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Saber perdoar…

A. Barros

Perdoar, para muitos é uma ação difícil de ser executada porque envolve muita força, coragem e determinação em prol do outro. Existe uma ideia de que as pessoas para serem perdoadas por Deus, devem perdoar os seus próprios transgressores, isto segundo a religião. Existem investigadores que explicam que muito do que as pessoas vivenciam e interpretam como justiça e mágoa podem ser manejadas através do perdão (Exline & Baumeister, 2001).

O perdão faz parte da vida dos relacionamentos familiares, na escola, no trabalho e é vivenciado por aqueles que nos são próximos. A temática do perdão começou por ser motivo de estudo através dos registos modestos encontrados na década de 30 que tentavam compreender minimamente alguns aspetos relacionados ao comportamento do perdoar (McCullough, pargament & Thoresen, 2001). O interesse mais aprofundado por esta temática surge a partir da década de 80. Hoje em dia já é possível encontrar diversas escalas que avaliam o perdão e permitem explorar em seu domínio a nível desenvolvimental, social, de personalidade, bem como as suas relações com fatores associados à qualidade de vida e de bem estar (Wade, 1989 & WHOQOL Group, 1995).

No entanto qual a definição do Perdão?

Segundo Enright et al, o perdão é uma atitude moral na qual a pessoa considera abdicar do direito de ressentimento, julgamentos negativos e ainda expressar comportamentos negativos relativos à outra pessoa que a ofendeu de forma injusta e ao mesmo tempo ser capaz de demonstrar sentimentos de compaixão, misericórdia e ainda amor (Enright et al, 1998). O perdão é uma escolha ou disposição por parte da vítima e não uma obrigação, já que a pessoa ofendida tem direito a expressar ressentimento. Quando se quer perdoar o comportamento é efetuado através de três dimensões: afeto (através da compaixão é possível superar o ressentimento), cognição (através da generosidade e respeito supera-se a condenação) e comportamento (através da boa vontade em relação ao agressor, reaproximação é capaz de haver superação da indiferença ou vingança). Claro que isso só vem beneficiar a vítima.

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Sabemos que perdoar não é de todo um ato muito fácil mas existem pessoas que são capazes de o fazer. Vejamos: O perdão mais humano e universal que conheço vem de Jesus que ao ser sacrificado rogou ao pai e disse: “Pai, Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. Foi preciso ter muita coragem, Amor e dedicação para ele pedir isso a favor das pessoas que o mataram. No outro dia, vi na televisão uma mãe que perdoou o assassino do seu filho dizendo: “Não sei qual a razão de teres feito o que fizeste, mas mesmo assim tens o meu perdão e Deus te julgará já que eu não tenho esse direito”. Aqui vemos que o perdão esta sem sombra de duvida ligado à religião. Perdoar é um ato imprescindível que nos pode libertar de rancores, das doenças e permitir que a nossa vida siga em frente.

De realçar que perdoar não deve ser confundido com aceitação de uma injustiça, por exemplo deixar livre um criminoso que precisa de ser punido pelos seus atos.Perdoar é acima de tudo libertar-se do sentimento de mágoa face ao opressor mas também a si próprio.

O Ressentimento desgasta a pessoa quer a nível emocional, quer a nível físico. É um sentimento cansativo que pode levar a pessoa a sofrer de depressão, ansiedade ou ataques de pânico. A nível físico podem ocorrer alterações no sistema imunitário, dificuldades cardíacas e ainda problemas relacionados com o stress no nosso organismo. Se olharmos para outro sentimento negativo como Raiva, é possível reconhecer, expressar e finalmente deixa-la ir.

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É necessário que possamos seguir com a vida, apesar de ser muito complicado a pessoa libertar-se do passado. Não traga as suas mágoas do passado para o presente pois isso só poderá afetar a si e as pessoas que o rodeiam.

Por exemplo, uma pessoa que no passado foi magoado por alguém que gostava e que essa situação não foi resolvida inconscientemente acaba por escolher uma pessoa com as mesmas características, como forma de poder “resolver” a questão agora. Para que não aconteça isso, é necessário perdoar para poder ter uma vida positiva cheia de bem-estar.

Ter ressentimento por alguém é ainda deixar essa pessoa que a magoou, habitar na sua vida, na medida em que o opressor continuará ligado a si. É necessário perdoar para libertar-se dessa mágoa e poder assim viver em plenitude.

A atitude de perdoar, demonstra que somos superiores e que estamos a assumir a responsabilidade pela nossa felicidade e que somos os heróis no filme da nossa vida.

O ato de perdoar permite-nos caminhar em direção ao que de bom tem a vida, principalmente ao ato de voltar a gostar de alguém e acima de tudo gostar de si mesmo.

Por muito que custe perdoar a quem lhe magoou, tem que o fazer, pois assim estará a abdicar-se dos pensamentos negativos e de uma vida ressentida a favor de uma vida plena e saudável a nível físico e psicológico.

 

 

Fontes:Exline, J. J., & Baumeister, R. F. (2001). Expressing forgiveness and repentance: Benefits and barriers. In M. E. McCullough, K. I. Pargament & C. E. Thoresen (Eds.), Forgiveness: Theory, research, and practice (pp. 133-155). New York: Guilford Press

Wade, S. H. (1989). The development of a scale to measure forgiveness. Unpublished doctoral dissertation. Fuller Graduate School of Psychology, Passadena, CA.

WHOQOL Group (1995). The World Health Organization Quality of Life. Assessment (WHOQOL): Position paper from World Health Organization. Social Science and Medicine 41, 1403-1409

Enright, R. D., Freedman, S., & Rique, J. (1998). The psychology of interpersonal forgiveness. In Enright, R. D. & North, J. (Ed.), Exploring forgiveness (pp. 46-62). Madison: University of Wisconsin Press

 

 

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4 Comments

  1. A.A.B

    Bom dia Senhor Carlos Manuel… Antes de mais, obrigado pelo seu comentário. Relativamente ao que me questiona: Perdoar não é fácil mas é um ato que requer muita força psicologicamente. Repare: Cada caso é um caso, uns são mais fáceis de perdoar mas outros são mais complicados. A única coisa em comum é o sofrimento psicológico, emocional e por vezes físico que a pessoa pode estar a enfrentar. No caso que me frisou, é difícil perdoar mas é algo que com muito custo tem que ser feito, apenas para salvaguardar a sua saúde mental e física. Eu acredito que não temos o direito de estar a sofrer por algo que nos foi atingido… Existe justiça, ou pelo menos quero acreditar que existe para poder punir tal situação, no entanto apenas digo que deve-se fazer pela sua pessoa, sua saúde, sua individualidade. Não vale a pena estar a consumir por algo que infelizmente não terá retorno e acima de tudo sentimentos de revolta só fará com que a pessoa seja mais revoltada e perca completamente a esperança de ser feliz! É certo que no mundo em que vivemos ser feliz é uma questão complicada mas há que ter esperança, certo? Eu estou a falar do lado de fora mas se isso acontecesse eu não sei o que faria… Mas provavelmente iria refletir e acabaria por perdoar e tentar seguir a minha vida e esperando que a justiça terrestre e Divina fizesse o que tivesse que fazer… Espero que tenha sido esclarecedor a minha resposta

  2. Carlos Manuel (Praia - Cabo Verde)

    Gostei do artigo. Acha mesmo que é fácil perdoar, por exemplo, que mata seu filho, sua mulher e sua mãe?
    Pode responder publicamente…

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