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José Manuel Carvalho: “As pessoas só são verdadeiramente livres quando conscientes e humanamente bem formadas!”

O desporto é, por assim dizer, e por muitos motivos, a “menina dos olhos” de José Manuel Carvalho. Ele é o atual presidente da Junta de Freguesia do Bonfim (Porto), autarquia que comemorará, no próximo dia 11 de dezembro,  172 anos de existência (ver Cartaz). Eleito na lista do independente Rui Moreira, o novo presidente do Bonfim tem um importante historial ligado áquilo que ele considera a “escola de formação humana”. Além de atleta, e foram algumas as modalidades por ele praticadas, relevou-se acima de tudo, e durante dez anos, como presidente de uma das maiores instituições desportivas da Cidade Invicta, o Académico Futebol Clube.

Mas, se o desporto é a “bandeira” que pretende agitar na sua ação executiva, a verdade é que, pelo que nos contou, no hastear, outras haverá que identificarão a política do seu executivo nos próximos quatro anos, como as da Coesão Social e a da Cultura, mas a da Coesão Social, por certo esta, no mastro mais alto da governação.

José Manuel Carvalho dá-se já a conhecer. Mas, antes disso, refira-se a entrevista com uma pessoa culta, aberta, simpática e pronta a “driblar”, sem faltas, a “velha política”. Diz o presidente, assumidamente social-democrata, que quer dar um “sinal de mudança relativamente à postura das pessoas que têm funções autárquicas”.

A ver vamos! Para já:

Uma entrevista a ler… com atenção.

jose carvalho 01 - 01dez13

Quem é José Manuel Carvalho?

“Sou um cidadão com 69 anos de idade; com família – dois filhos e cinco netos -; com um percurso de vida, felizmente, bastante positivo. Fiz estudos no Liceu Alexandre Herculano e no D. Manuel II; fiz serviço militar na Força Aérea Portuguesa; fui funcionário da “Auto Sueco” durante doze anos – como responsável pela divisão de peças -, e entrei no grupo RAR, onde fui administrador de uma das empresas – a de transportes – durante vinte anos.”

E de onde é natural?

“Do Porto. Nasci em Santo Ildefonso, mas vivi sempre em Paranhos. As circunstâncias de estar, neste momento, no Bonfim têm um pouco a ver, provavelmente – não tenho a certeza -, com o facto de ter sido, durante dez anos, presidente do Académico Futebol Clube, instituição sediada nesta freguesia, e, eventualmente, as pessoas que comigo contactaram na Câmara terem recolhido a ideia de que, pela minha experiência pessoal e profissional, eu poderia ser uma pessoa útil no desempenho desta função. Isto era algo, francamente, fora do meu horizonte, porque nunca pensei estar metido numa coisa deste tipo…

…e por acabar a ganhar as eleições?!

“ Essa não era uma ambição absoluta. Posso confessar-lhe com toda a franqueza! Para mim, o importante era o dr. Rui Moreira ganhar a Câmara, porque, na minha perspetiva, era a pessoa mais qualificada e mais vocacionada para fazer um bom desempenho. A partir do momento, que o dr. Rui Moreira quis fazer o favor de me desafiar para esta função – e ponderando muito bem a questão-, acabei por aceitar. Agora, estou aqui, e como gosto sempre de fazer as coisas o melhor possível, estou neste cargo com essa intenção”.

Por certo, como o fez quando, na sua juventude, chegou a ginasta e hoquista do Académico FC?!

“Comecei, efetivamente, na ginástica do Académico, num ginásio que é hoje uma escola muito conhecida, a OSMOPE. Era lá que funcionava o ginásio e a secção de aeromodelismo. Na verdade, comecei aí, com os meus seis anos. Depois transitei para o hóquei em patins, que foi a minha modalidade preferida. Cheguei ainda a jogar andebol no Centro Universitário e depois hóquei em campo também no Académico.”

Desconhecia que o Académico tivesse hóquei em campo…

“Teve durante muitos anos e com uma equipa de um certo nível. Nunca foi campeão, porque o vencedor crónico era o Ramaldense, e só depois o FC Porto começou a fazer alguma luta, mas o Académico estava sempre posicionado nos primeiros lugares.”

E jogavam no desaparecido Estádio do Lima?

“Ainda cheguei a jogar hóquei em campo no Campo do Luso, que hoje dá lugar às três torres da Santa Casa da Misericórdia que estão, precisamente, em frente ao antigo Estádio do Lima. Depois joguei… no Estádio do Lima e também no campo Mário Navega. E isto porque o Mário Navega era o campo dos trabalhadores da fábrica com o mesmo nome do proprietário que foi presidente do Académico durante muitos anos. A família dele ainda está ligada ao clube”.

jose carvalho 02 - 01dez13

“Deixei o Académico FC com setecentos e tal atletas…”

Académico FC que é uma instituição com história de relevo na cidade do Porto. Mas, esteve ligado ao desporto por “arrasto” familiar, ou por iniciativa própria?

“Sempre gostei muito de desporto. Tenho um irmão mais velho que também jogou futebol no Académico. Tinha um cunhado que jogou hóquei em patins, e eu também alinhei no desporto. Para mim, o desporto é uma forma privilegiada de complementar a formação das pessoas. Formação não apenas do ponto de vista físico, mas, sobretudo, do ponto de vista intelectual e mental: preparar as pessoas para saber ganhar; para saber perder; para respeitar os adversários; para se respeitarem a si próprios; para respeitar as regras do jogo e para se superarem permanentemente. Isto são coisas que, se um atleta for assimilando, fazem dele uma pessoa, seguramente, mais forte e melhor.”

O desporto tem ainda a vertente da gestão, No seu caso, o facto de ter sido presidente do Académico FC durante uma década foi, por certo, uma escola?

“É verdade! Isso também tem a ver com a forma como gosto de estar na vida. Como recebi imenso do Académico do ponto de vista da minha formação humana, por volta de 2001, quando o clube corria o risco de fechar, pois ninguém queria assumir a responsabilidade de o gerir, um grupo de ex-atletas, entre eles eu, achou que não devia deixar morrer uma instituição como aquela. Metemos mãos à obra. Fui eu a pessoa que eles acharam a mais indicada para assumir a liderança desse grupo e, durante nove anos – praticamente dez – conseguimos superar a situação que estava. Quando saí, deixai no Académico setecentos atletas a praticar hóquei patins, andebol e basquetebol.

Entretanto, tive o cuidado de deixar o Académico entregue a uma pessoa que tem todas as condições para prosseguir um bom trabalho, que é o caso do dr. Pedro Sarmento – que além de ser oriundo de uma família de grandes academistas, é professor na Faculdade de Desporto do Porto – e que seguramente vai transmitir ao Académico a dinâmica que se impõe”.

Académico Futebol Clube
Académico Futebol Clube

E o Académico tem vindo a crescer?

“Claramente! Mas, há sempre limites! Os limites das infraestruturas de que dispõe. Esse será, por certo, um projeto que o Académico encetará. Eu comecei com ele e não consegui conclui-lo. A única coisa que concretizei foi a permuta de terrenos entre a Santa Casa e a Câmara do Porto, a qual foi concretizada, precisamente no jantar do centésimo aniversário do clube. A partir dessa altura o Académico passou de inquilino da Santa Casa para o ser da Câmara, o que lhe abriu perspetivas, ligeiramente, diferentes quanto à concretização de um projeto destinado à renovação das instalações”.

jose carvalho 03 - 01dez13

“Sou social-democrata”

Quando é que inicia a sua relação com Rui Moreira? Ela aparece através da vertente desportiva?

“Curiosamente, os primeiros contactos pessoais que tive com o sr. dr. Rui Moreira resultaram, justamente, do jantar do centésimo aniversário do Académico, porque contactei-o no sentido da Associação Comercial nos facultar a cedência das instalações. Desse contacto resultou, não só uma grande disponibilidade do dr. Rui Moreira, como se criou uma corrente de respeito mútuo que depois se manteve e que conduziu a que manifestasse, desde início, o meu apoio à sua candidatura à presidência da Câmara, e depois ele pedir-me colaboração para me candidatar como cabeça-de-lista à Assembleia de Freguesia do Bonfim.”

Há mesmo “independentes”?

“Eu sou independente.”

Ideologicamente independente?

“Na ideologia é impossível ser-se independente. Nós temos sempre uma ideia da sociedade mais equilibrada, e eu tenho essa consciência de opção, mas isso nunca me obrigou, nem sequer me estimulou, a considerar uma força política privilegiada. Como cidadão, nunca deixei de desenvolver a minha função: votei sempre!”

Mas, é de esquerda ou de direita?

“Essa questão do “esquerda” e do “direita” é muito relativa. Posso-lhe dizer que sou social-democrata porque essa é a minha forma de estar e pensar a vida, se calhar por influência que tive, na Volvo, com a Suécia. Portanto, habituei-me a respeitar muito a forma cívica e humana como está organizada a sociedade sueca, sendo esse, assim, um espelho do qual me servi para orientar aquelas que são as minhas ambições do ponto de vista pessoal. Mas, neste momento, se me perguntar, quais dos partidos, em Portugal, se perfilam na social-democracia? Direi que há dois: o PS e o PSD. Neste momento, o PSD muito menos por opções da atual liderança. O PS com nuances. Mas, no meio dos dois, eventualmente, estará alguma da virtude do meu ponto de vista pessoal.”

“As autarquias poderão fazer a ligação entre aquilo que é a organização e o poder da sociedade e as pessoas”

Onde é que estava no 25 de Abril de 1974?

“Curiosamente estava em Lisboa. A minha mulher estava lá, nessa altura, a fazer um curso profissional, e eu fui acompanhá-la com os meus filhos. Fui, então, acordado por uma pessoa que me veio dizer que estava em curso uma revolução. Posso-lhe dizer que a primeira coisa que fiz – um instinto que se provou certeiro – foi atestar o depósito do carro para vir para o Porto. Quando cheguei à bomba da gasolina já era para aí o trigésimo na bicha, o que significa que muita gente teve a mesma ideia (risos). Mas consegui abastecer o carro e resolvi fazer, com a minha mulher, a viagem de regresso ao Porto, porque não havia comunicações na altura. Os meus pais estavam cá, sabia que estariam preocupados pelo facto de estar em Lisboa, e, portanto meti-me ao caminho e vim para cá. Posso dizer-lhe que encontrei apenas uma coluna militar entre Santarém e Lisboa e depois – como, antigamente, não havia autoestrada integral como hoje há a A1 – pela EN 1 passava-se pelo centro de Coimbra e, aí, na Estação Coimbra B, estava uma força policial à porta. De resto não vi nem carros, nem pessoas até chegar ao Porto.”

Uma das conquistas do 25 de Abril foi – isso é, unanimemente, aceite – o Poder Local democrático. Passados quase quarenta anos, como vê, hoje, o Poder Local em Portugal?

“Tenho enorme respeito por tudo quanto é a liberdade e a democracia das pessoas, sem prejuízo de reconhecer que temos passos importantíssimos a dar, porque as pessoas só são verdadeiramente livres quando conscientes e humanamente bem formadas. Não adianta dizer que somos livres, quando as pessoas têm comportamentos em que privilegiam muito mais os seus interesses particulares e, ou, dos grupos a que pertencem, em detrimento dos objetivos da sociedade em termos globais.

Portanto, esta minha experiência na Junta, para além das que já referi, tem um desafio: tentar, na medida do que me for possível, ir dando algum sinal de mudança relativamente à postura das pessoas que têm funções, neste caso, autárquicas. No meu ponto de vista, as autarquias são o local privilegiado para o contacto com as populações, são aquelas que estão, efetivamente, mais próximas das pessoas e, nessa medida, dá-me a impressão que serão aquelas que terão mais legitimidade para, progressivamente, irem constituindo a ligação verdadeira entre aquilo que é a organização e o poder da sociedade e as pessoas”.

jose carvalho 04 - 01dez13

“A dotação que a Junta receberá do Estado está longe de ser suficiente!”

Para isso, as Juntas deveriam ter mais poderes?!

“Penso que sim. Eu sou adepto da descentralização em todas as situações…

…e da Regionalização?

“por que não? Quem, como eu, diz que é adepto da descentralização, não pode dizer-se contrário à Regionalização.

São processos diferentes.

“Claro que sim. O que eu acho é que o indispensável nessa história é que um processo desses não conduza a maior atrofia e a maior burocracia do que aquela que existe agora. Ou seja, nós todos nos queixamos, e com razão, do centralismo da decisão, mas conviria que essa eventual descentralização não se transformasse numa completa confusão relativamente áquilo que são as atribuições dos aspetos de gestão do país, ou, neste caso de uma região”.

Para o próximo ano teremos a nova Lei das Finanças Locais, não se está a par desta questão (?)…

“… no caso particular da Junta de Freguesia do Bonfim, como compreende é aquele que conheço mais de perto, o valor da dotação que vamos receber do Estado no próximo ano, não é muito diferente daquele que recebemos em 2013, o que não significa que considere suficiente. Está longe de ser suficiente, como é óbvio! Mas, não houve um grande desvio entre o valor entre o de 2013 e o de 2014. Agora, tudo faremos, a nível da Junta – até porque há uma Lei, a 75, de setembro de 2013, que faz a passagem de algumas competências das atuais câmaras para as juntas de freguesias – um trabalho de observação. Não de o “fazer”, porque vai ser muito trabalhoso e vai requerer um nível de atenção muito elevado, mas de analisar, até que ponto, essa cedência de competências vai traduzir-se numa melhoria do serviço ao cidadão.”

Isso acarretará outras despesas.

“Vamos lá ver: terá de haver uma contrapartida daquilo que serão as novas atribuições em termos de receita para se poder desenvolver essas responsabilidades.”

jose carvalho 05 - 01dez13

“A Junta do Bonfim vai concentrar-se, prioritariamente, em tudo o que tenha a ver com a coesão social”

Uma das ações muito importantes da Junta de Freguesia do Bonfim, e que tem sida reconhecida a nível concelhio e não só, é a do positivo trabalho que, há anos, tem sido desenvolvido pela ação social. Vem aí uma Instituição Particular de Segurança Social (IPSS) denominada de “Senhor do Bonfim”, edifício o qual já estar a ser construído, pelo que, a primeira pergunta que lhe faço, é: o que herdou do anterior executivo?; a segunda: se está preparado para responder aos desafios dessa herança?, e a terceira: se a ação social continuará a ser uma bandeira do executivo?

“Como se recordará, a campanha do dr. Rui Moreira, de “O Porto é o Nosso Partido”, definiu como prioridade absoluta das nossas atuações a coesão social. Portanto, não faria sentido que depois de empossados não cumpríssemos aquilo que foi a nossa promessa às pessoas. Aqui, não será diferente! A Junta do Bonfim vai concentrar-se, prioritariamente, em tudo o que tenha a ver com a coesão social, sem, naturalmente, prestar alguma atenção ao desenvolvimento de emprego e à cultura, porque, no fundo, ambas também se podem traduzir em efeitos com resultados positivos na coesão social.

Como falou, e muito bem, o ano que vem será especial, porque algumas das valências que a Junta assegurava até agora vão ser transferidas para uma IPSS que a Junta teve uma parte decisiva na respetiva formação, nomeadamente, através da concessão do edifício e da sua reconstrução. A minha expectativa é que a IPSS venha a cumprir, eficazmente, as funções para que foi criada, mas não invalido a hipótese de se manter, para situações de emergência, valências semelhantes numa dimensão mais reduzida.

Estamos, à data desta entrevista (22nov13), a preparar o Plano de Atividades e Orçamento para o próximo ano e essas são questões que estamos a ponderar muito seriamente. Não lhe posso dizer, neste momento, garantidamente, o que vai acontecer, mas essa preocupação existe.”

Junta promete criar Bolsa de Voluntariado para combater solidão dos mais idosos

Sendo o Bonfim, juntamente com Campanhã, das zonas onde o anterior executivo camarário pouco interviu – Rui Rio, por acaso natural do Bonfim, pediu desculpas nesse sentido -, sente já as latentes carências da freguesia, principalmente, a nível social?

“Claramente que sim. Não nos podemos esquecer que mais de um terço da população do Bonfim tem idades superiores a 65 anos. Todos sabemos também que, por razões inacreditáveis, são essas pessoas que têm sofrido mais com alguns dos aspetos da austeridade que o País lhes tem imposto. É natural que essas pessoas que, já por si, têm a debilidade própria da sua condição, estejam neste momento a sofrer com as reduções dos seus rendimentos …

… e, ainda por cima, muitas das quais com a “obrigação” de apoiarem filhos ou netos desempregados.

“E em alguns casos, sobretudo, também por isso. Pois para além daquilo que é a sua própria vida, o desemprego dos filhos, muitas vezes, faz com que, ainda por cima, tenham que repartir pela restante família condições que, já de si, não são muito abastadas. Assim sendo, toda essa camada da população vai merecer da nossa parte especial atenção. Como é que nós entendemos chegar ao maior número possível dessas pessoas? Não por iniciativa exclusiva da Junta, mas através de um trabalho de rede com as instituições da freguesia.

Portanto, nós vamos privilegiar o nosso contacto com as instituições que já estão no terreno – que conhecem as pessoas – para nos ajudar a referenciar os casos, eventualmente, mais necessários de intervenção, e vamos também lançar, no início do ano, uma Bolsa de Voluntariado porque sabemos que há muitas pessoas que têm disponibilidade para ajudar num trabalho que, de outra forma, teríamos, poucas possibilidades de realizar.

Nas pessoas de mais idade, o maior problema, em muitos casos, é o da solidão, e portanto, se nós encontrarmos formas, através de uma rede de voluntariado poder também suprir uma parte desses problemas, já estaremos a fazer uma ação social de importância e de relevo”.

“Fizemos com o PS um acordo sem nenhum tipo de sacrifício!”

O acordo com o Partido Socialista veio a calhar?

“Aquilo que nós fizemos, porque não tivemos a maioria que nos garantisse o executivo completo, foi um acordo com o PS dentro do que foi feito, transversalmente, para a Câmara, Assembleia Municipal e outras juntas de freguesia. Fizemos esse acordo sem nenhum tipo de sacrifício, porque para além desse acordo, tem sido postura da minha parte, ter um diálogo, relativamente periódico e intenso, com as restantes forças partidárias representadas na Assembleia de Freguesia. Porque, qualquer das forças que concorreu às eleições prometeu às pessoas que se interessaria pelo seu bem-estar, não é legítimo assim, e porque só não ganharam as eleições, virarem, agora, as costas às pessoas e não ajudarem a quem foi eleito fazer melhor o seu papel.”

Os trabalhos estão, para já, a decorrer de acordo com as expectativas?

“Fomos empossados há menos de um mês…

…eu sei . Mas mantenho a minha pergunta, reforçando-a ao tentar saber se não houve nada que o assustasse em termos de contas antigas ou coisa do género?

“Não. A gestão desta Junta é, extraordinariamente, positiva ao contrário de outras que conheço. Nesse sentido eu tive sorte, tal e qual como tive sorte por vir a liderar uma Junta que não teve alguma alteração em relação às uniões. As pessoas que estiveram cá fizeram um trabalho com valor e digno de muito respeito. Mas, todas as pessoas são diferentes. O estilo e o ritmo que nós, eventualmente, pretenderemos não é obrigatório que seja igual ao anterior executivo, haverá, seguramente, algumas alterações, mas sem que isso signifique, de forma alguma, uma crítica a quem fez as coisas com a dignidade da anterior equipa.”

jose carvalho 06 - 01dez13

“O Porto é uma cidade, francamente, fantástica!”

Alguma vez ficou desiludido pelo facto de ser tripeiro?

“Não, isso não me aconteceu, e o contrário já me tem acontecido com muita frequência. Em muitas circunstâncias, e se quisermos resumir isto ao aspeto político, a cidade do Porto tem dado lições sucessivas à sociedade portuguesa relativamente ao seu lúcido comportamento. Se nós pensarmos num passado relativamente recente, sabe-se que o anterior presidente da Câmara que, no seu primeiro mandato, teve um conflito muito notado com a maior instituição desportiva da cidade (Futebol Clube do Porto), as pessoas, na eleição seguinte não ligaram o clube à Câmara; distinguiram o que eram os interesses de ambas as partes: os do clube e os da cidade, e reelegeram com maioria absoluta o dr. Rui Rio. Isto é uma das lições de bom-senso, com a qual me orgulha muito ser tripeiro.”

O Porto precisava de voltar a ter a Praça Nova, centro nevrálgico da atividade da cidade em meados do século XIX, que, a nível do País, era, em termos práticos. mais importante que a da lisboeta Praça do Comércio?

“O Porto para ser, verdadeiramente, uma cidade importante não tem que estabelecer comparações ou confrontos com Lisboa. Lisboa é Lisboa… o Porto é o Porto.”.

Mas, Rui Moreira, disse no discurso da sua tomada de posse como presidente da Câmara, que o Porto não pode ser capital de si mesmo…

“… e não. Se nós nos concentrarmos naquilo que são os verdadeiros interesses da cidade e, sobretudo, dos cidadãos, a probabilidade de podermos atingir patamares que dignifiquem, e que honrem cada portuense de ser da cidade do Porto, eu não tenho grandes dúvidas. Eu já tenho esse orgulho; essa grande alegria de me considerar de uma cidade espetacular. Posso-lhe dizer devido à minha vida profissional e etc, conheço muitas cidades, conheço muitos sítios, e o Porto é uma cidade francamente fantástica!”

“A área onde o Porto tem menos evoluído é no desporto”

Mesmo assim, o Porto, nos últimos anos, evoluiu, estagnou…

“…estagnar é impossível! O Porto teve bons progressos em muitas áreas. Eu diria, por curioso que pareça, que se calhar a área onde a cidade do Porto menos tem evoluído é, justamente, na do desporto. Tirando o Futebol Clube do Porto, que tem caraterísticas diferentes por pertencer a um patamar desportivo superior e que a todos os portuenses orgulha, se comprar as infraestruturas desportivas da cidade do Porto com as da cidades limítrofes, irá verificar que, quer na Maia, quer em Gaia, quer em Matosinhos há muito melhores e maior quantidade de espaços desportivos do que no Porto.

Acho assim, que essa é uma área em que a Cidade tem de apostar, pelas razões iniciais da nossa conversa: se o desporto é uma escola de formação humana, porque não investir mais no desporto? A cidade do Porto precisa de o fazer!”

E o Bonfim, nesse aspeto, também está muito limitado.

“Muitas das instituições da freguesia têm uma vontade fantástica; têm pessoas com um nível de voluntarismo apreciável, mas não têm tido, efetivamente, os apoios em termos de infraestruturas que lhes permitam desenvolver, verdadeiramente, o desporto. É uma das coisas em que, seguramente, nós vamos também apostar. Sem fazer promessas, eu garanto-lhe que, no fim do mandato, a freguesia do Bonfim terá, a nível de infraestruturas, uma considerável diferença do que tem hoje. Não estamos a falar de megapavilhões, nem de “megacoisas”, mas, se calhar, vamos ter progressos significativos nessa área.”

jose carvalho 07 - 01dez13

“Só quero aceitar parabéns no fim do meu mandato”

No seu discurso de tomada de posse falou muita da família. Enfatizou a família. Ela é para si, pelos vistos, extremamente importante…

“É, e por uma razão muito simples. Se nós não tivermos um núcleo que nos sirva de padrão, temos mais dificuldade de ligação com os outros. Quanto mais unida for a família, maior é a probabilidade de os seus membros se espalharem pelo resto da sociedade e exercerem uma função também pedagógica. Eu não tenho pretensões de mudar o mundo – felizmente ainda estou lúcido! -, agora, há uma coisa que lhe garanto: é que eu tenho a consciência perfeita que é da minha postura, relativamente às pessoas que me estão próximas, que depende também a divulgação de uma série de valores, de princípios e de respeito pelos outros, que é fundamental. E eu – há bocado referi-lhe na minha identificação pessoal – tenho cinco netos; se cada um dos meus netos for defensor dos valores que lhes transmiti, dos princípios que lhes ensino, da forma de estar na vida e de se relacionar com os outros… temos mais cinco pessoas a divulgar aquilo que também o gosto de fazer.”

E o Bonfim, já é para si, uma família?

“Para mim já é! Conheci-o durante a campanha e, agora, vou-o conhecendo cada vez mais. Muitas pessoas conheci durante a campanha, agora vou conhecendo outras mais; vou tendo o apreço muito grande por pessoas que não tinha o prazer de conhecer e, como lhe disse no início – e como disse a toda a gente que me deu os parabéns pelo facto de ter sido eleito-, que só quero aceitar parabéns ao fim do meu mandato. Até lá não sei se sou merecedor desses parabéns! Se dependesse de mim seria deles, seguramente, merecedor, mas não vai depender só de mim. Portanto, espero que a sorte também me ajude e que chegue ao fim e me sinta feliz por me dizerem: “parabéns por teres lá estado!”

Estou muito tranquilo, muito conscientes daquilo que são as minhas responsabilidades, mas também com um empenho de começar a ver resultados.”

“Procuro ser uma pessoa com valores!”

Sente-se um rico-homem?

“Eu acho que isso é imodéstia a mais. Eu sou um bocadinho imodesto, mas também não exageremos (risos). Procuro é ser uma pessoa com valores, com princípios, e com um enorme respeito por mim e pelos outros.”

Foi um prazer falar consigo, falaremos, por certo muitas mais vezes…

…se Deus quiser.  Espero que no fim do meu mandato, os senhores tenham a gentiliza de vir ter comigo para me dizer, com toda a frontalidade: “meu caro amigo, mais valia não ter entrado!”, ou “faça os possíveis, se não ficar, arranjar alguém que fique e que garanta aquilo que o senhor procurou transmitir para as pessoas do Bonfim”.

 

 

Texto: José Gonçalves

Fotos: António Amen

Pesquisa: Google

 

01dez13

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3 Comments

  1. Costa Pinto (Porto)

    Interessante, oportuna e inteligente a sua entrevista. Fiquei, agradavelmente, surpreendido consigo, senhor presidente da Junta de Freguesia do Bonfim. E parabéns à JUnta!!!

  2. Lourdes dos Anjos

    Há dias conheci o senhor presidente da junta do meu Bonfim.Gostei.Gostei da forma como quase se distanciou de politiquices, da maneira sincera como não se atreve a fazer promessas e das opiniões que partilhou .SINCERAMENTE, GOSTEI.

  3. Paulo Reis ( Porto)

    Excelente entrevista. Parabéns ao entrevistado como também ao entrevistador que, segundo sei, está prestes a comemorar aniversário e leva de carreira jornalística “só” 30 anos. A junta de Freguesia do Bonfim está, pelos vistos bem servida…

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