Mais de 540 mil das 800 e tal mil pessoas sem trabalho em Portugal são Desempregados de Longa Duração (DLD), na sua maioria com mais de 45 anos, muitos dos quais com poucas qualificações. Tendo em conta a conclusão de estudos efetuados por certos e determinados economistas, a maioria dessas pessoas não será reentregada no mercado de trabalho até à idade da reforma.
Como sobrevivem, então, estas pessoas, quando parte delas já não recebe o Subsídio de Desemprego e a algumas lhe foi retirado o Rendimento Social de Inserção (RSI)? Acresce a este dramático “cenário”, o facto destes desempregados se encontrarem dependentes dos pais (reformados ou pensionistas) hoje sem as pensões que tinham há uns anos atrás – devido aos cortes verificados há um ano a esta parte -, e ainda de terem filhos em idade escolar e muitos sem dinheiro para pagar a renda ou a prestação da casa?! Quem souber que responda.
De acordo com o “Boletim Económico de Outono (2013)”, do Banco de Portugal (BdP), “o desemprego de longa duração continuou a aumentar na primeira metade de 2013, representado já mais de 60 por cento do total de desempregados. Adicionalmente, o desemprego de muito longa duração (superior a 25 meses) continuou a crescer a taxas elevadas, representando 35 por cento dos desempregados no primeiro semestre de 2013”.
O BdP considera ainda que “um forte aumento da duração do desemprego implica igualmente uma maior penalização salarial no retorno ao emprego, não só devido à depreciação das competências profissionais dos desempregados mas também porque os próprios salários de reserva tendem a diminuir com a duração do desemprego. A redução do salário de reserva é tipicamente mais acentuada findo o período de concessão do subsídio de desemprego e para os desempregados com menores níveis de rendimento, cujas restrições de liquidez são especialmente ativas. Neste sentido, o sistema do subsídio de desemprego deve permitir ao trabalhador financiar o período de procura de novo emprego, mantendo o incentivo a essa mesma procura”.
Mais de cem mil abalaram de Portugal
Se acrescentarmos a toda esta dramática conjuntura o explosivo número de jovens qualificados sem emprego – muitos dos quais já emigraram ou estão decididos a tal – é, diz-se – “natural que as pessoas com mais de 45 anos e com poucas qualificações possam voltar ao mercado de trabalho, o que acontecerá sobretudo se o crescimento económico for anémico”.
Só para o leitor ter uma ideia, em termos gerais, do crescimento do desemprego em Portugal, basta para o efeito salientar os seguintes números: em 2000 a taxa de desemprego era de quatro pontos percentuais, passando, chegando em 2013 a mais de 17 por cento.
Os mais recentes números, isto segundo o Gabinete de Estatística da União Europeia, são considerados mais “simpáticos”, referindo o estudo que o desemprego em Portugal recuou de 17,3 por cento para 15,4 no último ano. Em dezembro de 2013 estavam registadas nos Centros de Emprego 819 mil pessoas, menos cinco mil em comparação com novembro, mesmo assim a taxa de desemprego entre os jovens até aos 25 anos era de 36,3 pontos percentuais. Entre os homens a percentagem era de 15,3 e entre as mulheres de 15,5. Esta redução deve-se em muito à emigração que, só nos três trimestres do ano passado registou a saída de 120 mil portugueses.
A criação líquida de 120 mil postos de trabalho, muito à custa dos incentivos do Estado – como o subsídio direto a trabalhadores jovens e “desempregados superiores” -, não veio melhorar a realidade de vida para os DLD que continua a agravar-se de trimestre para trimestre, sendo a região Norte uma das mais afetadas com tal flagelo social, que já vai incluindo jovens entre os 25 e os 35 anos de idade.
Em declarações ao “Expresso”, o economista Pedro Portugal alerta para uma realidade indiscutível: “A ameaça sobre os desempregados não se fica pela dificuldade que a economia portuguesa tem em criar emprego, mas também pelo facto de os trabalhadores menos qualificados estarem a ter a concorrência dos trabalhadores mais qualificados, que com a crise estão agora mais disponíveis para aceitar remunerações mais baixas”.
Mulheres: as mais pobres
Entre os DLD são as mulheres as mais afetadas, liderando os índices de vítimas de pobreza em Portugal. Assim sendo, e de acordo com um estudo da Assistência Médica Internacional (AMI) revelado recentemente, são as “mulheres, entre os 40 e os 59 anos, desempregadas, com baixa escolaridade e com rendimentos inferiores a 150 mensais”, que lideram a “lista” de pobre.
O estudo intitulado “Vivência da Pobreza – O Que Sentem os Pobres?” envolveu 31.842 beneficiários dos Centros “Porta Amiga” da AMI, tendo sido validadas entrevistas de 24 mulheres e 24 homens, entre os quais beneficiários do RSI, estudantes, reformados e empregados.
O referido estudo revela, então, que o perfil dominante da pessoa em situação de pobreza revela “um rosto de mulher desempregada que vive na companhia de alguém, uma imagem dominantemente triste com um ar precocemente envelhecido, amedrontada, sempre com uma forte vontade de ajudar quem está pior que ela”.
Saiba-se que, apesar da baixa escolaridade e de pertencer a uma classe social muito pobre, esta mulher “perceciona-se como sendo da classe média baixa e projeta-se a cinco anos como pertencendo à classe média baixa ou até mesmo média. Luta por um emprego, mas a falta de oportunidades ou a precariedade do mesmo, juntamente com os baixos salários, impedem-na de se autonomizar, facto que por vezes, eventualmente, numa fase mais jovem da vida, lhe provoca sentimentos de revolta à mistura com sentimentos de solidariedade e pena de si própria e dos outros que possam viver em condições piores do que a dela”, revela o estudo.
Oitenta por cento dos inquiridos considera o desemprego como a principal causa de pobreza, enquanto 44 por cento atribuiu aos baixos salários e 26 por cento culpam as próprias pessoas que estão na situação de pobreza.
À pergunta sobre as possibilidades de vir a sair da de pobreza, 30 por cento pensam que têm algumas possibilidades, 20 afirmam ter muitas possibilidades, outros 20 por cento referem ter poucas possibilidades e 18 por cento nenhuma possibilidade.
E é este mais um quadro dos muitos quadros da sociedade portuguesa em… 2014.
Texto: José Gonçalves
Fotos: Pesquisa Google
Fontes: AMI, Banco de Portugal/OCDE, “Expresso”, Gabinete de Estatística da União Europeia
01fev14
Excelente artigo, revelador de um problema social muito grave que vai durar muito e muito tempo a resolver. Nós, com mais de 45 estamos a pagar a fatura de governantes incompetentes…
Parabéns ao jornal , equipa e seu diretor, pelos quatro anos de existência.
Obrigado.