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Agostinho da Silva

George Agostinho Baptista da Silva, mais conhecido por Agostinho da Silva, nasceu no Porto a 13 de Fevereiro de 1906, na Travessa do Barão de Nova Sintra, n.º 67 (actual 126), na freguesia do Bonfim, sendo filho primogénito de Francisco José Agostinho da Silva e de Georgina do Carmo Baptista da Silva.

No mesmo ano do seu nascimento, por motivos de transferência de seu pai (3.º aspirante da Alfândega do Porto), mudou-se para Barca D’Alva, onde viveu os primeiros anos de vida e onde nasceram duas irmãs que faleceram com poucos meses de vida.

Com a promoção do pai, voltou ao Porto, sendo inscrito na Escola de S. Nicolau e frequentando, mais tarde, o curso liceal, na instituição que hoje é o Liceu/Escola Rodrigues de Freitas, onde concluiu o curso liceal com a classificação de 20 valores.

Em 1924, matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (primeira Faculdade de Letras do Porto, instituição fundada por Leonardo Coimbra, a qual funcionou entre 1919 a 1931, situada na Quinta Amarela, na Rua Oliveira Monteiro), concluindo em 1928, o curso de Filologia Clássica, com a classificação final de 20 valores.

A sua passagem pela Faculdade de Letras foi marcada por uma grande actividade, quer como líder estudantil, quer intelectualmente por se destacar, já nessa altura, por algumas publicações sobre Filosofia e Literatura, bem como por conferências que proferiu.

O seu doutoramento teve lugar em 1929, tornando-se o primeiro doutor da Faculdade de Letras, criada em 1919.

Frequentou a Escola Normal Superior de Lisboa e, em 1931, com uma bolsa de estudo da Junta de Educação Nacional, partiu para Paris, onde estudou História e Literatura, na Sorbonne e no “Collège de France”.

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Entretanto, foi dando aulas e, em 1935, foi exonerado do ensino oficial por se ter recusado a não assinar a Lei Cabral (Decreto 27. 003) que obrigava todos os funcionários públicos a jurar não pertencer a nenhuma sociedade secreta. Sem trabalho, Agostinho da Silva começou a dar explicações de Filosofia, Cultura Portuguesa, Direito, assim como aulas no ensino privado.

Ainda em 1935, obteve uma bolsa de estudo do Ministério das Relações Exteriores de Espanha, para onde foi fazer investigação, até 1936.

Entre 1937 e 1943, Agostinho da Silva percorreu o país fazendo palestras públicas e publicando os seus famosos “Cadernos de Informação Cultural” que versavam áreas como a educação, a arquitectura e a religião e que tinham como objectivo a veículação educativa e cultural a nível nacional, o que veio a afrontar o próprio programa educativo do Estado Novo, bem como abriram hostilidades com a Igreja Católica, sobretudo os cadernos “O Cristianismo” e a “Doutrina Cristã”, o que teve como consequência a sua prisão pela PVDE, na Prisão do Aljube, em regime de incomunicabilidade, durante 18 dias.

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Depois de libertado foi-lhe imposta a pena de residência fixa que cumpriu no Algarve, na casa da Praia da Rocha, em Portimão. Foi aí que escreveu alguns ensaios filosóficos mas, a situação económica era insustentável a nível familiar e, em 1944, partiu com a mulher, Berta David, e os dois filhos (Pedro Manuel e Maria Gabriela) para o exílio, na América Latina. Viveu em vários países, nomeadamente, no Brasil, Uruguai e Argentina regressando, definitivamente, ao Brasil, onde viveu com a segunda mulher, Judith Cortesão, da qual teve seis filhos.

Deu aulas em diversas Universidades e Institutos colaborando, em 1962,  na fundação da Universidade de Brasília, onde criou o Centro de Estudos Portugueses. No Brasil, além de desempenhar funções docentes, ocupou cargos importantes no domínio da investigação histórica e mantendo ligações com várias universidades brasileiras, assim como do Uruguai e da Argentina.

A sua vida no Brasil foi marcada pelo convívio com outros exilados portugueses, entre os quais se destacou Jaime Cortesão, com quem colaborou na Biblioteca Nacional.

Equiparado a bolseiro da UNESCO, viajou até ao Japão, em 1963, onde leccionou Português, em Tóquio. No Oriente, conheceu ainda Macau e Timor, onde igualmente divulgou a língua e cultura portuguesa.

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Em 1969 deixou o Brasil devido, sobretudo, à chegada da ditadura ao território e regressou a Portugal, onde se vivia já a “Primavera Marcelista”. Durante esse período, dedicou-se especialmente à escrita e, a partir da Revolução de Abril, regressou ao ensino universitário.

Homem de uma cultura profunda, eminente filósofo, poeta e ensaísta, defensor da liberdade do Homem e do Espírito, falava 15 línguas e dois dialectos africanos, sendo detentor de um currículo vasto e pluridimensional: publicou mais de 60 obras, deixando um legado de uma importância cultural considerável, pelo que é referenciado como um dos principais intelectuais portugueses do século XX.

O homem que um dia afirmou que “[…] a vida só é vida real quando sentimos fora de nós alguma coisa de diferente […]”, morreu em Lisboa a 3 de Abril de 1994, com 88 anos de idade.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

 Fotos: Pesquisa Google

Por vontade da autora, e de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

 

01abr15

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