José Gonçalves
Diretor
Às vezes escrever é difícil, principalmente, quando se tem um compromisso com o público leitor e as horas são difíceis, dificultam-nos o raciocínio, prendem-nos as mãos pela… perda de um amigo. Quando se perde um amigo, alguém que escolhemos para nossa companhia (quase) diária; com quem desabafamos; trocamos ideias, sabores e dissabores da vida; ficamos débeis, sentimos um vazio profundo. Sentimos sentindo! Mas, mesmo sentido… a perda, não podemos que a mesma nos impeça de continuar a lutar pela vida, de forma presencial e pública.
Ao longo dos meus 26 anos de carreira jornalística passei, felizmente, por poucos momentos como este, mas a vida obriga-nos a olhar para a frente. E se a esse facto, acrescentar um outro – familiar maternal querido, olhos dos meus olhos e alma da minha alma – que se encontra hospitalizado, numa luta permanente e corajosa pela vida… as coisas ainda se complicam mais.
Não quero individualizar muito esta coluna, até porque vocês esperam do jornalista e do jornal, a informação, a opinião e a verdade dos factos. O leitor deve comportar-se assim. O palhaço (artista) tem de fazer rir, por mais que lhe custe ultrapassar certas e complicadas situações. A história é recorrente, fácil de contar…o pior é o resto! Tal como ele, mas em diferente arte, o jornalista tem de escrever mesmo que os dedos não ajudem a transmitir no teclado o que lhe vai na cabeça.
Aquele amigo que partiu… partiu revoltado com o país que o viu nascer: este país desgovernado que dá pelo nome de Portugal. Morreu revoltado por culpa do atual governo e de outros desgovernos que, aos poucos, nos vão, lentamente, matando. A verdade, é que esse verdadeiro lusocídio vai enchendo os bolsos ao Estado, os quais se esvaziam depois para “dar vida” aos bancos.
Quantas mais pessoas morrerem, mais a Segurança Social poupa em reformas ou outras prestações sociais. E, como a população portuguesa é, extremamente, envelhecida, pode, facilmente, prever-se que os cofres do Estado engordem nos próximos tempos, até porque a forma de matar as pessoas é simples e, por mais estranho que possa parecer: visível: os velhos não têm dinheiro para os medicamentos e sem eles vão morrendo; os de meia-idade que tinham os seus negócios e estão atolados em dívidas vão se suicidando; os jovens fogem porque não querem viver num país-morgue. Enfim, posso estar a pintar um quadro muito negro, mas a verdade, é que é muito negra a realidade de milhares de pessoas que vivem neste país.
Eles estão a matar as pessoas à custa da austeridade. Porque eles sabem que há desempregados que sobrevivem desesperadamente sem qualquer subsídio. Muitos (eles sabem!) já perderam a casa, a família e os filhos, e ninguém encontra, ou tenta encontrar, uma solução para este flagelo.
Há mais de um milhão de desempregados – além dos “desgraçados” que não sei do que vivem, e que acabei de referir – que vão ter por companhia não sei quantos milhares nos próximos meses, e ninguém anuncia uma medida concreta (concreta!), já não digo para resolver no imediato, mas para tentar minimizar este grave problema social.
Sei que não estamos no Brasil, nem na Turquia, nem na Grécia ou em outro país em que o povo se manifesta ordeira e em massa nas ruas, fazendo com que os seus legítimos direitos sejam garantidos, ou, pelo menos, possam ser seriamente discutidos. Aqui, tivemos uma megamanifestação a 15 de setembro do ano passado, e depois? Depois tudo meteu o rabo entre as pernas, e não fosse uma manifestaçãozinha aqui ou acolá “agrandolada” – que dá para o Governo rir! E eles riem-se! Eles, os tais, que estão a marimbar-se para as eleições; para estatísticas e estudos independentes cujos resultados envergonham Portugal – dir-se-ia que o povo luso está resignado. Eu, sinceramente, penso que está “abananado”.
É perigoso para a democracia o povo estar “abanado”! Muito perigoso! Mas, por mais avisos que se façam – e eles partem de social-democratas (não ultraneoliberais), democratas cristãos (não ultraneoliberais) e de independentes de respeito, para já não falar da oposição, pois a ela cabe-lhe esse papel, ainda que, às vezes, pouco esclarecedor , os desgovernantes não ligam; já se habituaram às micromanifestações populares e até já lhes acham graça. E isto graças a Cavaco Silva que é um dos principais responsáveis pela situação que vai matando lentamente um país e que ele próprio deu o mote quando era primeiro-ministro.
Dedico este meu artigo ao Vladimiro Augusto Silva, um amigo que ontem (30-jun13) nos deixou. Meu amigo pessoal e também leitor do nosso jornal. Ele também contestatário desta política suicida e que partiu triste e revoltado com este Portugal. À família os meus sentidos pêsames.
Um abraço, AMIGO. A vida é uma curta passagem que se faz num comboio sem hora marcada e destino desconhecido.
Eles querem que a gente morra, mas, politicamente, eles vão morrer mais depressa que nós. Eles vão ao raios que os vai partir!
Meus mais profundos pêsames caro amigo José Gonçalves.