Pedro Ramajal
- Cavaco Silva gosta muito de citar Cavaco Silva. É compreensível. Para além de eu ter muitas dúvidas sobre se Cavaco Silva conhece outro autor que não Cavaco Silva, já que nunca lê, sequer, jornais, quem haveria Cavaco Silva de citar senão Cavaco Silva, autor de vários roteiros cuja nota dominante é “eu avisei”. A história registá-lo-á como o pior Presidente da República em quarenta anos de democracia e pouco haverá que citar, já que só produz banalidades. Resta-me uma consolação: já faltam poucos meses para a festejar a sua despedida.
- Luís Montenegro, chefe da bancada do maior partido da oposição (que gozo que me dá dizer isto!), com aquele seu sorrisinho de chico-esperto: “O governo que o povo escolheu foi derrubado pelos partidos da esquerda”. Mais ou menos isto. Fiquei, assim, a saber que o povo que é povo escolhe governos de direita, a ralé que vota à esquerda escolhe deputados. Registo. A chatice é que são os deputados eleitos seja por quem seja, que sustentam ou derrubam governos. E como 132 é mais do 108… Azar, Luís Montenegro. Seu.
- Gostei de ouvir o discurso de António Costa, sobretudo quando lembrou ao excelentíssimo que os votos que o elegeram não valem mais do que os que elegeram os deputados que derrubaram o governo preferido do senhor presidente.
- Gostei de ver João Soares a recitar a fórmula protocolar da tomada de posse de cor, olhando Cavaco nos olhos.
- Gostei de ver que nenhum membro do governo hoje empossado aplaudiu o discurso – eu disse discurso? Desculpem – aquelas coisas que o homem disse, entre as quais, que não abdica de nenhum dos poderes de que ainda dispõe, como quem diz ai,ai,ai,ai….! Confesso que fiquei a tremer. Nenhum conselheiro informou ainda sua excelência de que a sua taxa de aprovação está abaixo de zero?
- E Gostei de ver, também, Catarina Martins, tal como os representantes dos Verdes e do PCP, contestar a visão que o ainda Presidente da República manifestou sobre a crise política: ele é que deu posse, sem necessidade, a um governo que sabia, de antemão, que ia ser derrubado no Parlamento.
- Este não é o governo que eu desejaria ver hoje empossado, já que não votei PS. Mas é o governo possível. Um governo do PS que traz uma lufada esperança de que algo mude. Ao longo destes malfadados quatro anos, as minhas expectativas baixaram tanto que me basta que o governo de António Costa seja um governo decente, um governo que, pelo menos, tente cuidar primeiro das pessoas e não do “país” em abstrato. E é por isso e para isso que este governo tem o meu apoio.
Foto: Pesquisa Google
01dez15