Em articulação com a Polis Litoral da Ria de Aveiro, o Porto de Aveiro e a NADO, a Câmara Municipal de Ovar assumiu a intervenção de desassoreamento do Porto de Recreio do Carregal cujos trabalhos de dragagem da área das estruturas flutuantes das docas foram concluídos nos prazos estabelecidos, até finais de 2015.
Uma obra no valor de cerca de 50 mil euros que tem como finalidade, tornar funcional esta Marina explorada pela NADO – Náutica Desportiva Ovarense, criando condições de segurança para as embarcações e assim evitar o risco que se vinha agravando, de destruição das estruturas em épocas de vendaval, como as mais recentes que ali se fizeram sentir e que apressaram esta decisão do Município.
O resultado do desassoreamento superficial mudou o cenário deprimente de um Porto de Recreio em que as embarcações ficavam atoladas em lama sempre que a maré baixava. Agora, mesmo na vazante as docas mantêm-se com nível de água suficiente para o movimento das embarcações.
Criadas condições que dignificam e melhoram a segurança do Porto de Recreio, pelo menos por algum tempo, já que o Canal de Ovar da Ria continua assoreado e só é navegável com segurança em período de maré cheia.
O depósito dos sedimentos retirados das docas, situado numa zona a norte, num terreno que fica nas traseiras do pavilhão de abrigo das embarcações, deu origem a um cenário pouco coerente paisagisticamente com toda aquela área natural junto à Ria. Um gigantesco aterro de lamas, que se teme, que em parte, continuem a ser arrastadas facilmente, em função das marés, para o Cais do Carregal que ali ao lado do Porto de Recreio continua já demasiado assoreado, provocando um cenário desolador sempre que a maré baixa.
Entre os vários pontos negros que continuam identificados na laguna nesta extremidade Norte da Ria de Aveiro no concelho de Ovar, fica a dúvida da durabilidade de uma obra desta natureza, localizada num ponto específico deste braço da Ria, como fosse imune aos efeitos das marés.
As dúvidas ganham mais consistência quando a maré baixa e torna mais visível a zona intervencionada nas docas, em que a dragagem permitiu que tenha água suficiente para os barcos se movimentarem, mesmo quando todo o restante leito envolvente fica em seco, com uma estreita linha de água na zona da carreira, que naturalmente não permite a atividade da modalidade da vela dinamizada pela NADO, limitada só aos períodos de maré cheia. Só mesmo o remo pode aproveitar tal corredor de água, agora com a vantagem de não ter dificuldades na atracagem, em que até aqui se deparavam com a lama na Marina.
Para os mais céticos nestas soluções pontuais e de medidas meramente superficiais, as lamas, através das fortes correntes das marés, vão acabar por correrem de novo para a zona desassoreada, lançando assim dinheiro para o fundo da Ria, nesta intervenção em que a Câmara de Ovar assumiu, na sua reunião de 16/07/2015, a responsabilidade da obra entretanto efetuada.
Durante a subida das marés, o espelho de água que se estende ao longo do Canal de Ovar da Ria, faz realçar uma extraordinária beleza natural que consegue apagar durante algumas horas a outra face da moeda, sempre que a maré vaza.
Mas é exatamente na maré baixa que todo o corpo da laguna e seus vazos de irrigação que ligam água doce e salgada, com a relação umbilical ao mar para a sua indispensável oxigenação, que fazem despertar atenção para o seu real estado de contínuo abandono nas medidas de fundo para a sobrevivência da sua diversidade.
Ainda que devidamente identificadas no âmbito da Polis as ameaças e potencialidades da evolução e da dinâmica da laguna, bem como a necessidade de reforço de margens, através da recuperação de motas, com vista à prevenção de riscos. Assim como a identificação de zonas sujeitas a maior risco de erosão ou mesmo cheias, decorrentes de grandes variações de caudal da Ria.
As medidas para contrariar tais constatações, igualmente apontadas pela Polis, como a necessidade de efetuar a regularização dos canais, ou de recuperação das margens lagunares, em áreas ameaçadas pela erosão e por risco de cheias, continuam adiadas no caso das intervenções da Polis no conselho de Ovar, cujas obras realizadas deixaram muito a desejar aos moradores e comunidades abrangidas por Cais e Canais que beneficiaram de obras pouco consolidadas, a exemplo do Cais do Carregal e toda a área envolvente.
O desassoreamento bem está previsto no Programa Polis, mas tarda a sua concretização nos principais canais de circulação existentes na Ria, bem como a indispensável operação de transporte dos dragados para locais em que tais sedimentos são fundamentais para otimização do equilíbrio hidrodinâmico da laguna. Utilização dos dragados para reforço das margens e motas que há muito é reclamado por moradores que raramente são ouvidos e que neste caso dos cedimentos depositados no Carregal, defendem que os mesmos deveriam ser transportados para terrenos ribeirinhos que sofrem a erosão e consequente salinização das terras outrora produtivas.
Texto e fotos: José Lopes (*)
(*) Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar – Aveiro
01fev16