Foram várias as iniciativas realizadas em Ovar para assinalarem o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo no dia 2 de abril, que envolveram comunidades escolares e educativas, autarcas e instituições em eventos como uma palestra “Sentir a Diferença”, promovida pela Câmara Municipal de Ovar na Escola de Artes e Ofícios, com a participação de Mafalda Ribeiro e Alda Mira Coelho.
Já as Associações de Pais das Escolas Básicas de São Donato e da Ponte Nova, em que funcionam Unidades do Ensino Estruturado, tiveram o apoio da União de Freguesias de Ovar na organização de atividades no Mercado Municipal e posteriormente (6 de abril) uma caminhada de sensibilização para a temática do Autismo, com largada de pombos no Parque da Cidade e entrega de mensagens na Câmara Municipal de Ovar. Nesta diversidade de eventos o nosso jornal acompanhou o que a Cercivar realizou também no dia 2 no Museu de Ovar.
Assim, e integrado nos 40 anos da fundação da Cercivar, esta Instituição, também com trabalho desenvolvido na área do Autismo junto dos Agrupamentos de Escolas de Ovar, através do seu C.R.I. (Centro de Recursos para a Inclusão), realizou no dia 2 de abril, uma ação sobre a temática, “Arte do Autismo…”, integrada no Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, que teve lugar na sala dos fundadores do Museu de Ovar, com a presença e participação de pais e jovens PEA (Perturbação do Espectro do Autismo), vários técnicos do C.R.I. (Centro de Recursos para a Inclusão) da Cercivar e um painel de convidados para uma tertúlia orientada por Inês Velhote, psicóloga e coordenadora do C.R.I., que contou com a participação de: António Soares Vieira (Diretor da delegação, APSA Norte), Albertina Carneiro (Mãe), Edgar Carneiro (Artista Plástico, jovem com PEA), Rosa Oliveira (Mãe), Rodrigo Patrício (jovem com PEA), Carla Araújo (Pedopsiquiatra), Marco Leão (Terapeuta Ocupacional, 7senses).
Usaram da palavra na apresentação deste evento o Presidente da Cercivar, Augusto Oliveira, o Diretor do Museu de Ovar, Manuel Cleto e a Vereadora da Educação da C.M. de Ovar, Ana Cunha.
Com a presença de famílias com crianças e jovens com PEA, profissionais da educação (educadoras e professoras), destacando-se uma empenhada e entusiasta participação de elementos da comunidade escolar e educativa da escola EB1 de S. Donato, a exemplo da Associação de Pais daquela escola do Agrupamento de Escolas de Ovar, aos membros da mesa que integraram o painel da tertúlia, foram lançados tópicos por Inês Velhote, como moderadora, desde logo para falarem da sua experiência no contato com a realidade do Autismo.
Partilhas ali testemunhadas que permitiram que o diálogo se fosse entrosando, deixando claro, a diversidade de sinais de alerta, possíveis em crianças com PEA, que bem cedo podem manifestar comportamentos inapropriados nas competências da vida diária. Foram dados exemplos como o do vestir ou tomar banho, mas sobretudo, nas competências de comunicação e consequentemente nas dificuldades sobre relações interpessoais, resistência à alteração de rotinas, sensibilidade alterada a estímulos externos, como o dos, ruídos, paladares ou texturas. Vários outros temas, foram desenvolvidos nesta tertúlia por especialistas, que falaram ainda da dificuldade de autorregulação emocional ou da descoordenação motora, sendo consensual a necessidade da intervenção precoce.
Nas abordagens sobre a perturbação do especto do autismo, foi obrigatório falar de áreas indissociáveis de intervenção, como as formadas por equipas multidisciplinares, que englobam a Psicologia, a Terapia da Fala e com particular relevância a Terapia Ocupacional (assegurada em parte pelo CRI da Cercivar no apoio às diferentes realidades dos agrupamentos de escolas de Ovar), uma “área da saúde que visa o tratamento e reabilitação de condições de saúde que afetam o desempenho das pessoas em qualquer fase da vida através do envolvimento em atividades significativas, com o objetivo de potenciar o seu máximo de funcionalidade e independência nas suas ocupações”.
O percurso escolar dos alunos com PEA mereceu igualmente atenção das mães e pais participantes nesta iniciativa, em que deixaram, não só desabafos dos pesadelos para encontrarem alternativas adequadas aos seus filhos após o percurso escolar obrigatório, sujeitos a demoradas listas de espera e soluções demasiado caras, como naturais diferentes expectativas sobre a evolução dos seus educandos na conclusão da formação escolar. Esta componente da vivência escolar, permitiu, que entre os presentes, apesar na incompreensível ausência de responsáveis dos órgãos de gestão dos agrupamentos de escolas de Ovar, fosse realçado por docentes o desempenho e a oferta das unidades de ensino estruturado nas Escolas Básicas de São Donato e da Ponte Nova, bem como a manifesta carência de uma unidade que dê continuidade a este trabalho no 2º ciclo, nomeadamente na EB António Dias Simões, a par da necessidade de formação específica sobre autismo para um melhor envolvimento e sensibilização dos assistentes operacionais.
Entre o leque de intervenientes na tertúlia estiveram os jovens com PEA, Edgar Carneiro, cuja vertente artística na área da cerâmica, deu o mote ao evento realizado pela Cercivar, “Arte do Autismo…”, e o Rodrigo Patrício, aluno do 5º ano na EB António Dias Simões, que deu a sua opinião sobre o que é Autismo, insistindo na importância e necessidade de aprender a, “autorregulação” dos seus comportamentos. Este jovem, que pratica natação adaptada, reconheceu algumas dificuldades na educação física, uma situação que resulta da “descoordenação motora, como uma das causas da perturbação do especto do autismo. As grandes vantagens da prática desportiva foram realçadas pelo terapeuta ocupacional, Marco Leão, que chamou atenção para a tendência e o risco da obesidade nos jovens com PEA, dada a sua “apetência pela informática e pelo isolamento”. Um quadro de preocupação, agravado, como reconheceu este especialista, pela “redução de atividade física nas escolas”.
No final desta ação de Consciencialização do Autismo, bastante participada, com vários testemunhos sobre sinais de alerta, vivências e experiências dos jovens com PEA, enriquecido com as intervenções dos especialistas e técnicos presentes, incluindo o trabalho desenvolvido pelo C.R.I. (Centro de Recursos para a Inclusão). Uma exposição de cerâmica com o título “Autenticidade”, do artista Plástico Edgar Carneiro, surpreendeu os visitantes, que ali tiveram oportunidade de admirar e contemplar peças de arte de extraordinária imaginação de um jovem PEA, que desta forma exprime a sua sensibilidade artística e relação com a arte através do manuseamento da cerâmica. Uma exposição que esteve patente durante todo o mês de abril no Museu de Ovar.
Texto e fotos: José Lopes (*)
(*) Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar – Aveiro
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