A consciência de que as dunas são fundamentais para a defesa da Costa contra o avanço do mar, já alguns anos permitiu, numa estreita faixa de contacto entre o mar e a terra, no litoral de Vila Nova de Gaia marcado por uma intensa pressão urbanística, que os ambientalistas sensibilizassem os autarcas a comprometerem-se com projetos ambientais ao longo dos vários quilómetros de costa deste concelho, inicialmente através da construção de passadiços, que, com a posterior implantação de paliçadas se vieram a mostrar eficazes na consolidação e reforço do cordão dunar.
Não restarão dúvidas de que esta importante e assumida aposta na defesa da orla costeira de Gaia e, da sua continuada monitorização pelo Parque Biológico de Gaia, bem como o posterior projeto de reforço de consolidação do cordão dunar entretanto apresentado pela Câmara Municipal de Gaia, em 2009, em que se propunha poder utilizar tecnologia holandesa, através de geotubos que consistem em grandes tubos de polipropileno, cheios no local com areia, visando provocar a sedimentação da areia que anda em deriva oceânica, para, como foi afirmado na altura, “conquistar terra ao mar”.
Aposta na defesa da costa que acabou por ser determinante para esta frágil zona do litoral a sul do Douro, suportar sem significativos efeitos erosivos ou outros danos de destruição de equipamentos públicos, as consequências resultantes dos últimos invernos de maior intensidade da agressividade marítima que deixou profundas marcas ao longo do litoral português.
Comprovada a eficiência e vantagens de estruturas sem recurso a obras pesadas, como são os passadiços e as paliçadas em madeira, a sua manutenção e preservação continuam a ser uma prioridade que vai merecendo pontuais e localizados ajustamentos das estruturas dos passadiços á própria evolução da consolidação dos campos dunares através do reforço e renovação das paliçadas.
Quem percorre as praias de Gaia através dos passadiços ou das pistas ciclovias que ligam as margens do rio Douro a Espinho, para além da beleza natural e qualidade de vida proporcionada por este miradouro sobre dunas com vista privilegiada para o mar, tem também a oportunidade de observar e registar a valorização de tais acessibilidades para se poder continuar a contemplar tão majestosa paisagem e património ambiental.
Deixando para trás a Capela do Senhor da Pedra que resiste á fúria do mar no inverno, e agora, de novo rodeada pelo extenso areal que se acumula entre as praias de Miramar e Aguda, beneficiado naturalmente pelo paredão do porto de abrigo para as embarcações de pesca da praia da Aguda, que tem igualmente servido de base de apoio para a alimentação artificial de praias mais sujeitas a erosão, como a que decorreu no ano de 2014 nas Praias de Salgueiros, Valadares e da zona a sul da Ribeira da Aguda. Para além da substituição das estruturas dos antigos passadiços construídos com base em travessas de caminhos-de-ferro, vão surgindo aos olhos de quem por ali faz saudáveis e agradáveis caminhadas, sinais das intervenções realizadas para a consolidação do cordão dunar através da implantação de paliçadas ou regeneradores dunares. Intervenção que a sul da praia da Aguda a erosão mais intensa obrigou a significativas alterações e recuos no traçado dos novos passadiços e pontões para as travessias pedonais sobre linhas de água.
Sensibilização ambiental
Percorrida a parte central da zona balnear da Granja pela pista ciclovia, com o mar a fustigar a “Meia-Laranja” e toda a sua emblemática escadaria de acesso ao pouco areal naquela zona rochosa, já em avançado estado de destruição causada pela erosão que ali se faz sentir, o campo dunar entre Granja – S. Félix da Marinha e Espinho, ainda que tenha beneficiado de prolongados sistemas de paliçadas paralelas às já degradadas, mas fundamentais na consolidação das dunas. Acaba também por ser uma das áreas em que a renovação dos passadiços obrigou a significativos recuos e adaptações à nova realidade da erosão costeira em pontos mais críticos e vulneráveis às tempestades do inverno do ano passado, como acontece a sul da Ribeira da Aguda em que já este ano, o aumento do caudal da linha de água e a sua pressão na direção do mar, provocou um acentuado desbaste de duna e desmoronamento de parte das estruturas das novas paliçadas.
Os apelos à conservação da natureza e da biodiversidade são uma constante ao longo de mais de uma dezena de quilómetros de passadiços, tentando pedagogicamente sensibilizar para o adequado comportamento humano neste paraíso, bem como idênticos cuidados a ter com animais domésticos, como os cães. Campanha com vista à consolidação do cordão dunar de Vila Nova de Gaia, que tem como entidade promotora, o Parque Biológico de Gaia através de programas comunitários como o QREN – Quadro de referência Estratégica Nacional ou o Programa Operacional Regional do Norte.
Quem presta atenção à informação ao longo das zonas intervencionadas, pode ficar ainda mais desperto para a necessidade de preservar esta estreita faixa de contacto entre o mar e a terra, no litoral, como sendo “refúgio de uma vegetação notável e peculiar que fixa a areia e impede que a duna se destrua e o mar entre terra adentro. Uma duna sem vegetação não é uma duna e rapidamente será destruída”. Um alerta que sensibiliza ainda para o papel dos passadiços sobre-elevados de forma, “a permitir a circulação da areia e o crescimento de plantas interferindo o mínimo sobre o sistema dunar” evitando o pisoteio desordenado e ao mesmo tempo permitir o acesso à praia, impedindo desta forma a destruição da vegetação das dunas cuja biodiversidade é bem visível nas zonas de dunas envolventes, em que se pode observar as plantas devidamente identificadas em placares ilustrativos de tal riqueza.
Ainda que nem sempre respeitadas, nomeadamente em época balnear, as paliçadas merecem redobrada sensibilização para a sua preservação, uma vez que, com esta técnica, “a vegetação das dunas fixa as areias, e faz com que as partículas transportadas pelo vento diminuam de velocidade ao baterem contra os caules o que contribui para o aumento do tamanho da duna”.
Uma técnica que particularmente entre S. Félix da Marinha e Espinho são bem visíveis os seus resultados práticos, com os antigos sistemas de paliçadas completamente soterrados, dando origem a nova implantação destas estruturas que permitirão o crescimento do campo dunar que ali se consolida significativamente, deixando mesmo o passadiço cada vez mais a um nível inferior e sucessivamente sujeito a ser soterrado com a deslocação de areias.
Por fim, nesta reportagem que resulta de uma caminhada pelas praias de Gaia de norte para sul, a “fronteira” com Espinho é assinalada por uma velha ponte em madeira que estranhamente permanece sem intervenção para a sua manutenção e sobretudo segurança de quem ali passa diariamente por entre este corredor natural através do passadiço entre as praias de Gaia e Espinho ligadas neste ponto limite por uma estrutura em estado de ruinas, que nenhum dos municípios parece querer assumir responsabilidades para uma necessária intervenção antes que seja tarde demais.
Texto e fotos: José Lopes
01abr15