Maria de Lourdes dos Anjos
No pequeno mundo do Porto e arredores por onde semeio poesia, encontro um Portugal dos pequeninos, povoado de “vananas” e “vaidosos”. Os poucochinhos que restam são parolos e provincianos, palermas e sonhadores, talvez honestos e são, de certeza, “pobo”…
Quem diz que a cultura é para semear graciosamente, leva logo com um encolher de ombros como quem diz: “Deve ser fraquinha! “. e quem exige carro, tacho, palmas a acompanhar e uma notita para os alfinetes, é muito bom, é carote, mas é bom… é muito bom!
Há passeando-se, pavões, araras, papagaios domesticados e artistas de meio palmo no jardim dos “vaidosos”. Depois, no mesmo pequeno mundo, há gente que nunca diz “não” quando a cultura vai á procura de gente e encontra gente que quer ter cultura.
Isto passa-se com os grupos corais, os amigos que cantam Zeca e Adriano, os tenores, os músicos, as pessoas a quem pedimos para falar da nossa história, da sua estória, de saúde, de civismo, de poetas, de artistas que partiram mas deixaram obra e que continuam almas humildes, generosas, verdadeiras e sem brasões nem galões.
Tantos nomes que podia aqui escrever, tanta gente que comigo avança levando saber certo e sorriso franco. E quantas pessoas deixamos felizes, nos centros de dia, nas bibliotecas, nas igrejas, na cadeia…quantas vezes saímos com lágrimas nos olhos perguntando coisas estúpidas a um deus que nem sequer sabemos se existe; sentindo que lavramos terra barrenta e dura mas onde as papoilas ainda se conseguem vingar com tolerância, palavras certas e passos firmes. Somos o grupo dos Vananas. Vamos, vamos embora, vamos carago, e já lá estamos…sempre!
À mistura, ainda encontramos os lindinhos, os amigos dos senhores “dótores”, primos dos “inginheiros” e muito próximos do político que está na moda lá práquela banda. Querem nome em letra gorda nos cartazes, um lanche ajantarado com fotos e vídeos e, se possível, uma suite com bidé, para lavar os inchaços. Estes levam um cachet, porque, é claro, são pessoas muito solicitadas nos “inventos”, conhecem gente fina e fica bem levar uns euritos. Até porque levaram também uns “vananas” que são muito bons e são assim…coitados, boas pessoas…”vananas” a sério. Estes são os que militam e penetram nas fileiras de toda a “vida artística”, os tais que estão na TV, no comício dos Jotas e é claro no bar In da malta “bem”.
Depois há os outros. Há o “pobo” parolo e provinciano, honesto e sonhador, que é uma mistura disto tudo e que, porque é muito católico, perdoa tudo e ama os seus inimigos e vai a Fátima a pé e ainda acredita que os meninos chegam de avião, se não houver greve nos voos lowcoast, senão aproveitam mesmo o bico de uma cegonha que fez ninho ali prás bandas de Estarreja. e aparecem em casa à hora do tacho.
Sabem que mais: Estou velha e cansada. Pertenço à tal peste grisalha que hoje se tornou a maior casa da Misericórdia Portuguesa, porque paga as fraldas dos seus velhos pais que sonharam, para nós, um futuro diferente, paga as rendas de casa dos nossos filhos, agora quase tão pobres como os seus avós porque foram ficando desempregados; paga os livros dos nossos netos e isto enquanto se olha mensalmente para a reforma que vai mingando, mingando, mingando porque choveu muito e ela molhou-se.
Vivo a última etapa da minha vida num moliceiro que já nada consegue arrancar do fundo da ria de Aveiro, que perdeu o leme e anda ao sabor do vento e, ainda por cima, esqueci-me de tomar as pastilhas para o enjoo e farto-me de vomitar. Fiquem em paz…
Vou ver se amanhã acordo “baidosa” porque, hoje estou farta de ser “vanana”, ainda quero ter coragem de ser e morrer Pobo nesta terra portuguesa, e amar, até ao fim, este país tão mal frequentado. Se ainda souberem, ajudem-me a cantar, de pé, este hino maravilhoso:
“Heróis do mar, nobre povo, nação valente e imortal
Levantai, hoje de novo, o esplendor de Portugal…
ONDE MORA A LIBERDADE?
No rio rebelde quando salta a margem
No horizonte que limita a paisagem
Na brisa que sapateia o rosto
Na trovoada que rebenta em agosto.
Na bola que rola correndo na rua
No desejo de um beijo no rosto que recua
Na papoila que nasce sem ser semeada
Nos tempos de amor puro sem hora marcada.
A liberdade mora na erva orvalhada
Na criança que corre feliz e desenfreada
Nas asas do pássaro sem rumo nem norte
No homem menino que finge ser forte.
Nas cerejas que brincam aos brincos em pequenas orelhas
Nas pedras com musgo que fingem ser velhas
Na figueira que teima em dar fruto, sem dar flor
No morcego agoirento que acorda ao sol pôr.
A liberdade brincou comigo, era eu criança
Perdi-a depois. Procurá-la já cansa.
Hoje, apenas ouço a sua voz distante
No país do sonho, onde se fez emigrante
in NOBRE POVO
EM JULHO A POESIA ANDA POR AÍ:
Dia 2– Convento Corpus Christi – Gaia- 21h00
Dia 5– Jardins do Morro-Gaia-15h30
Dia 5– Igreja dos Capuchinhos, Ameal-21h00
Dia 6– Casa da cultura de Paranhos-16h00
Dia 6– Centro Recreativo de Mafamude- 22h00
Dia 10-Feira do Livro da Maia-21h00
Dia 11-Cadeia de Santa Cruz do Bispo-15h00
Dia 13-ACAPO-Rua do Bonfim-21h30
Dia 14-Casa Andersen (Sophia de Mello Breyner)- Campo Alegre (Porto) -18h00
Dia 19-Flor de Infesta-21h30
Dia 20 – Galeria Vieira Portuense-17h00
Dia 26-Associação de Pais da Senhora da Hora-21h30
Dia 28– Feira do Livro do Porto-18h00
Dia 31-Centro de Dia da Arrábida-Lordelo do Ouro-15h00
Fotos: Pesquisa Google
PRONTO, AMIGOS eu não queria ter razão, eu queria estar a ver mal as coisas que nos rodeiam mas, infelizmente parece que estamos todos muito bem das nossas vistinhas e muito mal com as nossas vidinhas!
Subscrevo e concordo com as suas palavras, e mais concordo quando vejo este governo em guerras políticas intestinais e a esquecerem-se de nós… nós os “vananas”!
Subscrevo e concordo, pois nestas palavras conseguiu resumir um País que morre lentamente e bebe do seu próprio veneno, como somos tão “pobres de espírito”.