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Dialética de Tabernáculo (II)

Benigno de Sousa

Do Mal

“Também tu, Lúcifer

És, em meu vasto império

Um elo necessário. Age, age

Teu frio saber, tua louca negação

São os fermentos que estimularão o homem”

Imbre Madach

As forças fracas da vida lutaram contra as forças de esmagamento do mundo físico por mil modos de reprodução, disseminações inumeráveis dos germes, multiplicação dos óvulos, e por mil modos de ligação: intercomunicações bacterianas; associações de células em multicelulares, proteções de progenitura, associações e animais em sociedade, inter-solidariedade dos ecossistemas, tudo isso permitiu à vida espalhar-se pelos oceanos, alargar-se pelos continentes e lançar-se pelos ares.

sebastianismo

“Sebastianismo; saudade, saudosismo, salazarismo, subserviência. Pátria! Deixaste-te apanhar! Estamos perdidos num oceano gatuno!”

“Já chegaste, ó poeta!” Disse o Zé-povo.

“Cheguei prá vida que luta cruelmente contra a crueldade do mundo e reside com crueldade à sua própria crueldade; a natureza é ao mesmo tempo mãe e madrasta; inquietar, inquietante, inquietação. O que há de horrível no humano é a conjunção da crueldade saída da carência, do excesso, da malvadez. É uma conjunção do mal suportado pelas doenças, fomes, inundações, e do mal cometido para prejudicar e para destruir. É a conjunção da crueldade do mundo e da crueldade humana. Foi isto que o Galvão quis dizer quando disse ter sido uma força diabolus do deus na causa da enxurrada algarvia. Mas mais importante no momento de crise é disponibilidade, solidariedade, paz. Tóne! Quero bacalhau!”

“E como havemos de ultrapassar a crise?” Perguntou o Carolino.

“Justiça.” Intrometi.

“Hum… Justiça…” O Zé-povo impaciente. “Todos os dias espero…”

Realizando gradualmente atos justos, tornamo-nos justos, ou seja, adquirimos a virtude da justiça que, em seguida, permanece em nós de forma estável como um habitatus, que contribuirá sucessivamente para que realizemos com felicidade atos de justiça.

“Oh amigo.” Interveio o Carolino. “Se houvesse justiça não havia tanta miséria.”

“A justiça é cega.” O poeta intrometeu-se. “E por isso mesmo é guiada pelo Homem, mas como ele é errante por vezes injusta se transforma.”

justica - 01 - 01dez15

“Quereis bacalhau?” O taverneiro perguntou. “E vinho tinto?”

“Tône, trás muito e justo!” Disse o poeta e os amigos anuíram.

“A justiça é a virtude mais importante do Homem.” Retornei ao conceito. “O respeito devido à lei do Estado; e visto que esta lei abarca toda a área da vida moral, em certo sentido a justiça engloba toda a virtude. O significado específico de justiça refere-se à repartição dos bens. A justiça, entendida neste sentido, consistirá portanto na justa medida com que se dividem os benefícios, as vantagens e os ganhos, ou os males e as desvantagens.”

“Que justiça seja a suprema virtude ao respeito da lei entendo.” Comentou o poeta no momento em que o taberneiro trouxe os almoços. “Mas na divisão de benefícios, das vantagens e dos ganhos ou o contrário, já duvido da sua aplicação por que causa e efeito não são universais. Por exemplo, se nos perguntarmos quem deve governar o país depois das eleições é quem ganha ou quem perde, diremos que é quem ganha, e é justo. Mas se a decisão política for atribuir o governo a quem perdeu as eleições, diremos que é uma injusta. Porém, a lei permite que assim seja, não é?”

“Entendemos que a justiça é atribuir a cada um aquilo que lhe pertence, digamos ser lei de natureza. Nesta lei de natureza reside a fonte e a origem da justiça. Mas se me derem oportunidade explico.”

fraco mata mais forte

“Não se acanhe,” Disse o poeta, “quando estou a mastigar não posso falar.” “E por mim…” Disse o Carolino. “Mande daí!” “Eu até estou a gostar,” Disse o Zé-povo, “Continue, continue…

“A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa igualmente aspirar.

Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo. Neste sentido houve necessidade que os homens celebrassem pactos, porque sem um pacto anterior não há transferência de direito, e todo o homem tem direito a todas as coisas, portanto, nenhuma ação pode ser injusta. Depois de celebrado um pacto, rompê-lo é injusto. E a definição da injustiça não é outra senão o não cumprimento de um pacto. A partir daqui, justiça e propriedade começam a constituição do Estado.

A natureza da justiça é o cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, também aí que começa a haver propriedade. O Estado é uma sociedade e, chama-se, assim, Estado ou sociedade política. Ora é certo que foi a PAF a ganhar as eleições, contudo, como o nosso sistema político é a democracia representativa de todos os cidadãos e o programa de governo foi chumbado, avança a força política mais votada e consiga fazer maioria no parlamento, que neste caso é a posterior coligação de esquerda, e o Presidente da República deve dar posse.”

principe das trevas

“E é preciso tanto tempo para decidir?” Disse o Zé-povo. “O Presidente anda a ouvir o quê?”

“Foi ouvir as cagarras na Madeira.” Ironizou o poeta.

“A caminho do apocalipse.” Disse o Carolino. “Vejam só o que aconteceu em Paris.”

“A culpa é dos Buches.” Disse o Zé-povo, “Eles é que originaram os terroristas.”

“As crueldades nas relações entre indivíduos, grupos, etnias, religiões, raças, foram e continuam a ser aterradoras. As antigas barbáries que se desencadearam desde os inícios da história humana desencadeiam-se de novo aliadas à barbárie civilizada em que a técnica e a burocracia, a especialização e a compartimentação aumentam a crueldade pela indiferença e pela cegueira; dependência do dinheiro, independência pelo dinheiro e o poder do dinheiro generalizam e ampliam a avidez impiedosa.”

“O mal sofrido como perda, separação, sofrimento, é anterior à humanidade, mas vai culminar na humanidade.”

“O mal cometido para fazer mal não emerge senão em, por, e para a humanidade.

Não podemos escapar ao problema do mal humano.”

“Não se pode erradicar a potencialidade malfeitora do demens, mas o mal está para lá do demens.”

“O príncipe das Trevas não existe, mas simboliza efetivamente o mal que é crueldade subjetiva. Não existe, mas a inclinação satânica existe no espírito humano.”

“É impossível que o mal desapareça, mas é preciso tentar impedir o seu triunfo…”

Fotos: Pesquisa Google

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