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VIAGEM ao FIM DO… PORTO! Há miséria e fome no parente pobre da cidade: Campanhã!

Durante quase uma década a freguesia de Campanhã esteve tão distante do centro do Porto, como do Terreiro do Paço (Lisboa). A zona Oriental da Invicta foi vítima de um já justificado (por desculpa pública) desprezo da autarquia liderada por Rui Rio. Os problemas sociais num dos bairros mais populosos da freguesia que dá nome à conhecida estação internacional de caminho-de-ferro do Porto, alertou o país. O Lagarteiro.

Lagarteiro, bairro social, onde residem milhares de pessoas, muitas delas em condições sociais verdadeiramente alarmantes, viu, em 13 dos seus blocos – isto em meados de novembro de 2013 – uma intervenção da EDP, acompanhada por forte aparato policial, para cortar o fornecimento de energia elétrica a diversas famílias.

O Porto e Portugal acordaram para um problema de gravidade social extrema. Rui Moreira, presidente da Câmara, não gostou da ação da EDP. Manifestou-se. A empresa suspendeu os cortes.

edp no lagarteiro

O Lagarteiro faz parte de uma freguesia com mais de 32 mil habitantes, a tal Campanhã, que é uma das sete autarquias de proximidade da cidade. Célebre por nela estar edificado o Estádio do Dragão, não deixa mesmo assim de, até hoje, se encontrar no fim do…Porto.

Mas, além do Lagarteiro, há outros bairros sociais a ter em conta, um dos quais demolidos com pompa e circunstância na gestão de Rui Rio (S. João de Deus), com o intuito de acabar com o negócio da droga. O bairro foi “parcialmente destruído, mas a droga não acabou em Campanhã e espalhou-se, pior ainda, por outros bairros, os tais outros, como Contumil, Belmonte, Tirares, Cerco do Porto, Pêgo Negro, Chaves de Oliveira ou Maceda.

Nestes bairros, alguns dos quais foram alvos não só de corte de energia, mas também de água, e um ainda (Azevedo) que viu, temporariamente, encerrado o seu Centro de Saúde, vivem largas centenas de beneficiários do RSI que já não têm RSI. Desempregados que tinham subsídios, mas que o deixaram de ter. Famílias numerosas. Idosos. Deficientes. Passa-se fome. Há casos de fome!

O Lagarteiro que faz parte do Porto, só se liga ao Porto pelo “400” (a única carreira da Sociedade dos Transportes Coletivos do Porto que lá chega)e  está, mesmo assim, dele distante… dele não faz parte. Teimosamente não consegue ultrapassar a barreira política e psicológica da “Circunvalação”. Por lá, sobrevive-se.

jose pinto - 01jan14

José António Pinto: um exemplo… um testemunho!

Quem tem conhecimento do “quadro” anteriormente revelado, e ao pormenor, recebeu da Assembleia da República, uma Medalha de Ouro, a 10 de dezembro de 2013, na sessão comemorativa dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: o assistente social José António Pinto.

Recordemos parte do seu “incómodo” discurso: “Trocava esta medalha de ouro por um outro modelo de desenvolvimento que dê igualdade e oportunidade a todos”. E, desafiando a classe política, “resistir à idolatria do dinheiro; à tirania dos mercados e à especulação financeira”.

“Estanquem, imediatamente, este retrocesso civilizacional que iluminam palácios, mas, ao mesmo tempo, enche a cidade de pessoas a dormir na rua. Cento e vinte mil portugueses saíram, em 2012, do País; 500 mil crianças deixaram de receber abono de família; 140 mil jovens estão no desemprego e os idosos vivem com reformas miseráveis e sem recursos económicos para comprar medicação”. Contra factos não há argumentos, e os factos foram relevados por José António Pinto.

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ERNESTO SANTOS:

“HÁ SITUAÇÕES DE FOME EM CAMPANHÃ!

Recentemente eleito por maioria absoluta, nas listas do PS, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, mas um “campanhense” de gema, Ernesto Santos, reconfirma tudo o que atrás se revelou relevando.

Na freguesia-bastião socialista do Porto, o autarca está preocupado com o futuro. Sentindo o pulsar da população, por contacto direto com a mesma, Ernesto Santos espera uma maior atenção do executivo camarário (coligação pós eleitoral entre independentes e… socialistas) para com as realidades de Campanhã.

O trabalho não será fácil porque, por mais estranho que possa parecer, o que herdou do anterior executivo – também socialista – não foi nenhum “mar de rosas”. Homem aberto ao consenso, Ernesto Santos quer e já está a trabalhar.

Durante mais de uma década, Campanhã esteve no fim do… Porto?!

“Campanhã esteve para lá da Circunvalação, sendo que a Circunvalação define as barreiras em 95 por cento do território da cidade do Porto. Quer isto dizer que, num pequeno espaço, Campanhã está para lá da Circunvalação. Nesta última década, Campanhã foi humilhada pelo Porto a quem pertence. A Câmara, nestes últimos doze anos, esqueceu-se da existência de Campanhã. Tirando talvez este último ano que, com a benevolência dos Serviços de Águas e Saneamento (SMAS), a Câmara foi fazendo algumas obras de reestruturação da rede, aí tivemos na rua da Senhora da Hora algo significativo, sendo de registar o seu alcatroamento. Esta obra, antes de ser concretizada, teve da parte da Junta, e do meu antecessor, uma grande batalha, quanto mais não seja para colocarem passeios que não existiam. A rua da Senhora da Hora fica entre a rotunda do Freixo e a igreja de S. Pedro.”

O presidente da edilidade durante esse período de doze anos, Rui Rio, pediu publicamente desculpas por ter-se esquecido da zona oriental da cidade, facto que demonstra o desprezo para com freguesias socialmente carenciadas …

“…se concluirmos que a zona oriental do Porto vem do Bonfim e ainda abarca Paranhos, foi da freguesia mais oriental, que é Campanhã, que ele mais se esqueceu, e não foi um bocadinho: esqueceu-se muito e durante muitos anos!”

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Portanto, Campanhã esteve, como ainda está, no fim do… Porto?!

“Esteve no fim do… Porto! Vejamos o caso do bairro do Lagarteiro, inserido que estava nas obras dos “Bairros Críticos”. As referidas obras começaram, aí, muito mais tarde do que em outros locais, e isto porque, o presidente da Câmara de então, entendeu que poderia beneficiar, não se sabe com que propósito, com essa tardia intervenção. Por mais estranho que pareça, quando acabou o projeto dos “Bairros Críticos”, as obras no Lagarteiro estavam por concluir. Foi este governo que extinguiu o processo dos “Bairros Críticos”, depois do mesmo ter sido criado pelo executivo liderado por José Sócrates. Assim sendo, o Lagarteiro foi o único que ficou por concluir: quatro dos treze blocos não tiveram qualquer tipo de intervenção. Este facto foi gravíssimo, uma vez que criou uma situação de desigualdade numa população já de si bastante carenciada e excluída. Pior que a carência, muita das vezes é a exclusão, porque o estigma quanto aos bairros camarários continua bastante forte, e tem de se fazer algo para se acabar com isso!

Esse estigma foi bem relevado pelo assistente social da vossa Junta, José António Pinto, quando recebeu a Medalha de Ouro pela Assembleia da República, aquando das comemorações do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a 10 de dezembro do ano passado…

“….estive presente nessa cerimónia. Concordo com 90 por cento do que disse o dr. José António Pinto. Aliás, eu trocaria o meu cargo, como ele o faria com a medalha, se o governo restituísse às famílias o que lhes cortou no Rendimento Social de Inserção. Daria o meu cargo ao governo se criasse melhores condições de vida não só para a população de Campanhã, mas para outras populações de outros bairros e de outros concelhos a viverem a mesma miséria que afeta a população de Campanhã. Há situações de fome! A Junta tem acorrido a essas situações, e tudo o que o que fez o dr. José António Pinto, foi porque é assistente social da Junta; porque a Junta lhe deu meios para ele trabalhar nessas valências e ele fê-lo! Quanto às medalhas e às condecorações pode haver quem não concorde com as mesmas, mas quem as propõe é porque entende que o está a fazer conscientemente.”

É um meio de enaltecer e relevar esses altruístas trabalhos.

“Por isso, estou perfeitamente de acordo em 90 por cento do que disse, no seu discurso, o dr. José António Pinto.”

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“O governo cortou cegamente no RSI!”

A questão do corte da luz e da água em algumas famílias a residir no bairro do Lagarteiro, em meados de novembro – situação, entretanto, suspensa -, muito à custa da intervenção do novo executivo camarário, e ainda o encerramento temporário do Centro de Saúde de Azevedo, veio a revelar uma situação social muito complicada no bairro. Mas, pergunto, há quanto anos é que ela existe? Não é, por certo, só de agora!

“A situação dos moradores do Lagarteiro arrasta-se há muitos anos. No capítulo social as coisas agravaram-se, sobretudo, a partir da altura em que é atribuído, na altura, o Rendimento Mínimo, e depois o Rendimento Social de Inserção (RSI). Ora, aquando da tomada de posse do atual governo, as coisas começaram a agravar-se, isto quando se diz que havia, ou há (!?) muitos oportunistas a beneficiar do RSI. Raramente se disse coisa tão certa, mas este mesmo governo não conseguiu, neste tempo todo, acabar com esse oportunismo. Mais: esse oportunismo continua consagrado, na media em que ao cortarem cegamente, cortaram aos que não precisavam – os tais oportunistas- mas também, e na mesma proporção, àqueles que necessitavam. Portanto, o sentido de justiça que essa gente apregoava caiu por terra. Aliás, esse é um dos maiores fracassos da política social deste governo. Ao cortarem aos oportunistas, com uma análise fria e séria, o excedente poderia ser revertido para aqueles que mais necessitavam e mereciam um aumento desse subsídio, mas não foi!”

“Há que acionar um plano de emergência social!”

Sei, pessoalmente, o que passam os beneficiários do RSI, mas no caso de Campanhã, além do Lagarteiro, há mais bairros socialmente críticos? Aliás, houve também cortes de água e de luz em outros bairros da freguesia, é verdade?

“Pelo menos no Cerco do Porto e também em Contumil. Eu disse-o, em várias entrevistas, que para colmatar situações deste tipo haveria que acionar um plano de emergência social, se calhar não só para Campanhã, mas também para todas as áreas socialmente complicadas. Aliás, aqui há uns anos, um plano desse tipo foi desenvolvido em Setúbal, e que resolveu em grande parte a fome que grassava na região…”

… uma luta personalizada pelo então Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, que chegou a ser apelidado de “Bispo Vermelho”, pela região ser de forte implantação comunista e ele defender algumas das exigências da esquerda para resolver os casos de fome…

“…é verdade! Esse senhor Bispo acabou, graças a Deus, por abanar o espartilho da miséria e da fome em que aquela nobre gente estava envolvida, criando-se, então, o plano de emergência social. Acho que é inconstitucional, uma pessoa não ter acesso à Água e à Luz, porque depois de toda uma sociedade meter na cabeça das pessoas que não poderia viver sem frigorífico, aquecedor, fogão e outra série de coisas fundamentais à qualidade de vida, é, assim, e em meu entender, inconstitucional não dar o mínimo de condições a essas pessoas, para que, pelo menos, possam tomar um banho. E isto poderá levar a uma crise que deixará de ser social para ser uma crise de saúde pública.”

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Cinquenta por cento da população de Campanhã encontra-se em situação de pobreza

Com os “cortes cegos”, que referiu, no RSI a diversas famílias que dele necessitavam; com as questões relacionadas com outros cortes (Luz e Água) e estando a gerir uma Junta de Freguesia com mais de 30 mil habitantes, sabe, ou tem uma ideia, de quantas pessoas se encontram no limiar da pobreza?

“Para situação de pobreza: 50 por cento da população. Para situação de miséria ou de extrema pobreza: 25 por cento! Estes começam a ser números muito alarmantes tendo em conta também a segurança do resto da população. Porque é assim: quando as pessoas se veem em situações de fome começam a perder a sua consciência, porque a barriga não deixa que a cabeça o comande”.

Mas, são diversas as instituições que dão assistência alimentar?!

“Ainda hoje atendi uma senhora que tem 130 euros de RSI. Essa senhora tem um filho a estudar. Essa senhora apareceu-me aqui com faturas de farmácia no valor de 51 euros. Como é que essa senhora, por acaso pacífica, reage a esta situação? Ela é pacífica, mas tenho encontrado casos que não são assim. Há pessoas que chegam aqui e que pensam que eu sou um dos culpados desta situação, e para as convencer que não sou tenho de ter muita paciência. Embora as compreenda – porque se há coisas que me aflige bastante é a pobreza, e a ela aliada a pobreza física, monetária e mental – a verdade é que, com estes casos aliados, começo a temer pela segurança geral.”

Bairro S. João de Deus
Bairro S. João de Deus

“O anterior presidente da Câmara arrumou a droga do S. João de Deus para a Pasteleira, Condominhas, Ramalde, Cerco…”

Mas há registos preocupantes de violência em Campanhã?

“Não. Não é uma freguesia muito diferente das outras nesse aspeto. Há problemas de droga que, por vezes, leva a um outro gangue a “atuar”… isto no Lagarteiro ou em Contumil. Mas, eu depois das barbaridades que o anterior presidente da Câmara atirou a cidade do Porto, quando- em boa hora para ele e em má hora para mim – disse que ao acabar com o Bairro de S. João de Deus acabaria com a droga?! Acabou! Acabou com a droga em S. João de Deus. Pois acabou! Já lá ninguém reside! Ele mandou demolir o bairro! Assim, por lá não há droga! Mas com isso, e em boa verdade, é que ele arrumou a drogado S. João de Deyus para a Pasteleira, para as Condominhas, para Ramalde, para o Cerco, para o Lagarteiro, para o Falcão e, atualmente, até há indícios de alguma traficância noutros bairros. Isto começa a ser alarmante!”

E depois também houve a mediática demolição de parte do bairro do Aleixo, com quase (mas só “quase!”) os mesmos propósitos …

“Ao demolir o Aleixo, ao demolir, o S. João de Deus, ao demolir o S. Vicente de Paulo, tudo com a bandeira de que se acabaria com a droga, isso foi enganar bebés e toda a cidade do Porto. E ele conseguiu-o, sabe porquê? Porque os meios de comunicação social quando nos dão alguma cobertura, conseguimos ser sempre os maiores, mesmo estando a fazer mal.”

Nem todos deram essa “cobertura”.

“Pois?! Está bem! Tenho a impressão que se houve coisa que o dr. Rui Rio fez bem durante os seus doze anos de mandato foi o de rodear-se, num gabinete de comunicação e imagem, de gente competente para passar a ideia de um homem incorrupto (que será?!) e promotora de imagens para além do real.

Saiba, entretanto, que é difícil trabalhar numa freguesia tão carenciada como esta, mesmo quando os problemas estão focalizados. Estamos a falar em bairros específicos, que são muitos, mas que estão – repito! – focalizados.”

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“Esta Junta transfere, anualmente, para a ação social cerca de 80 mil euros”

E, então, é difícil porquê?

“Aqui é difícil trabalhar no plano social. E é-o, porque esta Junta transfere, anualmente, para a ação social cerca de oitenta mil euros. Todos os meses: 1.300 a 1.500 euros para farmácias; 1.000 euros para sopa; e 2.500 para ação social diversa. Portanto, tudo isto junto ao fim do ano dá cerca de 80 mil euros anuais, Isto quer dizer que, estas transferências, esvazia-nos em grande parte o nosso orçamento; o nosso plano de investimentos; e, na sua maior parte, o nosso plano de atividades. Por vezes ficamos inibidos de executar o nosso plano de atividades em todas as suas vertentes – cultura, desporto, recreio e em outras áreas – para nos concentrarmos, quase apenas e só, na ação social. Com essa verba, começamos a não dar resposta a um grande número de situações. E, ao não darmos essa resposta, começamos a verificar alguns focos de mal-estar… e com alguma razão!”

Essa é a sua grande preocupação!

“É… sem dúvida! Os problemas sociais afligem-me sempre! Eu sou uma pessoa oriunda de meios humildes! Eu nasci no Bairro de S. João de Deus. Fui lá criado, e lá criei as minhas filhas, e só de lá saí quando o bairro foi abaixo. Isto em 2003! Fiz lá toda a minha vida. As minhas filhas lá foram criadas, foram para o Cerco estudar até ao 12.ºano e depois passaram para a Faculdade. Os meus netos mais velhos também lá nasceram… toda a minha vida foi feita ali. É por isso que compreendo bem as pessoas que residem nos bairros sociais.”

As “ilhas” e a miséria

Mas, também há os que residem nas “ilhas”…

“Tocou, agora, num assunto pertinente e que para mim é fulcral: as “ilhas”. Um agregado de um bairro social que beneficie do RSI é mais beneficiado do que um agregado que more numa “ilha” e que beneficie do mesmo RSI. Nas “ilhas” – e ainda bem que focou esta problemática questão – poucas pessoas pagam abaixo dos 200 euros de renda. Aliás, quem tem contratos de arrendamento recentes paga aos 250 e 300 euros, em casas – eu já vi! – que nem WC têm! As pessoas, à noite têm que dejetar em baldes para, de manhã, despejarem-nos na casa de banho pública que é a de todos os moradores que na “ilha” vivem.

Portanto, é bom aqui, que nós saibamos que a miséria não só está instalada nos bairros sociais! A miséria está instalada em muitas destas nossas ruas, que vimos à frente fachadas muito engraçadas e com muitos bonitos portões, mas que, para lá desses portões, existem “ilhas”; existem condições de salubridade e de higiene altamente prejudiciais à saúde pública e lá, nessa miséria, vivem pessoas a pagar de renda 250 a 300 euros mensais”.

“Ilhas que proliferam no Bonfim e em Campanhã, nelas “residindo” milhares de pessoas…

“Sim! E há também em Paranhos e Ramalde. Mas, toda essa zona de S. Vítor (Bonfim) até às Areias (Campanhã), via Contumil, é um verdadeiro “arquipélago” de grande precaridade social.”

Em seu entender como é que se pode resolver, ou minimizar este grave problema?

“Para minimizar esta situação era criar o tal plano de emergência social, e por na rua todos os assistentes sociais disponíveis, o que quero eu dizer com isto? Existe a Fundação Social do Porto, que tem assistentes sociais; a própria Câmara Municipal do Porto, que tem assistentes sociais; a Segurança Social, que tem assistentes sociais; as Juntas de Freguesia têm assistentes sociais, portanto, e para que se evitasse os ditos “oportunismos”, era essencial criar-se nesse plano de emergência uma ação de proximidade – até de rua! – para identificar, correta e seriamente, todas as situações que necessitassem desse plano.”

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“Este novo executivo é uma lufada de ar fresco na Câmara. Há uma vontade do presidente em resolver os problemas”

Parece ter havido – diz-se – uma lufada de ar fresco com a entrada do executivo de coligação entre o independente Rui Moreira e o socialista Manuel Pizarro. Pelo menos, e no que concerne a Campanhã, houve, logo de início,o interesse do executivo em visitar a sua freguesia, isso é positivo? Como analisa, nestes primeiros meses o trabalho do presidente da Câmara?

“Há, sem dúvida, uma lufada de ar fresco! E, para mim, melhor que a lufada de ar fresco, há uma vontade do senhor presidente da Câmara – independentemente da coligação, e como socialista, tenho honra no acordo que foi feito – em resolver os problemas mais graves da freguesia. Já tive duas reuniões com o senhor presidente da Câmara, precisamente, na sala onde se encontram os senhores e tive o senhor presidente da Câmara comigo aquando do encerramento (temporário) do Centro de Saúde de Azevedo. Neste último caso, registe-se a manifestação do povo, mas se o povo tivesse a força que, às vezes diz ter, não lhe faziam metade das sacanices que lhe fazem. O que penso, neste facto, é que o senhor presidente da Câmara, e o restante executivo, está interessado em olhar para Campanhã; já mo prometeram e, neste caso concreto do Centro de Saúde, se não fosse a Câmara, e em particular o dr. Manuel Pizarro, interessar-se pela questão, a mesma não seria resolvida como foi. “

Houve uma ação concertada?!

“Sim, mas antes a vistoria de ARS tinha dado o prédio do referido Centro de Saúde, como impróprio. Portanto, ele iria mesmo ser encerrado, ponto final parágrafo! Quando me apercebi disso, fui a primeira pessoa a chegar ao Centro da Saúde, pelas nove menos dez da manhã do dia um de novembro, em que colocaram o aviso que o mesmo encerraria no dia quatro.

Na altura, liguei de imediato ao dr. Manuel Pizarro contando-lhe o que se estava a passar, e sendo ele médico e ter sido secretário de Estado da Saúde, respondendo-me, o agora vereador, que horas depois teríamos uma reunião com a diretora do Centro. Assim reunião foi realizada, tendo ficado acordado alterar-se no Comunicado (do encerramento) o “definitivo” para o “transitório”, e ainda ficou acordado entre as partes, que haveria uma nova inspeção às instalações, juntamente com os fiscais da ARS e os da Câmara. Na reunião que se fez no dia seguinte, conclui-se que, de facto, o edifício não estava na iminência de ruir, mas que necessitava de obras…”

Rio Tinto
Rio Tinto

A urgente despoluição dos rios Tinto e Torto

E fizeram-se as obras, ainda que fosse adiada, por algumas vezes, a data da reabertura.

“Fizeram-se as obras. Sim, houve um pequeno adiamento. Mas, às obras que se fizeram, e em tão curto espaço de tempo, acho que o empreiteiro merecia um louvor. Resumindo e concluindo: em quinze dias conseguimos a reabertura do Centro de Saúde de Azevedo. Foi uma vitória do povo de Azevedo, da Junta de Freguesia de Campanhã, da ARS e da Câmara. E da ARS porquê? Porque temos que dar louvor a quem toma uma medida e depois é capaz de dar um passo atrás. Reconhecer erros é sinal de seriedade!”

Certos ambientalistas de Gondomar, mais concretamente, da freguesia de Rio Tinto, tentaram saber – aquando da visita de Rui Moreira a Campanhã – se poderia haver uma interligação dos dois concelhos quanto à despoluição dos rios Tinto e Torto, porque é por cá que ambos desaguam no Douro. Qual a sua opinião a respeito desse, pertinente, assunto?

“Nessa área ambiental, o rio Tinto e o Rio Torto encaixam-se no vale de Campanhã e que desaguam, como referiu, no rio Douro. São dois rios que merecem a atenção das autoridades de Valongo, de Gondomar e do Porto. Tem, em meu entender, que haver um acordo intermunicipal no sentido de transformar esses dois rios – em toda a sua extensão, em toda a sua passagem – em rios que sejam capazes de fomentar bons ambientes a quem lá vive e por quem, pelas suas margens, lá passeia.

É certo que os problemas ambientais agudizam-se quando a coisa chega ao vale de Campanhã, porque, por exemplo, o rio Tinto passa pela Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de… Rio Tinto e depois fica mais sujo depois de pela referida estação passar! A ETAR de Rio Tinto descarrega o que for para ser tratado na ETAR do Freixo, na freguesia de Campanhã, no concelho do Porto. Portanto, o espaço que medeia entre a ETAR de Rio Tinto e a ETAR do Freixo, tem como vítima o Parque Oriental da cidade do Porto, já que é ele que “come” com tudo isto.

Se formos à nossa vizinha Galiza, temos alguns parques atravessados por rios, ou ribeiros, com água que se pode quase beber, e onde são criados passeios pedonais ao longo desses rios,  o que poderia ser feito aqui.

A limpeza dos rios Tinto e Torto viria criar zonas excecionais do ponto de vista ambiental, e iria criar ainda condições à pequena parte que existe do futuro Parque Oriental da Cidade do Porto.

Espero que, por parte desta Câmara, exista uma sensibilidade muito maior para o alargamento desse parque. Verdade seja dita, que no último mandato, o Dr. Rui Rio deu um sinal muito claro que queria fazer alguma coisa no Parque Oriental da Cidade.”

ernesto santos -07

“O Parque Oriental da Cidade foi um projeto do professor Pardal, muito antes de aparecer o engenheiro Rui Sá”

Parque Oriental que foi projetado e iniciado pelo, então, vereador e engenheiro Rui Sá?!

“O Parque Oriental, muito antes do engenheiro Rui Sá – muito antes! – foi um projeto do professor Pardal e só depois apatreceu o engenheiro Rui Sá. Aliás, o Parque Oriental é uma sequência do Parque da Cidade. Quando se fez o Parque da Cidade pensou-se logo no Parque Oriental! O engenheiro Rui Sá, no primeiro mandato do Dr. Rui Rio – a CDU, do eng. Rui Sá, que fez, na altura, coligação pós-eleitoral com o PSD e CDS – foi um homem muito interessado em fazer mover o Parque Oriental da Cidade do Porto, mas não o conseguiu…”

Não o conseguiu na totalidade, mas fez algo por ele?!

“A parte que existe é construída já depois da saída do engenheiro Rui Sá como vereador do Ambiente da Câmara, na tal coligação da CDU com o PSD e o CDS. O que não quer dizer que ele não tivesse uma quota parte muito importante na construção do mesmo. Ele, verdade se diga, mesmo depois de sair do executivo, continuou a pressionar a Câmara no sentido que esta questão fosse resolvida”.

Parque de S. Roque
Parque de S. Roque

Parque de S. Roque para… campismo?

E o Parque de S. Roque?

“Na minha ótica é um parque muito bonito, ainda que com uma condição geográfica fora do habitual…”

Não é para todas as pernas?!

“Pois não! Por isso deviam criar-se as condições para que todas as pernas pudessem por lá se movimentar, isto com bons arruamentos. E a questão da cota, entre a rua de S. Roque da Lameira e o Monte Aventino, poderia ser ultrapassada com um elevadorzinho, ou com um tapete rolante.”

Parece que de tapetes rolantes gosta o presidente da Câmara, até porque defendeu a sua instalação para os lados da Arrábida.

“Olhe, se ele gosta muito de tapetes de rolantes, e como portista que é, como, aliás, também sou, podíamos também fazer escadas rolantes no Estádio do Dragão” (risos)

Houve um nosso leitor que defendeu, para esse espaço – refiro-me ao Parque de S. Roque, a criação de um recinto destinado a campismo. Só campismo, e não de caravanismo! E isto porque, atualmente, a cidade do Porto não tem qualquer parque do género, encerrado que está o da Prelada. Que me diz desta ideia?

“Não tendo pensado nessa ideia até aqui, não a acho totalmente descabida, mas teria de pensar-se num regulamento próprio que não viesse alterar as condições de toda aquela zona. Mas vou pensar na ideia desse leitor do jornal.”

Mas, o Parque de S. Roque, independentemente da referida cota, continua a ser frequentado?!

“ Continua. O parque de S. Roque tem uma parte arborizada que é saudável. Eu vou lá de quando em vez, caminho um bocado, mas gosto de ir lá. Agora, o que eu digo é que aquele parque revitalizado, com os tais arruamentos arranjados e com limpeza, penso que ele se manterá bonito e será muito útil à nossa freguesia”.

Quinta de Sto António (Contumil)
Quinta de Sto António (Contumil)
Quinta Vilar de Allen
Quinta Vilar de Allen
Quartel da Bela Vista
Quartel da Bela Vista

 “Aqui, temos a obrigação de fazer por Campanhã o melhor que pudermos!”

Há um projeto, para o antigo “Matadouro Municipal”, para ali ser construído um centro empresarial. Isso seria, sem dúvida, importante para Campanhã e para a zona oriental do Porto, onde grassa o desemprego e cresce a miséria.

“Esse projeto a ser concretizado devia-o ser no mais curto espaço de tempo. Traria, com certeza, não só mais emprego direto – dizem de 150 a 300 postos de trabalho -, mas, poderia, indiretamente, e ao nível da restauração e a outros níveis, criar mais empregos.”

Isto com discriminação positiva, ou seja, selecionando para empregados pessoas residentes na freguesia?!

“ Eu tenho no meu programa, o tentar uma ligação às empresas – Dolce Vita, Continente e etc – para conseguirmos emprego, sobretudo, para com GIP e com o Centro de Formação conseguirmos emprego para a nossa gente. Porque, se estamos aqui, temos a obrigação de fazer por Campanhã o melhor que pudermos e soubermos. Se essas empresas se disponibilizarem a trazer para os seus postos de trabalho os habitantes de Campanhã… ficaríamos todos felizes!”

E isso diminuiria o número de beneficiários do RSI, do subsídio de desemprego e por aí fora…

“Há desempregados de longa duração que têm o RSI, mas outros, que ao acabar o subsídio de desemprego, ficaram sem um cêntimo. Essas pessoas trabalharam toda a vida e, agora, estão nesta miserável situação. Eu sei o que é isso, porque trabalhei trinta anos numa empresa e fiquei três anos no desemprego, antes de vir para a reforma!”

Portanto, sabe do que está a falar!

“Sei do que estou a falar!”

“Foi a própria cidade que expulsou os seus filhos para fora dela!”

E, depois, um outro problema: a população de Campanhã é muito envelhecida!

“É sobretudo…”

…mas, mesmo assim, não é a freguesia que tenha mais gente envelhecida no contexto da cidade.

“Pois não, porque, especialmente nos bairros sociais, ainda vive muita gente jovem, alguns dos quais ainda vivem com os pais. Mas, fora desses bairros, já não é tanto assim! O envelhecimento verifica-se mais fora dos bairros do que nos bairros sociais.”

E nesses bairros, sociais ou não, sabe-se que vão vivendo-se situações verdadeiramente críticas, como, por exemplo, o regresso dos filhos a casa dos pais.

“É verdade! Há filhos que regressam às casas dos seus pais, porque alguns deles, que até há bem pouco tempo, tinham emprego excelente, que lhes permitia pagar a renda, depois de vítimas de desemprego e não conseguindo satisfazer as exigências, tiveram de regressar às origens. Isso da “casa própria”. a mim causou-me sempre algumas reticencias. Um casal casa aos 35 anos, pediu empréstimo ao banco por 40 anos, quando esse casal tiver 75 anos, provavelmente a casa estará em péssimo estado porque não terão dinheiro para a recuperar e se calhar até daria alguma coisa para dela se desfazer.

O que quero dizer com isto, é que muitos dos jovens de Campanhã, filhos de campanhenses, deslocaram-se para os concelhos de Gondomar, Valongo, Matosinhos e Gaia onde poderiam “comprar” casa mais barata do que aqui no Porto. Foi a própria cidade que expulsou os seus filhos para fora dela. Nós, tripeiros – e isto não é uma política de dez anos, mas de 30 ou 40 anos – não soubemos salvaguardar, na política de terrenos e contra a sua especulação, a habitação. Sei disso porque trabalhei, de 1971 a 1977, no Fundo de Fomento à Habitação. Já na altura em que construíram casas no âmbito do processo SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) já se falava numa política contra a especulação de terrenos…”

ernesto santos -08

“A Câmara devia ceder alguns dos seus terrenos a cooperativas, especialmente, formadas por jovens…”

E Campanhã, segundo sei, teve uma importante intervenção do SAAL.

“Teve, sim senhor. Em Contumil, Chaves de Oliveira, Maceda, Tirares e Pego Negro, onde construíram-se casas…”

Todos trabalhos desenvolvidos por associações de moradores?!

“Sim. Aliás, a Associação de Moradores de Contumil é um exemplo, porque, nesta fase, já está a recuperar as casas. Os moradores já pagaram as casas e agora elas estão a ser recuperadas.”

O movimento associativo teve, e ainda tem, a sua importância, mas o cooperativo também?!

“Atenção que o cooperativismo é diferente do associativismo. Temos, na realidade, muitas cooperativas em Campanhã. Mas se houve associações que construíram em Campanhã, o mesmo também aconteceu com algumas cooperativas. Hoje, quando se fala na falta de habitação, o Estado devia acabar um pouco com a habitação social, porque, de facto, ter uma Câmara, sei lá, com 40 e tal mil inquilinos isso cria uma disfunção à autarquia terrível. Acho que seria de caminharmos, outra vez, para os princípios do cooperativismo. Falo na Câmara ceder alguns dos seus terrenos a cooperativas, especialmente formadas, para poder trazer de novo esses jovens para a cidade do Porto. Ainda há muitos terrenos na cidade do Porto, e nomeadamente em Campanhã, que é a única zona da cidade que tem ainda por onde crescer, são muitos os terrenos e parte deles camarários, seria de os facultar, as custos controlados, às cooperativas. “

“A nível de infantários e escolas, Campanhã é, das freguesias do Porto, a mais bem apetrechada!”

Muito fala-se na questão da habitação e da problemática, a ela inerente, quanto ao afastamento, e agora, no que diz respeito regresso dos jovens à cidade. E o resto?

“O resto será o emprego; será a cultura…

…serão infantários, escolas…

“… deixe-me que lhe diga: Campanhã, a nível de infantários e escolas, é das freguesias da cidade do Porto, por certo, a mais bem apetrechada. Todas as escolas sofreram obras de reestruturação – casos das do Lagarteiro, das Antas (que é nova), do Cerco, do Falcão, da Corujeira, de Costa Cabral, de Montebelo e de S. João de Deus – e a nível de infantários também temos bastantes. Aliás, maior parte das crianças que estão nos infantários em Campanhã que vêm de Valongo, de Rio Tinto, ou seja, das zonas onde os seus pais estão a residir. Portanto, esse tipo de infraestruturas já existem em Campanhã. Assim sendo, se conseguíssemos trazer de novo para Campanhã um sistema cooperativo de habitação para trazer os jovens para a freguesia, acho que não estaríamos dependentes desse tipo de infraestruturas.”

ernesto santos -09

“A minha preocupação é a de chegar ao dia 20 e arrecadar cerca de 50 mil euros para pagar aos meus funcionários”

Que herança recebeu do anterior executivo?

“As heranças dependem sempre da forma como nós a olhamos. Não foi das piores… foi uma herança! Tem coisas com que contava; outras com que não contava tanto, e outras às quais quero dar o meu cunho próprio. Trabalhei com o Rodrigo de Oliveira; fiz três mandatos com o José Fernando Amaral, cada um deles diferente do outro e eu serei diferente dos dois. Mas, se eu conseguisse ter o “bom” do Rodrigo de Oliveira, o “bom” do José Fernando Amaral, e acrescentar-lhe algo mais de mim próprio, se calhar, fazia quatro anos, findos os quais podia dizer-lhe que estava satisfeitíssimo com o meu trabalho.

No que diz respeito à “herança”, não é nada que, a nível orçamental – que é um pequeno grande problema – não se consiga transformar, ou retomar, a normalidade. “

Está preocupado!

“Preocupa-me, com certeza, esta situação. Uma das coisas que me mais preocuparia era a de chegar ao dia 23 e não ter dinheiro para pagar ao pessoal. Para já, tive de fugir a uma tradição que esta Junta tem mantido ao longo dos anos: o cabaz de Natal aos fregueses e uma Festa de Natal aos funcionários. Este ano, não tenho dinheiro para isso realizar, com muita mágoa minha! De momento, a minha preocupação é a de chegar ao dia 20 e arrecadar cerca de 50 mil euros para depois pagar aos meus funcionários. “Quem dá o que deve, também deve o que dá!”… mas, quando não pode não pode mesmo! Nunca na minha vida comprei o que fosse a prestações.

Na minha vida habituei-me a amealhar e a comprar consoante podia. É desta forma que vou tentar governar a Junta de Freguesia de Campanhã! Tenho gente na minha lista que me vai ajudar! Cada um dos vogais do meu executivo tem criado grupos de trabalho que já envolvem cerca de 30 pessoas, sendo que, tirando os sete do executivo, todos os outros são voluntários. Nos tempos que correm, criar uma equipa com esta vastidão, que se consiga fazer um trabalho profícuo – e vai sê-lo com certeza! – é algo de extraordinário.”

Alameda do Dragão
Alameda do Dragão
Estádio do Dragão
Estádio do Dragão
Estação de Campanhã
Estação de Campanhã

Campanhã vai deixar o fim do… Porto?!

“Estou convencido que sim, e tudo farei, para que nós olhemos a Circunvalação sem ser a barreira geográfica e social que nos separa hoje! É preciso uma via condutora que faça a ligação direta de Azevedo à VCI – não é uma obra megalómana -; a via coletora não será uma obra megalómana, a qual poderá atravessar o futuro parque oriental. E depois é precisa ser criada uma rede de transportes eficaz e que, atualmente, não existe. Mas, como lhe disse, com cunho próprio e com o apoio da minha equipa, espero fazer, nos próximos quatro anos, um bom trabalho!”

 

Texto; José Gonçalves

Fotos: António Amen

Fontes: Pesquisa Google

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3 Comments

  1. Albano Pereira

    Olá Bruno não sou muito de comentários no facebook, mas está não podia deixar passar.
    Como tu sabes eu vim viver para azevedo com 8 anos, e ainda o bairro do lagarteiro ou seja os primeiros 4 blocos não tinham sido ocupados por moradores 4 anos ainda antes do 25 de abril de 74.
    Como sabes tive uma infância feliz pois esta terra pará-la da fronteira da circunvalação era um paraíso pois juntava o melhor de dois mundos, a cidade do Porto e a Aldeia, não a rua mas sim uma pequena aldeia dentro da cidade, na qual era possível desfrutar da natureza.
    Os primeiros blocos do lagarteiro foram ocupados por uma camada da sociedade um pouco privilegiada e forma pessoas escolhidas quase a dedo pelo antigo regime e nos primeiros tempos a convivência entre os antigos residentes e os novos ( residentes do bairro do lagarteiro) foi pacífica, no entanto quando começou a segunda fase da ocupação do bário do lagarteiro, ou seja do bloco 5 até ao bloco 9, pois estas pessoas algumas delas eram provenientes de zonas carenciadas da cidade e aí sim começaram os problemas, problemas esses que tu também acompanhaste na tua juventude com pessoas problemáticas e com uma grande dificuldade em se integrarem na sociedade, pois eu sou um bom exemplo de que nascer pobre e sem cultura não é desculpa para falhar.
    Logo as pessoas que foram colocadas no lagarteiro foram-no pelo anterior regime e fazia parte de uma corrente que existia nos anos 60 a 70 de que as pessoas provenientes e camadas desfavorecidas deveriam ser colocadas na periferia das cidades tal como acontecia na Alemanha, na Holanda etc.
    Afirmo ainda que durante muitos anos nada foi feito neste lado da cidade, pois embora eu tenha ido viver para o centro do Porto e mai tarde para Matosinhos e depois novamente para o centro do Porto , nunca me desliguei das minhas raízes e por isso vinha cá com muita frequência, fruto dessa minha ligação regressei novamente em 1999 para a casa que hoje habito e que de facto me faz feliz numa zona que não é nobre nesta cidade mas que me recorda as minhas origens e que faz sentir como fui feliz na minha infância, pelo que afirmo com segurança que não pretendo sair desta zona, mesmo que eu possa ser bafejado pela sorte e me saia o Euromilhões.
    Em 2003 o Rui Rio foi eleito e devo- te dizer que não tinha grande simpatia por ele e ele não foi o candidato em que votei.
    No entanto no decorrer dos seus mandatos fui constatando a sua obra e não posso ficar indiferente.
    A saber: construção da avenida de cartes com ligação ao no das areias, reabilitação do lagarteiro, saneamento básico nesta zona, parque oriental da cidade, recinto desportivo no bairro do lagarteiro, pavilhão do lagarteiro, colocação de asfalto no piso desde a circunvalação até ao largo de azevedo.
    Eu sei que muito mais poderia e deveria ter sido feito, mas eu tenho 52 anos e vim para azevedo com 8 anos, logo em 44 anos não vi um único presidente da câmara ter feito 1/10 do que fez Rui Rio.
    Só espero que o rui Moreira faça tanto como ele é que não tenhamos que esperar mais 44 anos para ter um presidente que não faça demagogia e que de facto se preocupe com esta zona da cidade.

    Bruno
    Um grande abraço

    Albano Pereira

  2. Lourdes dos Anjos

    Tanta verdade e tanta dor, tanta miséria e tanta falta de educação cívica, tanto desemprego e tanta droga, tanto esquecimento e tanta VONTADE DE MUDANÇA.
    PARABÉNS senhor presidente da junta de CAMPANHÃ (que tive o prazer de conhecer há algumas semanas atrás no MONTE AVENTINO).
    Parabéns ao senhor “CHALANA” que consegue dar um estaladão nos politiqueiros colados às cadeiras de S. BENTO.
    MUITO OBRIGADA PELA FORMA COMO LUTAM PELOS QUE PERDERAM A ESPERANÇA E A DIGNIDADE HUMANA.UM TRIPEIRÍSSIMO ABRAÇO.

  3. josé Lopes

    Este é um “retrato” que só um bom profissional podia captar! É um trabalho que marca profundamente o arranque de mais um ano, em que tais dramas sociais vão exigir que tantos outros profissionais da imprensa mergulhem nestas realidades dolorosas em que vivem as principais vitimas de sucessivas politicas de esquecimentos da freguesia de Campanhã, ultimamente agravadas por tanta eusteridade e cortes sociais cegos!

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