Nem mesmo a visita do presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, à unidade industrial Tovartex do grupo alemão Falke, realizada em fevereiro deste ano no âmbito do périplo do autarca pelas empresas do concelho, conseguiu demover esta multinacional de encetar mais um processo de despedimento coletivo que acabou de lançar durante o mês de março mais 30 trabalhadores para a situação de desemprego, continuando assim a inquietante redução de postos de trabalho num concelho já de si marcado pelo drama do desemprego jovem e de longa duração.
Em resposta ao Bloco de Esquerda de Ovar, que denunciou mais este despedimento, Salvador Malheiro, na sequência da visita que fez à empresa e da reunião com a sua administração, disse, “tivemos oportunidade de auscultar os reais problemas com que se confronta nomeadamente, com os custos energéticos, com os custos da água e com a concorrência provocada pela mão-de-obra mais barata”.
Perante mais este despedimento numa empresa que já teve 700 trabalhadores, o autarca de Ovar acrescenta que, “Por parte do Município de Ovar foram apresentadas todas as medidas Municipais de combate ao desemprego e apoio ao empreendedorismo tendo sido disponibilizado todo o apoio possível, nomeadamente ao nível da AdRA SA (Águas da Região de Aveiro), para que se possa fazer face às consequências desta situação”, conclui em missiva dirigida ao Bloco que tinha feito chegar à Câmara um documento em que alertava para um cenário que, “contrastando com a propaganda do Governo sobre os mais recentes dados do INE (Instituto Nacional de Estatísticas) que tem mudado a metodologia de contabilização do desemprego, cujos indicadores apresentaram que a taxa média anual do desemprego caiu 2,3 pontos percentuais em 2014 comparativamente a 2013, quando baixou sim, o número de inscritos nos centros de emprego.
A euforia governamental contrariada pela ausência de criação de emprego, que resulta no agravamento do aumento do desemprego entre -os jovens. Não chegou a Ovar em que a empresa têxtil Tovartex volta a despedir mais três dezenas de trabalhadores, cujo destino é serem empurrados para os Contratos Emprego Inserção (CEI) através do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) como mão-de-obra disponível ainda mais barata”.
O despedimento coletivo entretanto realizado e que envolveu 31 trabalhadores prossegue o ritmo de redução de efetivos de uma empresa que ainda em 2013 tinha também despedido 50 trabalhadores em nome da deslocalização de produção para a Sérvia com mão-de-obra ainda mais barata.
Trata-se de uma multinacional de produção de meias há vários anos instalada em Ovar que para além da unidade portuguesa, tem ainda empresas na Sérvia, Tunísia e Itália. Depois de já ter encerrado a da África do Sul a dúvida começa a pairar sobre qual o futuro desta unidade fabril em Ovar tendo em linha de conta a politica seguida, de redução de trabalhadores efetivos e sempre que as necessidades de produção o exige, recorre a trabalhadores CEI mais baratos.
Bloco de Esquerda condena situação
A estrutura local do BE denunciou esta prática de exploração de mão-de-obra barata e sem direitos no caso da Tovartex, que a exemplo de anteriores experiências, despede para depois recorrer aos desempregados inscritos no IEFP. “Uma bizarra relação laboral em nome da crise, e a coberto das políticas que vêm sendo seguidas pelos governantes, que facilitam e promovem tal precariedade dos trabalhadores portugueses” afirma o Bloco.
Entretanto, a comissão coordenadora de Ovar do Bloco de Esquerda fez igualmente chegar ao respetivo Grupo Parlamentar na Assembleia da República tal preocupação sobre a cíclica redução de trabalhadores na Tovartex de que resultou um requerimento dirigido ao Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social em que são feitas perguntas como,
“Por que razão o Governo e o IEFP aceitam e autorizam contratos do tipo CEI e CEI+ a empresas que tem um historial recente de despedimentos e de substituição de trabalhadores por desempregados a trabalhar de graça?” ou ainda, “quantos mais exemplos de exploração e de abuso em torno dos CEI e CEI+ será necessário elencar para que o Governo decida substitui-los por outros programas que efetivamente criem emprego e não apenas precariedade?”.
Texto: José Lopes (*)
Fotos: Pesquisa Google e CM Ovar (Facebook)
(*) Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar
01abr15