Maria de Lourdes dos Anjos
“Cidade Eterna” lhe chamaram os escritores oitocentistas. Sobre ela disse Hélder Pacheco no prefácio do meu livro “O Porto Nas Nossas Mãos”: “Este é o Porto de onde os neo-modernizadores de pacotilha não conseguem exterminar a nostalgia, desqualificar os sentidos, conspurcar as pulsões mais íntimas do afeto e da coerência”. Eu resumo tudo o que acima foi dito em poucas e simples palavras: “Biba o Porto, Carago!” Porque o Porto é assim.
Cidade de imprevistos, de luta contra os poderes instalados, das boas contas à moda do Porto.
Cidade de “antes quebrar que torcer” orgulhosa do sotaque, onde o palavrão é dito como um elogio (aquele gajo é rico como o…”carago”), da verdade inteira, do sorriso franco, da solidariedade sem caridadezinha, da liberdade sem hora marcada. Por tudo isto e muito mais que não se explica, sou, cada vez mais uma tripeiríssima mulher.
Apenas porque sim, porque o Porto é assim! Por cá ainda temos Tripas à Moda do Porto, ainda fazemos das tripas coração e ainda lembrámos o general Moulet que, em 1809, quando as tropas francesas estiveram estacionadas em Valongo, nos arredores da cidade e tendo sido necessário fazer racionamento do pão, a forma adotada foi a sua diminuição do peso e, portanto cada um passou a metade…
Essa medida foi tomada pelo general francês que comandava as tropas invasoras, que dava pelo nome de Moulet.
Daí o povo ter batizado aquele pão com o nome de “molete”, aproveitando o nome do General que “decretou” a diminuição ao peso e ao tamanho do pão, para dessa forma poder alimentar os seus soldados. E, por isso, o papo seco ou trigo, cá pelo Porto, continua a ser “molete”.
Somos assim, não esquecemos as espadas que nos golpeiam nem as mãos que nos mimam.
Quando um tal senhor Fernando Gomes abalou até à capital do império (25out1999) para experimentar o sabor de ser ministro, o Porto que tanto lhe devia achou que foi traído e não esqueceu. Depois, quis voltar (16dez2001), mas a cidade respondeu-lhe que era tarde e Inês era morta…e Rui Rio, sem pensar nem contar, foi presidente da Câmara do Porto. E voltou a ser mesmo com as portas fechadas às glórias de um clube que leva o Porto e o Norte até longínquas paragens.
O Porto é assim uma torre que não tomba, uma gaivota na Praça, um coração real que se guarda, um palavrão dito sem maldade, um grito silenciado, um Douro eternamente enamorado que renasce na Foz.
Agora, assaram-se porcas e porcos, engalanou-se o discurso, fez-se festa e o povo apareceu, comeu, ouviu, viu e sorriu.
Depois, com nobreza mandou os espertalhões pró caraças e disse baixinho :bai no Batailha
Ganhou um outro Rui, uniram-se os que amam o Porto e vamos dar ao Norte a dignidade que merece sem bairrismos bacocos, sem servilismo sem bajulação a ninguém apenas com a nobreza e a lealdade deste berço onde se fez Portugal.
Nascer no Porto é, sobretudo, sentir a responsabilidade imensa de amar o que muitas vezes nos magoa e como disse Almeida Garrett :”Se na nossa Cidade há muito quem troque o “b” pelo “v”, há muito pouco quem troque a Liberdade pela Servidão” E porque o Porto é assim, quero amar, cada vez mais, este Nobre Povo Tripeiro.
IMPORTO-ME
ImPORTO-me contigo porque te amo
E não quero ver-te em vil servidão
Sendo mote para escárnio ou maldição
ImPORTO-me contigo
Porque és cinza e verde e invicta
E granítica e nobre e leal
E constróis e exportas o nome de Portugal
ImPORTO-me porque és Porto
És povo, és berço, és cidade
És palavra, honra e dignidade
És mar revolto e Douro adormecido
És nevoeiro cerrado és neblina doce
És trabalho e luta contra o poder
És antes quebrar que torcer
És a coragem do norte
A brisa de verão e o vento inclemente e forte
És mágoa e dor que bendigo
Mas não serás nunca bobo bajulador ou mendigo
ImPORTO-me contigo
E morro amando-te MEU PORTO .
EM NOVEMBRO VAMOS ANDAR, POR AÍ SEMEANDO… POESIA
Dia 2– Casa da Cultura de Paranhos -16h00- Poesia Solidária , traga um poema e uma pequena oferta que não lhe faça falta e que, de certeza, vai fazer jeito a quem precisa (lata de conserva, guardanapos, papel de cozinha, azeite, arroz…o que entender
Dia 2 – Centro Recreativo de Mafamude – 21h30
Dia 6– Centro de dia da Arrábida-Lordelo do Ouro-15h00
Dia 8– ACAPO, Rua do Bonfim- 21h30
Dia 15–Flor de Infesta -21h30
Dia 19–Biblioteca de Valongo, 15h00
Dia 22–Galeria Vieira Portuense-Largo dos Lóios-17h00
Dia 23–Palacete do Visconde Balsemão-16h00
Dia 29–Associação de Pais da Senhora da Hora-21h30
Dia 30-Universidade Sénior de Gondomar-21h30
Fotos: António Amen e Pesquisa Google
De quando em vez lá apareço com os meus comentários. Mas, atenção, que leio sempre o “Etc e Tal Jornal” e já lá vão quase quatro anos.
Pois, Maria de Lourdes é, na verdade, este o nosso Porto. Vamos lá ver se, a partir de agora, mais Porto que o Porto que era dantes. A Câmara mudou de mãos e pode ser que as coisas mudem de rumo, para um melhor rumno.
O seu poema é extraordinário.
Para quem, há uns tempos atrás, a já criticou (no bom sentido do termo), palavras destas penso que são sempre bem-vindas.
Beijinhos Mulher!
Tripeiramente mulher e estrela da noite.