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Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva

A. Barros

Muitas são as pessoas que conhecem a terminologia (que se encontra em título) mas poucas são as que realmente sabem o seu significado. Já é costume categorizar alguém que demonstre ter um comportamento que perante a sociedade é “anormal”, mas é preciso entender realmente o porquê da existência deste transtorno e as complicações que a mesma trás para quem sofre e para os que estão próximos.

O que significa?

Antes de mais, é importante frisar que se trata de um distúrbio da personalidade que se caracteriza pela existência de um padrão de preocupação que tem como fatores envolventes a organização, perfeccionismo, controlo mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e ainda a eficiência. É uma das perturbações que mais desgaste físico, emocional e psicológico provoca nas pessoas. Facilmente as pessoas acabam por interromper as suas atividades profissionais e académicas por não conseguirem continuar.

Esta patologia conhecida como (POC), limita profundamente a qualidade de vida de quem a sofre. É a quarta perturbação psicológica no que diz respeito à sua prevalência. Antigamente acreditava-se que era uma condição rara e antes dos anos 60 não havia tratamento que fosse eficaz para o seu tratamento. Mas, para entender melhor esta situação, há que decompor a terminologia. Assim sendo passaremos analisar a Obsessão:

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Obsessão

A obsessão que compõe esta perturbação são pensamentos, impulsos ou imagens mentais, desagradáveis, e estranhas face ao historial de vida que os tem, e que surgem em formato repetição e que são de extrema resistência no que diz respeito à expulsão da consciência. São pensamentos que tendem a intrometer-se no dia a dia. Para além desta situação origina um elevado grau de ansiedade e desconforto e afim de diminuir esta situação, a pessoa é compelida a fazer algo.

Compulsão

As compulsões ou chamados rituais compulsivos e ainda comportamentos protetores, têm como objetivo cumprir uma função de controlo da ansiedade ainda que seja inadequado. Estes comportamentos, são na sua maior parte exteriores e contrariamente às obsessões que analisamos no ponto anterior, são bastante visíveis para os outros. Este tipo de situação foi retratado nos filmes como “Melhor é Impossível” e “Aviator”. Os comportamentos compulsivos podem também ser privados ou seja invisível aos olhos dos outros, tal como as obsessões.

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Quais as Obsessões comuns?

As pessoas que costumam evidenciar esta perturbação demonstram algumas obsessões tal como: Medos de serem contaminadas por micróbios, sujidade, elementos patogénicos, medo de terem magoado ou prejudicado outros e também ao próprio, imaginar que perde o controlo sobre os impulsivos agressivos que podem demonstrar, pensamentos ou impulsivos intrusivos de caráter sexual, apresenta duvidas religiosas ou moralidade excessiva, apresentam uma necessidade de ter os objetos numa determinada posição, porque assim é o mais correto, demonstram a necessidade de contar, perguntar, esclarecer e confessar e ainda têm medo de certos números, cores ou palavras.

Quais as compulsões mais comuns?

As pessoas demonstram comportamentos compulsivos a nível das lavagens, limpeza quer pessoal quer do espaço onde habitam, exibem repetição de palavras, comportamentos, verificam constantemente o gás, fecho das portas, janelas, torneiras entre outros, tocam, batem, esfregam determinados objetos ou partes do corpo, contam objetos e palavras, organizar e colocar em ordem objetos de acordo com a assimetria desejada, colecionar objetos inúteis não valiosos.

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Curiosidades

Dois por cento é a percentagem estimada para a prevalência mundial desta patologia. Num estudo efetuado sobre esta temática, verificou-se que 65 por cento manifestaram este comportamento antes dos 25 anos e os restantes 15 por cento após os 35 anos.

Os Homens desenvolvem este comportamento mais cedo que as mulheres. O tempo do aparecimento dos primeiros sintomas, diagnóstico e tratamento varia entre oito a 10 anos.

Esta perturbação varia de cultura para cultura, pais para pais, no que diz respeito à sua frequência e ao nível do conteúdo das obsessões. É mais frequente nas mulheres mas são mais os homens que procuram ajuda.

Ao longo da perturbação é mais frequente haver mudança de comportamento entre as verificações e as lavagens

A pessoa reconhece que tem ações que são ilógicas, absurdas e sem sentido.

É uma perturbação que potencializa o isolamento, fazendo com que as pessoas passem anos sem dizer nada e tentam esconder o que se passa, por medo de serem avaliadas.

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Tratamento

Para que o tratamento produza efeito, são necessárias duas formas que segundo a investigação cientifica tem demonstrado grandes taxas de sucesso. São elas a farmacologia e simultâneo com o acompanhamento psiquiátrico e a intervenção terapêutica recorrendo a uma abordagem cognitivo-comportamental, que tem como objetivo enfrentar as obsessões e em simultâneo impedir a realização de atos compulsivos.

É um tratamento interventivo na medida em que o paciente executa exercícios cuidadosamente preparados de forma a permitir que com as sessões o mesmo passe a controlar a sua obsessão e extinguir as compulsões e devem ser feitos na presença do terapeuta e executado entre as sessões.

Critérios de Diagnóstico (Obsessão)

Deve pelo menos ter em simultâneo quatro condições:

Pensamentos, impulsos ou imagens mentais, recorrentes e persistentes, que são experimentados, durante algum período da perturbação, como intrusivos e inapropriados e que causam ansiedade ou mal-estar intensos.

Os pensamentos, impulsos ou imagens mentais não se referem simplesmente a preocupações excessivas sobre os problemas da vida do dia-a-dia.

A pessoa tenta ignorar ou suprimir esses pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou acção.

A pessoa reconhece que esses pensamentos obsessivos, impulsos ou imagens são um produto da sua mente (não são impostas do exterior como na inserção de pensamentos).

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Critérios de Diagnóstico (Compulsão)

Tem que ter a presença das duas seguintes condições:

  1. Comportamentos repetitivos (por exemplo, lavagem de mãos, atos de organização, verificação) ou atos mentais repetitivos (por exemplo, rezar, contar, repetir palavras mentalmente) que a pessoa se sente compelida a executar como resposta a uma obsessão, ou de acordo com regras que têm de ser aplicadas de uma forma rígida.
  2. Os comportamentos ou atos mentais destinam-se a evitar ou reduzir o mal-estar ou a evitar uma situação ou acontecimento que provoca medo; no entanto, estes comportamentos ou actos mentais ou não se relacionam de uma forma realística com a situação que se destinam a neutralizar ou evitar, ou são claramente excessivos.

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Critérios de Diagnóstico (Perturbação Obsessiva-Compulsiva)

Para que haja um diagnóstico correto desta perturbação é preciso existir obsessões e/ou compulsões e ainda:

Nalgum momento ao longo do curso da perturbação, a pessoa reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais ( isto não se aplica a crianças).

As obsessões ou compulsões geram forte mal-estar, consomem tempo (mais do que uma hora diária) ou interferem significativamente com a rotina normal da pessoa, o funcionamento profissional (ou académico), ou as atividades sociais ou relações interpessoais.

Se existir outra perturbação do Eixo 1, o conteúdo das obsessões ou compulsões não se limita a essa perturbação (exemplo: preocupação com alimentação, no caso de uma perturbação do comportamento alimentar; arrancar cabelos, no caso de tricotilomania; preocupação com a aparência pessoal no caso de perturbação dismórfica corporal; preocupação com drogas no caso de perturbação por utilização de substâncias; preocupação com a possibilidade de ter uma doença grave no caso de hipocondria; preocupação com impulsos ou fantasias sexuais no caso de parafilia; ou ruminações de culpa no caso de perturbação depressiva major).

A perturbação não é causada pelos efeitos fisiológicos directos de uma substância (por exemplo, drogas de abuso ou medicação) ou de um estado físico geral.

Aproveito, por fim, para desejar a todos os leitores do “Etc e Tal Jornal” um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo 2015. Não se esqueçam que é importante manterem-se saudáveis a nível físico mas também a nível psicológico, pois ambas estão interligadas para que o corpo funcione como deve ser!

Até para o ano e espero por si, aqui na coluna “Psicodúvídas” em 2015!

 

Fotos: Pesquisa Google

 

01nov/dez14

 

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2 Comments

  1. Mariana Correira (São Paulo - Brasil)

    Caro Barros. Li seu artigo com atenção e gostei. Força aí. E força também para o jornal que está muito bom. Sou emigrante portuguesa no Brasil há dez anos. Estou em S. Paulo.

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