Estive há dias na “Casa Barbot” numa simpática tertúlia poética e uma amiga, de seu nome Marisa Silva Santos, veio mostrar-me um livrinho de poesia que achei uma maravilhosa relíquia. O nome da autora dizia-me alguma coisa relacionada com o jornal “O Primeiro de Janeiro” , mas nada de certezas. Trouxe o livro, apaixonei-me pelas palavras que guarda e quis saber mais coisas sobre a autora e a sua obra. Convosco, partilho hoje o pouco que descobri da vida desta mulher da poesia e do seu legado. Obrigado Marisa.
Marta de Mesquita da Câmara foi professora, poetisa, jornalista, autora e tradutora de literatura infantil. O seu primeiro livre Triste, saiu em 1924. Seguiram-se “Arco-Íris” (1925), “Pó do Teu Caminho” (1926), “Conte UmaHistória” (contos infantis, 1940), “Poesias Completas” (1960), “Recreio” (contos, 1960), e outros. Colaborou com vários jornais, com destaque para “O Primeiro de Janeiro”, usando o pseudónimo de Tia Madalena. De família açoriana, de nível cultural elevado, era prima do poeta Roberto de Mesquita (1875 – 1924
Nasceu e viveu no Porto. A sua obra foi elogiada por Jaime Cortesão, José Régio e outros. João Gaspar Simões chegou a compará-la a Florbela Espanca.
POUCOCHINHO
Toda a minha humildade te pertence
E tudo o que eu tiver é teu também
Mas se a beleza só domina e vence
Sou pobre como JOB, como ninguém
Esta dor não há nada que a compense
Pretendermos legar o nosso bem
E nesse transe a gente veja e pense
Que é pouco ou nada tudo quanto tem…
Oxalá não precises…todavia
Se o mundo te mentir e se algum dia
Tu tenhas sede de afeição sincera,
Bate á porta fiel do meu carinho
Guardado, encontrarás o poucochinho
Que dentro da minh’alma cá te espera!…
SER MULHER
Tu sabes lá que triste é ser mulher!…
Qualquer coisa tão frágil como a renda
Que raga aonde quer que mal se prenda
Que por seu mal se prende aonde quer…
E quantas pelo mundo a padecer
E tantas sem um braço que as defenda
Como estrelas em noite má, tremenda
Se despenham pra nunca mais s’ erguer
Destino de mulher, que dor encerra!
Não há nada mais triste sobre a terra
Que sentir tão amargo e tão profundo
A mais feliz de todas, por seu mal,
Não passa duma lágrima afinal
Correndo sobre a face deste mundo!…
TRISTEZA
Como as ervas de humilde condição
Que ninguém colhe e ninguém procura
Ficará o meu tesouro de ternura
Condenado à mais triste condição…
O mal que me tens feito, sem razão,
Porque excede os limites da tortura
Rejeitar-nos alguém por desventura
Aquilo que se dá do coração!…
Oh! difícil é dar sem ter o quê…
Mas receber da mão de quem nos dê
É tão fácil, meu Deus, e não m’aceitas!…
Se nada peço que razões alegas?
Eu não choro o carinho que me negas…
Eu choro sobre o meu que tu rejeitas!…
Coordenação: Maria de Lourdes dos Anjos
Fotos: Pesquisa Google
Fontes: Wikipédia
01mar15
Venho informar que a fotografia exibida nesta página não tem qualquer relação ou parecença com a minha tia D. Marta Mesquita da Câmara.
Quem estiver interessado em uma foto genuína,queira contacte-me em pclima57@gmail.com
Agradeço-te, Lourdes, por me teres surpreendido com poemas que traduzem tão bem a o amor e a vida da mulher.
Obrigada amiga Lurdes dos Anjos por ter partilhado poesia tão bela desta senhora que não conhecia. Adorei! Muito 0brigada pela partilha. Um abraço com muito carinho,