Esta rubrica dá a conhecer a toponímia portuense, através de interessantes artigos publicados em “O Primeiro de Janeiro”, na década de setenta do século passado. Assina…
Cunha e Freitas (*)

“Monchique é um dos topónimos que os filólogos mais têm discutido, e parece não chegarem ainda a qualquer conclusão definitiva.
Tem evidente afinidade o chamadouro portuense com o algarvio. Ocupando-se deste, na primeira metade do século passado (XIX), o corógrafo João Baptista da Silva Lopes, modernamente recordado pelo prof. Xavier Fernandes e por Seybold, afirmava que ao Monchique do Algarve chamavam os romanos Mons Cicus – de origem latina, portanto.
O prof. David Lopes sugere que a terminação “ique”, que aparece com certa frequência na toponímia ao Sul do Tejo, poderia ser equivalente do “iz” (icus, igo) vulgar ao Norte do Mondego, e de raiz germânica (cf. Sabariz, etc.). Mas Monchique seria justamente uma anomalia, porque existe ao Norte do Douro, na cidade do Porto e num dos píncaros da serra do Marão.
C. F. Seybold é de opinião que “Mon” é o “mons” latino, e afirma ignorar ao certo o que significaria o “chique” final…
Mais recentemente, o prof. Costa Ramalho, lembrando que João Lúcio de Azevedo identificara “Monjuich”, em Barcelona, como “Montem Judaeicum”, Monte dos Judeus, propõe uma semelhante etimologia para os nossos Monchiques.
Deixemos o Monchique algarvio, para só nos ocuparmos do portuense.
Algumas razões há, de origem histórica, a opor a esta opinião: Se é genuína a Casa do Couto de Cedofeita, a mais antiga referência ao topónimo data de 1148, pois ele vem ali referido quando ainda não havia judeus no Porto, ou seriam em tão pequeno número que deles não ficou memória documental. Mas seja como for, o certo é que já assim se chamava – e provavelmente há muito – quando em 1380 o Cabido do Porto emprazou aos judeus a terra e campos de Monchique para seu cemitério.
Aqui tinham seus paços, no princípio do século XVI, os fidalgos Pedro da Cunha Coutinho, senhor de Basto e Montelongo, e sua mulher D. Beatriz de Vilhena. Paços onde ela, já viúva, fez em 1545 o célebre mosteiro da Madre de Deus de Monchique.
A recordação do cemitério israelita perdura aí, no entanto, e justamente no Monte dos Judeus, da Rua do Cidral até à da Bandeirinha. Mas nada tem que ver com o topónimo de Monchique”.
(*) Artigo publicado em “O Primeiro de Janeiro”, na rubrica “Toponímia Portuense”, de 30.07.1971
Na próxima edição de “RUAS” DO PORTO destaque para a “Calçada do Rego Lameiro”.