José Gonçalves
A 15… de dezembro de 2015. Eis o dia, depois de semanas a conviver com gente irritada, de nervoso miudinho, crispada, indisposta e até, politicamente, malcriada. Tudo seria anormal se não estivesse a falar de representantes da direita radical na Assembleia da República, isto depois do governo (XX) liderado por Passos Coelho, representando a coligação de ultraneoliberais e populares (PàF), ter sido chumbado pela maioria dos deputados eleitos pelos portugueses a 04 de outubro de 2015.
Ao contrário do que os radicais de direita querem fazer crer, Cavaco Silva deu posse, para a formação de governo, à força política mais votada nas eleições. A tal tradição, afinal cumpriu-se, mas, por pouco tempo.
O acordo parlamentar, pós eleitoral, com todos os partidos da esquerda (PS,BE,PCP e Verdes) – tal como aconteceu em 2011, neste caso entre o PSD e o CDS (não se recordam?!) caiu como uma “bomba”; uma “bomba” anunciada logo no período pós-eleitoral, mas que, antes, nunca foi sequer imaginada pelo senhor inquilino de Belém; senhor que, até à última, e, mesmo assim, a custo (e que custo!), teve que aceitar uma nova realidade, um facto histórico, ou seja, uma viragem na vida política portuguesa sem precedentes no Portugal democrático.
O socialista António Costa tomou posse como primeiro-ministro, no passado dia 26 de novembro, formando, assim, o XXI Governo Constitucional, para, a 03 de dezembro último, ver o seu programa de governo aprovado pela maioria dos deputados eleitos para a Assembleia da República, e a direita radical as suas moções de rejeição chumbadas pela referida maioria.
Entretanto, criaram-se papões; tentaram assustar os portugueses, não pelo facto dos comunistas “comerem criancinhas ao pequeno-almoço” (há quem as coma ao almoço e ao jantar e andam por aí como se nada fosse), mas porque estava em perigo a nossa posição na União Europeia e os acordos já celebrados com a mesma; que íamos sair do Euro… e outras coisas que só a desnorteada e desmamada direita radical poderia inventar. “Desmamada”, porque perdeu a mama do poder, que por ele lutou e ainda luta até à exaustão, isto até mesmo contra a minoritária ala moderada da PàF formada, essa sim, por verdadeiros social-democratas e democratas-cristãos (desses, 700 mil não votaram na referida coligação, caso contrário teriam maioria absoluta – recordam-se?).
A crispação, com o passar do tempo, foi diminuindo de “intensidade”, até porque os portugueses começaram a perceber que, mesmo com reconhecidas diferenças ideológicas, a esquerda está unida em pontos fundamentais e cruciais para o desenvolvimento do País e, consequentemente, contra a política de austeridade (mais “trokista” que a troika) incrementada ou legislada pelo (des)governo de Passos Coelho nos últimos quatro anos.
Olhai para os números do desemprego; olhai para os cortes nas reformas; olhai para o crescente número de pessoas no limiar da pobreza, entre as quais, e com percentagem significativa: as crianças; olhai para o número de portugueses que, a convite do antigo p.m., abalaram da lusa nação…
O nervosismo foi tal que, até certos órgãos de comunicação social ligados – direta ou indiretamente – à direita radical, promoveram debates diários para saber quantas semanas duraria a coligação de esquerda; quando poderia cair o governo; quando é que o PCP iria tirar o tapete ao PS e quando é que os socialistas descontentes com o acordo com BE,PCP e PEV começariam a fazer das suas. Resultado destas tentativas de desestabilização e jogos politicamente perversos: Zero. Zero à esquerda.
Repare o(a) leitor(a) que todo este nervosismo só aconteceu em Portugal pois, lá fora, os mercados internacionais e a União Europeia receberam sem alarmismos as notícias deste Portugal em contraciclo; deste país que tem agora como princípios fundamentais a estabilidade, o emprego e a igualdade.
Assim, confirma-se que estas brincadeiras de “lobo mau”, protagonizadas pela direita radical, só tiveram eco no “Portugal dos Pequenitos”, e, mesmo assim, os “pequenitos” mandaram-nos à fava.
Há um governo legítimo! Há um primeiro-ministro legítimo! Ilegitimidade houve durante os últimos quatro anos, com dez (10) chumbos do Tribunal Constitucional a legislações do Governo de Passos Coelho (recordam-se?).
Mas, os radicais de direita e o seu governo – que tinha como “vice” (recordam-se?) um irrevogável-revogável -, ainda tentaram fazer das suas até aos últimos minutos de vida. Tentaram privatizar a TAP já depois de ter sido destituído pela Assembleia da República. Tentaram privatizar os serviços de transportes de Lisboa e Porto. Tentaram, mas não conseguiram.
O que conseguiram foi estagnar o PIB no terceiro trimestre de 2015; não devolver a tão prometida sobretaxa do IRS, que antes das eleições de outubro, seria de 35 por cento, para chegarmos hoje com… zero por cento. Nada pra ninguém! Lindos meninos.
Mais há mais: o governo radical de direita – tal que dizia ter os cofres cheios – gastou em novembro, pelo menos 278,3 milhões de euros da tal “almofada” financeira de 954,4 milhões de euros prevista no Orçamento de Estado para 2015, contribuindo desta forma, para que o défice possa não baixar dos três por cento, e se venha a fixar nos 3,7 pontos percentuais. Bonito legado. Que bonito! Lindo…lindo serviço… uma beleza!
Já se sabe – toda a gente sabe! -, que há diferenças entre os partidos que apoiam o governo. Ninguém tem escondido seja o que for. Então, se nada se esconde porque se tem medo da verdade. Têm medo que o governo caia? Que os parlamentares imitem os seus homólogos da Ucrânia ou do Japão e andem à estalada, ao soco e ao pontapé na Assembleia da República? Não!
No fundamental, os partidos que apoiam o governo estão de acordo, e, naquilo que divergem… divergem com toda a coerência e calma política… com estabilidade. Era dessa estabilidade que, há muito, o nosso País precisava. Eis a estabilidade, por mais que os radicais de direita a tentem por em causa, não só intramuros, mas também, e infelizmente, extramuros.
Portugal mudou de rumo. Está alterado um ciclo histórico vicioso, que os radicais de direita chamavam, e ainda chamam, de “tradição”. Qual tradição qual carapuça! Em democracia, a “tradição” é o povo que a faz, e a Assembleia da República é dele representante. Como tal, a maioria dos portugueses – que votaram contra a austeridade do governo radical de direita, muitos deles social-democratas e democratas-cristãos – está lá representada e, na sua maioria, à esquerda do Presidente da Assembleia da República, que também é de esquerda e também ele eleito contra a tradição, a tal “tradição” vista à moda dos radicais de direita.
Deixem trabalhar quem quer trabalhar! Deixem funcionar a pluralidade: um tipo de família de amigos, em que cada um é quem é, mas que como amigos e porque os amigos também fazem acordos, foram escolhidos e formam uma família maioritária na Assembleia da República. Contra factos… meus amigos: não há argumentos!
Quanto às Presidenciais de 24 de janeiro. A 15 de…. Janeiro abordarei a questão.
A todos um Bom Ano! E Boas Festas!
Portem-se mal!
Fotos: Pesquisa Google
15dez15
Gostei da análise política!