José Lopes / Tribuna Livre
A promessa de devolução da sobretaxa de IRS que o governo PSD/CDS (em primeira versão) apresentou como propaganda politica e eleitoral ou fraude eleitoral a poucos dias das legislativas de 4 de outubro, não foi certamente suficiente para a direita em coligação atingir o objetivo eleitoral a que se propôs, uma vez que não obteve um resultado suficiente para governar, acabando por ser derrubado o governo já em segunda versão, pela maioria de esquerda na Assembleia da República.
Tanto mais quando de forma insultuosa ao povo que humilhou durante quatro anos ao querer ser bom aluno da troika, o governo de Passos Coelho e Paulo Portas tentou convencer que devolvia aquilo que andou a subtrair às famílias através da carga fiscal da sobretaxa.
Os mais recentes dados económicos, puseram a nu, que, mesmo que simbolicamente, a questão da sobretaxa veio demonstrar que para a direita ultraliberal as suas promessas não eram mais do que um instrumento eleitoral para enganar os portugueses, e não eram para levar a sério como já não tinham sido as feitas em 2011.
Tais promessas falsas eram mesmo só para ludibriar os eleitores e depois tratar o povo como piegas, e sobretudo como o lado mais fácil para continuar a espoliar salários e pensões, e depauperar ainda mais os serviços públicos, a saúde, a educação ou a justiça. Caminho doloroso que se propunham, através de mais austeridade a impor aos portugueses não fosse, assim estão criadas espectativas, a capacidade das esquerdas se unirem no essencial, para travar com responsabilidade e convicção a política de empobrecimento do país, que a direita revanchista e unida, promoveu ao serviço do capital financeiro.
Defender salários e pensões através da reposição de rendimentos do trabalho e da defesa do Estado Social bem como o aumento do salário mínimo nacional e o combate à precariedade ou recuperar a rede das prestações sociais de combate à pobreza, são o começo de um novo ciclo e a esperança depositada no governo liderado por António Costa, que entretanto tomou posse com a garantia de ser viabilizado no Parlamento pelo BE, PCP e PEV no respeito pelos acordos à esquerda. Este é um caminho realista e diferente do direita, em que se quer que a palavra dada conte, para dignificar a política e os políticos.
Condição fundamental para a sustentabilidade deste acordo entre os partidos da esquerda portuguesa, que não podem neste âmbito do acordo histórico, terem uma prática contrária das promessas que serviram de plataforma essencial para um tal entendimento, que obrigou o Presidente da República mesmo contra sua vontade dar posse ao governo minoritário do PS, com o suporte parlamentar da esquerda resultante da vontade do povo em eleições, que indiscutivelmente, por mais teorias da conspiração, decidiu negar tal possibilidade de governabilidade à coligação PàF (PSD/CDS).
Foi pois a decisão do Povo, determinante para desmistificar a propaganda da direita, bem ao contrário das campanhas bem orquestradas dos comentadores de serviço, que durante estes dois últimos meses se acotovelaram na procura de estapafúrdios argumentos surrealistas e verdadeiramente terroristas, para intimidarem o país com absurdos cenários catastróficos, para justificarem até tentativas de violação da democracia e da própria Constituição.
Cenários fundamentalistas criados imaginativamente por tanta gente capaz de aceitar perigosas aventuras de Cavaco Silva, só para assegurarem a todo o custo a permanência no poder de uma direita humilhada eleitoralmente e que agora, a mentira da devolução da sobretaxa provoca engulhos no seio da coligação entre PSD e CDS o que é natural sem o poder para os unir e para nos continuarem a mentir com a sua intolerância e arrogância que ainda marcou os últimos dias de um governo moralmente sem legitimidade para negócios como a privatização da TAP entre outros embaraços à próxima governação.
O prometido crédito fiscal com que o governo da altura (PSD/CDS) descaradamente enganou os portugueses, em que garantia uma devolução de mais de 30% da sobretaxa como resultado do crescimento das receitas de IRS e IVA no primeiro semestre deste ano, mereceu então críticas da oposição, que acusaram o governo de estar a instrumentalizar a máquina do Estado e a fazer puro eleitoralismo com o sacrifício exigido ao povo a quem cobrou imposto a mais.
Realizadas as eleições e reclamado mesmo o direito a governar, o PSD e CDS que ficaram em minoria no Parlamento sujeitando-se a assistir ao derrube do seu governo minoritário, que se propunha branquear a mentira da subretaxa. Acabaram desmascarados pelos seus próprios cenários de execução orçamental que curiosamente os arautos da desgraça não tiveram em linha de conta nas suas teses sobre a inviabilidade de um governo alternativo à austeridade e ao empobrecimento.
Perante o quadro que confirma que a promessa de devolução da sobretaxa foi um engodo eleitoral, os ganhos para os portugueses são mesmo verem-se livre de tal tipo de governo que caiu a pique, como caiu a sua promessa. Resta pois resistir aos medos e à chantagem que nos querem impingir sobre a viabilidade de um outro caminho, que não pode faltar à palavra do acordo à esquerda, para em vez de falsas promessas eleitoralistas como a da devolução da sobretaxa que se reduz a zero, serem concretizadas medidas que efetivamente combatam o empobrecimento das famílias sem mentiras.
Fotos: Pesquisa Google
01dez15