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Exposição “Cinzas”: o olhar quaresmal do fotojornalista Fernando Pinto

Prolonga-se até 31 de janeiro na Casa-Museu de Arte Sacra da Ordem Franciscana Secular de Ovar, a exposição Cinzas do fotojornalista Fernando Pinto que contou então no momento da inauguração (3 dezembro), com as honras da Casa feitas por Vera Marques a quem coube o protocolo da cerimónia, enquanto o ministro da Ordem Franciscana

Luís Ferreira, fez uma abordagem à missão religiosa da Instituição instalada numa casa em Ovar, em 1780, e ao seu papel na dinâmica das tradições quaresmais, a exemplo da Procissão dos Terceiros, que se realiza no segundo domingo da Quaresma, logo a seguir ao Carnaval, marcando o inicio do ciclo das Procissões Quaresmais em Ovar. Uma das poucas Procissões ainda existentes no país, também conhecida como Procissão das Cinzas à qual Fernando Pinto dedica esta mostra fotográfica exatamente com o título Cinzas na Casa-Museu que guarda um valioso património de arte sacra disponível ao público desde 1973.

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As imagens captadas pelo olhar deste fotojornalista natural de Ovar, cujo trabalho reflete sempre um grande profissionalismo e dedicação na valorização da sua terra, das suas gentes e tradições, como foi reconhecido pelos também presentes, Vice- presidente do Município de Ovar, Domingo Silva e pelo pároco local, Manuel Pires Bastos. São parte de um projeto de dedicação a esta vertente da sua própria religiosidade, em que há vários anos acompanha e se envolve ativamente nas procissões quaresmais.

Destacando-se a dos Terceiros ou das Cinzas que já se realiza há mais de três séculos e é composta por mais de uma dezena de andores que tornam esta manifestação religiosa uma atração turística, com toda a sua grandiosidade num cenário natural como são as Capelas e todo o património religioso envolvente, localizado ao longo dos percursos pelo centro histórico da cidade de Ovar.

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No momento de abertura da exposição Cinzas o autor das fotografias recheadas de simbolismo e mensagens, entusiasticamente chamava atenção dos presentes para pormenores que levavam Fernando Pinto a afirmar que, são, “fotografias que falam”. Foi pois esta paixão pela fotografia que quisemos conhecer melhor e o fotojornalista se dispôs a partilhar com o nosso jornal.

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Fernando Pinto: “As procissões são as pessoas”

Fernando Manuel Oliveira Pinto, nasceu em Ovar, em 28 de junho de 1970. É licenciado em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Jornalista profissional (Diretor do quinzenário “João Semana”) e realizador de curtas-metragens de ficção e animação. Tem a fotografia como uma das suas paixões e foi sobre esta paixão e concretamente ao seu trabalho Cinzas em exposição até ao fim deste mês de janeiro que o Fernando Pinto falou para o Etc e Tal jornal.

Há quanto tempo registas fotograficamente as procissões quaresmais?

“Comecei a fotografar em 1990, quando comprei a minha primeira câmara fotográfica ao saudoso David Lisboa, meu amigo fotógrafo, um dos meus Mestres. Tinha 20 anos de idade quando captei as minhas primeiras fotografias da torre sul da Igreja Matriz de Ovar. Só depois é que desci à rua para registar as cinco procissões quaresmais, únicas em todo o país. A partir de 1991, depois de frequentar um curso de fotografia com o conceituado fotógrafo Aníbal Lemos, decidi registar as nossas procissões de duas formas: documental e artística. E é o que tenho feito até hoje. A minha exposição na Casa-Museu de Arte Sacra da Ordem Franciscana Secular de Ovar revela esta minha paixão pelas nossas tradições”.

A temática Cinzas que é destacada de entre outras procissões quaresmais que decorrem em Ovar, que significado ou que fatores influem para tal opção?

“Escolhi a palavra cinzas porque a majestosa procissão dos Terceiros é também conhecida por procissão das Cinzas. Como as fotografias da minha exposição são todas monocromáticas, de tons negros, cinzas e brancos, achei que era o título ideal. A ausência de cor revela a alma das pessoas…”

A exposição Cinzas é o resultado de algum projeto artístico?

“Quando fotografo faço séries, ou seja, exploro um tema de vários ângulos, de várias formas. As procissões de Ovar são muito belas, possuem uma chama difícil de explicar por palavras. FÉ, este pequeno vocábulo, talvez seja a maior de todas, a mais luminosa. Fotografar é escrever com luz.”

Levantaste a questão (a exemplo da arte xávega) das procissões também poderem ser candidatas a património imaterial. É o desejo e sonho de um vareiro ou mais do que isso?

“Sim, gostava que as nossas procissões quaresmais figurassem na lista do Património Imaterial de Portugal, porque são seculares, já fazem parte das tradições vareiras, como o Cantar os Reis. Além disso, são diferentes das de Braga. As nossas são mais genuínas, mais espontâneas. A dos Terceiros, por exemplo, é única no nosso país. Tenho acompanhado colegas jornalistas e fotógrafos amigos durante o percurso dos préstitos religiosos. Saem de Ovar rendidos…”

Neste trabalho exposto procuras essencialmente mostrar e realçar a importância da participação das pessoas na preservação destas tradições?

“As procissões são as pessoas! Os andores, com as imagens dos santos, só fazem sentido porque existem fiéis, almas que lhes dão vida. A Ordem Franciscana Secular tem feito um trabalho que é de louvar para que este nosso património não desapareça. O futuro das nossas procissões está nas mãos dos jovens de Ovar.”

Texto e fotos: José Lopes (*)

(*) Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar – Aveiro

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