Esta rubrica dá a conhecer a toponímia portuense, através de interessantes artigos publicados em “O Primeiro de Janeiro”, na década de setenta do século passado. Assina…
Cunha e Freitas (*)
“A Praça dos Poveiros chamou-se antigamente Largo de Santo André, de uma vetusta ermida que ali existia, dedicada aos mártires Santo André e Santo Estêvão.
Era esta capela bem velhinha, ainda que não remontaria ao tempo dos Godos, como em finas do século XVII afirmava o beneditino Pereira de Novais, na sua Anacrisis Historial, crónica seiscentista de grande interesse para a história topográfica da cidade nesse recuado tempo. Já existia em 1497 – “ em Santo Ildefonso, indo para Sam Estévão” – diz um Tombo desse ano.
Desaparecida em 1863, para a continuação da Rua da Alegria, com a sua demolição se perdeu um dos mais pitorescos recantos do Porto antigo, tão bem evocado e tão bem descrito pelos historiógrafos Dr. Pedro Vitorino e Horácio Marçal, em interessantes estudos que lhe dedicaram.

Com esses “arranjos urbanísticos” desapareceu também a antiga rua ou viela chamada do Caramujo, que, alargada, serviu de leito àquela nova artéria. Donde viria este topónimo? Provavelmente de alcunha de proprietário local, e, de dois sujeitos que tinham, temos conhecimento: André Gonçalves, o Caramujo, vivia em Miragaia em 1599; e o licenciado João Álvares Caramujo, instituidor no século XVII de uma capela na igreja do Colégio de S. Lourenço, da Companhia de Jesus, vulgarmente chamado dos Grilos.
Os campos por onde corria a viela compreendiam, segundo nos diz Horácio Marçal, o chão do actual Largo do Padrão. E porque voltamos a falar deste padrão, aproveitaremos para um pequeno aditamento ao que sobre o local escrevemos nesta série de nótulas toponímicas: nos registos paroquiais da freguesia de Santo Ildefonso, menciona-se, em 1680, um morador “ao Padrão Novo”, e, pelo menos desde 1723, a Rua Direita do Padrão das Almas. Ao Largo de Santo André se chamou também a Feira da Erva; durante muitos anos se fez aí o mercado das hortaliças.
Em 1916, novas obras modificaram o aspecto do largo. Desapareceram parte da rua e da travessa de Santo André, e a Viela dos Pardieiros, que era a uma continuação do Campinho.

Poucos anos depois, recebeu a actual denominação de Praça dos Poveiros, em homenagem aos pescadores portugueses residentes no Brasil, rebeldes contra a lei que, em 1921, os obrigava a naturalizarem-se cidadãos brasileiros. A designação, como já notou Horácio Marçal, é infeliz, porque nada diz da intenção, e nem mesmo de todos os pescadores naturais da Póvoa de Varzim; havia-os de muitas outras procedências”.
(*) Artigo publicado em “O Primeiro de Janeiro”, na rubrica “Toponímia Portuense”, nos anos setenta do século passado.
Na próxima edição de “RUAS” DO PORTO destaque para a “PRAÇA DA RAINHA DONA AMÉLIA”.
01jun14