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Maldição

José Luís Montero

É noite no terraço da Alma. É noite tenebrosa de Inverno; cheia de sons de hecatombe e raios de luz que constrangem. Bruxelas, Lisboa, Madrid vivem no susto que provocam uns tais seguidores de um profeta que impõe as regras de um Baal.

A religião continua a conviver mal com a diferença ou tem profetas que a distorcem de tal forma que a transformam num altar de calamidades. A roda do moinho já deu muitas voltas; já se gastou, mas, acontece que numa dessas voltas existiu um referendo para a entrada de Espanha na Nato. Vivia, nessa altura, em Espanha.

Ativei numa pequena, mas, cativante, localidade um comité contra a Nato. Os partidos políticos, o PCE apareceu com propaganda impressa para que os companheiros que não tinham partido colassem a sua propaganda. Eu tinha mais que fazer; pensei que colar os cartazes do PCE seria uma canseira e uns quantos companheiros pensaram o mesmo e, surpresa, fizemos cartazes próprios. Um ou vários desses cartazes saíram da minha letra e pobre inspiração. O cartaz que me vem à memória esteve marcado por uma conversa posterior de um pequeno homem político que uma comunidade pequena reflete como grande.

pce - partido comunista espanhol

O cartaz rezava: “Abaixo as Guerras Santas!”. Estava colado numa das artérias principais da localidade que por coincidência era a rua onde morava o Padre da localidade. O cartaz estava colado a dois metros do seu portal; talvez, menos. No entanto, esta coincidência não foi notada e se foi, foi alguma coisa inconsistente que não ultrapassou um segundo de vida. O histórico dessa conversa do pequeno político consistiu na evidência do slogan; aquele era um slogan fora do tempo; fora da História; fora da realidade e mais algumas asneiras típicas deste tipo de homens brilhantes. O maldito tempo; a pérfida realidade; a vida histórica meteu-nos de cheio numa guerra religiosa. O político que situava as guerras santas fora da realidade estará reformado e será, talvez, um confortado com pantufas.

Em Espanha e em Portugal estamos a presenciar discursos políticos absolutamente anedóticos onde a Religião é o tema e a questão. A questão chegou às escolas onde se fala das religiões que devem lecionar-se na escola pública. Onde se indicam rituais religiosos e outras coisas afins a este tipo de organizações. A república e a monarquia destes dois países ibéricos são laicas e devem e têm que parecer laicas. O terrorismo procedente do mundo árabe logrou impor a linguagem: as bandas da tragédia são conhecidas como fundamentalistas religiosos. A religião é manchete diária. E Europa mostra-se humilde e incapaz de tratar a questão onde a barbaridade animal veste o rostro de um deus. Europa perdeu, deixou-se levar como se deixa levar um ancião quando diz: “ deixa andar…”

adivinhacao

Mas, como se pode falar de Humanidade quando existem escravas sexuais que são vendidas e compradas entre gandulos, dizem, baixo cânones religiosos tanto na prática do sexo como na adquisição?

Como se pode viver com satisfação ou simples apatia social e individual perante este tipo de mentalidade? Estamos a viver uma situação de barbárie atroz. E passeamos anestesiados pelas artérias das aldeias, vilas e cidades. Rezamos; rezamos a qualquer coisa: a um golo do nosso jogador preferido; ao político mais messiânico; ao guru televisivo que nos analisa desde a raiz um livro, uma coca-cola e Orçamento de Estado em apenas dez minutos.

No caso do Marques Mendes ainda acontecem mais milagres: desvela o que o ministro xis fará em datas futuras. Além do livro, da coca-cola e do Orçamento de Estado temos adivinhação; temos a vertigem do futuro; a boca do estomago do futuro revelado. E temos e vivemos com muitos mais rezos, por exemplo: ao vinho tinto; ao ensopado de borrego; à boa aguardente; à ópera; ao Camilo; ao Eça; ao Aquilino e ao Ferreira de Castro.

campo de concentracao

Fazemos romarias ao Alexandre Herculano e ao Almeida Garrett. Lembramo-nos dissabores vividos nos centros republicanos do Porto. Repudiamos a Inquisição e abjuramos dos campos de concentração de Espanha; Portugal -Tarrafal-; Alemanha e um largo etecetera de horrores tais como as guerras dos diamantes de sangue. E perante esta barbárie que fez tremer Lisboa; que queimou em Madrid ou que assassinou cobardemente em Bruxelas não somos capazes de fazer mais que ouvir o eterno discurso do político de turno?

Europa está velha; está decadente; está formada por vários países que foram Impérios e que vivem na saudade do se tivéssemos ganho aquela batalha, teríamos ganho a guerra… E como Roma caiu, tendo assimilado os bárbaros, tombada na cama a beber vinho; Espanha foi caindo desde a Armada Invencível às mãos das argucias do corsário Drake, hoje é sir Francis Drake e está num lindo vitral da catedral de Bristol, até à lânguida derrota na guerra da noticiada Cuba. Espanha ainda não superou Cuba.

Portugal foi e passou-se diretamente para o quinto império que é sempre futuro até que se concretize e depois também terá que ser derribado. E a triste e cinzenta Inglaterra vive na inópia, mas, como vende postais, de príncipes e princesas, para turistas em lojas de emigrantes orientais pensa que é um império ainda que não seja mais que a Coroa Real que os americanos desejariam ter. Estamos diluídos. Os bárbaros marcam a vida de Europa e os europeus estão tombados no sofá; bebem vinho e vêm como a vida se chama televisão.

Fotos: Pesquisa Google

01abr16

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1 Comment

  1. Fernanda Lança

    se nos dedicarmos a observar o que precedeu a queda de civilizações, encontraremos todos os sinais em evidência nesta cultura europeia que se renega e envergonha das suas origens. Quando nós mesmos desvalorizamos a nossa identidade, abrimos a caixa de Pandora

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