José Gonçalves
(diretor)
Para já, um abraço à Maria de Lourdes dos Anjos, nossa ilustre colaboradora, que comemora hoje, em Dia do Trabalhador, mais um aniversário, e também ao Hugo Sousa, nosso web-designer que, há um ano, tem o seu trabalho gráfico bem vincado no nosso jornal, dando uma imagem de modernidade, interatividade e flexibilidade temática. Aos dois os meus parabéns! Primeiro estão os nossos, e depois vêm os outros, e que outros!
Abril foi, na realidade, o mês de todas as “loucuras” políticas. Se alguém ainda tinha dúvidas quanto à influência da primavera na cabeça de alegados pensantes, dissipe-as porque o “pólen político” tem muita coisa que se lhe diga. Estive mesmo para consultar o dr. Júlio Machado Vaz, na tentativa de saber o que, cientificamente, se passa em especial nesta época do ano, com a cabeça dos políticos. Mas não: preferi estar quieto e quieto deixar o doutor, prestar que ele está para festejar mais um título futebolístico do seu Benfica.
Bem. A verdade é que o mês passado foi de uma loucura política total, como há muito não se via no Portugal democrático. Foi tudo ao mesmo tempo. Como que uma orgia prevista e imprevista. Foram patetices em cima de patetices; disparates em cima de disparates; incongruências em cima de incongruências; jogadas políticas sub-reptícias em cima de jogadas políticas sub-reptícias… um mundo de sensações, de amuos, de zangas, de abraços falsos, e declarações públicas tão ridículas quanto assustadoras.
Vamos à cronologia, ainda que superficial – uma vez que por certo quem me lê já está farto de saber de cor e salteado esta história de acontecimentos – desta tele e fotonovela política já intitulada (eu é que lhe dou o título, mas se tiverem um melhor, contactem-me) de “Troikate Portugal!”.
Abril: dia 03 é apresentada e chumbada na Assembleia de República a Moção de Censura do PS ao governo. Dia 04, Miguel Relvas diz, definitivamente, adeus ao governo, alegando falta de condições anímicas para continuar a exercer, não exercendo, o cargo de ministro da Presidência dos Assuntos Parlamentares (uff! Já não era sem tempo!). O senhor, que viu a sua licenciatura anulada, será mais tarde, substituído por dois outros… ministros, estes com currículos reconhecidos. Dia 05, há debate quinzenal, o líder do PS, António José Seguro, pede a demissão do governo. Dia 06, aquilo que o Governo e o Presidente da República esperavam – mas que serviu para a maior e lamentável dramatização política da história recente de Portugal – o Tribunal Constitucional 90 dias e 20 horas e cinco minutos depois chumba quartos artigos do Orçamento de Estado para 2013, o equivalente a um buraco a tapar de imediato, de 1.320 milhões de euros.
Foi o “Deus me Livre”, o “Deus me Acuda!”, e a correria para o Palácio de Belém – por certo a pedido de Cavaco – para uma reunião tripartida face à ilusória crise nacional, entre o residente palaciano, o ministro-primeiro (Vítor Gaspar) r o primeiro-ministro, que toda a gente sabe, mais ou menos, quem é.
Diz-se que o ministro-primeiro quis bater com a porta, e por falar em porta, não houve Portas a comentar a situação. Pedro a passos de Coelho desanca forte e feio no Tribunal Constitucional e em alguns magistrados do seu antigo partido: o PSD. Ena! Estava para cair o Carmo e a Trindade da capital do Império! Segurem-se senhores!
A comunidade “internacional” – disse-se na altura – reagiu mal ao chumbo. Passado um dia já nada de especial se passava internacionalmente.
Com a demissão de Relvas, são nomeados dois ministros para o seu lugar (o Senhor valia mesmo por dois!?) Marques Guedes e Miguel Poiares Maduro e não sei quantos secretários de Estado. Paulo Portas não esteve presente na sessão de posse. Escandaleira?! Mais escandaleira: depois de dois anos a ignorar o PS, Passos escreve a Seguro e com Seguro reúne-se apelando a “consenso”. O socialista não desarma e mantém distância para com as políticas desgovernamentais.
Já na Colômbia, e aproveitando uma Feira do Livro Internacional, na qual se esqueceu do nome de um indivíduo chamado José Saramago que, por acaso, já foi Prémio Nobel da Literatura, Cavaco, acompanhado por dezenas de empresários, políticos e outros inteligentes, dá saltos de contentamento ao saber da reunião entre Coelho e Seguro. Que festa! Sabe-se que os colombianos conheciam mais os seus patrícios a jogar no FC Porto, do que propriamente o país que os acolheu como futebolistas.
Por Lisboa, e após uma reunião de 12 horas de um Conselho de Ministros, onde a montanha acabou por parir um rato, o novo ministro Miguel Maduro, num curto espaço de minutos, repetiu por doze vezes a palavra “consenso” (o Livro de Recordes registou, mas ainda não divulgou, a ousadia). Feitas as contas: cinco desses “consensos” eram para o socialista Seguro e os restantes sete para o popular Portas. O “popular” mandou à feira os “consensos”, e vamos já ver porquê!
Ainda antes do esperado discurso de 25 de abril de Cavaco Silva, o CDS reúne-se, Portas cala-se, outros falam, e falam em (urgente!) remodelação governamental. A coisa cai mal na irmandade social-democrata. O PS prepara-se, entretanto para o seu Congresso. Seguro vence, com seguros 90 por cento dos votos, as suas “diretas”. E eis que vai comemorar-se, na Casa da Democracia, no Dia da Democracia, a passagem do 39.º aniversário do 25 de abril.
“É indiscutível que se instalou na sociedade portuguesa uma ‘fadiga de austeridade‘ associada à incerteza sobre se os sacrifícios feitos são suficientes e, mais do que isso, se estão a valer a pena. Estas são interrogações legítimas, que todos têm o direito de colocar. Mas, do mesmo modo que não se pode negar o facto de os portugueses estarem cansados de austeridade, não se deve explorar politicamente a ansiedade e a inquietação dos nossos concidadãos”, palavras do Presidente da República.
Mais: “reafirmo a minha profunda convicção de que Portugal não está em condições de juntar uma grave crise política à crise económica e social em que está mergulhado. Regrediríamos para uma situação pior do que aquela em que nos encontramos”, palavras de Cavaco Silva.
“Em nome dos portugueses, é essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as conceções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o país, depois de encerrado o atual ciclo do programa de ajustamento, adotará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu”, palavras do Presidente da República.
“Se se persistir numa visão imediatista, se prevalecer uma lógica de crispação política em torno de questões que pouco dizem aos portugueses, de nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá integrar o Governo ou estar na oposição”, palavras de Cavaco Silva.
Palavras e mais palavras, daquele que se quis transformar em chefe do Governo. Palavras que dividiram ainda mais a oposição do executivo “passista”. Palavras de um senhor que assumir a liderança de um governo de sua iniciativa, deixando de ser uma plataforma de consenso nacional. Palavras que não são estranhas, por não surpreenderem quem tem memória e sabe o que Cavaco Silva fez por este País como primeiro-ministro.
Palavras que acabaram por unir os socialistas no “ensosso” Congresso realizado em Santa Maria da Feira.
Estamos nisto, e “isto” está a tornar-se perigoso para a democracia. O autismo é evidente na classe dirigente. O CDS ameaça, constantemente, bater com Portas. E andamos neste rame-rame, nesta verdadeira brincadeira sem que se tenha consideração pelos milhares e milhares de portugueses que se encontram na miséria, no desemprego, no desespero, na insolvência, no limiar do suicídio…
Julgam que isto é brincadeira?! “Brincadeira” é a deles. A nossa é outra e, brevemente, traduzir-se-á em algo que não quero, de momento, pensar, ainda que nela, ontem, tenha pensado, e, amanhã, a repensarei. É preciso apelar à classe política dominante que não brinque com as pessoas; que não entre em “roleta russa”, se bem que nesse perigoso jogo, eles, os desgovernantes, nos tenham colocado em “campo”, sendo que alguns – conhecidos e amigos – já tenham desaparecido do nosso convívio – e recordo todos com saudade – para bem das contas da Segurança Social.
Façam por ser felizes!
Estamos, em boa verdade, a caminho do abismo. É a “Roleta Russa” que está a funcionar. Tem razão!