José Luís Montero
Acabou-se o dono disto tudo, mas, esse tudo que era de alguém, continua a ser de algum outro. Nada mudou; quem paga os desvarios financeiros ou os desvarios político-financeiros do Banco de Portugal e da sua hierarquia política é o mesmo. Esse mesmo que exerce de “ Paganini” não muda; é eterno; nunca aparece um outro; é sempre o mesmo e agora os ilustres parlamentários também lhe chamam o “mexilhão”. O mundo Espírito Santo colapsou.
Pelo meio e como prólogos e epílogos temos uma cruenta guerra de interesses de Poder e riquezas. Temos a verdade contada entre mentiras e temos a mentira como discurso correto e único. Temos os partidos a não saber transpor para o domínio público as fermentações jacobinas passadas pelos corredores satânico das decisões. Temos a “governance” em todos os sentidos a governar de costas para Povo. O Povo paga; essa é a sua missão; esse é o seu destino enquanto não assumir que contra o Poder que legisla o caos e a pobreza tem o poder do coice.

Mais que pelo Ricardo Espirito Santo, interesso-me pelas almas feridas na sua ambição. Interesso-me muito mais pelo Ricciardi. Pelo delfim designado que – no juízo final- viu o seu nome substituído. Atua como um animal ferido; saca as garras e reparte prendas de verdades que não são tal porque expande os queixumes das suas ambições frustradas. Com estilo bronco; com impulso guerreiro dispara bacamartes; canhões e pedras se as tiver à mão, mas, analises só as que podem configurar uma enorme nebulosa capaz de impor o seu capricho de Poder como um direito sanguíneo e legitimado.
O amigo de Pedro Passos Coelho canta, mas, não encanta; está numa guerra perdida e procura desesperadamente prolongar a batalha final quando na planície só há escaramuças entre uns quantos sobreviventes que guerreiam para salvar a vida e fugir. Só esse hipotético Espírito Santo cristão o poderá salvar e fazer-lhe essa justiça pela que clama. Mas, a existência desse Espírito Santo é duvidosa para os agnósticos e inexistente para os ateus. Ricciardi Espirito Santo entra, sem alternativa, para o mundo poético dos derrotados à porta do castelo. O sangue que pode provocar na escaramuça final não é mais que as gotas provocadas pelas derradeiras espadeiradas.
Como quem paga está sentado a contar os tostões que o levarão ao fim do mês deixemo-nos de espíritos. Derivemos para o delírio dos sonhos que ainda não pagam IVA. Imaginemos que o fim do Império Espirito Santo acaba felizmente; imaginemos que são condenados por este golpe jacobino o amigo do Ricciardi, Passos Coelho, o próprio Ricciardi, a “governance” do Banco de Portugal e os restantes membros do grupo GES. Imaginemos que o Carlos Costa tem que devolver todos os ordenados ganhos no BdeP; o Passos Coelho ainda tem que pagar por ter vendido, também, a EDP; o Ricciardi deve fazer a terapia do riso; o Ricardo Salgado tem que fazer exibições de descontrolo emocional e o Cavaco e Silva decide emigrar.
Imaginemos que tudo isto acontece e também que o cidadão não tem que rascar o porta-moedas. Então, nos terreiros do País, de norte a sul incluída a Madeira do Jardim, far-se-iam arraias e o vinho correria com fartura. A ressaca seria a boa disposição e o clamor alegre da cidadania correria para lhe comunicar ao esquecido de toda a história recente, chamado Paulo Portas, que as comissões dos submarinos ficarão esquecidas sempre e quando demita irrevogavelmente.
Portugal continuaria finalmente o seu trajeto virado para o mar, mas, sem embarcar. Toda a gente seria banhista e esta onda de turismo infernal que enche as ruas do País de calções curtos e meias cor-de-rosa, poderia bronzear-se sem temor a pagar minipratos a dez euros. Portugal seria outro e não aquele que em tempos sempre pagava os descontrolos do Poder e dos seus poderosos. Principalmente, porque o Durão Barroso também ficaria pelo estrangeiro e o Santana Lopes refundaria o Frágil onde passaria a sua reforma a vender imperiais ao módico preço de um euro.
O Marcelo Rebelo de Sousa não teria que entrar na dialética da verdade-mentira com o Ricciardi e o Marques Mendes conheceria todas as suas sociedades. Os vistos Gold seriam uma metáfora e os partidos deixariam de ter finanças duvidosas porque passariam a melhor vida. Deliremos e sonhemos enquanto estão isentos de IVA. É o melhor porque, em primeiro e único lugar, é obsceno ouvir uns senhores a falar no Parlamento de milhões; biliões de euros perdidos, desaparecidos ou mesmo ganhos quando o desemprego anda no 23% e uma imensidão de cidadãos contam pelas unhas os dias de plena pobreza.
É Ano Novo e estamos cheios de coisas velhas. No meu tempo de menino e moço, existiam uns senhores chamados ferro-velho que passavam pelas casas e recolhiam o velho ou em desuso. Penso que se deveria recuperar esta velha profissão para que estas “gorduras” que se revelaram após a arrecadação das ideias de Abril. Abril foi um sonho, no entanto, depois um Novembro meteu-lhe o IVA e hoje Portugal está sem corpo para o próprio IVA; está moribundo.
Fotos: Pesquisa Google
01jan15