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Vamos Amar! Vamos Renovar…

Carla Ribeiro

(Relato I:2013.05.04)

A noite já tinha começado e de repente… alguém remexia um contentor do lixo, parámos.

O brilho que vi naqueles olhos quando saía da carrinha e lhe dizia boa noite, fez-me sentir um enorme aperto em meu coração.

Dentro da carrinha um dos elementos dizia, “este senhor foi meu professor na Escola de Música”…
Rapidamente, nos abeiramos dele e ai ficamos parados para lhe darmos atenção e alimento.
Perguntei-lhe se queria comer uma sopa quentinha e rapidamente da candura da sua voz ouvi :”menina nem imagina como me vai saber bem, há seis meses que não como uma refeição quente”. Nesse momento olhei para ele e seu olhar brilhava ainda mais.

HR ia falando com o Sr. Alberto e com uma enorme alegria ele confirmava que tinha sido seu professor e com alegria falava desses tempos em que tocava e sentia a música pulsar em sua vida.

As suas palavras fluíam como se fossem pautas de música, como se de uma dança se tratasse…
Pousou o seu prato com a sopa e conversava connosco sem se preocupar com o resfria da sua sopa quente que já há mais de 6 meses não comia.

Sr. Alberto ávido de sabedoria e de músicas, contava que todos os dias se alimentava de comida que recolhia dos contentores do lixo, pois uma Instituição lhe dava um apoio com um cabaz alimentar, mas não podia usar quase nada pois não tem como cozinhar. Indignado e triste me disse: “Menina como posso eu, sem luz, cozinhar uma sopa?!”

“Claro que dou a quem tem fome e pode cozinhar…”

Sr. Alberto vive num espaço que aluga sem luz e sem água, pagando todos os meses 150,00 Euros.

Mas, afinal que sociedade é esta em que não há respeito pelas Pessoas que já estão fragilizadas pela VIDA e pela situação em que se encontram?

Precisamos Renovar as mentalidades.

Precisamos Renovar a sociedade.

Precisamos Renovar os sentimentos…
Nesse instante só pensei…

Mas fome, ele tem e dá a quem tem fome?!

E vai-se alimentando dos contentores do lixo…

Será que estas Instituições não perceberam ainda que a ajuda que devem dar a este Senhor não pode ser um saco de comida apenas para o calar?

Pergunto-me: Como podem Instituições dar um capaz com alimentos para confecionar a uma Pessoa que não tem como os confecionar?

Porque continuam tantas pessoas a olhar, estas Pessoas, apenas como um número, como um papel, como um cifrão…

Vamos trata-los como Pessoas e não como um Número, são Pessoas não são Bichos

A nossa conversa continuava e percebi que sua sopa arrefecia, pelo que lhe pedi que se alimentasse pois ficaríamos junto dele.

Se bem que ávido de comida, tinha ainda mais “fome” de atenção de carinho, de amor, de conversar e deixar fluir as pautas que estão dentro de si.

Sr. Alberto quis saber como nascemos e depois de lhe contar o nosso caminho, nos deu os parabéns e agradeceu mais uma vez por termos parado e estarmos ali à conversa com ele sem olhar o relógio, sem medo, sem presa…

relato 1 - 01dez13

Neste mesmo local onde paramos olhamos e num canto de uma entrada de uma garagem vislumbramos um corpo deitado.

Outros elementos da equipa se aproximaram dele e foram falar com ele e tentar ajudar.

Com alegria, o diálogo ia fluindo e do que falamos na equipa uma expressão fixei deste nosso “Amigo de Rua”. “Estes pais é mesmo um T0”.

E entre as conversas com este dois nossos “Amigos de Rua” com surpresa se abeira da carrinha um casal que nos aborda em francês.

Rapidamente um dos elementos da equipa me vem chamar para ir dialogar com eles.
Corro na direção da carrinha para rapidamente perceber o que se passa.

Ali estava um casal para me acolher.

O diálogo fluía em francês e até as vezes com umas palavritas em inglês quando a memória me atraiçoava e só conseguia lembrar-me da palavra em Inglês.

Quiseram saber o que fazíamos, se estávamos ligados à Cruz Vermelha e porque não andávamos acompanhados de polícia.

Expliquei que somos um grupo de amigos que não temos qualquer apoio do Estado ou de Instituições.

Foquei que nossos “Amigos de Rua” regra geral não são violentos pois percebem que estamos ali para os ajudar e como tal nos recebem geralmente bem.

Que estamos na rua para lhe lavar uma palavra Amiga, atenção e Amor, sorrisos e boa disposição.

Questionavam se estão muitos espalhados, e como os encontrávamos, ao que explicava que durante o dia andam mais dispersos, mas que, regra geral, à noite se juntam mais no centro da cidade pelo que a percorremos indo a locais onde já sabemos onde estão, mas sempre atentos a novos locais onde podem estar como aconteceu ali

Traduzi o nosso nome para francês “Sommes ici” , ouvi entre o casal dizerem, por isso a imagem deles ser as duas mãos entrelaçadas, que bonito…

Felizes e cheio de alegria nos seus rostos se despediram de nós agradecendo o que fazemos e o tempo que lhes tínhamos disponibilizado, felicitando e desejando boa sorte.

Seguiram e voltei-me para os dois colegas que estavam junto a mim, quando ia seguir até ao Sr. Alberto vejo a senhora regressar até nós e na sua mão trazia dinheiro ao que me disse: “Gostava que aceitassem, pois é a forma que encontramos para os ajudar”, confesso que este gesto me deixou com o coração apertado e grata.

Olhei a senhora e pedi-lhe desculpa, mas que não poderia aceitar a sua ajuda pois a regra do Grupo é de que não aceitamos Dádiva alguma em dinheiro.

Seu gesto foi recolher a sua mão junto do coração como se sentindo envergonhada por nos estar de alguma forma ofender, compreendi seu gesto, agradeci e pedi desculpa mas que de maneira alguma, poderíamos aceitar a sua ajuda monetária mas que ficávamos muito gratos pelo seu gesto tão cheio de Amor.

São momentos como estes que deixam nossos corações ainda com mais Amor e fazem correr lágrimas de alegria e gratidão em meu rosto…

Entretanto o Sr. Alberto tinha ficado acompanhado com outros colegas da equipa com um olhar cheio de brilho, se despediu e seguiu o seu caminho.

Antes de prosseguirmos contei ao grupo o sucedido e o brilho e gratidão espalhou-se por todos os elementos da equipa.

Sorrindo e cheios de alegria prosseguimos a nossa caminhada.

O meu coração pulsava cheio de Vida

Obrigada por tanta Vida

Obrigada por tanto Amor

Obrigada por esta Renovação

Até breve com novos testemunhos.

 

 

01-dez-13

 

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43 Comments

  1. Waltermir Rodrigues

    REALMENTE MUITO LINDO, ALGO DE NOBRE PENSAMENTO
    PARABÉNS QUERIDA CARLA RIBEIRO, VOCÊ ACABOU DE
    CONQUISTAR MAIS UM FÃ.

    By: Waltermir Rodrigues

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