguesia de Miragaia, é ainda vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e traça, em entrevista ao nosso jornal, um quadro extremamente interessante acerca do atual momento político, económico, social e financeiro da Grande Área Metropolitana do Porto.
Não poupa críticas ao governo em certas e determinantes questões; dá conselhos aos candidatos à presidência da Câmara Municipal do Porto, e tem as suas próprias ideias para dinamizar a região. Nuno Camilo na primeira pessoa do plural e, muitas das vezes, na do singular. Para ler com atenção…
Como é que estão as coisas entre os comerciantes do Porto, depois da viva contestação contra o aumento da taxa do IVA, de seis para 23 por cento, entre outras decisões gravosas aos seus interesses- que iremos escalpelizar ao longo desta entrevista- criadas pelo atual governo?
“Neste momento o que tem existido é um cariz muito reformista por parte deste governo, que tem implicações diretas no tecido empresarial e nos seus interesses. Não é só a alteração do código do IVA e da alteração do IVA, como fez referência, mas também a questão do arrendamento; a questão da simplificação da faturação, e, igualmente, a alteração substancial da forma como eram feitos antigos projetos, nomeadamente, quanto à modernização do comércio. Portanto, temos aqui uma série de questões que alteraram os hábitos, em termos empresariais – antigamente protegidos – e que, de um momento para o outro, obrigaram os empresários a viver situações complicadas.
Neste momento, o desemprego que estava previsto para 2013 já foi atingido em 2012. No setor do comércio, temos vindo a perder empresas todos os dias. Posso-lhe dizer que o número de encerramentos diários, no distrito do Porto, andará à volta dos vinte por dia e, a nível nacional, cerca dos cem. Em nosso entender, esses são números bastante alarmantes, apesar de algumas das empresas serem de cariz familiar…”
… por certo, a maior parte?!
“Muitas delas! Ora, essas empresas, pelo facto de não serem tão competitivas e não exigirem tanto às pessoas da família, deparam-se depois com graves problemas na altura de pagarem os seus vencimentos, independentemente, de poderem fazer alguns atrasos e depois algumas compensações. Aquilo que nós sentimos é que os tempos que passaram foram difíceis, mas, este ano, tudo será bem pior! E isto porque, em nossa opinião, o desemprego irá atingir números superiores a um milhão de pessoas, o que significa que temos aqui um problema estrutural muito grave! Depois, temos a questão dos jovens e também dos cidadãos e cidadãs com mais de 45 anos. Os jovens têm uma enorme taxa de desemprego (30 por cento), e, depois, as pessoas com mais de 45 anos, que têm grande dificuldade em arranjar emprego…
O problema é grave?!
“Repare! Hoje, com o mercado de trabalho em que o crescimento não é expectável, apesar de haver anúncios que, no segundo semestre deste ano, poderá haver um crescimento na ordem dos dois por cento, mesmo esse valor fica muito aquém da realidade, tendo em conta que não consegue absorver muito do desemprego que existe. Portanto, nós vemos, com bastante preocupação os próximos tempos, principalmente, em termos das pequenas e médias empresas.”
ACP tem vice-presidência na Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, a qual está presente em sede da Concertação Social
Tem, pelos vistos, acompanhado, a par e passo, esta critica situação e todas as reações dos comerciantes.
“A Associação dos Comerciantes do Porto (ACP), há doze anos, que não tinha representatividade a nível nacional. Entretanto, desde setembro de 2009, a ACP tem representação na Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCSP), com um vice-presidente, que sou eu. Não só a ACP tem uma representatividade, como a CCSP tem lugar em sede de Concertação Social, e que, na Assembleia da República, tem sido, muita vezes, abordada para ir às Comissões, no sentido de prestar esclarecimentos sobre alterações no quadro legislativo.
Por exemplo, a questão das lojas de compra e venda de outo usado. Neste momento, está a ser preparada legislação sobre esse assunto. A ACP foi consultada sobre a questão e, na Comissão de Economia, participou e falou abertamente sobre a legislação que deveria entrar em vigor.
Portanto, hoje, temos uma participação muito mais ativa! Não só nos preocupamos com a dinamização do comércio da cidade, mas também com questões estruturais, como a questão legislativa, a qual não depende de nós, mas que nós podemos- e estamos a fazer esse trabalho -, sensibilizar para algumas questões mais técnicas que o legislador, por vezes, desconhece, porque ele desconhece a realidade… pode ter uma ideia, mas a questão no terreno é, muitas das vezes, diferente da da secretária.”
“O Natal foi muito positivo para os comerciantes do Porto”
As relações com a Câmara Municipal do Porto (CMP) são estreitas. Há um bom entendimento?
“A Câmara Municipal do Porto é um parceiro. Nós, instituições, temos que olhar sempre para a Câmara como um parceiro. A Câmara Municipal do Porto, desde 2009 – desde que nós estamos cá – tem vindo a colaborar com a instituição e a ajudar a dinamizar as nossas iniciativas. Prova é que, em dezembro de 2012, a ACP celebrou um protocolo com a CMP para a questão das iluminações de rua em época natalícia, que era algo que já não ocorria desde 2006. A ACP, na anterior presidência, perdeu a gestão da iluminação, mas, em 2012, voltou a retomá-la e fomos nós que a gerimos. No total, foram iluminadas 28 ruas da cidade, mais uma árvore de Natal em frente à Câmara.”
As coisas correram bem? Qual foi a reação dos comerciantes?
“Houve um ou outro atraso nas montagens das luzes, mas, o resultado prático, e tendo em conta o interesse dos comerciantes, foi muito positivo. Por quê? Porque, no passado, as pessoas não vinham à cidade para ver sete ruas iluminadas! Mas, ver 28 ruas com iluminação natalícia, isso deu uma dinâmica muito diferente! Aquele consumidor que não vinha para gastar, depois, entrou naquela do “já agora…?!”
Isto teve ainda uma vantagem: os preços praticados pelo comércio tradicional foram – como ainda são!- bastante competitivos e foi, como ainda é, um desafio para qualquer um de nós poder lá fazer compras.”
Subsídio de desemprego para sócios-gerentes
Mas, o êxito verificado no Natal, será sempre um “Natal” quando o comerciante quiser, ou o êxito do Natal e as iniciativas de promoção ao comércio tradicional morreram na quadra festiva?
“O que é que neste momento está a acontecer? Se, há alguns anos atrás, havia uma lei para os Saldos muito eficaz, no que diz respeito aos períodos para os praticar, neste momento, o que vemos é um país de Saldos! Já não conseguimos distinguir o que são promoções e o que é que são Saldos?! A época de Saldos começa a 28 de dezembro e acaba a 28 de fevereiro, mas a 01 de dezembro já estávamos com promoções de 50 e tal por cento! Isto fica muito longe do que está previsto no quadro legislativo.”
Disse-me, há pouco, que, em média, fecham por dia 20 estabelecimentos. Não há, para esses empresários, qualquer tipo de incentivo para que a falência ou insolvência não seja uma fatalidade anunciada?
“A Associação dos Comerciantes do Porto (ACP), assim como a Confederação do Comércio, teve essa matéria em questão junto do governo, apoiando o subsídio de desemprego para sócios-gerentes das empresas. Eles não tinham esse direito. No ano de 2012, o secretário de Estado da Segurança Social, Marco António Costa, depois de uma reunião com a ACP, anunciou à Imprensa que ia ser lançado esse subsídio. Isto vem na sequência da atual situação económica e de algo justo que não era praticado. Se nós repararmos bem, um sócio-gerente arrisca o seu capital, investe, tem responsabilidades e preocupações e paga a Segurança Social. Mas, numa situação de emergência, ele não tinha qualquer tipo de apoio.
Temos, hoje, uma situação que veio a ser resposta, e que entrará em vigor em 2013, mas que perca por tardia e só tem um período de garantia até 2015. O que significa que, durante esse período, ninguém pode usufruir do subsídio de desemprego, mas já estão os sócios-gerentes a descontar para um fundo que foi criado para os poder socorrer.
Nós defendemos que o subsídio de desemprego para os sócios-gerentes deve acontecer em situações consideradas anormais face ao enquadramento económico. Se eu sou gerente de uma empresa e estou a geri-la mal, não posso usufruir do subsídio de desemprego! Mas, se tenho uma empresa, e na rua onde tenho a minha atividade comercial e ocorreu uma intervenção como aconteceu aquando do “Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura”, e que demorou mais de um ano, e em que o comércio teve uma quebra acentuada, e se aquela empresa deixou de faturar e está em condições de ir para insolvência, é óbvio que um sócio-gerente de uma empresa nestas condições tem todo o direito a receber o subsídio de desemprego.”
Comerciantes esperam por três milhões da “Casa da Música”
Relativamente à “Porto 2001” a Justiça deu razão aos comerciantes, os quais terão de receber cerca de três milhões de euros de indeminização…
“Estamos a falar num repor da verdade dos factos, uma vez que nós temos de ter a visão que, quando existem intervenções no plano da mobilidade acontecem sempre transtornos. Temos essa noção. Agora, o que não podemos é não ter informação, apoio e planificação. Foi o que aconteceu nessa altura! O que estava previsto decorrer em seis meses, decorreu em 18 meses! Significa isto, que, para um empresário planificar as suas coleções, as suas rendas, os seus investimentos, nunca o conseguiria fazer. Hoje, o cliente é ávido em informação, se empresa não dá resposta em termos de produto e qualidade – tendo em conta que a concorrência é cada vez mais forte e agressiva – a pessoa, o cliente, deslocaliza-se à procura de novas centralidades e foi isso que aconteceu com o “Porto 2001”.
Portanto, este é o resultado de um excelente trabalho do gabinete jurídico da ACP na forma como geriu a questão, e, depois da “Casa da Música”, que ficou com os créditos e os débitos da “Porto 2001”, ter recorrido da sentença, estamos expetáveis, quanto ao enquadramento jurídico-legal, mas confiantes que iremos ganhar! A “Casa da Música” terá de cumprir com a sua responsabilidade e pagar aos empresários aquilo que é de direito”.
Mais um “abanão” na Casa da Música!
“Nós não o fazemos de livre e espontânea vontade. Se à Casa da Música lhe saísse o “Euromilhões”, ela ia recebê-lo por mérito. Aqui – nesta questão e ainda que ao contrário – também tem de cumprir com a sua responsabilidade”.
“Estamos a preparar uma “Aplicação” para a cidade do Porto, e que será multiplicadora para o resto do País, a qual mudará a forma como as pessoas farão, de futuro, as suas compras”
O que é que, neste momento, falta ao comércio tradicional do Porto? Falta mais divulgação… mais publicidade, mais ações?
“Podemos ter, todos os dias, animação na cidade. Podemos ter as melhores campanhas de comunicação, mas se as pessoas não tiveram dinheiro para fazer compras, isso de nada adianta! Acontece que, a nossa associação, desde 2009, teve uma estratégia muito vincada e que assenta no seguinte: Queremos fazer poucas iniciativas, mas, as poucas que fizermos tenham retorno. Apostamos em massificar iniciativas – o Natal de 2012 foi estratégico, quando à nossa aposta e consequente enfoque -, e estamos, neste momento, a preparar outros projetos.
É novidade, para já, é preparação de uma “Aplicação” para a cidade do Porto. É algo inovador e que se tornará num projeto multiplicador para o resto do País. Temos isso planificado…”
Isso é para avançar?
“Neste momento estamos muito avançados com aquilo que poderá vir a estar cá fora até ao final de fevereiro de 2013”
E, no essencial, essa “Aplicação” trata-se de quê?
“Trata-se de um projeto que vai originar uma série de sinergias, entre vários parceiros, de maneira a que as pessoas criem aqui uma nova maneira de fazer compras. Neste momento – e vocês são os primeiros a saber desta novidade – estamos a trabalhar de uma forma reservada, porque queremos que o efeito-surpresa tenha o seu impacto, e, assim, esperamos, em meados de fevereiro, anunciar ao Porto e ao País algo de inovador na forma das pessoas fazerem compras.
Em Portugal, temos dois tipos de consumidores: um, por impulso; outro, por necessidade! E foi o consumidor por impulso que o Porto perdeu. Esse era o consumidor que passava por uma loja, via uma peça e comprava-a. Hoje, há uma mudança, substancial, de hábitos no consumidor. Se, antigamente, as pessoas andavam pelas ruas da cidade e tinham uma rede de transportes muito consistente, como é o caso da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), a verdade, é que, agora, as pessoas entram em Vila Nova de Gaia, saem na Maia, e andam em túneis! Não andam à superfície!
Quero com isto dizer que, este tipo de consumidor, deixou de ver lojas; deixou de ter o impulso de querer fazer compras. O que significa também que, há aqui, uma falta de planificação urbanística – e isso nós culpamos não só as autarquias, mas, e essencialmente, a falta de entidades reguladoras.
Estamos num mercado livre – é óbvio! -, mas temos de perceber que existem determinadas áreas de negócio que não queremos protecionismo. Se olharmos para o número de centros comerciais que a região do Norte tem – com Lisboa o número traduz-se em mais de 50 por cento dos existentes a nível nacional –, nós vemos lojas que têm o advérbio de tempo “abre brevemente”, mas é um “abre brevemente!” para sempre.”
“Em 2012 encerraram 37 grandes superfícies em Portugal”
Isso significa que…
“…que há uma grande falta de planificação. Hoje, vemos grandes centros comerciais e grandes grupos económicos a passar por sérias dificuldades. No ano de 2012 encerram 37 grandes superfícies em Portugal! Se, há dez anos atrás, fossemos aos fundos de investimento, para criar uma grande superfície, eles só perguntavam: onde? E depois: está aqui o dinheiro! Hoje, as coisas são diferentes, mas a falta de planificação destruiu por completo muito do mercado”.
Concorda, contudo que, em termos de mobilidade, e a cidade do Porto é um exemplo para a Europa e até para o mundo?! Isto se, ainda por cima, tivermos em conta os entraves que sempre surgem do Terreiro do Paço quanto ao exigível alargamento da Linha do Metro, por exemplo!
“Claro que a cidade do Porto, em termos de mobilidade, é um exemplo! E, diga-se, entretanto, que os empresários também têm de se adaptar aos novos “ventos”, porque não podemos abrir uma loja às nove da manhã quando as pessoas começam a circular às 10. Ninguém vai a uma loja de roupa às nove da manhã comprar um vestido de gala?! “
“Hoje, há uma mudança de hábitos e as pessoas têm de perceber isso!”
Com certeza que, às nove da noite, o potencial cliente também já não andará na rua?! Desloca-se ao centro comercial…
“Dou-lhe um exemplo prático: a ACP, numa das atividades que desenvolveu com a Câmara Municipal do Porto, queria o alargamento, à tarde, do horário do Mercado do Bolhão. Acontece que, alguns comerciantes, indignaram-se com tal proposta, porque, há quarenta anos a esta parte, o Bolhão nunca tinha estado aberto aos sábados à tarde! Eles estão agarrados, demasiadamente, às tradições!
Há quarenta anos, por exemplo, o aeroporto Francisco Sá Carneiro não tinha voos low cost .Há quarenta anos não tínhamos barcos de cruzeiro a atracar no porto de Leixões. Há quarenta anos não tínhamos autoestradas de ligação da Galiza ao Porto e vice-versa. Portanto, há uma mudança de hábitos, e há uma realidade que tem de ser ajustada. As pessoas têm de perceber isso! Quantos turistas chegam ao Porto, pegam no mapa da cidade, e a primeira coisa que veem é o Estádio do Dragão, Câmara Municipal do Porto, Torre dos Clérigos, Sé Catedral e a seguir o Bolhão? Mas, chegam ao Bolhão e o Bolhão está fechado! Se o Bolhão estivesse aberto quem sabe se as pessoas não entravam à procura de uma loja de produtos regionais, outras lojas, e fizessem as suas compras…”
Corriam era o risco de levar na cabeça com uma das traves que lá existem para segurar não sei bem o quê?! Tudo por causa das obras que nunca mais acabam, ou nunca se iniciaram…
“Está para cair desde 2007, e nenhuma caiu até agora!”.
“Não podemos continuar a ter espaços na cidade que não sejam autossustentáveis!”
Mas, quando é que esse problema vai ser resolvido, porque o atual aspeto do mercado do Bolhão não se recomenda a quem quer que seja e muito menos a turistas? Aliás, os comerciantes locais tem uma associação e sentem essa negligência na pele. Já agora, qual é também a relação com esse grupo de comerciantes?
“O atual presidente da Associação dos Comerciantes do Bolhão é membro da Assembleia Geral da ACP. O mercado do Bolhão é um processo interessante, que a nossa associação, desde a primeira hora, se inteirou do dossiê; percebeu quais eram os problemas; e, depois, teve sempre uma posição muito firme e vincada relativamente aquilo em que pensava, e pensa, relativamente a esse espaço. Nós temos uma visão estratégica: não podemos continuar a ter espaços na cidade que não sejam autossustentáveis!”
Cinema Batalha: ”Havia empresas interessadas mas queriam o espaço de borla!”
O atual Batalha é uma vergonha para o Porto! É, ou não, uma vergonha estar um cinema como o Batalha fechado no centro da cidade? Mesmo que não fosse no centro da cidade seria sempre uma vergonha pela história, ainda que, relativamente, recente, que o espaço representa!
“Nós, ACP, não podíamos continuar a sustentar um espaço que precisava de obras profundas, que a estrutura montada era para ser uma sala de cinema e não uma sala de espetáculos, a qual não tinha acesso a pessoas de mobilidade reduzida, e que não tinha espaço para zonas de restauração…
E qual a razão, ou quais as razões, para não se terem criado essas infraestruturas?
“Não tínhamos capacidade financeira para o fazer! Mas, se aquele negócio é tão viável, porque é que não há privados que peguem naquilo e que ponham o espaço a rentabilizar? A questão que se põe é que temos que olhar para os espaços e temos de perceber que eles têm de gerar, se não lucro, não podem dar prejuízos! Por isso, já existem uma série de responsabilidades que é preciso sustentar…”
Mas, havia empresas interessadas no “Batalha”. Soubemos disso e o nosso jornal deu o devido destaque.
“Elas vieram cá todas, mas queriam o espaço de borla! Aquilo tem um custo de renda! Aquilo não é da autarquia! Aquilo é de um privado!”
A situação lamentável em que se encontra o “Batalha” é para continuar?
“Aquilo é de um privado!”
“Não podemos correr o risco de reabrir o “Batalha” e, passados três meses, termos de o fechar outra vez!”
Não há nenhuma entidade que encontre soluções para resolver o problema?
“A associação tem tido empenhamento. Nós, em 2010, tomamos a seguinte posição: se o proprietário do imóvel tivesse alguém que quisesse explorar o espaço, nós cederíamos, de imediato, a nossa posição contratual. No dia!
Repare: nós também queremos que a cidade tenha dinâmica… tenha animação, mas com coisas estruturadas! O “Batalha” passará por uma iniciativa estruturada. Não podemos correr o risco de reabrir o “Batalha” e, passados três meses, termos de o fechar outra vez, porque não deu resultados. Tem de haver uma agenda cultural, tem de haver equipa, tem de ter equipamentos,…”
Houve também o interesse do Fantasporto…
“Li que havia o interesse, mas o Fantasporto não avançou! O Mário Dorminski falou comigo… esteve cá! Mas, depois não concretizou. O problema que existe, é que houve uma série de pessoas da cultura a dizer que queriam o “Batalha”, mas queriam o espaço de borla. Então, quem é paga a renda daquilo?”
“De acordo com os relatórios de fiscalização, o “Batalha” teria de levar uma profunda intervenção e de custos financeiros significativos!”
Se calhar ficava lá bem um Casino?!
“A lei não o permite!”
Não faltariam interessados?!
“Aquele espaço tem vários problemas estruturais. Se quiser fazer espetáculos na sala principal, e se quiser colocar equipamentos de som no palco, tem de os descarregar à mão.”
Mas, o “Batalha” não é uma sala de espetáculos, é um cinema!
“Pois. Mas, se quiser lá fazer um espetáculo, por exemplo de fado, as empresas que lá vão não precisam, como acontece por exemplo no Coliseu, de dois colaboradores, ali precisa de muitos mais, porque todo o material necessita de ser carregado à unha. Ali, não há rampas. Há escadas! Ali não há elevadores para os últimos pisos, nem casas de banho destinadas a pessoas de mobilidade reduzida. Não há! Palco com profundidade também não há! Se tivéssemos que ganhar palco, tínhamos que tirar cadeiras, o que diminuía a lotação e, consequentemente, o preço dos bilhetes tinha de ser encarecido.
E note-se: se uma empresa como a “Música no Coração” , que tem um potencial de investimento e uma carteira de artistas tão notável, não conseguiu rentabilizar o “Batalha”… veja a situação. Além disso, os relatórios de fiscalização, quer dos bombeiros quer de outras entidades, como a ASAE, o “Batalha” teria de levar uma intervenção e de custos financeiros significativos! Este é um projeto com o qual ficamos desapontados…”
O Porto corre mesmo o risco de perder o “Batalha”…
“…isso já ultrapassa a nossa esfera de competência!”
“Parque de estacionamento no Bolhão? Acho que não!”
E o Bolhão? Também vai perder-se? Diga-se, tripeiramente falando: era só o que faltava!
“No mercado do Bolhão, ou faz-se uma intervenção de fundo, e aquilo fica quase todo novo, ou cria-se uma série de novas valências num espaço que não tem no interior as condições que são exigidas por lei. Pode perguntar-me: Nuno Camilo acha que aquilo deve ter parque de estacionamento?
Acho que não, porque se o mercado do Bolhão tiver esse parque, o mesmo estará condicionado a noventa carros. Não há nenhum privado que queira investir dois ou três milhões de euros num equipamento com lugar para noventa carros. Imagine o custo do espaço para o rentabilizar num curto período de tempo?! Se me disser que há muito dinheiro? Se me disser que teremos uma taxa de juro de zero pontos percentuais, ou até mesmo negativa: então, faça-se a obra!
Mas, caso contrário, é preciso redimensionar-se os investimentos e o retorno financeiro dos mesmos. Ou, então, faz-se uma pequena adaptação ou Bolhão, melhoramo-lo em termos visuais, e faz-se uma remodelação superficial.
Estamos a falar de um espaço histórico…
O “Bolhão” é um espaço histórico, que tem uma vida própria e que a cidade não tem outro igual – não só a nível arquitetónico, mas também quanto ao seu conteúdo. Tem, ali, uma série de vendedores que não encontramos numa outra zona da cidade! Tem a sua história própria! O Bolhão precisa de ter restaurantes, precisa de ter lojas gourmet, precisa de ter lojas de turismo, de ter pequenas e médias empresas, algumas artesanais…”
“A conjuntura económica, diz-nos que existe uma dificuldade muito grande quanto ao investimento no Bolhão”
Será o transformar o “Bolhão” num centro comercial ao ar livre?
“Não! Um mercado não se pode distorcer para centro comercial, porque, se isso acontecer, vai fazer com que ele perca a sua beleza, a sua caraterística e identidade própria. Devo-lhe dizer que a conjuntura económica diz-nos que existe uma dificuldade muito grande quanto ao investimento no Bolhão. A Câmara Municipal do Porto, num projeto que o Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR) fez, tem avaliado o projeto do “Bolhão” na ordem 20 milhões de euros sem cobertura, e que pode chegar aos 25 milhões com cobertura.
O que significa que, se hoje, nós olharmos para a disposição dos centros comerciais do Porto, percebemos que, alguns deles, estão à venda desde o primeiro dia… até hoje! O que quer dizer que, não há, nenhum Fundo, que queira investir 25 milhões de euros, não sabendo quando vai ter o seu retorno.
Mesmo que o Bolhão tenha apoio comunitário – existe neste momento o projeto/programa “JESSICA” , que é aquele que tem o perfil mais próximo do Bolhão -, ele será, mesmo assim, penalizado porque tem receitas próprias, ou seja, o pagamento das rendas e o das taxas de ocupação dos espaços.”
Então, como ultrapassar isto?
“No Bolhão, ou existe uma renegociação profunda com o GESPAR, ou então temos que aguardar que alguém pague a “cláusula” para poder fazer a intervenção”.
“O mercado do Bom Sucesso será um sítio de excelência no futuro!”
E em relação ao “Bom Sucesso”…
“O Mercado do Bom Sucesso” será um sítio de excelência no futuro! Se, antes era um espaço que só tinha bancas – e algumas delas com um ar muito degradado, em que as tais zonas técnicas de “frio” para a carne, para o peixe a até para os verdes, não existiam -, hoje, olho para o “Bom Sucesso” e devo considerar que acho que vai ser um projeto com futuro, porque, no mesmo espaço terá comércio, escritórios (na parte de cima) e hotelaria. Conseguiremos ter os três seguimentos que fazem rodar o fluxo de pessoas numa cidade. Isto faz com que a pessoa que está no escritório ou no hotel possa ir ao mercado fazer compras. Há uma rotatividade e uma partilha de sinergias muito grande!”
Será esse um projeto a transferir para o Bolhão?
“Não!”
O Bolhão tem outras caraterísticas.
“É verdade! Contudo, considero que, a zona do telhado do Bolhão, pode ser adaptada em termos de um hotel low cost – isto numa primeira fase -, depois falou-se em apartamentos. Considero que o Bolhão poderá ter ali uma zona escritórios e, assim, ser um ninho de empresas para jovens que queiram criar e desenvolver o seu negócio.
Hoje vemos, centros de empresas que têm espaços abertos, onde as pessoas estão a trabalhar todas no mesmo sítio. Praticam internet que lhes é fornecida pela entidade gestora do espaço. Nós, ali no Bolhão, podíamos criar essa dinâmica!”
“A ACP tem a porta aberta para falar com todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal do Porto”
Espera que o futuro presidente da Câmara Municipal do Porto tenha já uma ideia concreta sobre estes projetos, assim como a noção da realidade quanto à execução dos mesmos?
“Espero que o futuro presidente da Câmara Municipal do Porto já tenha um envelope financeiro para resolver o problema do Bolhão.”
Já esteve reunido com os candidatos (dois quando esta entrevista foi realizada) à presidência da edilidade?
“Todos os candidatos que apresentaram a sua candidatura até ao momento, quer o Dr. Manuel Pizarro, quer o Dr. Luís Filipe Menezes, nós , ACP, já tivemos a oportunidade de falar com eles. O Dr. Manuel Pizarro esteve na nossa associação, na qual falou connosco, mas não no âmbito da sua candidatura. Falou numa lógica do mercado do “Bolhão” com o “Bom Sucesso” e o “Silo Auto” por causa da circulação de carros. Com o Dr. Filipe Menezes ainda não houve nenhum contacto formal (até à data) no sentido de falar com ele sobre os projetos que tem para a cidade.
Mas, a ACP é uma porta aberta para dialogar com todos. Ainda há pouco tempo, falamos, por exemplo, com o Partido Comunista sobre a questão do arrendamento. Nós trabalhamos com todos, porque a nossa função é sermos parceiros”.
“As câmaras deveriam ter boicotado a lógica de betão de certos empresários!”
A desertificação do centro do Porto complica, sobremaneira, o desenvolvimento do comércio na cidade? Esta é uma pergunta para a qual já se sabe qual a resposta, mas desconhece-se os pormenores da mesma. Por isso a questão.
“Considero que temos que ver a realidade neste prisma: primeiro, o Porto foi perdendo a centralidade. As pessoas começaram a olhar para o Porto e começaram a olhar também para Matosinhos, para Gondomar, para Gaia e para Valongo… e viram que, na periferia havia equipamentos melhores, havia mais qualidade de vida!
Olharam para o Porto e viram que a cidade estava a precisar de uma revolução. Há pessoas que não têm elevador no seu prédio para subir do rés-do-chão para o quarto piso! Não têm garagem!
Nós vemos, por exemplo, que a rua do Almada (que tinha estacionamento), na zona que liga os Clérigos à rua de Ceuta, ficou, de um momento para outro, sem estacionamento! Hoje, os jovens e até os menos jovens, vivem numa lógica de muito comodismo, querem as coisas bem perto deles e tudo funcional no imediato. As pessoas começaram, então, a deslocar-se para outros centros, ou seja para as cidades na periferia do Porto, criando os chamados dormitórios.”
Mas, os problemas não foram só esses. Ou foram?
“Os empresários, muitas vezes, com uma lógica de betão sobre o seu espaço comercial cometeram alguns erros. Aliás, as câmaras municipais que governaram o Porto deveriam ter boicotado essa lógica de betão. Vamos lá ver. Temos prédios que com seis metros de frente. Mas, desses seis metros, cinco pertencem a uma loja e, o restante metro, destinado a uma porta de acesso aos andares superiores. No primeiro andar, o prédio tinha um escritório, no segundo, outro escritório e, no terceiro, um apartamento.
A Lei do arrendamento era tão má, que as pessoas, na altura, pagavam quatro contos (20 euros) mensais por um escritório, outros trinta contos.
Entretanto, os empresários decidiram alargar a sua loja. Ganharam um metro e ficaram com o prédio para eles. E agora, pergunta-se: Quem lá está no prédio?! Eles, inconscientemente, fizeram que pessoas que podiam ocupar esses espaços jamais o pudessem fazer, porque os senhores empresários ficaram com o prédio só para eles. Por isso, há imensos prédios devolutos na cidade do Porto!”.
As vantagens e desvantagens da “noite” tripeira
Isso dos prédios devolutos está à vista desarmada e mesmo para turista ver!
“É preciso uma política de repovoação da cidade…”
…através das “movidas noturnas”?
“A Associação dos Comerciantes não vê com maus olhos a questão da “noite”. A deslocalização da Ribeira para outras zonas trouxe algumas mudanças. Vantagens: há lojas que podem ter as suas montras visíveis até mais tarde, e quem não conhecia a área ficou a conhecê-la. Ninguém vai à noite fazer compras para depois ir para os bares. Agora, a vantagem é que as pessoas que entram no Porto de Metro, porque não querem conduzir e queram estar mais descontraídas, ao fazerem percursos pedonais até ao espaço que pretendem deslocar-se passarão sempre por lojas que, de outra maneira, não conheceriam; e muito menos conheceriam se a cidade não tivesse “noite”.
Desvantagens: a questão da segurança e da limpeza! Temos uma sexta-feira e um sábado à noite em que estão milhares de pessoas na rua, e, como tal, é inevitável elas criarem lixo. Se tivermos 10 mil pessoas na “noite”, e se calhar mais em algumas situações, isso gerará, obrigatoriamente, lixos …
Foi um erro a autarquia entregar à iniciativa privada a limpeza da cidade?
“Iniciativa privada, para já, só existe na zona ocidental, a zona histórica e oriental ainda está sob a responsabilidade da Câmara. Mas, como ia dizendo, há não só uma necessidade de questão de limpeza, para que as pessoas, no outro dia, ao olharem para a rua onde vão fazer as suas compras se sintam confortáveis. Mas isso não acontece! Vemos, portanto, a questão de limpeza como um anticorpo!
Na questão da Segurança, devo dizer que há um sentimento de conforto por parte das pessoas que vivem no centro da cidade, porque há mais pessoas a circular, não há, portanto, aquela zona mais cinzenta, mais escura, mas, em contrapartida, há o problema dos carros estacionados em cima dos passeios que causa verdadeiros transtornos a moradores e comerciantes.”
O “regresso” dos guardas-noturnos e a videovigilância
Por falar em questões de Segurança. São, ou não, precisos os guardas-noturnos?
“Primeiro, ao defender os guardas-noturnos é preciso que, com uma legislação específica, eles tenham legitimidade para desenvolver o seu trabalho. Não podemos dar ao guarda-noturno somente uma lanterna e um telemóvel! O guarda-noturno tem de ser uma autoridade que possa impor a ordem. Por exemplo, a videovigilância é uma questão que consideramos não fazer sentido. O investimento e o retorno são diminutos. Por quê? Porque a lei obriga que a videovigilância seja supervisionada não por um privado qualquer, mas por uma entidade credenciada. Há aqui questões do foro legal que têm de ser alteradas. Quanto aos guardas-noturnos uma legislação que os sustenta e que eles possam ter armamento.
Nós defendemos, junto do ministério da Administração Interna, que era importante haver uma legislação específica na qual se desse o reconhecimento e uma tutela jurídica aos guardas-noturnos e que, os mesmos, fossem enquadrados dentro da Polícia de Segurança Pública, porque não pode ser um grupo de pessoas organizadas, que vai mendigar aos comerciantes o pagamento de uma percentagem quanto à vigilância das suas casas, a fazer esse serviço.”
“O Porto tem de ter um projeto que mobilize as pessoas”
O Porto já tem, ou poderá vir a ter, condições para se assumir como capital do noroeste peninsular?
“O Porto tem que ser, acima de tudo, liderante! O Porto tem de ter um projeto que mobilize as pessoas. O Porto foi, durante muitos anos, uma voz do norte, quando o norte teve muito peso por parte dos empresários que aqui tinham dinheiro e empresas com 200 ou 300 colaboradores. Tivemos na presidência da Assembleia da República um nortenho, assim como ministros. Portanto, tivemos pessoas notáveis que tiveram lugar de destaque e de responsabilidade nos destinos do País. Ao fim e ao cabo, no Porto tem de haver um projeto que seja mobilizador e que tenha uma estratégia. Nós temos que saber que há janelas de oportunidades. Se o governo não tem essa estratégia, nós temos que criá-la! Todas as partes têm que ser integradas nesse projeto. Há uma série de parceiros que têm de falar a mesma linguagem, ou seja, têm de delinear uma estratégia sobre o que nós queremos para a região. Os interlocutores, aí, terão uma grande responsabilidade.
Dizemos, hoje, que temos uma janela de oportunidade para o Turismo, mas temos que explorá-la! Era preciso pegar na Associação dos Comerciantes do Porto, na Associação Comercial do Porto, na Proteção Civil, na “Turismo do Porto e Norte de Portugal” , entre outras, sentá-las à mesma mesa e discutir decidindo. Por exemplo: “x” milhões, ou milhares, de turistas, que têm um elevado poder de compra, vão atracar no porto de Leixões. Se eles vão estar 24 horas na cidade, nós temos que lhes “oferecer” alguma coisa. Eles têm de ir a algum sítio?! Eles vão ter de comer, vão ter de andar de transportes, eles vão ter que ir a uma loja, aos museus… eles, em 24 horas, terão de gastar dinheiro aqui na cidade!”
“O governo ainda não teve uma iniciativa que fosse fora da planificação da Troika”
Acha que este governo tem essa imagem; essa perspetiva de mercado?
“Este governo tem um calendário político de cumprir com a Troika aquilo que ela exigiu. O governo ainda não teve uma iniciativa que fosse fora da planificação do calendário da Troika!”
As questões relativas ao Porto de Leixões, a Casa da Música, a o aeroporto do Porto, a RTP-Porto… são o quê, então?
“Ainda estamos à espera que seja nomeada uma nova administração para o Porto de Leixões. Estivemos seis meses à espera que fosse nomeada uma administração para a Metro do Porto. Temos a questão da RTP que se quer deslocalizar e dar cabo de um projeto que era rentável”.
Pois. E agora? É centralismo até dizer “basta!”?
“Temos que pensar que não temos matéria-prima. Temos uma mão-de-obra que, comparativamente, a países emergentes, é muito mais cara que a nossa. É preciso ver o que temos de valor!”
E o que temos de valor na Grande Área Metropolitana do Porto?
“A Grande Área Metropolitana do Porto poderia ir muito mais longe! Nós temos que olhar para a Espanha e a Espanha tem de ser parte integrante do noroeste peninsular. Temos que ver a partilha de sinergias que podemos fazer aqui ao criar dinâmicas próprias valorizando aquilo que nós temos. Temos um potencial de gastronomia muito grande. Mas temos um turismo de negócios que não é feito nem fiscalizado no norte do país. Não temos um centro de congressos que seja capaz de acolher mais de cinco mil pessoas na cidade do Porto…
…ele está projetado.
Pois, mas não saiu do papel! Temos na cidade do Porto e na região equipamentos que não estão a ser rentabilizados. Por exemplo, a taxa de ocupação hoteleira de quatro e cinco estrelas é muito baixa em relação às médias europeias. Então, o que é que nos temos de janelas de oportunidades? “
“É preciso criar na região um conselho económico estratégico”
Temos muita oferta em termos de hotelaria.
“É verdade, mas a taxa de ocupação é muito baixa… é inferior a 30 por cento! Este turismo de negócios tem de ser rentabilizado! É preciso desafiar a Universidade do Porto, e as empresas. É precioso desafiar as organizações para criarem congressos, para criarem prémios!
Quantos projetos inovadores tem a Universidade do Porto? Tem muitos! Mas, não tem espaços para os poder desenvolver. A questão da investigação é algo que devemos fazer uma grande aposta! As grandes universidades de referência estão no norte: a de Aveiro, a do Porto, a do Minho e a Católica também aqui no Porto… a Fernando Pessoa. Como é que uma Universidade que constrói um hospital em Gondomar e que tem um potencial como tem a Universidade Fernando Pessoa, esse mesma potencial não seja aproveitado. É preciso criar, quem sabe, um conselho económico estratégico – como há o Conselho Municipal de Segurança – onde se sentariam diversas organizações…
“Estarei disponível para ajudar a conseguir uma cidade melhor!”
Sentia-se bem como presidente da Câmara Municipal do Porto?
“Há uns tempos uma pessoa perguntava-me se eu era político…
Ai é… é!
“Eu respondi que não. Porque para ser político tinha que ser eleito por voto direto e universal”.
Repito; sentia-se bem como presidente da Câmara Municipal do Porto?
“Eu estarei disponível para ajudar a conseguir uma cidade melhor. Agora, tenho 36 anos. Não é esse, nem de perto nem de longe, o meu principal objetivo”.
Qual o principal conselho que dá ao futuro presidente da Câmara Municipal do Porto, não só como presidente da Associação dos Comerciantes, mas também como tripeiro?
“O Porto é um diamante e tem um enorme potencial de crescimento. O futuro presidente ter-se-á de ladear das pessoas mais competentes ligadas às associações e organizações da cidade e valorizá-las naquilo que elas têm mérito! O Porto precisa de ter uma rede de Cultura que divulgue as suas iniciativas. Não há uma agenda cultural! O que chega, chega mal ao público. Por exemplo, a Universidade do Porto tem 32 mil estudantes, o Politécnico, 19 mil, essas pessoas têm de ser bem tratadas para aqui ficarem, querendo aqui trabalharem, criando, projetando e desenvolvendo ideias e negócios.”
“Os senhores de Lisboa não sabem que 700 mil pessoas trabalham no comércio!”
E isso também no que diz respeito ao comércio, obviamente.
“Em Portugal ainda ninguém valorizou o comércio. Os senhores que estão em Lisboa desconhecem a realidade do país. Eles não sabem que 700 mil pessoas trabalham no comércio, e ainda não perceberam o que isto representa em termos de contribuição para a Segurança Social, e nem perceberam o dinheiro que isto gere, todos os dias, nas pequenas e médias empresas. Os serviços têm meio milhão a trabalhar diariamente!
Durante anos, andaram a enterrar dinheiro e a dar benefícios a empresas que usufruíram de enormes regalias, mas depois, quando acabaram, não criaram valor acrescentado… mandaram para o desemprego milhares de pessoas! O único investimento com retorno, que eu tenha conhecimento, ainda é o da AutoEuropa e a Yasaki. Os gestores, os políticos, têm de perceber que há áreas que têm de ser protegidas. As pequenas e médias empresas sustentaram este país com uma classe média pujante durante anos e anos, elas têm de ser, de uma vez por todas, protegidas.”
Texto: José Gonçalves
Fotos: António Amen