José Luís Montero
Varoufakis, o ex-ministro de economia da Grécia, foi claro e explícito se é que se pode ser claro sem ser explícito: “ os credores são os verdadeiros vencedores”. No entanto, há que referenciar que também se manifestou, com clareza, um forte castigo ao partido Syriza. A abstenção em relação às últimas eleições gerais subiu um 10%; a Grécia nunca vivera um 45% de abstenção.
Se unimos a esta subida da abstenção o voto disperso que fugiu da vergonhosa traição do Syriza depois do resultado clamoroso do referendo, encontramo-nos que muitos gregos fugiram da burla que padeceram. Mas, também não são necessárias as declarações do Varoufakis; se repassarmos as declarações dos principais líderes europeus, incluídos lideres sociais-democratas, sabemos, imediatamente, quem ganhou e quem perdeu. Como sempre, perde o cidadão e lucra sempre o mesmo: o sistema financeiro internacional.
A esquerda institucional – os chamados socialistas; comunistas e a massada de peixe teoricamente mais à esquerda como o BE, Podemos ou Syriza – regozijou-se pelo fato de não perder o Governo, no entanto, ao manifestar esta alegria não evidenciam mais que vontade de Poder já que a traição pós-referendo mostra o valor que estes habitantes das alturas dão à vontade popular que dizem representar. Porque se alegram se não farão mais que gerir as diretrizes marcadas pelo poder financeiro?…
A alegria manifestada, não é alegria; é tristeza. Agora, que há eleições pela terra do Buiça e outros que em épocas passadas arriscaram tudo pela justiça social, presenciamos como o negativo se transforma em positivo e vice-versa. O défice instalou-se em 7,2% pela aventura protagonizada pelo Passos Coelho e o seu Diretor do Banco de Portugal Carlos Costa.
No entanto, o palrador assobiado Passos Coelho, como é um dado negativo em campanha, diz: é só estatística… Como esta ofensa à inteligência do cidadão lhe pareceu pouca soltou airoso e empolgado pelos poucos que não o satirizam ou escarnecem: ainda bem que não se vendeu o Novo Banco porque desta forma está a render…
Os Mídias, logicamente, vão entretendo o Carnaval eleitoral e ocupam páginas e páginas a falar de presumíveis debates transformando-os em análises de vitórias e derrotas como se procurar a governabilidade de um País fosse um Benfica-FC do Porto.
Nada. Depois do famigerado dia eleitoral não sucederá nada a não ser a continuação da pobreza que vive instalada em amplas camadas da cidadania. Uns dirão que venceram e outros com ar de treinadores de futebol, darão uns parabéns cheios de sorrisos amarelos aos ditos vencedores.
Falar-se-á da governabilidade e da ingovernabilidade. Novas ou velhas roupas enfeitarão o cenário da noite eleitoral. Muitos boys partidários roerão as unhas. Muito desejo dirá: a ver se estes não nos cortam mais…
Não, não cortarão mais; segarão o que fica por e para segar. A culpa da segada, com o tempo, será do eterno Sócrates ou do Afonso Henriques. A esta altura do baile pode ser que a culpa, não me estranha, seja atribuída a Eva por tentar o pobre Adão. Nos Cafés ouve-se frequentemente que o grande culpado de tudo, inclusive da ida do Jorge Jesus para o Sporting, é do Afonso Henriques por ter batido na mãe… A ironia que se reflete nestes ditos é das poucas coisas que não está carregada de IVA.
Estamos com ar de Outono; caminhamos para o Inverno e adentramo-nos pelo tempo fora sem nada na mochila. O bucólico Outono está sem folhas para derramar. O inverno não terá nem neves, nem chuvas, nem uvas passas. Um frio gelado está entranhado nos ossos de amplas camadas inclusivamente se a temperatura sobe aos 40º.
As calças curtas, não são curtas; são segadas pela falta de dinheiro. Os chinelos não são a libertação no caminhar; são remendos para não caminhar descalços.
Daqui a poucos dias todos serão vistos e não vistos. Alguns terão tanto atrevimento que farão arraiais vitoriosos. Os deuses gregos que não conseguiram salvar a Grécia da Troica também não salvarão a terra do Mário Castelhano ou do Ferreira de Castro. As levas massivas de refugiados sírios ou as futuras procedentes dalgum outro lugar, serão vividas com vergonha e Alemanha ficará mais feliz por ter refugiados a ganhar um euro por hora.
Europa está morta e não tem quem lhe reze. Somos europeus? Talvez, mas, ser europeu não é aproveitar-se e praticar uma nova escravidão, nem arvorar bandeiras racistas quando chega gente; pessoas, velhos, novos e crianças a fugir do terror internacional. Europa está enterrada. E malvadamente a Religião anda como bandeira e suporte no meio da barbárie. O Maio de 68 do século passado matou os deuses; os mitos; no entanto, algum bruxo ou cartomante de feira conseguiu revive-los. Terão, novamente, que morrer.
Fotos: Pesquisa Google
01out15
Qual o lugar dos que não pactuam com a situação? Que terra de exílio será este nosso país?
SOBRE A SONDAGEM ELEITORAL DA UNIVERSIDADE CATÓLICA E EM FORMA DE APENDICE À CRÓNICA: A CAÇA CRÉDULA
José Luís Montero
Tenho uma amiga que em 1974-75 entrou na Universidade Católica. Foi a única na sua promoção que não precisou de fazer cursinhos para entrar na dita cuja Universidade e alcançou o 1º lugar no acesso à dita coisa. Detestava tanto o ambiente como a Universidade em si. Foi aluna da dita cuja durante o primeiro ano; depois, saltou para a Universidade Pública. Durante a sua pequena estadia na UC dedicou-se a fazer de tudo: teatro e as mais variadas atividades. Os professores com cheiro a água benta ficavam entre perplexos e irritados; as notas da minha amiga sobressaiam. Falou-me alguma vez da dita cuja e não deixava de rir porque, entre outras coisas, aquela gente nem pertencia ao seu mundo, nem parecia ter uma mente disponível para avançar no conhecimento tanto no curso específico como no conhecimento universal. Hoje a dita cuja Universidade salta à palestra eleitoral com uma Sondagem que inclina o resultado eleitoral para os concorrentes da Direita. Eu, hoje, lembrei-me da minha amiga e pensei: “ ela tinha muita razão…estes gajos são mesmo burros…”
Esta sondagem Católica não tem em conta, nem analisa os indecisos. O papel deste setor é muito importante neste torneio. Não percebe o que pode provocar a sua euforia de resultados à Direita. Não percebe que pode provocar de imediato um golpe dos indecisos em direção ao voto útil e cair nas urnas do Partido Socialista. O desencanto político é enorme. É tanto que podemos dizer sem temor a engano que os mais irritados com o governo são pessoas, idosas, reformadas, etc. que votaram na Direita nas últimas legislativas. O sentimento de vingança pode correr como a pólvora. E à esquerda pode acontecer, a velocidade supersónica, que as pessoas arribem ao voto útil no PS para impedir que os cavernícolas da Direita portuguesa e criados de servir da Merkel continuem mais quatro anos a martirizar e endividar de forma galopante a cidadania portuguesa.
Esta sondagem da tal Universidade Católica pode ser o passaporte para a vitória folgada do PS no próximo dia 4. Além disso, há países do entorno (vejam ali ao lado) que não se podem publicar sondagens nos últimos oito dias de torneio (chamam-lhe campanha…) eleitoral. Em Portugal, pode-se… Em Portugal pode-se muita coisa…