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Daehan Minguk – Viagem ao País do Sul

Luís Reina

 

 Capítulo II

As Mordomias de um Cinco Estrelas Aéreo

 

11 de Setembro

Paris – Abu-Dhabi

 

O dia acordou cinzento, quase negro.

Bateladas de água, de um céu nublado, batem nas vidraças da janela do meu quarto. Abro uma delas e sou varrido por um vento gélido molhado.

Hum! O tempo não me parece de todo convidativo para voar. Tenho fé que “Allah” me leve tranquilamente até à cidade “Pai do Cervo” – Abu Dhabi, onde vou fazer escala, antes de prosseguir viagem até à “Cidade Capital” – Seul.

Depois da minha higiene matinal, desço para um pequeno-almoço quase “plástico”, saboreado lentamente, como se fosse o melhor manjar do mundo. Observo as pessoas que me rodeiam. Tento adivinhar através das suas idiossincrasias de onde são. A tarefa não é de todo difícil. Alguns enchem o prato, formando Everestes agridoces que devoram quase sem mastigar. Mulheres de largas ancas, que falam acaloradamente alto, das pechinchas compradas no dia anterior numa qualquer “boutique” parisiense. Jovens sorridentes cheios de pequenas obras de joalharia com que adornam os seus dedos e orelhas, exageradamente perfumados, espalhando um aroma de incenso e sândalo que permanece eternamente no local. Pequenos grupos de orientais que delicadamente sussurram entre si. E a lista continuaria infindável.

O tempo não para e corre velozmente.

Eu só paro algum tempo depois, vagarosamente, em frente a uma pequena fila de passageiros, prontos a formalizarem as suas passagens, rumo ao deserto da península arábica. Escuto atentamente a conversa que se desenrola entre duas sexagenárias francesas que vão para a Coreia do Sul fazer um circuito que se chama – Templos e Montanhas. Digo para comigo, aqui estão duas companheiras de viagem. Não me denunciei.

Passo lentamente pelo raio X dos seus olhares e embora queiram matar a sua curiosidade, tipicamente francesa, de saberem quem sou e para onde vou, não o conseguem. São chamadas a comparecer ao balcão para fazerem o seu check-in.

Estou ansioso pela viagem que está prestes a começar.

Chega o tão desejado embarque no Air Bus A 340-600 da companhia “Ethiad” dos Emirados Árabes Unidos. Embora durante a preparação desta viagem já tivesse lido sobre esta recém-formada companhia de aviação, considerada desde logo uma das 10 melhores do mundo, nunca esperei surpreender-me tanto.

As boas vindas são feitas por duas assistentes de bordo.

Sorridentes e elegantemente vestidas num fato “Chanel” cor de areia e camisa de seda branca. A cobrir a cabeça, um pequeno chapéu “três mignon” da mesma cor do fato colocado sobre um alvo lenço de seda que acaricia suavemente o rosto, Indicam-me o caminho a seguir para o meu lugar.

Dou por mim a caminhar pelas areias quentes do deserto árabe sob um transparente céu azul.

Cores suaves que me dão a tranquilidade necessária, para as longas horas de viagem que se vão seguir. Sinto-me como se tivesse saído de uma massagem. Em cada um dos lugares vejo harmoniosamente colocadas uma almofada, um cobertor feito em lã de ovelha às riscas beges e pretas e um pequeno kit que inclui umas meias de lã preta para passar a noite, tampões para os ouvidos não vá algum vizinho do lado ressonar, uma venda preta e uma escova e pasta do dentes para uma boa higiene oral. Sento-me confortavelmente na minha duna de areia dourada.

O embarque está completo. Ouço estupefacto a comissária chefe de cabine anunciar as nacionalidades dos assistentes de bordo que fazem parte deste voo, ficando a saber que existem membros portugueses na tripulação.

Levantamos voo rumo ao oriente, suavemente e sem pressas.

Um serviço de bordo com muitas estrelas onde impera o profissionalismo de todos os assistentes de bordo. É grande a atenção prestada ao cliente. Impera a simpatia e um sorriso aberto e franco.

Uma assistente de bordo vestida de vermelho e branco, lenço de seda azul ao pescoço, de nacionalidade inglesa, cuida só e unicamente de bebés e crianças menores de 6 anos.

Refeições preparadas por “chefs” de cozinha premiados. Verdadeiros repastos de luxo. Pequenos plasmas tácteis que ocupam toda a parte cimeira do lugar da frente. Mais de 200 programas à escolha do passageiro, onde não foi esquecida a língua de Camões, para minha grande surpresa. Lugares reclináveis até 45 graus, o que é um luxo para quem viaja em turística. O que me deixou completamente incrédulo foi a existência de um telefone privativo em cada lugar que poderia ser utilizado. Pena que o valor das chamadas só poderia ser pago em dólares americanos, senão muita gente iria ter surpresas…

A limpeza constante por parte dos assistentes, fazem com que o avião esteja tão limpo à saída como que à entrada. Realmente é único. E para quem não tem por hábito dormir nos aviões, mesmo que sejam viagens de longa duração, adormeci na paz dos anjos e a sonhar com a aventura que estaria prestes a começar.

Sete horas passaram num ápice.

Lá em baixo as luzes da cidade de Abu-Dhabi estão todas acesas para nos receber. A cidade aumentou e galgou as areias do deserto. O comandante dá ordem para se apertarem os cintos de segurança e desligarem todos os aparelhos electrónicos. O avião parece uma pluma e aterra no Aeroporto Internacional de Abu-Dhabi.

Sejam bem-vindos a Abu-Dhabi.

Sejam bem-vindos aos Emirados Árabes Unidos.

 

Obs: A pedido do autor, e ao abrigo do 5.º ponto do Estatuto Editorial do “Etc e Tal Jornal”, este artigo foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

 

 

 

01-fev-14

 

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8 Comments

  1. Elvira

    Olá Luis!
    Mais um dia de viagem fantástica!.
    Senti-me como se estivesse a teu lado a viajar. Bem lá no fundo, queria estar, mas…..

    Obrigada, Adorei!fico à espera da próxima viagem.
    Bjs. Fica bem e tem um bom dia.

  2. Maria Teresa Baptista Fernandes

    Pois é Luis, mais uma leitura agradável, simpática, que me levou também a viajar bem lá no alto, neste dia desagradável tão
    chuvoso e ventoso, quase deprimente.
    Obrigada e cá fico à espera da próxima viagem. Bjs.

  3. Anónimo

    Obrigado Zé. Fico contente que tenha gostado e espero que continue a acompanhar-me nesta grande viagem que vai durar 15 meses.
    Abraço.

  4. Anónimo

    Obrigado Carlinha…fico contente que gostes tu que também escreves e bem. E és uma das minhas seguidoras assidúas.
    Bj grande

  5. Carla Ribeiro

    Luis , adorei
    senti-me uma pluma a flutuar em todos os espaços por onde passaste
    deitei-me e adormeci na duna…
    fico a espera para continuar a viagem.
    bjnhs

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