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COSTA VAREIRA: EMBARCAÇÕES DA ARTE XÁVEGA VÃO FICANDO EM TERRA

Texto e fotos: José Lopes

Durante o primeiro trimestre deste ano (2016), em que também o Município de Ovar assumiu a candidatura da pesca e dos pescadores da arte xávega a Património Cultural Imaterial de Portugal, com o objetivo de vir a conquistar o estatuto de Património Imaterial da Humanidade para esta arte de pesca tradicional costeira…

Muito se escreveu e falou sobre o panorama da arte xávega ao longo da costa portuguesa, nomeadamente entre Espinho e Costa da Caparica, com idênticos percursos nesta caminhada de candidaturas a tal estatuto no âmbito da UNESCO.

Mas pouco se falou de fatores económicos e sociais do ponto de vista dos pescadores e naturalmente dos pequenos proprietários destas companhas, como os fatores da agravada dificuldade de sustentabilidade desta faina e da vertente laboral, que também existem e que vão deixando embarcações e pescadores em terra, a exemplo do barco “Jovem”, que recentemente saiu de cena no Furadouro tal como já tinha acontecido ao barco “Susana”, em Esmoriz. Embarcações que integravam um lote de cerca de quatro dezenas em todo o cordão litoral de comunidades piscatórias da arte xávega no país.

Entre as comunidades piscatórias de Esmoriz, Cortegaça, Furadouro e Torrão do Lameiro, que se vão dedicando a esta arte de pesca, sobrevivendo com muita precariedade, não da resultante fragilidade das típicas embarcações, com as quais os pescadores sempre destemidamente “lavraram” o mar á procura do “pão” para a subsistência das suas famílias, mas, sobretudo, da reduzida rentabilidade desta atividade que, já há alguns anos, vêm vendo encurtar o montante de cada safra de pesca, nas “partes” de pouco valor que resultam da divisão dos “lucros” pelos pescadores e proprietários das companhas em cada ida ao mar. Mais duas típicas embarcações desta arte ficam em terra na costa vareira, no Furadouro e Esmoriz, deixando famílias com menores recursos para sobreviver nestas comunidades.

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Se no caso do barco “Susana” a família proprietária viu um elemento do cônjuge afetado por uma grave doença que obrigou à suspensão da atividade piscatória na praia de Esmoriz, em que o barco ficou recolhido sem perspetivas de voltar ao mar, que ali já é cada vez mais difícil de trabalhar a faina da xávega. Relativamente ao “Jovem”, no Furadouro, não são estranhos os problemas laborais, já que segundo pescadores, estaria a trabalhar sem arrais, o único trabalhador marítimo a quem é exigido um contrato de trabalho. Uma ilegalidade entre outras causas laborais que pode ter ditado o fim da atividade, da única embarcação de arte xávega na praia do Furadouro.

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O barco “Jovem” a que ficou associada a mais recente tragédia que enlutou a comunidade piscatória de Ovar, recuou assim para uma área em que o destino de outras embarcações da arte xávega tem sido a sua degradação e abandono que tem levado à inevitável destruição, numa espécie de “cemitério” destas embarcações no Furadouro, em que lá jaze o vandalizado barco “Deus Te Salve”.

Um fim que não deixa de ser contraditório e pouco coerente com um processo de candidatura em curso, cuja sustentabilidade deveria estar assente na manutenção da atividade viva deste tipo de arte de pesca, e consequente vivência social e humana que pode representar, pelo menos na memória coletiva destas comunidades.

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