José Luís Montero
Os candidatos à Presidência da República são simpáticos. O Marcelo Rebelo de Sousa fala dos netos; da filha e enche os leitores de ternura. Os avozinhos são figuras simpáticas e se sabem de medicina transmitem a ideia do velho bruxo da tribo e os leitores têm sensação de proteção.
O Sampaio da Nóvoa é diferente, no entanto, quando relata as viagens para férias no carocha onde não faltava o cão, nem a criada ficamos a pensar na fraternidade amontoada e temos a sensação que o Sampaio da Novoa foi beijado, desde criança, por um profundo humanismo. O leitor fica tão terno que sonha com as viagens enlatadas no carocha do candidato presidencial. Os candidatos são tão humanos que parecem doces de mel.
Aparece no baile da ternura Maria de Belém, mas, como o poeta Manuel Alegre diz, assertivamente, que é uma socialista substantiva ficamos com a sensação que estará no baile mas, não terá quem dance com ela. Dar-nos-á tristeza. Sentir-nos-emos solidários com a sua solidão substantiva. Será a noiva sem noivo no baile nupcial das eleições presidenciais. O leitor desejará escrever-lhe um poema; enviar-lhe uma rosa branca ou oferecer-se como par de compromisso. No meio de tanta ternura, a tristeza substantiva da Maria de Belém convida ao compromisso. Talvez Santana Lopes possa ser o seu acompanhante no baile da ternura. O Frágil foi uma discoteca onde se dançava e se transmitia ternura; onde se escorraçava a solidão; onde a necessidade de parceiro era substantiva.
Confesso que ao escrever esta crónica presidencial, sinto-me sedento. Corro, então, e arranjo um copo bem grande e encho-o de água. Bebo até sentir-me refrescado. Saciado. Aliviado. Com vontade de voltar sobre a vida dos presidenciáveis. São pessoas célebres cheias de viva passada. O Sampaio da Nóvoa, além de estudar no estrangeiro, viveu em Coimbra numa espécie de República de estudantes autogestionada. Quando relata este facto volto a sentir uma imensa ternura e fico pensativo. Pergunto-me mil coisas, no entanto, há uma pergunta mais constante: que lhe terá acontecido que não revela para ir da autogestão ao baile presidencial passando pela reitoria da Universidade? O seu percurso é estranho. Se fosse um adicto ao voto faria imediatamente duas considerações; a primeira seria: trocou de casaco. A segunda talvez fosse mais simples: quem muda assim, não é de fiar; nunca se sabe onde pode estar amanhã… Portanto, não teria o meu voto, no entanto, como não sou adicto ao voto, aforro-me estas dúvidas e estas conclusões.
O Marcelo Rebelo de Sousa, nestas coisas, só nos leva à ternura. É a figura do avó que – coitado- não sabe bem se a filha é mais de esquerdas que ele… Isto aviva os poros da minha pele e fico meio galo, meio galinha. Não há nada mais ternurento e politicamente sensível. Evidentemente, como não se deseja que um Presidente inspire ternura, mas, sim confiança, também estaria fora das possibilidades de voto. Sentir-me-ia abraçado pela solidão substantiva tal como a Maria de Belém. O meu voto permaneceria casto e sem possibilidade de penetrar na urna. Ficaria triste e sem par no baile do sufrágio. Baile que como se demonstrou recentemente na Grécia é baldio. O voto não altera o premeditado pelos anjos clandestinos do Poder. O voto nem chega ao grau de mentira piadosa; é, simplesmente, uma mentira.
Só votaria, nestas circunstâncias, se o Santana Lopes promete-se revitalizar o Frágil e acrescentasse que a música do ACDC tornar-se-ia a música oficial das discotecas do País durante o seu mandato. Seria um mandato cheio de energia e de simbolismos hedonistas. A Lua estaria presente no coração da cidadania e mesmo que a sua praxis como Presidente da República não tivesse nenhuma aportação social, as ruas do País vestir-se-iam com decotes sedutores e o batom mais multicolor adornaria a massa em movimento que transita pelas ruas, ruelas e estradas de Portugal e talvez da Europa. Far-se-ia moda e marca. Os turistas arribariam a Portugal e além de procurar sardinhas, vinho e Fado, comprariam batons originais da moda. Apareceriam criadores da questão que abririam lojas em Nova York, Paris e Londres. Exportar-se-iam batons e assim Portugal pagaria a dívida porque ainda que não tenha dinheiro, teria batons.
O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy correria em apoio do Santana Lopes e a Península Ibérica viveria um novo Tratado de Tordesilhas. Repartiriam, novamente, o mundo. Mariano Rajoy criaria a moda do rímel colorido; cheio de viveza mediterrânica que acompanharia o batom made in Santana Lopes. Não seria necessário fabricar caravelas de novo tipo; o batom e o rímel partiriam da Ibéria nos mesmos contentores que enchem a Europa da porcaria que chega da China.
Fotos: Pesquisa Google
01set15
dado que um dia destes teremos tantos candidatos como eleitores, penso que ser candidato é um negócio em franco crescimento. Valha-nos ao menos este índice de crescimento económico