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Que mais irei eu ver?

Carla Ribeiro

Pergunto-me que mais irei eu ver (?)…

Várias vezes nas minhas caminhadas noturnas de partilha de Amor com os meus Amigos de Rua, tenho-me deparado com várias realidades. Pessoas que se alimentam dos restos de comida que estão dentro dos contentores do lixo…

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Outros, vão em busca de grupos/associações, que param regularmente em determinados pontos, para distribuir alimentos.

Alguns vão até algumas instituições e igrejas, onde lhes dão alguns alimentos. Os nossos Amigos de Rua, esperam-nos, a nós e outros grupos, que vamos ao encontro deles.

Vamos aos locais onde estão, pelas ruas, no portal de uma casa, numa entrada de uma loja, num recanto resguardado, esperam o nosso Amor, as nossas partilhas, os nossos sorrisos, e sim os alimentos que lhes levamos. Esperam-nos, simplesmente nos esperam.

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Mas, pergunto-me, que mais irei eu ver?

Sim, quem irá dar resposta a esta minha questão?

Que podemos nós fazer quando algumas Instituições / Associações, que recebem apoios do estado, o dinheiro dos nossos descontos, uma parte dos nossos salários, que fazem Rondas da Caridade com o intuito de alimentar os nossos Amigos de Rua a quem eles chamam de utentes.

Que vamos fazer a estas Instituições/ Associações / IPSS / ONG que tratam os nossos Amigos de Rua como um número, para que o Estado lhes pague pelo trabalho que estão a fazer….

Mas que trabalho fazem algumas destas Instituições/ Associações / IPSS / ONG?

Alimentar os sem-abrigo, os utentes como lhes chamam, para poderem, receber um pagamento?

E alguém se preocupa em saber que alimentos lhes dão?

Alguém já se perguntou sobre o que fazem a esse dinheiro? O que dão estes organismos aos seus utentes, aos nossos Amigos de Rua?

Ao longo de várias noites, tenho visto sacos abandonados ao desprezo nas ruas da nossa cidade.

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Vários sacos,

Atirados para as ruas da cidade,

Venho vendo todas as noites.

Nelas sinto o desprezo,

Em cada saco, a revolta.

O desejo de respeito,

Dignidade e fome…

Resolvi ver os sacos, e perceber o que lá está dentro.

Qual não é o meu espanto quando dentro do saco encontro um saco com pão, supostamente umas sandes, não sei bem de que, pois nem me atrevo a abrir.

Pão tão duro que nem me atrevo a adivinhar quantos dias já terá.

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Uma voz terna e revoltada diz-me:

“Menina esse saco foi o pão que a pouco nos entregaram no “kit”.

Acha, que podemos come-lo, já viu bem como está duro?..”

Kit”, designação dada ao saco com o pão, bolachas e demais que estas Instituições/ Associações / IPSS / ONG, entregam aos seus utentes.

E nesta voz eu senti revolta, desrespeito, vergonha e fome…

E neste Olhar sem brilho, neste rosto pesaroso e revoltado eu senti a mágoa.

Ofereci umas sandes de pão fresco, preparadas com imenso Amor, e ficamos a conversa, enquanto saboreava cada pedacinho do seu pão acompanhando com um copo de leite quente com chocolate.

Ficou este meu Amigo mais sereno, calmo e com um novo brilho no olhar, uma voz terna e melodiosa, um sorriso rasgado no rosto.

Mas, para onde vai o dinheiro que era para comprar o pão fresco para estas pessoas?

Onde está a dignidade?

Onde está o respeito?

Que alimento é este que levam para saciar a fome destes seres Humanos.

São pessoas, não são bichos!

Apesar de estarem na rua, merecem o nosso respeito, o nosso carinho, e acima de tudo se lhes vão saciar a Fome de alimento, levem para estes nossos Amigos de Rua dignidade, respeito e Amor nos alimentos que preparam.

Custa tão pouco vê-los sorrir…

Deixo apenas um pedido a estas Instituições/ Associações / IPSS / ONG, tratem estes nossos Amigos de Rua como pessoas e não como números… como utentes, que fazem parte das vossas estatísticas que enviam para o Estado, para dele receberem dinheiro.

Não podemos nunca esquecer que muitas destas Instituições/ Associações / IPSS / ONG, sobrevivem também dos inúmeros peditórios, dádivas e apelos ao donativo monetário, de apoios do Banco Alimentar, da boa vontade de muitas pessoas que acham que estão a ajudar, de campanhas feitas nas portas dos supermercados…

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Todos nós trabalhamos, fazemos os nossos descontos, e gostávamos de ver o nosso dinheiro mais uma vez ser bem utilizado e não ser utilizado para outros fins.

Estas pessoas não merecem o vosso desrespeito.

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Que mais irei eu ver…

Saio para a rua.

Com um sorriso no rosto,

Que com eles quero partilhar.

Uma mão cheia de Amor

Que com cada um vou simplesmente partilhar.

A outra mão vazia,

Mas rapidamente

Vai ficar carregadinha com o imenso Amor

Que em cada paragem eles me vão dar.

Em cada noite uma olhar,

Um sorriso,

Uma história.

Que marca o meu caminhar.

Mas sempre sigo com um sorriso rasgado,

Um olhar cheio de brilho,

Mesmo que depois de uma lágrima sufocada.

Pois eles esperam-nos a cada noite

Com um imenso Amor recebem-nos.

Querem a nossa companhia,

Um pouquinho de atenção.

E em cada noite

Eles enchem o meu coração.

Que mais irei eu ver…

Que mais irei eu sentir…

Que mais irei eu contar…

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Até já com novas relatos, novas histórias, novos sentir…

Deixo mais uma vez os contatos no meu Grupo:

 

“Corações Amigos”

Facebook: www.facebook.com/coracoesamigos2014

Email: coracoesamigosassuntosgerais@gmail.com

Contato: 969865076 (Carla Ribeiro)

Agendamento de Saídas: coracoesamigossaidasderua@gmail.com

 

 

01jun14

 

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44 Comments

  1. Carla Ribeiro

    Olá Amigo Anónimo, que o sendo sei quem és.
    Sem dúvida o “Escritor Oculto” tem uma capacidade de escrita muito superior e diferente da minha.
    Espero que ele faça uma brilhante caminhada e que saiba dar valor e ser humilde para o caminho que está a iniciar, no campo da escrita. Apenas lhe posso desejar muitas felicidade e muito sucesso, sabendo que sempre o apoiarei.
    Bjnhs Amigo
    Esta porta, de certa forma tb tu lha abriste.
    Obrigada
    Bjnhs

  2. Anónimo

    Pois é Carla pegando no teu texto atrevo-me a escrever Que mais eu ler…sem duvida relatos de vida que se fazem in loco e que felizmente não têm nada haver com instituições, institucionalizadas como ajuda a um próximo que tão mal conhecem.
    Permite-me dizer, pois eu já sei quem é o escritor oculto, que ele mesmo te ultrapassou a nivel literário. Parabéns. Por certo que se vier a escrever neste jornal terá um futuro literário ao ser aqui apoiado. Bj grande

  3. CC

    “Não há nada mais forte que o coração de um voluntário!” Li algures há pouco tempo. Lembrei-me de imediato da tua generosidade, do teu amor pelo próximo, do quanto admiro a tua força!

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