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Ironias

José Luís Montero

Estamos em plena vertigem futebolística. O Benfica ganhou; o Braga ganhou; o Sporting perdeu e o Porto acompanhou o Sporting nas horas desgraçadas da derrota. Despois de todos estes arraiais vitoriosos, a vertigem da Seleção começa a bater à porta e garante, de mãos dadas com os turistas que procuram o Panteão Nacional ou onde se pode ouvir Fado ao pequeno-almoço, um Verão cheio de cor e de cerveja.

Este festim assegura férias mais baratas e sem gastar muita gasolina porque os jogos ver-se-ão no bar da esquina e a camisola espera escondida – e saudosa – no baú das fardas e como foi comprada numa loja chinesa não se entram, nem se entraram em grandes despesas, por isso, o aforro desejado e necessário estará assegurado. E onde existe aforro, existe riqueza e se a riqueza aumenta viver-se-á melhor se o Fisco não inventa qualquer imposto “sempre necessário” para paliar alguma crise bancária ou subvencionar os colégios privados que estão situados –e bem situados – a escassos metros de escolas públicas.

portugal dos afetos

Continuaremos no Portugal dos afetos. Sentir-se-ão afetos pelas namoradas, esposas, amigas coloridas, amantes; pelas estrangeiras; pela Mortágua; pela Ferreira Leite e pelo passeio infindável do Presidente da República onde se misturam beijos e selfies. Um País colorido pelo futebol, pelos golos do Jonas ou do Ronaldo e as gravatas do Marcelo Rebelo de Sousa só pode ser um País a disfrutar de um belíssimo Verão. Será um País cheio de afetos e um País que adormecerá unido a ver televisão. A Troica se entra em Portugal durante essa época não terá sorte porque para ser feliz não se necessita dinheiro, só disposição e circunstancia. A Troica sairá de Portugal sem acionar a máquina de fazer dinheiro, nem a suposta autoridade para marcar tempos e feitos. Ninguém a ouvirá e ninguém a lerá.

Mas, entretanto, urge que a solução ao problema arbitral que preocupa e ocupa o Jorge Jesus se resolva. O problema arbitral levantado pelo Sporting pode provocar a entrada de uma nova Troica pela fronteira de Vilar Formoso. E todos sabemos que o Rui Vitória não responderá. E que o Luís Felipe Vieira quer o treta-campeonato. E que todas as cartas de Amor desapareceram depois da invenção do Facebook.

E como diz um amigo meu que exerce de hoteleiro considerado na Baixa de Lisboa: a Mariza deixou de cantar Fado para cantar canção do Mundo… Eu, então, que do Fado só conheço o Fernando Farinha, o Frei Hermano da Camara e a Ana Moura, medito e penso que a canção do Mundo que canta a Mariza não é mais que a versão moderna do Fado corrido acompanhado por guitarras elétricas. Também, desta feita ou forma a Troica não terá sorte, nem será premiada com o Euromilhões.

troica

A estas alturas do baile lembro-me que a Bélgica esteve um ano sem governo e que não desapareceu. Aparece-me pelo horizonte a imagem de Antero de Quental contada pelo Eça de Queiroz e deixo cair a minha cigarrilha sobre o tapete. Antes que a casa arda, salvo os Livros do Eça, do Antero e a Bíblia e depois esmago o cigarro com o pé, salvo o tapete fumegante e desligo da minha televisão o canal do Correio da Manhã.

A Vida não deixa de ser Vida porque um Governo meta férias anuais. A Troica se em vez de existir, não existisse a crise também se daria porque em todo lado houve, há ou haverá alguém que se parece ao meritório Passos Coelho.

A infelicidade tem guardiões eternos e ler sonetos alimenta o coração e o espírito mas, não derruba os pascácios da infelicidade.

Esta crónica, não é uma crónica: é um passeio delirante pela realidade que acaba como os rios onde o mar começa. É terra que reverdece depois do incendio avassalador. É um berro mudo numa noite de solidão lisboeta; é um abraço a que tem a santa pachorra de ler-me nem que seja de vez em vez ou quando o rei faz anos, mas, como em Portugal não há rei, quer dizer: nunca. É um afeto sem ser presidencial; é no fundo um grito de otimismo verdadeiro e não um otimismo risonho de Primeiro-Ministro.

Unfinished European Union Flag puzzle

Retiro-me triste; mais triste que um derrotado, mas, convicto que Europa não merece esta Europa que estrangula os orgasmos do bem-estar. Talvez pareça uma crónica de um Poeta insatisfeito, mas, pode-se estar insatisfeito sem estar frustrado. Por isso, sempre penso que pela manhazinha, depois de pedir na Pastelaria um galão e um queque, lerei a notícia que me contará que os burocratas de Bruxelas foram abolidos.

Fotos: Pesquisa Google

01jun16

 

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3 Comments

  1. Fernanda Lança

    Portugal está um país non sense com etiqueta made in China , como mandam as boas práticas da globalização e de um país que se quer moderno a obedecer cegamente à UE, com os olhos postos no mundo sem fuga possível

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