Esta rubrica dá a conhecer a toponímia portuense, através de interessantes artigos publicados em “O Primeiro de Janeiro”, na década de setenta do século passado. Assina…
Cunha e Freitas (*)
“Em tempos remotos, grandes olivais cobriam o vasto terreno que depois abrangeu a Cordoaria Nova, estendendo-a pelas imediações do Carregal, Campo, Ferradores, Moinho de Vento e Carmelitas.
Chamou-se, por isso, Campo do Olival, e deixou na toponímia além deste, o nome de Rua das Oliveiras e a designação do Lugar das Oliveiras, que em outros tempos teve o local onde esteve o Recolhimento e depois o Mercado do Anjo.
Esse Campo do Olival era pertença da Mitra e do Cabido portuenses, mas em 1331, sendo bispo D. Vasco Martins, por amigável composição passou à posse do Senado da Câmara, que o queria transformar em logradouro público da cidade.
Curioso notar que nesta transacção o prelado impôs certas restrições, das quais só uma veio a ser cumprida: no local não poderiam instalar-se nem cordoaria, nem feira, nem matadouro, nem igreja. Só o matadouro não houve aqui…
A muralha fernandina, cortando o Campo do Olival, deixou extramuros a maior parte dele. Em 1611, quando se construiu o primeiro edifício da Relação e Cadeia, mandou Filipe II que ali se plantasse uma alameda que “seria de muito ornato e comum benefício da cidade”. Apesar da vigorosa oposição da Câmara, que alegava o inconveniente de ali se não poder fazer, como era costume os alardos militares, cumpriu-se a régia a régia determinação.
Assim teve origem o formoso jardim, com as suas árvores seculares, onde, ao contrário da tradição constante, nunca se enforcou ninguém. Os que ali padeceram a pena última, foram executados em forcas no local erguidas. Assim com as infelizes vítimas do despotismo pombalino, quando do chamado Motim da Companhia, em 1757.
Entretanto, o Olival continuou servindo para exercícios da tropa, e depois de 1661, instalaram-se ali os cordoeiros que antes arruavam mais abaixo, na chamada Cordoaria Velha (ruas de Tomás Gonzaga e de Francisco da Rocha Soares, actuais).
Não nos é possível historiar aqui os muitos e notáveis edifícios que houve e ainda há, enobrecendo a Alameda do Olival: Clérigos, Relação, Palácio Sandeman, o Hospital de Santo António (onde esteve a Roda), a Igreja da Graça, Universidade, Recolhimento do Anjo, e outros mais.
Algum leitor interessado leia os belos artigos de Horácio Marçal em “O Tripeiro” (1962). Aí encontrará também curiosas notas sobre as várias feiras que se realizavam na Cordoaria, principalmente a chamada Feira de S. Miguel. Lembramo-nos da linda estampa do barão de Forrester, bem conhecida por muitas vezes reproduzida.
Mas, regressemos à toponímia:
A Alameda do Olival, depois chamada de Cordoaria Nova, ou só Cordoaria, recebeu em 1835 o nome de Campo dos Mártires da Pátria. Porquê? Dizem-nos que em lembrança aos infelizes que ali padeceram na forca, em 1757. Seria, mas não nos parece que essa morte cruel os elevasse a Mártires da Pátria.
Por decisão camarária, o jardim chamou-se, a partir de 1852, Passeio Público e desde 1924 Jardim de João Chagas, denominação que poucos conhecem e que ninguém lhe dá (…).”
(*) Artigo publicado em “O Primeiro de Janeiro”, na rubrica “Toponímia Portuense”, na década de 70 do século passado.
Na próxima edição de “RUAS” DO PORTO destaque para o “Campo de 24 de Agosto”.